quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Um lugar na janela

Título: Um lugar na janela
Autor: Martha Medeiros
Páginas:192

O livro apresenta os relatos de viagem da autora entremeados com algumas opiniões sobre determinados aspectos do local, da cultura, dos habitantes, da culinária ou de qualquer item relevante. Li o livro na minha viagem à Austrália. Já que seriam muitas horas de voo, aproveitaria para ler alguma coisa relacionada a viagens. Foi interessante.

Já que não tenho condições de conhecer todos os lugares que gostaria, pelo menos posso me deliciar com as aventuras contadas por aqueles que lá estiveram. Muitas vezes o comodismo nos impede de vivenciar novas experiências. Quem sabe uma leitura assim possa despertar um novo ânimo! Curta a leitura e as viagens.

Trechos interessantes:

"Viajar sempre esteve no meu DNA.
Atravessar fronteiras era um desejo meu desde menina, incluindo as fronteiras mentais, não apenas as geográficas. Conhecer, descobrir, avançar, aprender: verbos que de certa forma me definem, todos relacionados com o exercício da liberdade. Tive uma infância alegre e saudável, mas, pequena ainda, já ensaiava a resposta que daria quando me perguntassem o que queria ser quando crescesse: adulta." (pág. 9)

"A liberdade é uma ilusão, eu sei. Ninguém é inteiramente livre, a não ser que não possua vínculos. Como qualquer pessoa saudável, não abro mão de laços afetivos, a vida seria muito árida sem amor. Desertos são fascinantes, mas não os emocionais, então tenho uma relação de profundo apego à minha família, aos meus amigos e ao meu coração, que de tempos em tempos bate forte por alguém, e essa turma estimula o meu crescimento, mas para crescer juntos é preciso facilitar o encontro, o que me faz ter um endereço fixo." (pág. 10)

"Se para você é um suplício abandonar seu sofá, seu carro, seu travesseiro e o Fantástico aos domingos, não viaje. Se você é do tipo que não consegue se maravilhar com o que está vendo porque está mais preocupado com os mosquitos, os remédios, as gorjetas, o fuso horário e em checar os e-mails do trabalho, não viaje. Se você não faz ideia em que ponto do mapa fica o local para onde está indo, não tem a mínima curiosidade sobre a cultura do lugar, até desconhece o idioma falado, não viaje. Se você está fazendo as malas sob coação, pois sua mulher o ameaçou com o divórcio, faz bem em ter juízo, vá com ela. Mas, fora algum outro caso assim extremo, não viaje. Não é obrigatório. Não assegura uma vaga no céu. Viajar é para quem tem espírito desbravador, mas se você não tem, não tem." (pág. 12/13)

"Comentei, no início desses relatos, que sair por aí sempre foi terapêutico para mim e que esses dois meses na Europa me serviram como uma análise psicanalítica profunda. Até então, não conhecia quase nada da vida. Nem geograficamente, nem de mim mesma. Inquilina dos meus pais, só ao sair de casa para viajar é que descobri que alguns medos que eu pensava possuir eram herdados, não existiam de fato. Eu era muito mais destemida do que eu supunha." (pág. 40)

"Istambul é grande, como já foi dito. São dois continentes numa cidade só." (pág. 61)

"É uma experiência [extravio de bagagem] que nos faz avaliar o que realmente tem importância na vida. Eu não sofria pelo vestido que talvez nunca mais visse ou pelo sapato que havia usado só uma vez, e sim pelo sumiço de uma caderneta de anotações onde já havia registrado boa parte da viagem. E lamentava nunca mais colocar no dedo um anel pelo qual joalheiro nenhum daria um centavo, mas que para mim valia como se fosse um diamante da Tiffany. O anel havia sido da minha avó." (pág. 80)

"O snorkel, os pés de pato e eu não nos entendemos de imediato, mas, depois de receber rápidas instruções, consegui me ajeitar com o equipamento e deu até para ver alguns peixinhos coloridos. Foi meu batismo no mergulho. Sei que não se pode chamar de mergulho o simples ato de enfiar dois centímetros de rosto dentro d'água, mas meu conceito de mergulho é bem simplificado: é quando consigo, imersa, ficar com os olhos abertos." (pág. 89/90)

"Eu não tenho a menor paciência para esse jogo de cartas marcadas, em que um pede um valor absurdo, o outro oferece um valor humilhante, até atingir um empate conciliatório. Prefiro a paz de um preço fixo. Fazer compra em terra de mercadores me deixou tão pirada que teve um dia em que um cara disse que não me venderia um castiçal por menos de 80 dirham, que é a moeda local, e eu já tonta com aquele assunto disse: '80 dirham? Abuso. Dou 100, é minha última oferta'." (pág. 102)

"A primeira saída do hotel foi para reconhecimento, e isso fica mais claro nas esquinas, quando todos se acumulam aguardando o sinal abrir - ninguém ousa atravessar sem que o sinal abra, mesmo que Buda em pessoa venha avisar que nenhum carro passará por ali nos próximos 20 minutos. Não importa, espera-se. Então, quando o sinal abre, aquela massa espessa se move como se fosse uma nuvem de gafanhotos." (pág. 127)

"A estação de metrô de Shibuya é um conhecido ponto de encontro dos japoneses, principalmente em volta da estátua do Hashiko, famoso cão que ficou conhecido como símbolo de fidelidade por esperar seu dono todas as noites em frente à estação, depois de sua morte, por 10 anos consecutivos." (pág. 131)

"O Japão fica longe. São intermináveis horas de voo. E 12 de fuso horário. Quando é 6h da manhã no Brasil, são 6h da tarde lá. E estão na nossa frente também em vários outros aspectos. Na educação, na organização, na seriedade com que cumprem seus compromissos, no respeito às leis, na limpeza de suas cidades, na segurança urbana, na preservação de seu patrimônio histórico e cultural e na paciência com que aguardam sua vez, sem promover jeitinhos e sem fazer muito barulho. É uma sociedade avançada tecnologicamente, mas o destaque vai para a compostura da população. Infelizmente, no Brasil, compostura costuma ser mal comparada com rigidez. Pena." (pág. 135)

"Me julgando descolada naquele sobe e desce no meio do mato, aconteceu: na reta final, quando já nem havia obstáculos, cometi a bobeada derradeira, pisei em falso, me desequilibrei e dei de cara numa pedra, abrindo o supercílio e herdando alguns hematomas pelo corpo. Nada que precisasse de ambulância (ainda bem, pois não vi nenhuma em um raio de mil quilômetros), e secretamente concordei com o comentário da minha filha, quando mais tarde escrevi para ela contando o episódio: 'Muito bem, mãe, estou orgulhosa de ti - aventuras precisam deixar alguma marca'." (pág. 157)

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