sábado, 31 de outubro de 2015

O testamento

Título: O testamento
Autor: John Grisham
Páginas: 438

Troy Phelan, um milionário de 84 anos com três ex-esposas e seis filhos desajustados, está prestes a assinar seu último testamento, na presença de três psiquiatras. Depois de assinado, retira do bolso outro testamento, assina na presença de seu advogado e salta do prédio para a morte. Neste último testamento, Troy Phelan deixa toda sua fortuna para uma filha ilegítima, que ninguém sabia de sua existência, deixando os filhos e as ex-esposas sem nada.
O resto do livro é a localização da filha ilegítima e a revolta dos filhos que se sentem injustiçados. A história prende o leitor, que se vê às voltas com as questões legais e éticas do caso. Outro fato interessante é que a filha ilegítima está no Brasil e assim, grande parte da narrativa versa sobre terras brasileiras, especialmente o Pantanal. Boa leitura.

Trechos interessantes:

"O problema que existe em ter dinheiro é que todo mundo quer um pouco." (pág. 12)

"-Parece fraudulento - Durban disse. -Ele os atrai com a promessa de dinheiro, satisfaz seus psiquiatras, e no último segundo assina um testamento que os exclui completamente.
-Foi fraudulento, mas isso é um testamento, não um contrato. Um testamento não é um presente. De acordo com a lei da Virgínia, ninguém é obrigado a deixar um centavo para os filhos." (pág. 37)

"Nate ficou agradavelmente surpreso ao ver que todos os rostos estavam atrás de uma grande variedade de jornais da manhã. O noticiário era tão moderno e bem-feito quanto nos Estados Unidos e estava sendo lido por pessoas ávidas pelas notícias. Talvez o Brasil não fosse tão atrasado quanto tinha pensado. Aquela gente sabia ler!" (pág. 87)

"Como está se sentindo?
-Muito melhor - Nate disse, quase envergonhado. Mas a vergonha era uma emoção que havia abandonado há anos. Os viciados não sabem o que é sentir vergonha. São tantas as ocasiões vergonhosas que acabam imunes a elas." (pág. 139)

"Quando o explorador português Pedro Álvares Cabral pela primeira vez pisou no solo brasileiro, na costa da Bahia, em abril de 1500, havia no país cinco milhões de índios, em novecentas tribos. Tinham mil cento e setenta e cinco línguas diferentes e, a não ser por pequenas escaramuças entre as tribos, viviam em paz.
Depois de séculos submetidos aos processos de 'civilização', impostos pelos europeus, as populações indígenas estavam dizimadas. Apenas duzentos e setenta mil sobreviveram, em duzentas e seis tribos, que usavam cento e setenta línguas diferentes. A guerra, o assassinato, a escravidão, as perdas territoriais, as doenças - nenhum método de exterminação foi esquecido pelas culturas civilizadas." (pág. 179)

"-O cacique gostou de vocês?
-Evidentemente. Quer que passemos a noite aqui.
-O que acha do meu povo?
-Estão todos nus.
-Sempre estiveram.
-Quanto tempo levou para se acostumar?
-Eu não sei. Uns dois anos. Aos poucos a gente se acostuma, e com todo o resto. Nos primeiros três anos tive muita saudade de casa e agora, em certos momentos, eu gostaria de dirigir um carro, comer uma pizza e ver um bom filme. Mas a gente se adapta." (pág. 234)

"-Você teria uma família e amigos se fosse para a casa agora. Seria famosa.
-Outro bom motivo para ficar aqui. Aqui é o meu lar. Eu não quero o dinheiro.
-Não seja tola.
-Não estou sendo tola. O dinheiro não significa coisa alguma para mim. Isso devia ser óbvio.
-Você nem sabe quanto é.
-Não perguntei. Trabalhei hoje sem pensar no dinheiro. Farei o mesmo amanhã e depois de amanhã." (pág. 238)

"-[...]A terra é tudo para os índios. Sua vida. A maior parte foi tomada pelos homens civilizados.
-Já ouvi essa história antes.
-Sim, já ouviu. Nós dizimamos sua população com banhos de sangue e doença e tomamos sua terra. Então os mandamos para as reservas e não podemos compreender por que não se sentem felizes." (pág. 245/246)

"O despachante é parte essencial da vida no Brasil. Nenhuma casa de comércio, banco, empresa de advocacia, grupo de médicos ou pessoa com dinheiro pode operar sem os serviços de um despachante. É o homem que facilita tudo. Num país onde a burocracia é antiquada e lenta, o despachante é o homem que conhece os funcionários da prefeitura, o pessoal dos tribunais, os burocratas, os agentes da alfândega. Conhece o sistema e sabe o que fazer para que funcione. No Brasil não se consegue nenhum documento oficial sem a longa espera nas filas e o despachante é o homem que fica na fila por você. Por uma pequena quantia ele espera oito horas para renovar a vistoria do seu automóvel, depois a prega no pára-brisa enquanto você está trabalhando. Ele faz o serviço de banco, de encomendas, de correspondência - uma lista interminável." (pág. 314)

sábado, 17 de outubro de 2015

O príncipe dos canalhas

Título: O príncipe dos canalhas
Autor: Loretta Chase
Páginas: 288

Marquês de Dain (conhecido também como lorde Belzebu) foi rejeitado pelo pai, humilhado pelos colegas de escola, abandonado pela mãe, leva uma vida pecadora e depravada e nenhuma dama respeitável sequer se aproxima do mesmo. Eis que surge em cena Jessica Trent, uma mulher independente, que não tem meias palavras e que tem por objetivo livrar o irmão das influências nefastas do marquês.

O encontro dos dois provoca conflitos interessantes: o marquês fica revoltado por encontrar uma mulher a quem ele não consegue dominar e a jovem dama sente-se atraída pela figura repulsiva do marquês. A sequência da história é o que mais ou menos se espera de um romance desta categoria, com um final feliz, é claro. Leitura simples, mas agradável.

Trechos interessantes:

"Dali em diante, decidiu que adotaria o seguinte lema de Horácio: 'Ganha dinheiro honestamente, se puderes; senão, como puderes'." (pág. 14)

"'Esposa ou amante, são todas iguais', ele costuma dizer aos amigos. 'Quando uma dama - virtuosa ou não - se prende a você, você se torna o dono de uma propriedade problemática, onde os arrendatários estão sempre em pé de guerra e pela qual você precisa despender muito trabalho e dinheiro. Tudo pelo privilégio ocasional - que depende dos desejos dela - de conseguir o que você poderia ter com qualquer meretriz em troca de alguns xelins'." (pág. 73)

"'Não há animal mais invencível do que a mulher', dissera Aristófanes. 'Nem o fogo nem qualquer felino selvagem consegue ser tão implacável'." (pág. 105)

"-Eu? Ajudar? - perguntou ele, incrédulo. - Para que diabo servem os criados, sua cabecinha de vento? Eu não lhe disse que pagaria tudo? Se ninguém em casa tem competência para fazer o serviço, então contrate alguém. Se você quer ser uma marquesa rica, por que não começa a agir como uma? As classes trabalhadoras trabalham - explicou ele, com uma paciência exagerada. - As superiores lhes dizem o que fazer. Não se deve ir contra a ordem social." (pág. 117/118)

"Vawtry não se preocupava com os comerciantes a quem devia; as notas promissórias que passara aos amigos é que lhe causavam ansiedade profunda. Se não conseguisse saldá-las, não teria mais amigo nenhum. Um cavalheiro incapaz de pagar suas dívidas não seria mais considerado um cavalheiro. Essa ideia era ainda mais apavorante do que a ameaça dos agiotas ou das prisões para devedores." (pág. 134)

"Com o mundo em ordem, Dain dedicou um tempo preguiçoso do banho para revisar seu dicionário mental. Removeu sua esposa da categoria geral denominada 'Mulheres' e deu a ela uma seção própria. Fez uma anotação onde indicava que ela não o achava repugnante e propôs várias explicações: (a) visão e audição prejudicadas, (b) um pequeno defeito em seu intelecto, que, em todos os outros assuntos, era impecável, (c) uma excentricidade da família Trent ou (d) um ato de Deus. Como o Todo-Poderoso nunca havia lhe concedido a dádiva de um único ato de gentileza em pelo menos 25 anos, Dain pensou que já não era sem tempo, mas agradeceu ao Pai Celestial mesmo assim e prometeu ser um bom marido." (pág. 191)

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A criação

Título: A criação

Autor: Edward O. Wilson
Páginas: 192

Edward Wilson, um dos maiores biólogos do mundo, faz um claro apela à vida. Tenta sensibilizar a todos, mostrando que pouco sabemos sobre a vida na Terra e temos ainda menos preocupação em ampliar os conhecimentos. Necessitamos da Natureza, mas a tratamos como se ela fosse um objeto secundário.

O livro é escrito na forma de uma carta a um pastor evangélico, conclamando a união da ciência e da religião em prol da vida. Apesar do abismo existente entre estas duas vertentes, o autor argumenta que devemos deixar de lado as questões menos importantes e unirmos força para defender a Criação. Excelente livro.

Trechos interessantes:

"A espécie humana adaptou-se física e mentalmente à vida na Terra, e a nenhum outro lugar. Nossa ética é o código de conduta que temos em comum, com base na razão, na lei, na honra e em um senso inato de decência, ainda que alguns o atribuam à vontade de Deus." (pág. 12)

"Mas o que é a Natureza? A resposta mais simples possível é também a melhor: a Natureza é aquela parte do ambiente original e de suas formas de vida que permanece depois do impacto humano. Natureza é tudo aquilo no planeta Terra que não necessita de nós e pode existir por si só." (pág. 23)

"É prudente deter a destruição final e permanente da Natureza, pelo menos até que compreendamos mais exatamente o que somos, e o que estamos fazendo." (pág. 38)

"É possível que nunca cheguemos a avistar pessoalmente certos animais raros - podemos lembrar o lobo, o pica-pau-bico-de-marfim, o panda, o gorila, a lula-gigante, o grande tubarão-branco, o urso-pardo -, mas precisamos deles como símbolos. Eles proclamam o mistério do mundo. São as joias da coroa da Criação. Só saber que eles existem em algum lugar, estão vivos e passam bem é importante para o espírito, para que a nossa vida seja inteira. Se eles vivem, então a Natureza também vive. Com certeza nosso mundo estará em segurança, e nós estaremos em uma situação melhor. Imagine o choque desta manchete: ABATIDO O ÚLTIMO TIGRE - A ESPÉCIE ESTÁ EXTINTA." (pág. 69)

"Não há nenhuma solução disponível, posso lhe garantir, para salvar a biodiversidade da Terra, além da preservação dos ambientes naturais em reservas grandes o bastante para manter as populações silvestres de forma sustentável. Só a Natureza pode servir como arca de Noé planetária." (pág. 104)

"Os cientistas são para a ciência aquilo que os pedreiros são para as catedrais." (pág. 119)

"No longo caminho à frente, a biologia de modo geral e os estudos sobre a biodiversidade em particular necessitam de um mapa. Pastor, se o senhor está se perguntando o que tem a ver esse pré-requisito com a Criação, devo lhe dizer que nós pouco sabemos sobre o que está acontecendo com a maior parte da vida na Terra porque nem sequer sabemos o que ela é. A humanidade não precisa de uma base na Lua nem de uma viagem tripulada a Marte. Precisamos de uma expedição ao planeta Terra, onde provavelmente menos de 10% das formas de vida são conhecidas pela ciência, e menos de 1% destas já foram estudadas além de uma simples descrição anatômica e algumas anotações sobre sua história natural." (pág. 133)

"Archer era um profissional e me tratava como se eu também fosse. Ele fez com que me sentisse confiante. Ensinou-me a falar a linguagem de um verdadeiro pesquisador científico. Não se importava com dinheiro nem fama; importava-se com a classificação e a biologia das aranhas. Eu não compreendia todas as palavras, mas captava a música." (pág. 147)

"Da liberdade de explorar vem a alegria de aprender. Do conhecimento adquirido pela iniciativa pessoal advém o desejo de obter mais conhecimentos. E ao dominar esse novo e belo mundo que está à espera de cada criança, surge a autoconfiança. Cultivar um naturalista é como cultivar um músico ou um atleta: excelência para os talentosos, prazer por toda a vida para os demais, benefício para toda a humanidade." (pág. 166)

"Deus fez a Criação, é o que o senhor diz. Essa verdade está claramente expressa nas Sagradas Escrituras. Vinte e cinco séculos de teologia e boa parte da civilização ocidental foram construídos com base nessa convicção. Mas não é assim, digo eu, respeitosamente. A vida se fez a si mesma, por meio de mutações aleatórias e da seleção natural das moléculas codificadoras. Por mais radical que pareça tal explicação, ela tem o respaldo de um imenso volume de provas interconectadas. Talvez ainda se chegue a demonstrar que essa teoria está errada; no entanto, a cada ano isso parece menos provável." (pág. 186)

domingo, 4 de outubro de 2015

Vestígio

Título: Vestígio
Autor: Patricia Cornwell
Páginas: 444

Kay Scarpetta é uma médica legista que foi chamada a investigar a morte de uma garota de 14 anos, em que ninguém conseguia descobrir a causa. O problema é que ela foi chamada pelo departamento onde ela havia sido chefe e sido demitida cinco anos antes. Vários fatores pesam na decisão de aceitar ou não o chamado.

Segundo a orelha do livro, a personagem Kay Scarpetta já protagonizou vários livros da autora, mas confesso que este é o primeiro que li e também tomei conhecimento. Romance policial, com as características de praxe, mas não achei nada excepcional, uma história comum na minha simples opinião.

Trechos interessantes:

"Marino passou a vida adulta na polícia, e um detalhe que um bom policial nunca despreza é a localização. Não adianta nada pegar seu rádio e gritar Socorro se você não souber onde está." (pág. 82)

"Ele ergue os olhos para ela. 'É seguro conversar aqui, tenho certeza. Ele não é tão esperto assim. Além disso, acho que nunca esteve na sala de decomposição. Provavelmente nem sabe onde ela fica'.
'É fácil subestimar as pessoas de quem a gente não gosta'." (pág. 121)

"Ele não é um bom pai. Não é assim que acontece? Nós amamos o que não podemos ter." (pág. 164)

"Quando ela ficava bêbada, buscava o que pensava que queria, só  para descobrir depois que não queria o que tinha buscado, e sentia repulsa ou simplesmente indiferença, supondo que conseguisse sempre se lembrar do que fizera ou buscara, e depois de algum tempo ela raramente se lembrava." (pág. 170/171)

"Quando a gente se torna o alvo, é difícil ser objetivo. Como guerreiros, tendemos a objetivar os que nos perseguem da mesma forma como eles objetivam suas vítimas. É diferente quando somos os objetivados, quando somos as vítimas [...]" (pág. 390)