domingo, 29 de dezembro de 2013

Tudo menos "normal"

Título: Tudo menos "normal"
Autor: Nora Raleigh Baskin
Páginas: 190

Com a leitura deste livro atingi a minha meta que havia estipulado no início do ano: a leitura de 35 livros. É um número modesto, mas foi atingido. Levando-se em conta que esse total não contabiliza os livros relacionados ao trabalho e os de programação, me considero satisfeito com o resultado.

Sobre o livro: narrado em primeira pessoa, conta a história de Jason - um garoto autista de 12 anos - e suas dificuldades de convivência com as pessoas "normais". O que lhe dá prazer é criar histórias em um site e, quando uma garota as lê e começam a trocar mensagens, ele se questiona sobre o que a garota pensará ao saber que ele é diferente.

Livro muito belo e tocante, nos mostrando como é estar do outro lado, já que dificilmente nos damos conta disso.

Trechos interessantes:

"A maioria das pessoas gosta de falar em seu próprio idioma.
Elas realmente preferem isso. Preferem tanto que, mesmo quando vão a um país estrangeiro, usam a própria língua, falando mais alto ou mais devagar, porque acham que assim serão compreendidas." (pág. 9)

"Neurotípicos gostam quando os olhamos nos olhos. Supõe-se que signifique que você está ouvindo, como se o oposto fosse verdade, o que não é: só por que você não está olhando para alguém, não significa que não está ouvindo o que esta pessoa diz. Posso ouvir melhor quando não sou distraído pelo rosto de uma pessoa." (pág. 13)

"Sou como uma folha sobre um rio, sendo levada pela água, não exatamente flutuando, nem exatamente afundando. Então, não posso parar e não posso controlar a direção que estou tomando. Posso sentir a água, mas nunca sei para onde estou indo." (pág. 24)

"Toda palavra que você escolhe significa algo que você acha que significa, e mais.
Como,por exemplo, se uma pessoa é diferente, isso é uma coisa boa.
Mas se ela tem um defeito, isso não é." (pág. 80)

"Alguns anos atrás, descobri que os braços de papai ao meu redor não mandam a escuridão, a raiva, a tristeza embora de verdade. Eles apenas as adiam. Isso não me impede, entretanto, de pensar sobre as coisas com as quais meu pai pode me ajudar e as que ele não pode. E o que vai acontecer quando ele não estiver mais por perto." (pág. 83)

"A coisa mais importante a fazer quando você está escrevendo uma história é encontrar um dilema para o seu personagem resolver. Você pode ter os melhores e mais interessantes personagens e pode ter algo realmente importante a dizer, mas você precisa de uma história. Precisa de conflito." (pág. 109)

"-Muito tempo depois de termos desaparecido, nossas palavras serão tudo o que resta de nós, e quem é que vai dizer o que realmente aconteceu ou mesmo qual é a realidade? Nossas histórias, nossa ficção, nossas palavras serão a coisa mais próxima que pode haver da verdade. E ninguém pode tirar isso de vocês." (pág. 182/183)

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

1º a morrer

Título: 1º a morrer
Autor: James Patterson
Páginas: 374

Livro policial com todos os ingredientes do gênero. Há um assassino solto na cidade e ele tem um estilo peculiar: só mata casais que acabaram de se casar. Para desvendar esse mistério entra em cena a inspetora de polícia Lindsay que, além do caso em questão, terá que se preocupar também com uma doença grave com a qual foi diagnosticada.

No decorrer da história aparecem mais três mulheres e um parceiro para auxiliar Lindsay em sua empreitada. Fugindo dos padrões tradicionais do estilo policial, o assassino é revelado ainda no meio do livro. Mas nem por isso as emoções acabam. Até o final ainda vão surgir mais alguns detalhes para prender a atenção do leitor.

Trechos interessantes:

"Até ali, a minha filosofia sobre médicos era simples. Quando um deles olhava para você com aquela expressão profunda e preocupada e dizia para você sentar, três coisas podiam acontecer. Só uma delas era ruim. Ia convidá-la para sair, estava se preparando para dar uma notícia desagradável ou então gastara uma fortuna para reestofar a mobília." (pág. 18/19)

"Não sabemos para que lado o trem foi, se olhamos só para os trilhos." (pág. 40)

"A primeira coisa que se notava em Claire era que ela carregava vinte e cinco quilos dos quais não precisava.
-Estou em forma - ela sempre dizia. - Redondo é uma forma." (pág. 50)

"Há uma passagem em Thoreau: 'O tempo é o riacho onde vou pescar. Bebo dele, mas, enquanto bebo, vejo a areia do fundo e percebo como é raso. Sua correnteza desliza para longe, mas a eternidade permanece. Beberia mais profundo, pescaria no céu, cujo fundo é pedregoso de estrelas'." (pág. 99)

"-Essa é a verdade realmente horrorosa do assassinato. Se aprendi alguma coisa como detetive de homicídios, foi que nada segue uma linha fixa. Ontem a senhora era uma vítima inocente, mas agora está envolvida nisso também. Esse assassino vai atacar novamente e a senhora vai se arrepender do que não me contou pelo resto da vida." (pág. 189)

"-Quando eu estiver dando o meu último suspiro, não vou lembrar de todas aquelas conferências importantes das quais participei. Nós só temos poucos momentos na vida para nos soltar, então é bom aproveitá-los quando aparecem." (pág. 198)

"-Vocês querem pegar peixe grande? Voltem e peguem um caniço mais forte." (pág. 216)

sábado, 21 de dezembro de 2013

A casa da seda

Título: A casa da seda
Autor: Anthony Horowitz
Páginas: 270

Estava temeroso ao iniciar a leitura do livro, pois as informações faziam tanta referência ao estilo das histórias de Sherlock Holmes, que fiquei com receio de me decepcionar. Qual nada! É como se você tivesse lendo uma história do próprio Conan Doyle. O autor conseguiu captar tão bem a atmosfera, o gênero e a excentricidade de Sherlock Holmes e o resultado não poderia ser outro: uma história digna do grande detetive.

Como sempre, a história começa com alguém solicitando a ajuda de Holmes para um caso que, aparentemente seria simples. E aí a história começa a se desenrolar, outros aspectos vão se conectando e, de repente, a história já tomou tamanha proporção e há tantas pessoas envolvidas que só mesmo o talento de Holmes para decifrá-la. Se você é fã de livros do gênero, com certeza não irá se decepcionar com a leitura.

Trechos interessantes:

"Creio ser desnecessário lembrá-los de que os gêmeos apareceram na mitologia desde os primórdios da civilização. Houve Rômulo e Remo, Apolo e Ártemis e Castor e Pólux, imortalizados para sempre como a constelação de Gêmeos no céu noturno." (pág. 28)

"Ele não podia ter mais de treze anos, mas apesar disso, como todos os outros, já era completamente adulto. A infância, afinal de contas, é o primeiro bem que a pobreza furta de uma criança." (pág. 54)

"[...]afinal até o próprio Lestrade dissera uma vez, brincando, que um capricho da Mãe Natureza havia lhe dado a aparência de um criminoso, não de um policial, e que, pensando bem, ele poderia ter sido um homem mais rico se tivesse escolhido tal profissão. Também Holmes comentou muitas vezes que suas próprias habilidades, em particular em matéria de forçar fechaduras e forjar falsificações, poderiam tê-lo tornado um criminoso tão bem-sucedido quanto era como detetive, e é divertido pensar que, num outro mundo, os dois homens poderiam ter trabalhado juntos no lado errado da lei." (pág. 65)

"O problema com você, Holmes, é que tem mania de complicar as coisas. Por vezes pergunto a mim mesmo se não faz de propósito. É como se precisasse que o crime representasse um desafio, como se ele tivesse de ser suficientemente extraordinário para merecer solução." (pág. 70)

"'Sr. Sherlock Holmes', disse, 'Sim, sim. Creio que ouvi falar a seu respeito. Um detetive? Não posso imaginar nenhuma circunstância em que suas atividades se conectariam com as minhas'." (pág. 109)

"Mostre a Holmes uma gota d'água e ele deduziria a existência do Atlântico. Mostre-a para mim, e eu procuraria uma torneira. Essa era a diferença entre nós." (pág. 169)

"O senhor poderia dizer que sou um pensador abstrato. O crime em sua forma mais pura é, afinal de contas, uma abstração, como a música. Eu reajo. Outros executam." (pág. 182)

"Existem, acredito, ocasiões em que sabemos ter chegado ao fim de uma longa jornada; em que, mesmo que ainda não divisemos nosso destino, sabemos de algum modo que, quando dobrarmos a esquina que está bem à nossa frente, lá estará ele." (pág. 218)

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Vão dos Angicos

Título: Vão dos Angicos
Autor: Bariani Ortencio
Páginas: 200

Vão dos angicos é um livro de contos, retratando o povo, a história e os costumes da região Centro-Oeste. São nove contos - os chamados "causos" - geralmente com apelo humorístico, retratando diversas situações e personagens.

O linguajar específico da região é o que mais chama a atenção nesse tipo de história. É como se estivéssemos, de fato, ouvindo as histórias contadas pelos mais antigos, ao pé do fogão, enrolando um cigarro de palha. Só quem já viveu nesta situação para entender o que é isso.

Trechos interessantes:

"O advogado seguiu viagem, a trenheira enchendo duas bruacas, livros de Direito a maior parte. No interior seria necessário demonstrar poderio; capacidade e inteligência, nem tanto. A maior arma seriam os livros. Doutor de muitos livros na prateleira, sabedoria garantida, respeito absoluto." (pág. 13)

"De peixes eles já estavam saturados e, o que pretendiam, era mesmo caça de carne de sangue para dar sustância. variar da branca de peixe, fraca, embora rica de fosfato. Mas o que eles queriam com fosfato, com inteligência, se não precisavam dela, não tinham onde usá-la, que tudo ali era rotineiro?" (pág. 73)

"Merenciano sempre morou em Pau-d'Arco, dono que foi por herança do pai. Quando cismou de casar, o fez rápido, sem muita escolha, devido à falta do que escolher e serem as moças naquele derredor de cinco léguas, todas prendadas em serviços domésticos e ajuda na roça e curral. Das quatro Marias conhecidas, fisgou a do vizinho Luciano, a mais chegada por divisas, que ele não era de andar muito atrás de rabo-de-saia.
Maria-do-Luciano fez o pior negócio da vida, pois logo no primeiro parto embarcava deste mundo para um melhor, carregada nas asas dos anjos, de boa que era, e chorada sentidamente por Merenciano, que dela pouco aproveitara." (pág. 91)

"Quando está nesta ocupação, reclama à memória, relembra a manta que passou no cigano, na baldroca com aquela égua desgraçada de ruim, mais passarinheira que todos os diabos do inferno. Passar manta em cigano dá patente de alto gabarito comercial." (pág. 95)

"Na cidade, Apolinário empretecendo de tanto tomar café em casa dos eleitores. O peito doía de andar espremendo outros peitos nos abraços infindáveis. Só não abraçava poste porque não tinha braços." (pág. 121)

"Começou pelo chavão mais conhecido que níquel de cem reis:
-Já que é tão grande o momento!
E o Fidêncio arrematou:
-'Jaquetão grande' é 'sobretudo' sua besta!..." (pág. 131)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A linha

Título: A linha
Autor: Teri Hall
Páginas: 246

Eu realmente não entendi o estilo literário deste livro. A autora cria uma ficção, num futuro não determinado, onde as pessoas vivem com medo dos representantes do governo, mas não especifica o motivo. Algo assim como uma versão da guerra fria, mas no futuro.

Há uma linha que divide dois países (?) e a personagem principal fica obcecada por cruzar a linha. Achei o livro muito vago, com personagens simples e sem amarração. E o final então, que tristeza!

Trechos interessantes:

"São sempre as ações da própria pessoa que provocam as mudanças de verdade, sejam boas ou más." (pág. 13)

"-Eu não sei se existe algum governo que quer realmente acabar com a guerra, ela é muito útil." (pág.47)

"-Nunca é uma atitude grosseira expressar a opinião de alguém respeitosamente. Nós apenas pensamos diferente sobre esse assunto." (pág. 75)

"Ela se lembrava de seu alerta durante uma sessão de treinamento:
-Se eles tentarem cavar sua cova - disse -, não vá pegar uma pá e ajudar. Você senta quieto e cala a boca." (pág. 136/137)

"Rachel foi até sua mãe, ajoelhou-se ao seu lado e lhe deu um abraço. Não disse nada. Não sabia o que dizer. Ficou pensando sobre o que a Sra. Moore havia dito minutos antes: 'Você ficaria surpresa com o que as pessoas que achava que eram amigas são capazes de fazer'." (pág. 194)

"-Você não vê? Não dá para ter coragem sem ter medo. Os corajosos sempre temem. Mas, mesmo assim, fazem o que é preciso." (pág. 207)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Veias e vinhos

Título: Veias e vinhos
Autor: Miguel Jorge
Páginas: 262

O livro é um clássico da literatura goiana, por isso tão pouco conhecido por aqueles que não são desta terra. O livro narra a história de um crime ocorrido em Goiânia em 1957, quando a cidade ainda engatinhava.

O crime ocorreu no antigo Bairro Popular (hoje anexado ao Setor Central) onde uma família foi brutalmente assassinada, deixando apenas a filha mais nova, Ana, que a tudo assistia. Como o crime não teve solução, o romance mostra a dor e o sofrimento de Ana e os maus tratos daqueles que foram acusados injustamente. Leitura densa, mas sincera.

Trechos interessantes:

"Calmamente o céu e a noite jogavam estrelas sobre o telhado da cidade. E as estrelas empurravam a Lua para um campo limpo, de onde ela dominava sozinha um espaço azul. Uma noite de abril abrindo-se em meio a um calor novo e fácil de se aguentar." (pág. 25)

"Que surpresas agradáveis ou desagradáveis lhe concederia aquele dia? Padre Bonifácio ficou de passar na venda no final da tarde. Diabo de padre, sempre querendo dinheiro. Dinheiro. Era verdade que o bairro crescia em gente e movimento, que os negócios iam bem, mas, que diabo, dar dinheiro assim, sem mais nem menos, não era com ele. E que Deus lhe perdoasse se estava cometendo pecado." (pág. 78)

"Tinha um desejo secreto de ver o Cristo de verdade. Pensava, mas tinha medo de falar em voz alta. Estava cansado de ver o Cristo pregado na cruz, sofrendo a vida inteira. Queria ver o Cristo vivo, homem de fala humana, igual aos outros homens. Era um mistério, o Padre Bonifácio dizia, mas ele não se conformava." (pág. 101)

"Compreendeu desde o início que seu calvário começava ali. E desejou pacientemente que chegassem logo ao fim. Carregaram-no dali e o dependuraram no pau-de-arara. De cabeça para baixo, suas afirmações começaram a vacilar como seu olho direito. Apertavam mais e mais o interrogatório. O soldado deu uma risadinha, e o delegado também. Usavam de métodos e de várias possibilidades de tortura. Sabiam que mais cedo ou mais tarde ele confessaria tudo." (pág. 135)

"-Mome, vamos paperá um pouco? Onde tem um açougue por aqui?
-Açougue? Bem, ali na esquina tem um do seu Josias.
-Açougue, mome, lupanar, bordel, casa de meninas da vida. Não sabe o que é isso?" (pág. 174)

"Sei tão pouco a respeito de crimes e de prisões, não sei falar aos grandes e não tenho o menor desejo em me arrastar feito verme. Posso esperar por um instante. Por um só instante, mas com dignidade." (pág. 179)

"Chegaram uns dez carniças a fim de fazer caridade. Um arigó me cantou a cantarinha. Fiquei zurro e hurro e entrei com a capoeira, rabo-de-arraia-bico-de-papagaio-uma-dança-de-rato. Acertei um direto numa égua bonita, mandei ela ver a duvela. Mas os sacanas me encalharam enfumaçando o lupanar. Foi aí que meti o espeto no bucho dum estepe que ficou estirante. Me meteram num galinheiro e me jogaram na casa de pedra. Então, malandro, me pus frente ao alconha, sem amor, o malandro precisa de um alveitar, tá com as grampas feias. Pode abrir o bico, que sou mesmo que jorba." (pág. 202)

"[...]mas os repórteres me esperavam com máquinas fotográficas e perguntas e perguntas existem momentos decisivos na vida da gente e aquele era um deles por isso enxuguei as lágrimas e com o rosto vermelho e a voz forte rouca mesmo disse bem alto sou inocente saio da penitenciária após vinte anos de prisão dizendo a mesma frase de quando entrei sou inocente sou inocente [...]" (pág. 252)

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Até Deus duvida

Título: Até Deus duvida
Autor: Lêda Selma
Páginas: 170

Gosto muito de crônicas, é um estilo que considero descompromissado. É como se fosse um bate-papo, uma conversa informal sobre assuntos corriqueiros e sem muita importância. E, como são textos pequenos e não sequenciais, podem ser lidos em pequenos intervalos.

O livro em questão apresenta várias crônicas e quase todas humorísticas. A autora cria palavras e nomes próprios que são, no mínimo, risíveis. Onde já se viu "Distraildina", "Pescanildo", "sorveteu", "bombrilesca", "impeixíferas", "Bigolândia", "Doidivino", "cachorrólogo" e por aí vai. Em suma, uma leitura agradável.

Trechos interessantes:

"É notório que ele [computador], às vezes, tumultua nosso relacionamento, ao insistir em intrometer-se nos meus escritos (que mania danosa!). Contudo, ignoro tal ousadia e coloco-o em seu devido lugar. E tenho razão: o abelhudo recusa, substitui minhas palavras e, ainda por cima, sublinha-as de vermelho. Vê-se que o tal ignora a liberdade dos textos literários. Resultado: ficam todos carnavalescos, fantasiados. Tenho culpa se o fulano é deficiente semântico, ou se é pobre seu vocabulário conotativo?!" (pág. 17)

"A mesma sorte não teve a pera, que pela de medo dos pelos daquele bigode sobre a boca que a abocanha. Entenderam?! Ih! os conhecidos pares pára/para, pêlo/pelo, péla/pela, pólo/polo não têm mais o diferencial, mas o "têm", no plural, tem, como sempre." (pág. 20)

"De forma que, a certa altura da prosa, ninguém se aventurava a sequer uma retirada rápida, para acalmar as súplicas das necessidades mais íntimas, naturais e intransferíveis. Por puro medo de ser o próximo candidato a frangalho naquelas bocas debochadas e sem trinco." (pág. 44)

"-Transviarei o que meus antepassados sempre disseram: 'É melhor ouvir bobagem do que ser surdo'. Não, não, não, não é! Pela minha batina, ó Deus protetor dos ouvidos insultados, a surdez, por misericórdia!" (pág. 68)

"A verdade nunca o intimidava, principalmente a verdade dos outros. O que tinha a dizer, dizia, assim, de chofre. A verdade era encomenda que ele não deixava ninguém entregar ao destinatário. Fazia-o de própria boca. Sem retoques nem depois." (pág. 78)

"-Senão, o quê?! Me diga, delegado, o quê? O senhor pensa que vou aceitar que escorchem os meus direitos, é?
- (Escorchem... Que diabo é isso? Ah! não: bandido intelectual...?!)" (pág. 125)

"Que outro jeito, filho, senão recordar!? O irreversível, aprendi, é passagem sem ponte, é rio intransponível e sobre o qual não se pode navegar." (pág. 169)