quarta-feira, 30 de maio de 2018

Mosquitolândia

Título: Mosquitolândia
Autor: David Arnold
Páginas: 352

Mim (Mary Iris Malone) é uma garota cheia de esquisitices, como ela mesma se autodenomina. Seus pais se separam e a mãe, muito doente, vai para uma clínica enquanto o pai se casa novamente. Mim tem problemas na escola e está infeliz porque mora com a madrasta, com quem não se dá muito bem.

Mim decide sair de casa e ir ao encontro de sua mãe e a maior parte do livro narra justamente a aventura da viagem, com os problemas, transtornos, dificuldades e os novos amigos que surgem pelo caminho.

Trechos interessantes:

"Plantas acolhedoras. Cadeiras acolhedoras. Uma mesa de mogno que, sem dúvida, custava tanto quanto um Audi. E, às costas do bom médico, a parede da arrogância: contei sete diplomas emoldurados, pendurados com cuidado, orgulho e uma dose extra de idiotice. Opa, você não acredita que eu sou importante? Bom, então como explica isto aqui?!?!?!" (pág. 33)

"-Sabe, quando eu era mais nova, achava que, se vivesse o bastante, entenderia melhor as coisas. Mas agora sou uma senhora, Mim. E juro que, quanto mais vivo, menos as coisas fazem sentido. - Ela faz uma pausa, cerra o maxilar e continua: — Minha irmã não aprovou. O namorado. Ela nunca disse isso para mim, mas algumas coisas falam bem alto por conta própria." (pág. 53)

"- Muito bem, meus amigos, bem-vindos a Nashville. Se este é seu destino final — ele sorri, e eu me pergunto se o dente lascado é cortesia do acidente —, bom, vocês chegaram. Se não, com certeza perderam o ônibus da conexão. Dirijam-se ao balcão de atendimento que o pessoal vai ajudar. E não se esqueçam dos vales. Deus sabe que vocês merecem. - Ele pigarreia e continua: - Como funcionário da empresa Greyhound, peço desculpas pelo incidente perto de Memphis e espero que isso não os impeça de escolher nossos serviços no futuro. Como ser humano, peço desculpas pelo acidente perto de Memphis e não culparia ninguém por nunca mais querer andar em um ônibus da Greyhound. Agora caiam fora do meu ônibus." (pág. 94/5)

"Mais tarde, pouco antes de dormir, perguntei a ela se meu pai estava bravo por causa dos três dólares de Reggie. Minha mãe disse que não, mas eu sabia a verdade. Perguntei se meu estava certo, se Reggie não passava de um bêbado vagabundo. Minha mãe respondeu que, mesmo que fosse verdade, ela continuaria dando os três dólares. Disse que não cabia a ela descobrir quem estava mesmo morrendo de fome e quem estava fingindo. - Ajuda é ajuda para qualquer um, Mary. Mesmo que a pessoa não saiba que precisa." (pág. 98/9)

"Preciso me animar. Eu deveria fazer o que quer que as pessoas felizes fazem quando estão sendo felizes." (pág. 120)

"Ahab está na minha frente, olhando para a caixa, depois para mim, e, de repente, começo a chorar. É loucura, porque Arlene era tia dele, não minha. Eu não a conhecia direito, não de verdade. Não sei qual era sua cor favorita, seu filme favorito, de que tipo de música ela gostava ou se preferia lagos ou o mar. Não sei sequer seu sobrenome. Mas talvez não sejam essas coisas que nos fazem amar alguém. Talvez o verdadeiro amor seja mais sutil que isso. Talvez." (pág. 168/9)

"A fila deve ter um quilômetro, mas não faz mal. Na minha experiência, a quantidade de tempo que uma pessoa está disposta a esperar por alguma coisa é um bom indicador do quanto a deseja." (pág. 219)

"Esta é a questão da vida: você não sabe quanto tempo tem até morrer, e, até lá, não vai saber muito de nada." (pág. 330)

sábado, 19 de maio de 2018

Os segredos matemáticos dos Simpsons

Título: Os segredos matemáticos dos Simpsons
Autor: Simon Singh
Páginas: 278

Por trás das histórias aparentemente simples de Os Simpsons há uma crítica mordaz sobre os costumes, a vida e a sociedade, principalmente a americana. O que muita gente não sabe é que muitos dos autores da série são matemáticos e, com isso, acabam inserindo nos episódios vários detalhes especificamente ligados ao ramo da matemática. Se o espectador não for um entusiasta da matemática, certamente "passará batido" a esses detalhes.

O livro mostra a preocupação e o interesse dos autores em, sempre que possível, inserir na história algum tópico relativo à matemática e que seja pertinente ao tema em discussão. Várias equações, fórmulas e teorias que aparecem nos episódios são devidamente apresentadas e analisadas para a compreensão daqueles que, digamos assim, não têm uma queda muito acentuada para a matemática.

Trechos interessantes:

"Até o presidente George H. W. Bush afirmou ter encontrado a verdadeira mensagem por trás de Os Simpsons. Ele acreditava que a série fora criada para representar os piores valores sociais possíveis. Foi daí que veio a sua declaração mais memorável, feita na Convenção Nacional Republicana de 1992, um momento importante da sua campanha de reeleição: 'Continuaremos tentando fortalecer a família americana e tornar as famílias americanas muito mais parecidas com os Waltons e menos parecidas com os Simpsons.'" (pág. 10)

"Assim que aprendeu a ler, o interesse de Reiss por matemática o levou a se apaixonar por charadas. Particularmente, ele começou a devorar os livros de Martin Gardner, o principal autor de matemática recreativa do século XX. A abordagem bem-humorada de Gardner dos problemas atraía tanto os mais jovens quanto os mais velhos, como colocou um amigo seu: 'Martin Gardner transformou milhares de crianças em matemáticos, e milhares de matemáticos em crianças.'" (pág. 19)

"A trama do episódio gira em tomo do bullying de nerds, que continua sendo um problema global mesmo apesar das palavras do educador Charles J. Sykes, que escreveu em 1995: 'Seja gentil com os nerds. É provável que você acabe trabalhando para um.'" (pág. 31)

"A medida que as décadas se passavam sem uma prova, o último teorema de Fermat se tornava cada vez mais infame, e o desejo por uma prova aumentava. No final do século XIX, o problema atraíra a imaginação de muitas pessoas de fora da comunidade matemática. Por exemplo, quando o industrial Paul Wolfskehl morreu em 1908, ele deixou 100 mil marcos (o equivalente na atualidade a 1 milhão de dólares) como recompensa para qualquer um que conseguisse provar o último teorema de Fermat. Segundo alguns relatos, Wolfskehl desprezava a mulher e o resto de sua família, então seu desejo era deixá-los sem nada e recompensar a matemática, que ele sempre amara. Outros argumentam que o Prêmio Wolfskehl foi sua forma de agradecer a Fermat, pois conta-se que seu fascínio pelo problema lhe dera uma razão para viver quando ele estava à beira do suicídio." (pág. 42/43)

"Algumas das piadas favoritas de Mike Reiss fazem uso da matemática: 'Gosto dessas piadas. Elas me dão um grande prazer. Estou pensando agora mesmo em uma piada ótima que ouvi quando era criança. É sobre uns caras que compram um caminhão cheio de melancias por 1 dólar a unidade e depois atravessam a cidade e as vendem por 1 dólar a unidade. No fim do dia, eles estão sem dinheiro, e um cara diz: "Deveríamos ter comprado um caminhão maior".'" (pág. 55)

"Um dia, Jesus disse aos discípulos: 'O Reino dos Céus é como 2x2 + 5x - 6.' Parecendo confuso, Tomé perguntou a Pedro: 'O que o mestre quis dizer?' Pedro respondeu: 'Não se preocupe - é só mais uma de suas parábolas'." (pág. 100)

"Como disse certa vez o cientista britânico J. B. S. Haldane (1892-1964): 'Suspeito que o Universo não apenas é mais extraordinário, mas ainda mais extraordinário do que sequer podemos supor.'" (pág. 131)

"A diferença entre um teorema e uma conjectura é que o primeiro é comprovadamente verdadeiro, enquanto o segundo não foi provado nem refutado... ainda." (pág. 133)

"Esses termos - googol e googolplex - tornaram-se mais ou menos conhecidos na atualidade, até entre membros do público em geral, pelo fato de o termo googol ter sido adaptado por Larry Page e Sergey Brin como o nome do seu mecanismo de busca. Entretanto, eles preferiram uma ortografia mais comum, então a companhia foi chamada de Google, e não Googol. O nome sugere que o mecanismo de busca oferece acesso a grandes quantidades de informações. A sede do Google, como não seria de se surpreender, se chama Googleplex." (pág. 149)

"A mutação que resultou em mãos de oito dedos em Os Simpsons remonta às origens dos desenhos animados, quando eles eram exibidos no cinema. O Gato Félix, que estreou em 1919, só tinha quatro dedos em cada mão, característica herdada por Mickey Mouse quando ele fez sua primeira aparição em 1928. Quando indagado sobre o motivo pelo qual seu roedor antropomórfico tinha dedos faltando, Walt Disney respondeu: 'Artisticamente, cinco dedos sáo demais para um rato. Sua mão pareceria mais um monte de bananas.' Disney também acrescentou que mãos mais simples significavam menos trabalho para os animadores: 'Financeiramente, não ter um dedo a mais em cada um dos 45 mil desenhos que compõem um curta de seis minutos e meio economizou milhões para o estúdio.'" (pág. 169)

"Ao contrário das ideias nascidas nas artes e nas ciências humanas, os teoremas matemáticos não entram e saem de moda. Como o próprio Hardy observou: 'Arquimedes será lembrado depois que Ésquilo for esquecido, pois línguas morrem, mas ideias matemáticas náo. 'Imortalidade' pode ser uma palavra tola, mas provavelmente um matemático é quem tem a maior chance de alcançá-la, o que quer que isso queira dizer.'" (pág. 209)

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Sobrados e barões da velha São Paulo



Título: Sobrados e barões da velha São Paulo
Autor: Mário Jorge Pires
Páginas: 170

O livro procura relacionar os barões do café com a ocupação da cidade de São Paulo, mais especificamente mostrar a origem dos fazendeiros que transformaram o aspecto visual da capital, principalmente na região da Avenida Paulista.

É uma obra de pesquisa, na qual o autor despendeu muitas horas consultando arquivos, almanaques, listas telefônicas e inúmeros outros documentos antigos, objetivando elucidar a questão. O texto é acompanhado ainda de várias fotos e diversas citações.

Trechos interessantes:

“No sobrado, a disposição espacial dos cômodos obedecia, em linhas gerais, à do estereotipado sobrado colonial de tradição lusitana. O pavimento térreo não era habitado pelo proprietário, ficando quase vazio ou de uso reservado a loja, cocheira ou acomodação de escravos. No pavimento superior, havia a sala, na frente, que era o cômodo social da casa, onde se recebiam as visitas, e a sala de jantar; entre elas existiam, invariavelmente, alcovas que serviam de dormitórios, frequentemente destituídas de janelas, e, nos fundos, as áreas de serviço. ” (pág. 9/10)

“Nos séculos XVII e XVIII, o paulista é descrito por Machado (1978) como pobre e rude, de capital quase nulo. Uma ou outra pequena fortuna está presente ao longo dos inventários. Mas Milliet (1982) já observou que não era o bandeirante nem tão rico como sugerem alguns historiadores, nem tão pobre como parece transparecer nos inventários da época: ” (pág. 11/12)

“A elite conviveu com o comércio da zona central – a mais antiga da cidade – até por volta de 1870 e formada pelas Ruas Direita, Nova de São José, do Carmo, do Imperador etc. Aos poucos, foi estendendo-se a outros pontos, com menor intensidade comercial. No início dessa trajetória, a casa do pobre e do rico podiam estar lado a lado, excetuando-se daí os miseráveis, pois estes sempre habitaram as várzeas e as encostas da colina. A manifestação de status social por meio do modo de morar ocorria menos pelo local de residência do que pelo tamanho da edificação. Gradativamente, a elite foi manifestando a tendência de também usar o local de habitação como uma forma a mais de expressar seu status. “ (pág. 55)

“Se, por um lado, São Paulo concentrava importantes motivos para receber a presença dos proprietários rurais, por ser sede da província e estar a meio caminho do litoral santista, o que facilitava o controle das mercadorias na descida da serra, um outro aspecto que também contribuiu para a vinda de famílias oriundas do interior, nem sempre levado em conta, foi a existência de doenças que estavam tornando-se endêmicas no país. “ (pág. 79)

“No afã de varrer para sempre o que consideravam caipirismo e com isso atingir o status de grandes senhores, igualáveis aos integrantes da elite europeia, a moradia passou a representar, de forma saliente, o símbolo pelo qual expressavam sua incontestável posição de elite econômica, social e, pela adoção do novo estilo de vida, também cultural. “ (pág. 116)