quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Aula de inglês

Título: Aula de inglês
Autor: Lygia Bojunga
Páginas: 214

O livro apresenta as reflexões de um velho (o personagem não possui nome - é sempre chamado de professor ou aluno) sobre a existência, conflitos familiares, sexuais e sociais. Pela história nota-se que o professor teve uma paixão quando adolescente e outra agora, no final da vida, mas que durante toda a fase central da vida, a paixão nunca se fez presente.

Entre uma aula de inglês e outra, entre uma fotografia e outra (o professor também é fotógrafo) as relações humanas vão sendo esmiuçadas até o ponto de sabermos o que, de fato, é importante na vida. Livro recomendado aos jovens, de leitura fácil e agradável.

Trechos interessantes:

"Tinha lido uma entrevista de um fotógrafo famoso: a câmera era a melhor companheira dele; saíam sempre juntos e era através dela que ele via o mundo; as grandes fotos dele não tinham sido programadas: ele saía andando sem rumo e, de repente, ele sentia que uma cena qualquer estava 'pedindo para ser fotografada'; aí começava o que ele chamava de encantamento: o enquadramento: como é que ele ia enquadrar a cena? ela toda? pela metade? só sugerida? mais sombria? mais iluminada?" (pág. 30)

"-Aula de inglês muita gente dá, mas aula assim feito o senhor me deu esse tempo todo! puxa vida, foi sorte demais que eu tive. Quantas vezes eu cheguei aqui mal-humorada, distraída, apavorada, e o senhor sempre tão gentil, tão... sei lá! dedicado; parecia que nem percebia quando eu não prestava atenção. - Envolveu ainda mais a mão aninhada do Professor. - Sabia que eu nunca vi o senhor olhar pro relógio cuidando da hora da aula? Acho que se eu quisesse ficar aqui a tarde inteira o senhor era capaz de nem dizer nada e ir tocando a aula pra frente." (pág. 46)

"-E, de repente, sabe, professor, a gente vai jantar lá em Copacabana, no restaurante árabe que ele gosta, e quando sai do carro vê aquela turma dormindo na rua, criança, velho, uma família inteira embrulhada nuns trapos, e a noite tava tão fria que a minha revolta com essa coisa nossa de tanta riqueza de um lado e tanta miséria de outro saiu pelo ladrão: fiz uma cena ali mesmo, desatei a chorar, disse que ninguém fazia nada pra mudar essa história e que a gente também não: ia entrar no restaurante, ia comer à vontade, ia beber caipirinha, ia pedir sobremesa e depois entrava no carro pra continuar curtindo a noite e era tudo uma delícia[...]" (pág. 104)

"Mas ele tinha sido feliz, sim... com a câmera, com os livros, com a casa, com o mar, com a floresta [...] Mas, por quê?... Por que que, ansiando tanto ser feliz com uma mulher, tinha sido sempre aquilo: uma vez o sexo apaziguado, vinha logo a sensação de solidão se instalar entre os dois..." (pág. 164)

"-Sabe, Aluno, quando a gente vai chegando no fim da vida, a cada dia que passa a gente se lembra com mais insistência dos momentos em que foi verdadeiramente feliz. E quanto mais a gente lembra deles, mais quer lembrar, mais quer revisitar a felicidade e, assim, preencher as horas desses dias de espera." (pág. 174)

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