domingo, 7 de maio de 2017

Alfred Hitchcock e os bastidores de Psicose

Título: Alfred Hitchcock e os bastidores de Psicose
Autor: Stephen Rebello
Páginas: 254

É de conhecimento geral que Psicose é um dos maiores (se não o maior) trabalhos de Hitchcock e o livro conta justamente isso: a elaboração do filme, desde a ideia inicial até a distribuição comercial. Mas não foi uma tarefa fácil já que a maioria era contrária à realização do filme, considerando-o simples e sem interesse para o público.

Hitchcock tinha tanta certeza do resultado que, diante da recusa de produtores, colocou seu próprio dinheiro para que o filme fosse em frente. Escolheu os atores a dedo, usou sua própria equipe de filmagem, não mostrava as cenas a ninguém e, utilizando um baixo orçamento, fez uma das maiores obras-primas do cinema.

Trechos interessantes:

"Fiquei imaginando como esse homem, que nunca foi suspeito de qualquer delito, numa cidadezinha onde, se uma pessoa espirrasse no lado norte, alguém no lado sul diria 'Saúde', de repente foi revelado como um assassino em série. Também fiquei intrigado com o quanto seus vizinhos estavam pouco dispostos a falar sobre esses crimes. Disse para mim mesmo: 'Tem uma história aí'." (pág. 26)

"Lew Wasserman vinha esperando por uma oportunidade de capitalizar o carisma excêntrico que a aparência de querubim macabro de Hitchcock proporcionava. O diretor tinha aceitado recentemente ceder seu nome para a Alfred Hitchcock Mystery Magazine, um empreendimento fundado por um ricaço da Flórida, no qual ele não colaborava na seleção de textos nem na edição. Mesmo as introduções das histórias narradas na primeira pessoa eram escritas pelo advogado-romancista Harold Q. Masur. Só o nome de Hitchcock, porém, era suficiente para colocar a circulação nas alturas." (pág. 44)

"O sangue-frio do diretor não chegou a surpreender o roteirista, que achava a equipe de Hitchcock 'uma estranha organização'. Segundo Stefano: 'Eles não faziam elogios. Era como a realeza. O elogio era o fato de você ter sido convidado'." (pág. 61)

"Marshall Schlom explicou: 'Ele estava preocupado com o fato de os primeiros espectadores contarem o final logo que saíssem do cinema. Isso prejudicaria o filme'. De forma a combater essa possibilidade e reforçar a aura de mistério que envolvia o filme, optou por não o exibir previamente para críticos e formadores de opinião, uma atitude que contrariou o que era considerado tradição e privilégio da indústria." (pág. 166)

"Um desesperado gerente de cinema ligou para a Paramount de Chicago: as pessoas na fila para ver o filme foram pegas por uma chuva e ameaçavam desmantelar o Woods Theater se não as deixassem entrar. Hitchcock entrou na linha. 'Compre guarda-chuva para todos', instruiu como se fosse Maria Antonieta, e os guarda-chuvas foram comprados. O caso e a citação renderam ao diretor resmas de publicidade gratuita ao virar assunto de primeira página nos jornais da manhã seguinte." (pág. 179/180)

"E, quanto à primeira onda de críticas desencontradas, o diretor tinha aprendido a seguir a atitude do 'esperar para ver'. Afinal, filmes anteriores como Correspondente estrangeiro, A sombra de uma dúvida, Interlúdio, Intriga internacional e Um corpo que cai - hoje reconhecidos como grandes trabalhos - também despertaram reações variadas dos críticos quando foram lançados. O fenômeno da 'reviravolta' que ocorreu com vários de seus trabalhos levou o diretor a comentar: 'Meus filmes passam de fracassos a obras-primas, sem nunca terem sido sucessos'!" (pág. 182)

"Eu acho que ele [Hitchcock] estava amedrontado e um pouco ofendido por ter feito esse filme de baixo orçamento e conseguido uma resposta como nunca teve, mesmo tendo gasto tanto dinheiro e feito coisas tão impressionantes antes. Era como servir banquetes extraordinários com frequência e aí quando você faz um cachorro-quente as pessoas dizem: 'Isso é a melhor coisa que eu já provei!' E todas aquelas excelentes refeições que ele preparou antes?" (pág. 193)