sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Nossas câmeras são seus olhos

Título: Nossas câmeras são seus olhos
Autor: Fernando Barbosa Lima
Páginas: 200

Fernando Barbosa Lima é um profissional da televisão, tendo trabalhado nas principais emissoras de televisão do país e criado mais de cem programas televisivos. Em suma, é uma autoridade em televisão e o livro nos mostra a evolução da televisão no Brasil, através da descrição de seus programas.

A história é contada através de relatos envolvendo atores, diretores e funcionários das empresas de televisão. Nisso mistura-se política, cultura e desenvolvimento ao mostrar a evolução da TV brasileira, não somente no aspecto material mas principalmente no aspecto de conteúdo. Mesmo que você não seja um adepto da televisão, pode-se achar muita coisa interessante no livro.

Trechos interessantes:

"Nenhum veículo de comunicação, em toda a história da humanidade, teve a força que tem a televisão.
[...]
Uma criança brasileira, por exemplo, assiste a mais de seis ou sete horas de televisão por dia, tempo superior ao que ela passa na escola, junto com amigos ou com a família. Como será o futuro dessa criança num Brasil do Terceiro Mundo?" (pág. 20)

"A boa repercussão do programa [Em poucas palavras] nos mostrava que uma televisão com conteúdo tem seu público, seus admiradores. Ao mesmo tempo, pensávamos e questionávamos o fato de a televisão, muitas vezes, estar apelando para uma grande audiência, baixando o nível dos programas e produzindo puro lixo. Entretanto, esses programas de baixo nível, absolutamente idiotas, atingem um público que, mesmo numeroso, mesmo dando alto Ibope, não tem poder aquisitivo para comprar os produtos anunciados. Nunca entendi por que boa parte dos anunciantes nunca levou isso em consideração. Pior, além de não vender, a marca desses anunciantes perde prestígio em meio a tanta vulgaridade." (pág. 41)

"-Coronel, seu filho Heraclinho (que era deputado) é uma boa pessoa, mas mente demais.
O coronel explicou:
Não é bem assim, meu filho; o Heraclinho só tem um defeito. Ele fala demais. A verdade acaba, e ele continua falando..." (pág. 49)

"E o general Castelo Branco, um pseudoliterato que sonhava com a Academia Brasileira de Letras e à noite gostava de frequentar teatros, assumia como ditador; exatamente por ser o primeiro ditador, foi quem mais prendeu e cassou direitos de milhares de intelectuais, políticos, estudantes, operários e camponeses. Nem Médici cassou direitos de tantos e prendeu tantos como Castelo Branco." (pág. 76)

"Nos países do Primeiro Mundo, à exceção de Portugal, as televisões não passam novelas em horário nobre. Por quê? É simples: nesses países as pessoas não querem ficar amarradas à noite vendo novelas. Preferem ir ao cinema, jantar fora, assistir a uma peça teatral ou uma ópera; muitas vezes, ler um bom livro. É outro nível de cultura, outro mundo." (pág. 88)

"No Xingu, o cacique Raoni disse para Washington, numa conversa gravada, uma das frases mais apropriadas que já ouvi:
-O índio, quando quer virar branco, fica bobo.
Traduzindo: quando se quer ser uma coisa que não é, se fica idiota. (pág. 145)

"Em outra ocasião, um famoso fotógrafo da revista Manchete foi convocado á sala de seu Adolpho, que lhe mostrou o último número da revista Geographic Magazine com suas fotos impecáveis, questionando:
-Por que não fazemos fotos tão boas?
-Seu Adolpho, imagine só as câmeras que esses fotógrafos da Geographic têm e compare com as nossas.
Seu Adolpho, sem se dar por vencido, retrucou imediatamente:
-Você acha que se Machado de Assis tivesse uma caneta Parker 51 escreveria melhor?" (pág. 161)

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