quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Vão dos Angicos

Título: Vão dos Angicos
Autor: Bariani Ortencio
Páginas: 200

Vão dos angicos é um livro de contos, retratando o povo, a história e os costumes da região Centro-Oeste. São nove contos - os chamados "causos" - geralmente com apelo humorístico, retratando diversas situações e personagens.

O linguajar específico da região é o que mais chama a atenção nesse tipo de história. É como se estivéssemos, de fato, ouvindo as histórias contadas pelos mais antigos, ao pé do fogão, enrolando um cigarro de palha. Só quem já viveu nesta situação para entender o que é isso.

Trechos interessantes:

"O advogado seguiu viagem, a trenheira enchendo duas bruacas, livros de Direito a maior parte. No interior seria necessário demonstrar poderio; capacidade e inteligência, nem tanto. A maior arma seriam os livros. Doutor de muitos livros na prateleira, sabedoria garantida, respeito absoluto." (pág. 13)

"De peixes eles já estavam saturados e, o que pretendiam, era mesmo caça de carne de sangue para dar sustância. variar da branca de peixe, fraca, embora rica de fosfato. Mas o que eles queriam com fosfato, com inteligência, se não precisavam dela, não tinham onde usá-la, que tudo ali era rotineiro?" (pág. 73)

"Merenciano sempre morou em Pau-d'Arco, dono que foi por herança do pai. Quando cismou de casar, o fez rápido, sem muita escolha, devido à falta do que escolher e serem as moças naquele derredor de cinco léguas, todas prendadas em serviços domésticos e ajuda na roça e curral. Das quatro Marias conhecidas, fisgou a do vizinho Luciano, a mais chegada por divisas, que ele não era de andar muito atrás de rabo-de-saia.
Maria-do-Luciano fez o pior negócio da vida, pois logo no primeiro parto embarcava deste mundo para um melhor, carregada nas asas dos anjos, de boa que era, e chorada sentidamente por Merenciano, que dela pouco aproveitara." (pág. 91)

"Quando está nesta ocupação, reclama à memória, relembra a manta que passou no cigano, na baldroca com aquela égua desgraçada de ruim, mais passarinheira que todos os diabos do inferno. Passar manta em cigano dá patente de alto gabarito comercial." (pág. 95)

"Na cidade, Apolinário empretecendo de tanto tomar café em casa dos eleitores. O peito doía de andar espremendo outros peitos nos abraços infindáveis. Só não abraçava poste porque não tinha braços." (pág. 121)

"Começou pelo chavão mais conhecido que níquel de cem reis:
-Já que é tão grande o momento!
E o Fidêncio arrematou:
-'Jaquetão grande' é 'sobretudo' sua besta!..." (pág. 131)

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