domingo, 17 de julho de 2016

Livro de Ana

Título: Livro de Ana
Autor: Ursulino Leão
Páginas: 188

O livro data de 1972 e é uma coletânea de crônicas que o autor publicou nos jornais da região, no período de 1951 a 1967. Quase todas estão relacionadas à cidade de Anápolis, cidade bem conhecida e admirada por Ursulino Leão.

A crônica é um gênero temporal, ou seja, geralmente está ligada a um período específico. Ela é importante para conhecermos as necessidades e os problemas vivenciados, nesse caso, pela população de Anápolis no período mencionado. Mesmo assim, muitos dos problemas citados ainda estão em voga até os dias de hoje...

Trechos interessantes:

"Naqueles velhos tempos, eram outras as brincadeiras e a infância se prolongava, bendita e alegre. A fabricação de brinquedos não atingira ainda o espantoso desenvolvimento de hoje. Não se viam bonecas que andam. Nem bichos que correm. E os poucos velocípedes que se vendiam, custavam o olho da cara. A meninada, pois, se largava para as pescarias estabanadas. Ou ia caçar passarinhos nas redondezas. Ou, simplesmente, vagabundeava..." (pág. 20)

"Pôncio Pilatos, examina-o Fulton Sheen, visando as relações da Religião com a Política. E se aprofunda no assunto magnífico, considerando a supremacia que o político, sobre o espiritual, vai alcançando no mundo de hoje. O Pilatos, dos templos bíblicos, figura o Estado onipotente que desconhece limites ao seu poder. E é uma advertência: 'o grande perigo de agora, não é a religião na política, mas a política na religião. Tendem os Estados a dominar a família, a cultura e a alma. Haverá, no futuro, uma religião de Deus e uma religião do Estado'." (pág. 28)

"É para buzinar, a buzina. Não há dúvida. Mas buzinar à toa, não. Floresta de Miranda, na 'Tribuna da Imprensa', tratando de assuntos referentes ao tráfego, salientou que o motorista britânico não usa buzina. Embora não haja proibição nesse sentido. 'Ou o caminho está livre e, nesse caso, ela não se faz necessária, ou está impedido, e também não é preciso usá-la', afirma o comentarista. Mas, uma buzinada, de quando em quando, talvez seja útil. Rápida, educada. A título de aviso. Buzinar a cada momento, ensurdecedoramente, sem motivo algum, valha-me Deus, ó choferes!" (pág. 34)

"Goiaz, sem 'z', com aquele acento antipático, por cima, é o mesmo que Bahia sem 'h'. Às favas a Gramática e viva o gosto da gente!" (pág. 36)

"A gente tolera, com algum esforço,que a velha Colônia não haja combatido a brutal destruição de nossas florestas. A sua economia repousava na monocultura, que se nutre de grandes áreas, insaciavelmente. A administração portuguesa, ávida de lucros, não atinava com a necessidade de poupar as matas brasileiras. E o colono, por sua vez, cuidava apenas de enriquecer. À sua prosperidade pouco importava que a terra fosse ou não rudemente espoliada." (pág. 53)

"Na verdade, pintura moderna é estranha arte!" (pág. 95)

"[...] de tudo o que vimos, muita coisa, sem dúvida, me fugiu à compreensão. Estava, porém, comigo a palavra - explicação e estímulo - de Picasso: 'todo o mundo quer compreender a pintura. Por que não buscar compreender o canto de um pássaro? Por que amamos a noite, as flores, tudo que nos rodeia, sem precisar compreender? Mas no caso de um quadro as pessoas fazem questão de compreender'." (pág. 96)

"Como aquele réu, citado por J. Pinto Loureiro, que, no Tribunal do Júri, depois de ouvir a própria biografia, narrada pelo seu defensor, confessara não saber que havia sido tão desgraçado, - convém a paráfrase - faz bem provável que nem todo advogado sinta o quanto se faz necessária a sua presença atuante no mundo de hoje." (pág. 168)

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