sábado, 26 de dezembro de 2015

A perseguição

Título: A perseguição
Autor: Sidney Sheldon
Páginas: 234

História fiel aos padrões de Sheldon, no entanto uma história curta e linear, sem nenhuma ramificação ou trama paralela. Não encontrei referência a este livro na Wikipédia (em inglês).

A história é simples: um magnata japonês morre num acidente aéreo e o filho, com 18 anos, deve assumir as empresas. O tio do garoto acha que o testamento foi injusto e ele é que deve herdar a empresa. Para que isso aconteça, só há uma maneira: o garoto deve morrer. O resto do livro é "a perseguição".

Trechos interessantes:

"Sabe por que os nossos negócios crescem tão depressa, Masao? Porque somos melhores do que os outros. Porque nos importamos mais. Somos afortunados por termos nascido japoneses. Em outros países, os trabalhadores fazem greve durante todo o tempo. Pensam apenas em si mesmos. No Japão, somos todos de uma só família, e o que é bom para um é bom para todos." (pág. 16/17)

"Não havia nenhum motivo para que ganhasse aquela corrida, nada significativo para ele. E, no entanto, sabia que tinha de continuar. Era uma questão de orgulho. Já que entrara na corrida, tinha de vencê-la. Não seria o segundo melhor." (pág. 60)

"Foi só então que Masao compreendeu o quanto sentira falta de sua língua. O japonês era uma língua tão civilizada, tão fácil de compreender!" (pág. 79)

"Masao nunca pensara sobre a fome antes. Quando uma pessoa é bem alimentada, não pensa em comida; mas quando uma pessoa está faminta, não consegue pensar em outra coisa." (pág. 101)

"Quando a vida é serena e suave, o Tempo é um amigo. Quando a vida fica repleta de problemas, o Tempo se torna um inimigo." (pág. 157)

"Masao tentara explicar a atitude dos trabalhadores no Japão.
-É como uma família. O trabalhador é bem cuidado enquanto viver. Sabe que não será dispensado. A prosperidade da companhia é também a sua prosperidade. E ele se orgulha de seu trabalho." (pág. 199)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Profecia

Título: Profecia
Autor: S. J. Parris
Páginas: 320

Outro romance histórico, seguindo a linha do primeiro (Heresia): Giordano Bruno desta vez está às voltas com espiões e dissidentes que planejam destronar a rainha Elizabeth para que a rainha católica Maria Stuart seja aclamada.

É um livro policial onde o detetive foi substituído pela figura histórica de Giordano Bruno, mas os ingredientes são os mesmos: mistério, suspense, crime, traição, etc. Leitura primorosa, fazendo com que você se sinta como se estivesse na própria Londres do século XVI.

Trechos interessantes:

"-'Quando ouvires falar de guerras e rumores de guerras, não te perturbes; pois é forçoso que essas coisas aconteçam, mas ainda não é o fim - pondero citando o Evangelho de Marcos." (pág. 27)

"Que rapaz de 17 anos, tendo provado a independência, devolveria de bom grado as rédeas do governo à sua mãe? Ele vai precisar de maior vantagem material do que de sentimento filial para ser convencido a apoiar a causa dela." (pág. 44)

"[...]sem dinheiro, títulos ou terras em meu nome, preciso me tornar indispensável aos homens de poder para progredir, e aprendi pelo método mais difícil que a maioria dos poderosos prefere quem os entretenha a quem os esclareça." (pág. 52)

"Por um instante, reflito sobre o caminho estabelecido para as jovens nascidas na nobreza: quão brevemente lhes é permitido brilhar, serem exibidas e admiradas em público em seu próprio meio social, só o tempo exato que levam para encontrar um marido adequado. O dia do casamento é o zênite de seu curto florescimento. Depois disso, esperam-se que desapareçam outra vez no segundo plano, que cubram os cabelos e se contentem com os reflexos da glória do marido e dos filhos." (pág. 153)

"Claro, foi meu antigo criado que testemunhou contra mim no patíbulo, mas um homem diz qualquer coisa quando está com uma corda no pescoço, não é?" (pág. 164)

"-Ele gostava de você - diz Castelnau mansamente. - Era um esquisitão, o Léon, meio fechado. Mas falava muito bem de você. Acho que você era quem ele mais via como um amigo nesse país.
-Eu deveria ter sido um amigo melhor - digo, e a voz sai rouca.
-Nós todos deveríamos tê-lo tratado melhor. O que dá pena é que nunca se pensou nisso enquanto ele estava vivo." (pág. 257)

"Mesmo assim, onde o dinheiro chega, o desespero vem atrás: mendigos tendo apenas míseras camadas de farrapos entre si e a umidade de outubro perambulam por perto das escadas, choramingando seus pedidos de esmolas aos comerciantes bem alimentados e cobertos de peles." (pág. 272)

"Oriundo de um país governado pelo açoite do Santo Ofício, sei muito bem com que facilidade um homem ameaçado pela dor física diz qualquer coisa passível de agradar àquele que pode ordenar que essa dor cesse." (pág. 286)

"-Se eu não soubesse que isso é impossível, Bruno, seria capaz de jurar que você fez um pacto com o próprio diabo. Você é indestrutível. Mas acho que o diabo não teria coragem de fazer essa aposta. Teria medo de você ser mais esperto que ele." (pág. 304)

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

A ladeira da saudade

Título: A ladeira da saudade
Autor: Ganymédes José
Páginas: 200

O livro narra a aventura de Lília, jovem sonhadora, na cidade de Ouro Preto. Cansada da rotina de São Paulo, Lília vai passar uns dias na casa de sua tia em Ouro Preto, onde faz novas amizades e encontra um novo amor.

O livro em si é mais uma aula de história já que apresenta em detalhes todos os aspectos de Ouro Preto, sua história, sua arquitetura, suas artes, seus poetas e tudo mais. Enfim, a história do livro é simples, mas os aspectos históricos são fascinantes.

Trechos interessantes:

"Em meu coração jovem há tantos caminhos que não consigo percorrer! Por que sou assim tão contraditória? Agora estou triste... agora estou alegre... Aqui estou radiante mas, ali adiante, sou toda lágrimas! Por que não sou sol-amarelo-calor-e-luz? Por que não aprendo a caminhar sem ter destino até o encontro dos braços que me amem? Braços que me aqueçam... braços que tirem de mim todo o sol que tenho para dar ao mundo!" (pág. 13)

Para Lília, todas as pessoas tinham dois eus: o eu de fora, o físico, que todo o mundo vê, e o eu de dentro, o invisível, que só aparece quando as pessoas são honestas, espontâneas, dedicadas... como acontecia com o pai. [...] Podiam existir pessoas bonitas por fora e feias por dentro? Talvez pudesse, porque Lília conhecia pessoas extremamente feias, porém com um eu interior maravilhoso!" (pág. 15/16)

"Para falar a verdade, entre ter um amigo falso e um inimigo franco, eu prefiro o inimigo franco porque posso confiar nele." (pág.30)

"Depois que Tampinha beijou tia Ninota, Lília também beijou-a. Estranho! Foi um gesto impensado! Até então ela nunca havia beijado espontaneamente a tia! Porém, o gesto da Tampinha foi tão natural que, sem querer, Lília fez igual. Com isso, pôs-se a pensar: 'Será que o amor é assim mesmo, aprendemos sem perceber e precisamos de alguém que nos ensine como fazer?'" (pág. 65)

"Das lojas, portas e janelas, abertas para a rua, emanava um cheiro misterioso. Mofo? Não era isso. Era cheiro de coisas antigas, de lembranças; 'Se saudade tiver cheiro, esse é o cheiro da saudade' - pensou, correndo o dedo sobre uma parede áspera." (pág. 133)

"Não são atitudes como a sua que consertam o mundo. Não vê? Existe uma grita geral por aí, dizendo que não há mais diálogo entre pais e filhos. Dialogar não é só perguntar como vai o corpo, a escola, o estudo, se está precisando de dinheiro ou gasolina para o automóvel. Dialogar é mais do que isso, Flávia... dialogar é a gente conversar com os olhos, com o coração. Aí, quando chega o momento certo, é que sabemos se o diálogo funcionou." (pág. 194)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A filha da minha mãe e eu

Título: A filha da minha mãe e eu
Autor: Maria Fernanda Guerreiro
Páginas: 272

Apesar do tema central ser a relação entre mãe e filha, o livro está repleto de situações de conflitos familiares de toda natureza: amor, ciúme, drogas, rejeição, preconceito, adoção, etc. A autora conseguiu realizar uma miscelânea de sentimentos entre as personagens do livro que, dificilmente, um leitor não conseguirá se situar em pelo menos um pedaço da historia.

O livro narra a história de Mariana que, ao ser mãe, rememora a sua própria convivência com a mãe e a falta de afinidade entre ambas, situação comum a muitas adolescentes. Com o desenrolar da história fica claro que todos têm seus problemas e que, de uma maneira ou de outra, acabam interferindo nas relações pessoais mas, no fim, descobre que o amor de mãe tem vária formas.

Trechos interessantes:

"Quando vi as duas listras azuis no teste de gravidez, tive uma certeza: preciso me sentir filha antes de me tornar mãe. Porque uma parte da minha alegria era inventada e, a outra, não era minha." (pág. 7)

"Essa era uma grande diferença entre os dois. Enquanto meu pai ressaltava como era prazeroso alguma coisa, apesar de ter que abrir mão de outra, minha mãe preferia falar primeiro que abdicava de alguma coisa pela obrigação de outra. Com ele, depois do trabalho, restava a alegria. Já com minha mãe, como a grande maioria das mães, estava ali noite e dia, no prazer sim, mas, principalmente, na obrigação de educar. E só hoje sei que isso faz toda a diferença no jeito como uma criança olha um adulto." (pág. 28)

"Minha mãe costuma dizer que ela podia esfolar vivo um dos filhos, mas que ninguém mais podia tocar um dedo. Era o direito da maternidade. O direito de errar porque estava tentando acertar." (pág. 60)

"Muitas vezes não é o que se diz que magoa, mas o tom com que se fala faz toda a diferença. E eu conhecia todas as variações de voz da minha mãe para saber que aquele clima não melhoraria no dia seguinte, nem no outro." (pág. 100/101)

"A verdade é que éramos duas estranhas que não sabiam demonstrar o sentimento que a outra precisava. De repente, tudo me pareceu tão simples e o tempo entre nós tão desperdiçado. Era fato o amor que existia entre mãe e filha, mas os caminhos escolhidos para demonstrá-lo não tinham sido os mesmos." (pág. 117)

"-Pai, você tem medo de morrer?
-Acho que num grau ou em outro todo mundo tem.
-Por quê?! Se a gente não lembra de nada antes de nascer, provavelmente também não vai lembrar de nada depois que morrer. Não deve ter dor nenhuma - falei, tranquila." (pág. 134)

"A mudança teria de ser como uma explosão. Partindo de um ponto pequenininho dentro dele e indo para fora, tomando conta de tudo ao redor. Seus hábitos teriam que mudar, seus amigos de balada, seu modo de encarar a vida e, sobretudo, na minha opinião, sua capacidade de lidar com frustrações.
Ele teria que aprender a não mais fugir para as drogas quando as coisas não saíssem como desejava. E o mais difícil: teria que buscar a felicidade em outro lugar, num lugar mais verdadeiro e não na química que, apesar de promover alegria, destruía seu corpo e, pouco a pouco, sua capacidade de raciocínio e convivência com as pessoas. Mas essa era uma decisão que pertencia a ele. Só a ele." (pág. 189)

"Notei que quando a gente percebe que os outros têm os mesmos problemas que a gente, isso ajuda a diminuí-los." (pág. 216)

"Mas não é nos sentimentos demonstrados que residem nossos maiores erros e sim naquele amor que, apesar de existir, não se mostra. Os pais querem tanto ser justos com os filhos que, às vezes, acabam sendo injustos." (pág. 259)

"Então, se você está receosa de achar que não vou ligar para o que você vai me contar só porque eu já vi isso um milhão de vezes, você está enganada. O ser humano sempre me surpreendeu. Isso porque ele tem o livre-arbítrio, o que faz toda a diferença na história de qualquer um. Provavelmente, a única coisa em você que é igual a todo mundo é o fato de sentir-se diferente." (pág. 262)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Dois dedos de prosa

Título: Dois dedos de prosa
Autor: Maria do Rosário Cassimiro
Páginas: 196

Este livro de crônicas é um grande marco da literatura goiana. A autora, especialista em educação e ex-reitora da UFG, discorre sobre a história de Goiás, suas personalidades, sua evolução e, principalmente, sobre Catalão - sua terra natal.

São narrativas agradáveis de se ler, mostrando a cultura e o comportamento do povo goiano, fatos estes cuja maioria é desconhecida pelos próprios goianos. Para quem é da terra é fácil se identificar com as personagens e bate aquele sentimento de saudosismo...

Trechos interessantes:

"Dou um conselho aos meus caríssimos leitores: poupem e verão como a medida lhes será frutífera. Só lamento que, nestes tempos de crise, meu conselho vá de encontro ao do presidente Lula, que mandou o povo gastar, conselho que contraria tudo o que aprendi na vida, em matéria de economia. Estendo minha mão à palmatória, quanto ao fato de não entender de macroeconomia. Mas de microeconomia entendo um pouco, e estou satisfeita com esse pouco. Tenho-me dado bem com ele." (pág. 15)

"Lembro-me de que há duas décadas, quando o governo federal lançou a Ferrovia Norte-Sul, a mídia nacional, notadamente a imprensa escrita, julgou a ideia pejorativamente, como se fosse uma tentativa de 'ligar o nada a coisa nenhuma'." (pág. 25)

"Guardo um profundo respeito pelos pioneiros. Aqueles que colocaram o primeiro degrau da escada. Como é difícil plantar o primeiro degrau!... Sobrepor o segundo, o terceiro, o quarto e todos os demais torna-se uma tarefa cada vez mais simples, uma vez que, ao colocá-los, encontramo-nos, já, na escada. Mas quem implanta o primeiro degrau ainda está com os pés no chão e tem de vencer, sem dúvidas, um mundo todo de obstáculos para se fazer chegar ao histórico primeiro marco." (pág. 45)

"Não dou por encerrada minha saga de batalhadora. Prosseguirei com minha missão. Ainda não posso, portanto, repetir as santas palavras do Apóstolo Paulo, pois se é verdade que conservo a fé, não é verdade que tenha terminado a tarefa." (pág. 63)

"Se existem tipos de trabalhos condenáveis aos mais jovens - e eles existem - não é proibindo indistintamente o trabalho a menores de qualquer idade que se fará a justiça. Em muitos casos- se não for na maioria deles - esses pequenos jovens jogados na ociosidade, tornam-se menores marginais, meninos de rua, instrumentos fáceis nas mãos de traficantes de drogas e de outros tipos de bandidagem, nas grandes cidades. Em geral, eles descuidam da escola, tornam-se rebeldes na família e se perdem para a vida, causando enormes males à sociedade e a si mesmos. A ociosidade, também, é uma escola - a pior delas." (pág. 66/67)

"Dizem, e a ciência o prova, que o mundo já foi dos dinossauros, de aves descomunais e de répteis gigantes. É tamanha a saga das transformações que, às vezes, me pergunto se chegará o dia em que algum ser vivente dirá: 'O mundo já foi dos humanos'." (pág. 119)

"Assim é que nos estamos acostumando ao fato de que o desenvolvimento chega sempre antes da educação. No comboio do progresso, a educação é o último dos vagões. É por isso que temos, até hoje, os nossos elevadores riscados, nossos bens públicos - telefones, lâmpadas, arborização, etc. - rabiscados ou danificados, porque o desenvolvimento chegou antes da educação. Quando se projeta uma hidrelétrica nos confins dos nossos sertões, ou as estradas penetram os ermos do nosso território pátrio, a escola não vai junto, chega muito depois, sempre atrasada." (pág. 134)

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

A estrela sobe

Título: A estrela sobe
Autor: Marques Rebelo
Páginas: 220

Leniza é uma garota pobre, que mora no subúrbio somente com a mãe e que tem um sonho desde criança: tornar-se cantora de rádio. No início, quando ainda era um sonho, aquele era, na sua imaginação, um mundo de glamour e satisfação e o fato de pertencer a este mundo garantia a realização de todos os seus desejos.

Mais tarde, quando passou de sonho a possibilidade, ela viu que era preciso mais do que apenas talento para alcançar aquele patamar. Mas, como era seu sonho, batalhou para isso. E, enquanto subia artisticamente, os seus valores morais iam caindo progressivamente. Ao chegar ao topo, não encontrou aquela alegria que ela imaginava.

Trechos interessantes:

"Mas sempre era uma espécie de liberdade andar na rua, não ter horas certas, conversar com este, conversar com aquele, conhecer gente, ver passar gente (por que se encontram nas ruas criaturas às quais, por um sorriso, um piscar de olhos, uma inclinação de cabeça, nos sentimos imediatamente ligados, confundidos os destinos e os desejos, e que passam, e em noventa por cento dos casos, nunca mais vemos?)" (pág. 26/27)

"Uma das habilidades (do diabo) consiste em nos apresentar como triunfos, as nossas derrotas." (pág. 72)

"O tique-taque do relógio aumentava ainda mais o silêncio. Lembrou-se das palavras ouvidas num silêncio assim, na casa pequena da Rua da América. Parecia que as estava ouvindo novamente, martelando o silêncio, tornando o silêncio maior, mais doloroso, mais ameaçador. 'Não devia perdoar. Eu só tenho te ajudado na vida. Você se esquece, você finge esquecer. Tenho sempre te ajudado nos momentos mais difíceis, dia e noite, sem uma queixa, tolerando tudo, suportando tudo. Nunca reclamei nada. Nada! Nada! Mas assim também é demais, Martin. Demais, passa da conta. O que os olhos não veem, o coração não sente, mas eu sempre vi tudo, Martin. Tudo, tudo!'" (pág. 102)

"Leniza levantou-se e encaminhou-se atrás dele para o mostruário, que ficava no fundo da comprida sala. -São muito caros?
Ele vergou-se, num gesto galante.
-Depende do que a senhorita chama caro...
-Sempre chamei caro a tudo que custa muito dinheiro, ué...
-Aí é que erra, se me perdoa dizê-lo. Custa caro o objeto cujo preço não corresponde à sua utilidade. Ora, não pode haver nada mais barato do que um rádio, porque não há objeto mais útil do que ele. É o mundo em casa. Informa, diverte, instrui." (pág. 119)

"Era lamentável como cantora, e, fato raro no meio, tinha perfeita consciência disso. 'Mas onde chego, abafo', dizia mostrando os dentes miraculosamente claros e iguais. E era verdade. A sua graça pessoal, a sua beleza muito retocada e o seu corpo tentador - e o que se propalava dos seus vícios! - faziam transformar a sua mediocridade vocal numa completa sedução, que ela sabia explorar com um tino admirável." (pág. 134)

"Sentia-se miserável,imunda, escória humana,campo de todos os pecados, lama, pura lama. Mas subira. Dois ou três degraus na escada do mundo. Via que já estava num plano bem acima, algumas figuras já ficavam menores, a miséria escondia-se já numa bruma longínqua. Mas precisava subir mais, sempre mais, custasse o que custasse." (pág. 154)

"[...]
-Tuas mãos não dizem isto...
-Mentem.
-Não acredito.
-Você sempre duvidou de todas as verdades e acreditou em todas as mentiras." (pág. 177)

"As horas correm. Cinco horas. Sua mãe apareceu com um prato de mingau. Entregou-lhe o prato olhando para o teto. Como o aceitou, como conseguira engoli-lo? E a mãe ao lado, esperando que ela terminasse. Oh, quão penosa era a presença da mãe! Como imaginar que um coração tão bom tivesse ficado tão duro, tão hostil, tão distante?" (pág. 216)