quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Amazônia, a viagem quase impossível

Título: Amazônia, a viagem quase impossível
Autor: Louise Sutherland
Páginas: 180

Pedalar pela Transamazônica recém inaugurada, esse era o desejo da autora, uma neozelandesa apaixonada por ciclismo e que resolveu se aventurar pela Amazônia depois de já ter percorrido grande parte do globo. Foram 4.400 quilômetros enfrentando sol e chuva, numa estrada irregular e não concluída, em meio à floresta, atravessando áreas indígenas, leitos de rios, em áreas desertas e, o mais interessante, sozinha e sem falar uma palavra em português.

Apesar da dificuldade e dos rótulos de 'impossível' que todos proferiram, ela conseguiu. E mais importante: amou a viagem, se interessou pelo povo que vive ali a ponto de fazer uma campanha em seu país e arrecadar 20 mil libras e montar um clínica móvel para operar naquela região pois havia ficado impressionada pela falta de assistência médica à população local. Ou seja, além de apaixonada pelo ciclismo, também defensora das causas sociais. Leitura extremamente recomendada.

Trechos interessantes:

"Eu estava começando a me sentir um pouco preocupada. Tudo o que eu pretendia era pedir alguns detalhes atualizados sobre a estrada. Eu já havia percebido que ela não seria uma autoestrada pavimentada como as grandes vias da Europa, com suas paradas frequentes que ofereciam todo o conforto aos viajantes. Mas, da mesma forma, eu não esperava que tudo fosse tão drástico quanto o Dr. Araújo descrevia.
Em primeiro lugar, se era, realmente tão isolada, por que construir a estrada? Ela havia sido divulgada em todo o mundo como um feito fantástico da engenharia e aclamada como uma das maravilhas do mundo moderno; deveria haver mais de uma razão, além de provar que podiam fazê-la." (pág. 15)

"-Você sabe - eu disse para alguém em particular - eu descobri que um velho ditado é bem verdadeiro, e ele diz o seguinte: a maior parte das pessoas, na maior parte dos países é muito mais gentil do que imagina a maioria das OUTRAS pessoas." (pág. 16)

"Eu sempre descobri, em todos os países pelos quais andei de bicicleta, que quanto mais primitivas eram as pessoas, maior sua hospitalidade. Eu descobri que é mais fácil passar por uma área estranha, disposta a aceitar as pessoas, SEUS hábitos e SEU modo de vida. E não com uma atitude 'assustada' ou sentindo-se 'superior'. Na maior parte dos casos eles respondiam com gentileza, mesmo quando eu não conseguia me comunicar com eles. Eu sou a estranha, a visitante. Aquela é SUA terra natal." (pág. 53)

"Quando as portas do banco se abriram eu era a primeira. Um dos caixas examinou os cheques e meu passaporte, depois balançou a cabeça.
-Sinto muito, não trocamos cheques de viagem.
Mas eu havia ficado sem dinheiro brasileiro. O que poderia fazer?
O caixa sugeriu que eu procurasse alguém na cidade que comprasse os meus cheques. Eu não podia acreditar nisso: banco me dizendo para procurar o mercado negro!" (pág. 54)

"A solidão não me preocupava. Eu nunca estava só quando pedalava. Eu tinha minha bicicleta para conversar. Mas era à noite, ou em uma cidade estranha onde não conhecia ninguém que eu me sentia realmente sozinha." (pág. 65)

"Eu amei a floresta!
Viajar de bicicleta durante dias, tendo apenas as árvores e o sol brilhante ao meu redor. Tendo os papagaios, as cobras e milhares de borboletas como companhia. O tornozelo ainda infeccionado e a comida monótona eram detalhes a serem esquecidos. ESTA era a vida que eu pedira a Deus." (pág. 79)

"Não são os animais selvagens que ameaçam a floresta (na verdade, eles é que estão sendo ameaçados), mas os insetos poderiam fazê-lo. Minha impressão foi que os insetos estão decididamente aumentando. Com a queimada da floresta e o cultivo das terras, as cobras, os morcegos e outros predadores do mundo dos insetos estão sendo levados à extinção. Isto significa que os insetos podem se reproduzir livremente e multiplicar-se em profusão. Todos aqueles milhões de borboletas que vi, ao longo da estrada, já foram lagartas. Cada uma delas comendo a vegetação da floresta. Que ideia!
Quanto mais se aprende sobre a interdependência de todas as coisas vivas da floresta - as árvores, as plantas e a vida animal - mais interessante ela se torna. A natureza criou tudo de tal forma que toda a região da floresta foi capaz de sobreviver por milhares de anos. Mas a interferência destruidora do homem pode alterar o delicado equilíbrio e mudar vastas áreas de vida abundante para a devastação total, em apenas três a cinco anos!" (pág. 102)

"Tentar achar o caminho foi uma experiência terrível. Em três meses esta era a primeira vez que estava em uma cidade grande e achei que aquilo era muito mais selva do que a selva onde estivera. Prefiro muito mais todas as árvores e cobras do que aqueles carros voando ao meu redor!" (pág. 124)

"Isso, eu acho, é uma das coisas maravilhosas de se viver na selva. Um grupo de vinte e cinco pessoas pode aparecer no meio da noite, totalmente inesperados, e ninguém se abala. Eles conversam animadamente, comem alguma coisa, ou simplesmente tomam café e todos podem ir para suas redes e dormir. Eu tentei imaginar a confusão que isso seria se acontecesse na casa de alguém do 'mundo civilizado'. Isso me fez pensar no que é a VERDADEIRA definição da palavra civilizado." (pág. 156/157)

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