sexta-feira, 29 de março de 2013

A travessia

Título: A travessia
Autor: William P. Young
Páginas: 238

O livro segue o mesmo ritmo de "A cabana". Um mega empresário, que nunca pensou em ninguém alem de si mesmo, está às portas da morte e, durante o coma, tem uma visão de como sua vida tem sido e, com o auxílio celestial, tem a oportunidade de mudar alguma coisa, se for de seu interesse,

A história é interessante, traz muitos momentos de reflexão e vai tocar, sem dúvida, os mais emotivos. Mas, mesmo com tudo isso, tive a impressão de ser um "Cabana 2" e aquela sensação de "já vi isto em algum lugar" esteve sempre presente. Mas, resumindo: se você gostou de "A cabana", vai gostar deste: o estilo é o mesmo.

Trechos interessantes:

"As características negativas dos pais haviam sido apagadas pela saudade que sentia dos dois. Guardava como um tesouro aquela fotografia desbotada, a última tirada antes de um adolescente irresponsável perder o controle do carro e transformar glória em escombros." (pág. 19)

"Não havia certo e errado, assim como nenhuma verdade absoluta, apenas normas sociais regidas por leis e comportamentos gerados por algum sentimento de culpa. A morte, tal como ele a concebia, significava que nada realmente importava. A vida era um suspiro evolucionário sem sentido, a sobrevivência temporária do mais inteligente ou engenhoso. Dali a mil anos, se a raça humana sobrevivesse, ninguém saberia que ele havia existido nem se importaria com a maneira como levara sua vida." (pág. 28)

"Ele balançou a cabeça diante do completo absurdo daquela experiência, mas logo perguntou-se: um acontecimento que não é real e jamais será lembrado pode ser chamado de experiência?" (pág. 50)

"-Filho, você vem morrendo desde o dia em que foi concebido. Embora a morte seja um mal monstruoso, os seres humanos passaram a imaginá-la como algo muito mais poderoso do que ela realmente é. Na verdade, é como se uma luz estivesse projetando as sombras da morte em proporções terríveis, gigantescas, no cenário de sua existência, e agora você estivesse com medo até dessas sombras." (pág. 61)

"-Grande parte do que você precisa perdoar nas outras pessoas, e especialmente em si mesmo, é a ignorância que machuca. Não é só de propósito que as pessoas magoam umas às outras." (pág. 70)

"-Você está me perguntando algo que só pode ser conhecido pela experiência. Que palavras são capazes de comunicar as sensações de um primeiro amor, de um pôr do sol inesperado, do perfume de jasmim, gardênia ou lilases? Quais as palavras para descrever os sentimentos provocados  em uma mãe que segura o filho pela primeira vez, os momentos em que você é surpreendido pela alegria, por uma música transcendental, ao atingir o topo de uma montanha que escalou, a primeira vez que provou mel direto da colmeia... Ao longo de toda a história, temos buscado palavras que possam conectar o que conhecemos àquilo pelo qual ansiamos, mas o que vemos agora é apenas um reflexo obscuro." (pág. 130/131)

"Os amigos de verdade o apunhalam pela frente. -Oscar Wilde" (pág. 137)

"-Não entendo. Por que rosas têm espinhos?
-Para que você as manuseie com cuidado e carinho." (pág. 172)

"-Tony - ela respondeu -, nunca conheci alguém que fosse completamente ruim. Em grande parte, sim, mas nunca completamente. Todo mundo já foi criança um dia, e isso me traz esperanças. As pessoas só podem dar aquilo que têm, e fazem as coisas por determinados motivos, mesmo que não tenham consciência de quais são. Às vezes é difícil descobrir, mas sempre existe um motivo." (pág. 181/182)

"O perdão é o perfume que a violeta espalha sobre o pé que a esmagou. -Mark Twain" (pág. 222)

domingo, 24 de março de 2013

Aléxandros - o sonho de Olympias

Título: Aléxandros - o sonho de Olympias
Autor: Valerio Massimo Manfredi
Páginas: 310

Este é o primeiro livro da trilogia que narra a história de Alexandre, o Grande. Este volume apresenta o nascimento e a infância de Alexandre, seus amigos, seu encontro com Aristóteles, seus sonhos e desejo de seguir o exemplo do pai, o rei Filipe.

Apresenta as articulações de sua mãe, a rainha Olympias, para colocá-lo no poder, tendo em vista a existência de outros possíveis sucessores. O livro termina com a morte do rei Filipe e a ascensão de Alexandre como o rei da Macedônia.

É um livro de caráter histórico, mas de leitura agradável e vocabulário moderno, pois, como afirma o autor, os termos típicos da época foram substituídos por termos modernos para agilizar o entendimento da leitura.

Trechos interessantes:

"Somente o homem, entre todos os seres vivos, pode elevar-se até quase alcançar as moradas dos deuses, ou descer abaixo dos animais irracionais. Tu já viste as moradas dos deuses, moraste na casa de um rei, mas achei oportuno que também visses o que de pior pode reservar a sorte para um ser humano. Entre aqueles infelizes há homens que um dia talvez tenham sido chefes ou fidalgos, e que de repente o destino precipitou na miséria." (pág. 50)

"É aqui, na corte, que aprenderás a ser rei, não no campo de batalha; a profissão de um soberano é a política, não o uso da lança e da espada." (pág. 135)

"Lembra-te disto, meu rapaz: eu nunca combato pelo mero prazer de lutar. Para mim, a guerra é apenas política feita com outros meios." (pág. 143)

"Nada podia ser mais aflitivo para uma família do que saber que o corpo de um filho tombado em batalha jazia insepulto, à mercê de cães e abutres, desprovido das honras funerárias." (pág. 160)

"-[...]Diógenes acha que somente prescindindo de tudo aquilo que é supérfluo o homem pode livrar-se de todo desejo e, portanto, de qualquer tipo de infelicidade.
-Uma teoria um tanto estranha - interveio Calístenes. - Prescindir de tudo não para alcançar a felicidade, mas sim apenas a imperturbabilidade: parece-me um exercício um tanto bobo, além de um desperdício. Seria como queimar madeira para vender as cinzas, não acha?" (pág. 175)

"-Salve, Diógenes. Quem está na tua frente é Alexandre da Macedônia. Pede-me o que quiseres e eu serei feliz em te dar.
O velho abriu a boca desdentada:
-Qualquer coisa? - perguntou com voz estrídula, sem nem mesmo entreabrir os olhos.
-Qualquer coisa - confirmou Alexandre.
-Então sai daí, que estás a fazer-me sombra." (pág. 176)

"Alexandre recobrou a calma, assumindo uma expressão sombria como se as chacinas e os lutos evocados pela mãe pesassem de repente, e todos juntos, na sua alma.
-Está escrito no destino que isto aconteça - rebateu. - Está escrito que o homem tenha de suportar feridas, doenças, dores e mortes antes de se precipitar no vazio do nada. Mas agir com honra e ser clemente toda vez que lhe for possível está ao seu alcance e é escolha sua. Esta é a única dignidade que lhe é concedida desde que ele vem ao mundo, a única luz antes das trevas de uma noite sem fim..." (pág. 247/248)

"Parou diante da fachada do grandioso santuário de Apolo e olhou as palavras esculpidas em letras de ouro:
Conhece a ti mesmo
-O que achas que significa? - perguntou Cratero, que nunca se propusera problemas de natureza filosófica.
-Parece-me claro - respondeu Alexandre. - Conhecer a si mesmo é a mais difícil das tarefas, pois tem que ver diretamente com a nossa racionalidade, mas também com nossos medos e paixões. Quando alguém consegue de fato conhecer profundamente a si mesmo, também saberá entender os outros e a realidade que o cerca." (pág. 257)

"Percebia estar ao lado de uma deusa, e nenhum mortal pode pedir coisa alguma a uma deusa: só pode ficar agradecido por aquilo que recebe," (pág. 289)

sábado, 16 de março de 2013

A vida em tons de cinza

Título: A vida em tons de cinza
Autor: Ruta Sepetys
Páginas: 240

O livro narra a trajetória da jovem Lina Vilkas, uma lituana de 15 anos que, com a mãe e o irmão são deportados pelo governo de Stalin para os campos de trabalho forçado na Sibéria, devido ao engajamento político do pai, um professor universitário.

Lina e sua família procuram retratar todo o povo da Lituânia que sofreu nas mãos de Stalin, povo este humilhado e exposto a todo tipo de sofrimento, violência e humilhação, mas que nunca perdeu a dignidade e a esperança. É um relato forte, mas sincero tocante.

Trechos interessantes:

"[...]
- Eu não mereço nada. É preciso defender o que é certo sem esperar gratidão nem recompensa, Lina. Agora, termine o dever." (pág. 16)

"[...]
- Lina, querer fugir disto aqui é perfeitamente compreensível. Mas, como seu pai disse, temos que ficar juntos. Isso é muito importante.
- Mas como eles podem simplesmente decidir que somos animais? Eles nem nos conhecem - falei.
- Nós nos conhecemos. Eles estão errados. E nunca deixe que ninguém a convença do contrário. Entendeu?" (pág. 53/54)

"Lembrei-me de papai contando como Stalin havia confiscado as terras, as ferramentas e os animais dos camponeses. Era ele quem lhes dizia o que produzir e o quanto iriam receber. Eu achava isso ridículo. Como Stalin podia simplesmente pegar uma coisa que não lhe pertencia, algo pelo qual um agricultor e sua família trabalharam a vida inteira? 'Comunismo é isso, Lina', dissera papai." (pág. 80)

"Sussurrando em seu ouvido, mamãe lhe contou sobre a proposta de trabalho do comandante.
- Mas Elena, você poderia ter conseguido um tratamento especial - disse a outra mulher. - E provavelmente mais comida.
- Um pouco mais de comida nao vale uma consciência pesada - disse mamãe. - pense nas exigências que eles fariam naquela sala. E pense no que poderia acontecer com as pessoas. Não preciso carregar esse peso. Vou dar duro como todo mundo." (pág. 90/91)

"Estávamos nos aperfeiçoando rapidamente na arte de roubar migalhas. Jonas saía de fininho todas as noites para pegar restos de comida no lixo da NKVD. Insetos e vermes não intimidavam ninguém. Bastavam um ou dois petelecos e a comida desaparecia goela abaixo. Às vezes Jonas voltava com embrulhos que Andrius e a Sra. Arvydas escondiam no lixo. No entanto, tirando esse presente ocasional, havíamos chegado ao mais baixo nível da cadeia alimentar e sobrevivíamos comendo coisas sujas e podres." (pág. 132)

"Agora eu sabia como Edvard Munch se sentia. 'Pinte o que vê', dissera ele. 'Mesmo que o dia esteja ensolarado e você só veja escuridão e trevas. Pinte o que vê'." (pág. 152)

"Os homens pareciam não ligar nem um pouco para nós. É claro que não. Nossos corpos magros tinham um aspecto quase andrógino. Fazia meses que eu não menstruava. Nada em mim parecia feminino. Um pedaço de carne de porco ou uma cerveja com colarinho seriam mais atraentes para aqueles homens." (pág. 184)

"Na Sibéria só havia dois desfechos possíveis. Sucesso significava sobrevivência. Fracasso significava morte. Eu queria sobreviver." (pág. 224)