terça-feira, 8 de outubro de 2013

Gente como a gente

Título: Gente como a gente
Autor: Judith Guest
Páginas: 238

Para quem se aventura pela área da psicanálise, o livro é um prato cheio. Situações envolvendo conflitos, temores, anseios, não faltam. Aliás, suspeito que esta seja a tônica do livro.

A história, como indica o título, está centrada numa família comum, onde os integrantes passam por várias crises de relacionamento. O enredo não é contado de imediato, pinceladas vão sendo soltas e o leitor vai construindo a história. Um filho tem crise de culpa pela morte do irmão e tenta o suicídio. Pai e mãe tem visões diferentes da situação e tentam encontrar uma forma da família se manter unida.

Trechos interessantes:

"Você não perdeu o senso de humor, mas o seu senso de identidade é que parece estar confuso. Não. Errado. A gente não perde o que nunca teve." (pág. 21)

"Sou o tipo de homem que - que não tem a menor ideia de que tipo de homem eu sou." Pág. 51)

"Não chega a haver propriamente uma resposta, mas, pelo menos, estão batendo um papo. Cal quer manter aberta a porta da comunicação entre eles. Mas como fazer isso? Às vezes, é tão difícil conseguir comunicar-se com aquele misterioso desconhecido que é o seu filho." (pág. 59)

"-Quando fico furioso, fico muito furioso - responde cuidadoso. - Não sei me controlar.
-Eu sei como é - diz Berger. - É como se fosse um armário atulhado. A gente abre a porta e tudo cai.
- Não - diz ele. - Há um cara dentro do armário. O problema é que eu nem sequer o conheço." (pág. 94)

"A dor é terrível. Isola as pessoas. Não é algo para ser partilhado com os outros; é algo para se temer, de que se livrar, e bem depressa. Afastem esses meses, esses dias, essas horas, esses minutos da frente, quanto mais depressa, melhor!" (pág. 117)

"Quando se fala em perder pessoas, Ray é amargo. A gente se preocupa principalmente, diz ele a Cal, com perder os filhos. E, no fim, acaba perdendo-os de qualquer maneira. Então, para que se preocupar? Ele acha que perdeu Valerie para sempre. Mas as coisas mudam, as situações mudam. Pode ser que ela volte. Provavelmente voltará, algum dia, através de um marido, de filhos.
O medo que há por trás do medo de perder as pessoas é que talvez você pudesse ter feito algo para evitar que isso acontecesse." (pág. 148/9)

"Será que não pode haver comunicação sem contaminação? Sem essa de 'Este sou eu lhe dando um conselho'? No fim, isso contribui mais para separar as pessoas do que para uni-las. As pessoas não gostam de conselhos. Deve haver um jeito de dar um recado, sem ser preciso armar-se em santo. Mas será que a necessidade de transmitir uma mensagem já não é, em si, uma prova de que você é um santo?" (pág. 170/1)

"Escute, o que aconteceu hoje de manhã foi que você se permitiu sentir um pouco de dor. O sentimento é um todo, já lhe disse várias vezes. Se você não consegue sentir dor, também não vai conseguir sentir mais nada. E o mundo está cheio de dor. E também de alegria. De maldade. De bondade. De horror e de amor. É só você nomeá-los, e aí estão eles. Por isso, não adianta querer fugir, querer se eximir, entende?" (pág. 205)

"Não sei o que ele quer de mim, nunca soube! Será que ele quer que eu o abrace e beije, quando ele tira uma boa nota em química? Eu não sou capaz disso! Não reajo, quando alguém diz: 'Ei, fiz uma coisa importante, quero que você me ame por isso!' Não sou capaz!" (pág. 215)

"O que está acontecendo, seja o que for, já aconteceu, talvez há anos atrás, as sementes plantadas nas suas diferentes naturezas, nos seus backgrounds, porque tudo o que você pode fazer é, no fundo, o que você é capaz de fazer." (pág. 231)

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