sábado, 15 de fevereiro de 2014

Softwar - a guerra sem armas

Título: Softwar - a guerra sem armas
Autor: Thierry Breton / Denis Beneich
Páginas: 266

O livro esboça um período da guerra fria entre a União Soviética e os Estados Unidos. Como sempre, os Estados Unidos são retratados como um país superior e que domina todas as tecnologias; na outra ponta está a União Soviética, humildemente tentando entrar na era da informática.

Para tanto, compram do governo francês computador e programa desenvolvido pelos americanos. Os Estados Unidos inserem um vírus no programa e aí começa a batalha: a União Soviética tentando provar e culpar os Estados Unidos e os americanos tentando se safar, como se não tivessem feito nada.

Trechos interessantes:

"Mas, como dizia meu pai, se o esbofeteiam na face direita, ofereça a face esquerda, se o esbofetearem então na face esquerda, ofereça a direita, e assim por diante, até reunir energias para acertar o cara em cheio na boca. O ringue é como a vida, é preciso saber aparar os golpes, mas não por muito tempo." (pág. 13)

"Quaisquer que sejam as armas empregadas, punhos nus ou foguetes intercontinentais, todo confronto requer artimanhas, esquivas, uma tática. Mas ali, com o zumbido da ventilação, sob a iluminação violenta que não permitia o menor vestígio de sombra, ia-se entregar a um combate de inteligência. A materialidade da luta era reduzida ao mínimo: teclas a serem tocadas, uma tela que fazia desfilar as mensagens para os iniciados..." (pág. 87)

"A informática permite a manutenção de um tipo de referendum permanente, sem provocar a ruptura na vida quotidiana, como fazem as eleições clássicas. Na verdade, a informática contém um projeto de sociedade, um projeto que pode parecer-nos bem utópico, mas que o será muito menos para nossos filhos, nascidos e criados com o computador. Para eles, podemos imaginar um mundo de microssociedades dirigidas pelo computador." (pág. 115)

"No capítulo sobre a vaidade dos homens de sua idade, podíamos acrescentar seu caso amoroso, mal dissimulado aos olhos dos profissionais curiosos, com uma mulher maravilhosa, muito mais jovem. 'O fato de não ter uma amante conhecida, na minha idade, isso, sim, pareceria suspeito a todo mundo', observara ele, certo dia, a Françoise." (pág. 121)

"-Pergunto a mim mesmo de que adianta combatermos nossos inimigos, quando estamos começando a ficar parecidos com eles." (pág. 140)

"-Para chegar à alta posição que ocupa, ela deve ter lutado arduamente usando todo o arsenal da burocracia carreirista: perfídia para com os iguais, severidade para com os subordinados e bajulação para com os superiores." (pág. 206)

"-Amanhã teremos um longo dia. Meu pai costumava dizer: 'Quando você não pode fazer nada, durma.' Acho que vou seguir seu conselho." (pág. 239)

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Um dia

Título: Um dia
Autor: David Nicholls
Páginas: 412

'Um dia' conta a história da relação de duas pessoas: Dexter e Emma. A história começa em 15 de julho de 1988, quando os dois estão se formando. Daí em diante a história é contada sempre no dia 15 de julho dos próximos vinte anos. Quando tudo começou era para ser apenas um encontro casual, mas uma ligação profunda entre os dois perdura por muito tempo.

Conheça a história de Dex e Em, um casal que, como tantos outros, passa por diversas situações emotivas, embaraçosas, complicadas, hilárias, mas que demora a perceber a importância de um para o outro.

Trechos interessantes:

"Com trezentas libras de outra pessoa você pode mudar sua vida, e não deve se preocupar com isso porque francamente eu tenho um dinheiro que não mereço, e você trabalha duro e mesmo assim não tem dinheiro; vamos colocar o socialismo em prática, vamos? E se você fizer questão pode me pagar quando for uma dramaturga famosa, ou quando ganhar dinheiro com suas poesias ou seja lá o que for." (pág. 55)

"A cidade tinha vencido, exatamente como disseram que aconteceria. Como numa festa cheia de gente, ninguém percebeu a chegada dela, e ninguém notaria se fosse embora." (pág. 63)

"Seu consolo é pensar que, como ele ainda não dormiu, esse não é o primeiro drinque do dia, mas sim o último da noite anterior. Além do mais, todo esse tabu sobre beber durante o dia é um exagero; as pessoas fazem isso na Europa. O truque é usar o estímulo do álcool para compensar o abatimento das drogas: ele está se embebedando para ficar sóbrio, e quando você pensa a respeito é na verdade uma coisa bem razoável." (pág. 120)

"Dexter dá um sorriso contido, mas a mãe já está virada para o outro lado, de costas para ele. Sai do quarto e encosta a porta. Um dia desses, muito em breve, dentro de um ano talvez, ele vai sair do quarto e nunca mais verá a mãe. É uma ideia tão difícil de conceber que Dexter tira aquilo da cabeça com violência, preferindo concentrar-se em si mesmo: na própria ressaca, em como está se sentindo cansado, na dor latejando nas têmporas." (pág. 130)

"Falavam um com o outro com vozes estranhas e estranguladas, tinham perdido o jeito de um fazer o outro rir, transformado em zombarias em tom jocoso e ferino. A amizade entre os dois era como um buquê de flores murchas que Emma insistia em regar. Por que não deixar morrer?" (pág. 189)

"Emma virou-se rapidamente, caminhou até ele e puxou seu rosto contra o dela, o rosto quente e úmido encostado no dele, falando depressa e em voz baixa no seu ouvido, e por um instante de glória Dexter pensou que seria perdoado.
-Dexter, eu te amo muito. Muito, muito, e provavelmente sempre amarei. - Os lábios dela encostaram no rosto dele. -Só que eu não gosto mais de você. Sinto muito." (pág. 206)

"Nada no mundo podia ser mais melancólico do que a rejeição de um anel de noivado: ficou dentro da mala no quarto do hotel, emanando tristeza como se fosse uma espécie de radiação." (pág. 214/215)

"Jasmine já está chorando quando Dexter luta para prendê-la na cadeirinha alta. Ela sempre deixa Sylvie fazer isso, mas agora está se contorcendo e gritando, um pacote compacto de músculos e barulho se agitando com uma força surpreendente e por nenhuma razão aparente, e ele começa a pensar: 'Por que você não aprende logo a falar? Aprenda uma língua qualquer e me diga o que estou fazendo de errado.' Quanto tempo até começar a falar? Um ano? Dezoito meses? É uma loucura, um erro de projeto absurdo, essa recusa a dominar a linguagem no momento em que é mais necessária. Eles deviam nascer falando. Não conversando nem argumentando, mas transmitindo informações práticas. 'Papai, estou com gases.' 'Esse tipo de atividade me deixa irritada.' 'Estou com cólicas.'" (pág. 293/294)

"Sozinho. E o pior de tudo é que sabia que era verdade. Nunca na vida tinha imaginado que seria um solitário. No seu aniversário de trinta anos, chegou a lotar uma boate da Regent Street: as pessoas faziam fila na calçada para entrar. O cartão de memória do celular em seu bolso transbordava de números telefônicos das centenas de pessoas que havia conhecido nos últimos dez anos, mas a única pessoa com quem desejava conversar todo esse tempo estava no quarto ao lado." (pág. 330)

"Filosoficamente ela anotava quando as datas se passavam na virada do ano; (...)seu próprio aniversário; e outros dias marcados por incidentes dos quais tinha participado. De repente pensou, uma tarde, enquanto se olhava no espelho em sua formosura, que havia ainda outra data, mais importante do que aquelas para ela; a da sua morte, quando todos aqueles encantos teriam desaparecido; um dia que jazia furtivo e invisível entre todos os outros dias do ano, sem emitir sinal nem som quando passava por ela ano após ano; mas que certamente estava lá. Quando seria?
Thomas Hardy, Tess of the d'Urbervilles" (pág. 365)