domingo, 25 de março de 2018

O peão

Título: O peão
Autor: Steven James
Páginas: 408

Um assassino sádico tem o hábito de deixar junto aos corpos de suas vítimas, uma peça de xadrez: um peão. O agente especial do FBI Patrick Bowers é o encarregado de decifrar o enigma e capturar o assassino.

A história apresenta muitos momentos de angústia e tensão mas, pessoalmente, acho que do meio do livro para o final o autor abre muitas possibilidades, perdendo o charme e o foco da história.

Trechos interessantes:

"Assassinos muitas vezes deixam pistas ou bilhetes provocativos no local do crime. O mais comum são palavras escritas com sangue. Às vezes, uma carta escrita à mão é descoberta. Normalmente, quando os assassinos deixam alguma coisa, ela está sempre ensanguentada e suja. Eu já tinha visto de tudo.
Mas esse cara não. Ele deixou uma peça de xadrez de sequoia entalhada à mão no local de cada crime executado. As três primeiras eram peões brancos. Agora, estes três últimos eram pretos."  (pág. 24)

"Com o passar dos anos, tento esquecer os rostos, mas não consigo. Tantas faces jovens e promissoras. Parece que são sempre as mais atraentes que são assassinadas. A beleza desperta o pior em nós. Seria de se imaginar o contrário - que os tortos, os deformados, os malfeitos despertariam fúria e terror. Mas eles parecem suscitar apenas compaixão. Não; é a beleza que desperta a besta. Seja qual for o motivo, a elegância e a graça parecem sempre inflamar a mais profunda ira e a luxúria mais sombria no animal humano." (pág. 32)

"Eu tinha passado as últimas horas queimando as pestanas sobre os arquivos, procurando coisas que não se encaixavam ou que se encaixavam bem demais. Como meu mentor, o dr. Werjonic, costumava dizer: ‘A vida não é precisa. As peças que se encaixam bem demais revelam que há más coisas num quebra-cabeças. Continue procurando até não fazer mais sentido, e então estará mais perto de solucionar o caso’." (pág. 79)

"–Não há nada de civil na guerra, dr. Bowers. Essa expressão é um oximoro – como pobre menina rica, bom ladrão ou nudez recatada. – Ao dar esse último exemplo, ele olhou de relance para Lien-hua.
–Ou tente agir naturalmente – eu disse.
Ele voltou a prestar atenção em mim, com uma sobrancelha erguida.
–Hã? 
–Tente agir naturalmente. Também é um oximoro. Ou alguém age naturalmente ou está fingindo. Não adianta tentar. Devolvi o olhar dele sem titubear.
–Ah, a menos que você seja fingidor por natureza – ele disse, erguendo o copo de leve." (pág. 97)

"Lembrei que, anos antes, outro guia florestal me contou que “Apalaches” vem de uma palavra indígena que significa “montanhas infinitas”; e olhando para aquelas montanhas, eu não conseguia deixar de pensar que elas realmente prosseguiam infinitamente no espaço e no tempo – um origami ancestral do planeta, da época em que os continentes estavam unidos.
A brisa era constante ali, subindo do vale, nos envolvendo; a respiração matinal suave das colinas. Eu me perguntava como seria estar ali quando não havia vento. Que tipo de solidão deve ser, ter o dia decidindo sua forma ao redor, céu e sombras e picos e vales todos vestidos de um silêncio profundo e primal." (pág. 155)

"–David, sabe por que não faltam homens-bomba no Oriente Médio?
David não respondeu rapidamente. Ele parecia ponderar com cuidado as palavras, como se temesse decepcionar seu mestre.
–Porque o ódio deles é tão profundo, Pai?
–Não, David. Porque as crenças deles são tão profundas. O ódio é o resultado das crenças. É o fruto que cai da árvore da fé. Como o amor. As crenças sempre vêm primeiro. Para mudar o fruto, é preciso mudar a árvore; é preciso mudar as crenças. Uma árvore sempre vai dar seus próprios frutos. Jamais fará outra coisa. O grande profeta disse uma vez: ‘Toda árvore boa produz bons frutos; e toda árvore má produz frutos maus’." (pág. 240)

"Eu podia sentir o aperto familiar no peito, a sensação desesperada de impotência que você tem ao olhar por cima do ombro para algo doloroso do seu passado; algo que te assombra, mas que também faz parte de você. Você tenta fugir, mas aquilo está sempre ali, respirando na sua nuca. Não é verdade o que dizem. O tempo não cura todas as feridas. Às vezes, apenas joga sal nelas e fica rindo enquanto você se contorce."  (pág. 252)