segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Entre assassinatos

Título: Entre assassinatos
Autor: Aravind Adiga
Páginas: 340

O autor descreve uma cidade fictícia, num período entre o assassinato de Indira Gandhi e o assassinato de seu filho, Rajiv. Os acontecimentos dessa cidade mostram os sentimentos e anseios da população em meio ao caos político existente na Índia.

O livro apresenta várias histórias independentes que retratam principalmente a situação da classe pobre do país. O mais estranho é que, apesar da extrema pobreza da população e situação desumana vivenciada pela maioria, não deixa de existir alegria e esperança.
 
Trechos interessantes:

"-Sabe aquele rapaz que vai de casa em casa oferecendo vinte rupias para quem lhe vender as caixas velhas de Johnnie Walker Red label? - perguntou Abbasi. - Para quem ele vende essas caixas depois?
[...]
-É claro que ele vende para o falsificador. É por isso que o Johnnie Walker Red que você compra na loja, mesmo que venha numa garrafa genuína e numa caixa genuína, é falsificado.
Abbasi falou devagar, desenhando círculos no ar com o dedo:
-Quer dizer que eu vendi a caixa ao homem que vai vender ao homem que vai falsificar a bebida e vender de volta para mim? Isso quer dizer que eu enganei a mim mesmo?" (pág. 33/34)

"Aqueles homens eram contrabandistas, ladrões de carro, gângsteres e coisas piores; mas enquanto tomassem chá juntos, nada iria acontecer com Abbasi. Essa era a cultura do Bunder. Um homem podia ser esfaqueado à luz do dia, mas nunca à noite, e nunca enquanto estivesse tomando chá. De qualquer forma, o senso de solidariedade entre os muçulmanos do Bunder havia se aprofundado desde os conflitos." (pág. 36)

"-Eu não quero causar nenhum problema para o senhor nem para os editores; eu apenas adoro livros: adoro fazer livros, segurar os livros nas mãos e vender. Meu pai ganhava a vida limpando bosta, senhor: não sabia ler nem escrever. Ele ficaria tão orgulhoso se pudesse ver que eu ganho a vida com livros." (pág. 48/49)

"Vamos simplesmente escrever toda a verdade, e nada além da verdade, no jornal de hoje. Só hoje. O dia da verdade plena. É tudo o que eu quero fazer. Pode ser que ninguém perceba. Amanhã poderemos voltar com as mentiras de sempre. Mas só por um dia eu quero comunicar, escrever e editar a verdade. Por um dia na minha vida quero ser um jornalista propriamente dito. O que o senhor diz disso?" (pág. 160)

"-Pare de dar lições na gente, seu filho da puta! - gritou.
-Quem nasce pobre neste país está fadado a morrer pobre. Não há esperança para nós, e a gente não precisa de piedade. Certamente não de você, que nunca mexeu um dedo para nos ajudar; eu cuspo em você. Cuspo no seu jornal. Nada nunca muda. Nunca vai mudar." (pág. 187/188)

"Uma placa na porta mostrava Indira Gandhi com a mão levantada e o slogan: 'Mãe Indira vai proteger os pobres.' Chenayya abriu um sorriso forçado.
Será que eles tinham enlouquecido completamente? Realmente achavam que alguém poderia acreditar que um político ia proteger os pobres?" (pág. 194)

"Numa entrega na estação ferroviária, foi beber água numa torneira; ali perto, ouviu motoristas de autorriquixá falando do colega que havia batido no cliente.
-Ele tinha direito de fazer aquilo - disse um deles. - A condição dos pobres neste lugar está ficando intolerável.
Mas eles não eram pobres, pensou Chenayya, deixando cair bastante água em seus antebraços secos; eles moravam em casa, tinham veículos. A pessoa tem que juntar alguma riqueza para poder reclamar que é pobre, pensou. Quando a gente é pobre assim, não tem nem o direito de reclamar." (pág. 197)

"-Vou lhes dizer dos ricos. Em Bombaim, no Hotel Oberoi em Nariman Point, existe um prato chamado 'Beef Vindaloo' que custa quinhentas rupias.
-Impossível!
-Sim, quinhentas! Estava no jornal em inglês de domingo. Agora vocês sabem dos ricos.
-E se você pedir o prato e depois perceber que cometeu um erro, que não gosta da comida? Pode pegar o dinheiro de volta?
-Não, mas isso não importa se você for rico. Você sabe qual é a grande diferença entre ser rico e ser como a gente? Os ricos cometem erros muitas e muitas vezes. A gente comete só um, e já era." (pág. 249)

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