segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Sete faces do humor

Título: Sete faces do humor
Autor: Carlos Queiroz Telles et alii
Páginas: 126

Pequena coletânea de crônicas - apenas 7 no total - com uma característica comum: todas estão relacionadas ao humor (verbal, de comportamento, de personagem, grotesco, etc). A crônica em si é fácil de ser degustada, quando se relaciona ao humor então, melhor ainda.

Além das crônicas, o livro apresenta também uma descrição sobre os variados tipos de humor, uma relação de obras para serem apreciadas (que foram mencionadas nas crônicas) e ainda uma relação de filmes sobre a mesma temática. Livro pequeno, simples, mas muito agradável de se ler.

Trechos interessantes:

"Outra divertida peça clássica é A farsa de Inês pereira, de Gil Vicente, teatrólogo português do entresséculo XV-XVI. Sua Inês Pereira é moça casadoura, que recusa um pretendente rico mas simplório, para optar por um nobre - só que falido. Depois do casamento, vê a bobagem que fez: o marido é muito ciumento e pão-duro. Após ficar viúva e casar-se com o comerciante, fala a frase-mensagem da peça: 'Mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube'." (pág. 12)

"Comecei a pensar que ia ter de viver o resto da minha vida naquela calçada.
Eu era um náufrago numa ilha deserta, com uma avó que teimava em pedir a certidão de nascimento dos comandantes dos navios salva-vidas." (pág. 21)

"No livro Dois amigos e um chato, o escritor - entre outras atividades - Sérgio Porto dá vários exemplos de humor verbal, através de seu heterônimo Stanislaw Ponte Preta, um carioca que representa um tipo de vida boêmia e bem-humorada do Rio de Janeiro, anos 50-60: 'Mulher e livro - emprestou, volta estragado'. 'Política tem essa desvantagem: de vez em quando o sujeito vai preso em nome da liberdade'. 'Entre as três melhores coisas da vida, comer está em segundo e dormir em terceiro'." (pág. 30/31)

"Aliás, tudo no mundo pode esperar meia hora. A gente passa a vida correndo atrás do conhecimento e da felicidade, mas na verdade ninguém tem obrigação de ser sábio nem feliz." (pág. 40)

"Se você conhecer o inimigo e a si próprio, não precisará temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhecer, mas não ao inimigo, para cada vitória conseguida também sofrerá uma derrota. Se você não conhecer o inimigo nem a si próprio, sucumbirá em todas as batalhas." (pág. 52)

domingo, 18 de setembro de 2016

Assassinos pelos quais me apaixonei

Título: Assassinos pelos quais me apaixonei
Autor: Alfred Hitchcock
Páginas: 210

Coletânea com 14 contos de suspense e, como o título sugere, todas as histórias apresentam algum envolvimento com assassinatos. Muitas das histórias têm desfecho óbvio, mas algumas são até interessantes.

Particularmente gostei de "Bem vindo à minha prisão" e "Um risco especial". Há histórias de vários autores consagrados, como Fletcher Flora, Bill Pronzini, Nedra Tyre, Henry Slesar, entre outros.

Trechos interessantes:

"-É por minha causa, Stella. É minha aparência. Basta olhar para mim e ver. Várias pessoas já tiveram medo de mim várias vezes. Mulheres, principalmente. Há alguns sujeitos para quem as mulheres dão 'bola', e eles gostam disso. Dá-lhes uma chance de se aproximarem. Faz com que se sintam realmente bem. Mas eu não. O que eu consigo das mulheres é justamente o contrário. Elas dizem para eu me afastar. Como você, Stella. E eu não costumo gostar quando as coisas são desse jeito." (pág. 11)

"-Estive pensando nisso. Estive muito pensando sobre isso.
Sei que esteve, pensei. mas isso é um sonho, Pollard meu velho. Nunca vai se sentar nessa cadeira. Você é inseguro demais. Tem que aprender a movimentar-se, para chegar no alto da escada. É o que sempre acontece, em todos os lugares. Não é somente aqui. Mas gente como você nunca aprende." (pág. 52)

"Não sei ler uma só nota musical e nem mesmo toco algum instrumento. Simplesmente, gosto de música, é só." (pág. 58)

"Benrud mantinha uma gota de uísque rolando em sua língua. Eis uma coisa realmente nobre. Se os celtas não tivessem feito nada mais além do uísque e de terem dado ao mundo James Stephens e as equações canônicas de Hamilton, já teriam dado ao mundo o suficiente." (pág. 141)

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Um gosto por morte

Título: Um gosto por morte
Autor: P. D. James
Páginas: 558

Quando um nobre é encontrado morto numa igreja, com o pescoço cortado com sua própria navalha, é natural que se pense em suicídio. Mas, e se ao lado do morto estiver um mendigo, também morto, com a mesma navalha? Aí a coisa complica.

Este é o panorama inicial que nos oferece a autora. Toda a trama se desenrola na tentativa de localizar o culpado pelas mortes. Um comandante da Scotland Yard é designado para elucidar o crime. Em resumo, um romance policial repleto de investigação.

Trechos interessantes:

"-Está muito frio, Darren. Não deveria botar seu casaco de lã? Ele encolheu os ombros e fez um gesto com a cabeça dizendo que não. Estava impressionada com a pouca roupa que vestia e como era resistente ao frio. Tinha a impressão de que vivia tremendo perpetuamente. Lembrou-se de que se agasalhar demais numa manhã gelada de outono seria considerado efeminado pelos homens." (pág. 16)

"Já chegara naquela idade em que o homem já não mais se incomoda com certos prazeres clássicos da juventude, mas irrita-se facilmente quando seus planos pessoais são perturbados." (pág. 33)

"Quando tinha apenas quinze anos, ao lado do corpo de sua mãe, não sentira a necessidade de pensar, quanto mais de murmurar, a palavra adeus na presença da morte. Não é possível falar com alguém que não está mais presente. Quase tudo o homem pode vulgarizar, menos a morte." (pág. 50)

"Dalgliesh não entendeu como Berowne sabia de sua predileção por arquitetura. Só poderia ser porque já lera seus poemas... E um poeta pode detestar que falem sobre seus trabalhos, mas, quando sabe que alguém realmente os leu, sente-se extremamente elogiado." (pág. 103)

"Imediatamente, o comandante lembrou-se das palavras de um velho sargento de polícia que conhecera quando ainda era um principiante na Scotland Yard:
-Meu filho... as quatro razões mais comuns para assassinar são: amor, luxúria, ódio e... lucro. E preste atenção: lucro sempre foi o motivo principal..." (pág. 155)

"A srta. Wharton fora ensinada desde criança a ter medo e esta é uma lição que ninguém desaprende." (pág. 196)

"Guardara dois versos de Shakespeare que lera por acaso na biblioteca da escola como diretriz filosófica para sua vida:
Não importa o que houve antes ou depois
Daqui por diante começo e termino comigo mesmo.
" (pág. 200)

"O homem é um animal e sempre pode viver melhor com seus semelhantes toda vez que está consciente do fenômeno. Sabemos que o homem é o mais inteligente e perigoso dos animais, mas ainda assim continua sendo um animal. Poetas e filósofos complicam as coisas, mas elas não são complicadas. As necessidades básicas são muito simples: comida, abrigo, calor, sexo e prestígio, exatamente nessa ordem de prioridade. As pessoas felizes sempre seguem tal orientação e ficam satisfeitas." (pág. 243)

"-Tenho certeza de que estamos diante de um caso de duplo assassinato, doutor.
-Acredito que sim. Mas vai ser muito difícil provar e temo que meu laudo pericial não possa ajudá-lo. O suicídio é o ato mais pessoal e misterioso que existe, inexplicável, porque o ator principal nunca está presente para explicá-lo." (pág. 257)

"-[...]E nunca esqueci o que ele me disse. Que algumas pessoas pensam no suicídio como mais uma opção para seus problemas. Que na sua opinião não era assim e, ao contrário, o suicídio representa a total falta de opções. E citou o filósofo Schopenhauer: 'O suicídio pode ser interpretado como uma experiência, um dilema que os homens oferecem à natureza para ver se a obrigam a responder. Mas trata-se de uma experiência tola, porque destrói a própria consciência que faz a pergunta e que devia aguardar a resposta'." (pág. 283)

"-Ele poderia ter citado mais adequadamente Nietzsche - disse Garrod. - 'A ideia de suicídio é um grande consolo. Pensando nele podemos com sucesso enfrentar uma noite de insônia'." (pág. 283)

"-Meu avô costuma dizer que uma mulher deveria casar-se pelo menos uma vez, mas não transformar o casamento num hábito." (pág. 357)

"Não podemos eliminar os amigos de nossas vidas e pensar que vão ficar à nossa disposição somente porque sentimos necessidade de voltar a ser humanos." (pág. 380)

"-Decência não tem nada a ver com nosso trabalho. Isto é uma guerra. Homens decentes podem travar as guerras, mas não vencê-las." (pág. 440)