quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Dois dedos de prosa

Título: Dois dedos de prosa
Autor: Maria do Rosário Cassimiro
Páginas: 196

Este livro de crônicas é um grande marco da literatura goiana. A autora, especialista em educação e ex-reitora da UFG, discorre sobre a história de Goiás, suas personalidades, sua evolução e, principalmente, sobre Catalão - sua terra natal.

São narrativas agradáveis de se ler, mostrando a cultura e o comportamento do povo goiano, fatos estes cuja maioria é desconhecida pelos próprios goianos. Para quem é da terra é fácil se identificar com as personagens e bate aquele sentimento de saudosismo...

Trechos interessantes:

"Dou um conselho aos meus caríssimos leitores: poupem e verão como a medida lhes será frutífera. Só lamento que, nestes tempos de crise, meu conselho vá de encontro ao do presidente Lula, que mandou o povo gastar, conselho que contraria tudo o que aprendi na vida, em matéria de economia. Estendo minha mão à palmatória, quanto ao fato de não entender de macroeconomia. Mas de microeconomia entendo um pouco, e estou satisfeita com esse pouco. Tenho-me dado bem com ele." (pág. 15)

"Lembro-me de que há duas décadas, quando o governo federal lançou a Ferrovia Norte-Sul, a mídia nacional, notadamente a imprensa escrita, julgou a ideia pejorativamente, como se fosse uma tentativa de 'ligar o nada a coisa nenhuma'." (pág. 25)

"Guardo um profundo respeito pelos pioneiros. Aqueles que colocaram o primeiro degrau da escada. Como é difícil plantar o primeiro degrau!... Sobrepor o segundo, o terceiro, o quarto e todos os demais torna-se uma tarefa cada vez mais simples, uma vez que, ao colocá-los, encontramo-nos, já, na escada. Mas quem implanta o primeiro degrau ainda está com os pés no chão e tem de vencer, sem dúvidas, um mundo todo de obstáculos para se fazer chegar ao histórico primeiro marco." (pág. 45)

"Não dou por encerrada minha saga de batalhadora. Prosseguirei com minha missão. Ainda não posso, portanto, repetir as santas palavras do Apóstolo Paulo, pois se é verdade que conservo a fé, não é verdade que tenha terminado a tarefa." (pág. 63)

"Se existem tipos de trabalhos condenáveis aos mais jovens - e eles existem - não é proibindo indistintamente o trabalho a menores de qualquer idade que se fará a justiça. Em muitos casos- se não for na maioria deles - esses pequenos jovens jogados na ociosidade, tornam-se menores marginais, meninos de rua, instrumentos fáceis nas mãos de traficantes de drogas e de outros tipos de bandidagem, nas grandes cidades. Em geral, eles descuidam da escola, tornam-se rebeldes na família e se perdem para a vida, causando enormes males à sociedade e a si mesmos. A ociosidade, também, é uma escola - a pior delas." (pág. 66/67)

"Dizem, e a ciência o prova, que o mundo já foi dos dinossauros, de aves descomunais e de répteis gigantes. É tamanha a saga das transformações que, às vezes, me pergunto se chegará o dia em que algum ser vivente dirá: 'O mundo já foi dos humanos'." (pág. 119)

"Assim é que nos estamos acostumando ao fato de que o desenvolvimento chega sempre antes da educação. No comboio do progresso, a educação é o último dos vagões. É por isso que temos, até hoje, os nossos elevadores riscados, nossos bens públicos - telefones, lâmpadas, arborização, etc. - rabiscados ou danificados, porque o desenvolvimento chegou antes da educação. Quando se projeta uma hidrelétrica nos confins dos nossos sertões, ou as estradas penetram os ermos do nosso território pátrio, a escola não vai junto, chega muito depois, sempre atrasada." (pág. 134)

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