domingo, 2 de outubro de 2011

Contos de aprendiz

Título: Contos de aprendiz
Autor: Carlos Drummond de Andrade
Páginas: 190

Drummond é sempre fantástico! Mesmo não se tratando do seu terreno habitual que é a poesia, ele consegue cativar o leitor, jogando com as palavras e ideias, fazendo com que a leitura de seus contos seja realmente um deleite.
Todos os contos me agradaram mas, para não fugir à regra, destaco aqueles com os quais me identifiquei mais: "O sorvete", "Flor, telefone, moça" e "Conversa de velho com criança". A maior dificuldade foi destacar apenas alguns trechos interessantes, dada a qualidade do material apresentado.

Trechos interessantes:
"Criança tem pressa de viver, e não lhe prometam uma compensação no futuro, a necessidade é urgente, o bálsamo que venha já, amanhã será tarde demais." (pág. 19)

"Eu sabia que 'lá' era a confeitaria, pois o sorvete de abacaxi entrara comigo no cinema, sentara-se na minha cadeira e, embora o soubesse frio, queimava-me." (pág. 33)

"[...] o primeiro mandamento da educação feminina é: trabalharás dia e noite. Se não trabalhar sempre, se não ocupar todos os minutos, quem sabe de que será capaz a mulher? Quem pode vigiar sonhos de moça? Eles são confusos e perigosos. Portanto, é impedir que se formem." (pág. 45)

"Das mil maneiras de amar,ó pais, a secreta é a mais ardilosa, e eis a que ocorre na espécie." (pág. 46)

"Ali vai surgir uma tenda sumária, com algumas ripas e folhas-de-flandres, onde os operários encontrarão a única coisa de que realmente precisam, porque dá o esquecimento de todas. (pág. 65)

"É com vergonha que uso esta palavra comprar, ao referir-me a um amigo, mas em nossa absurda sociedade capitalista os valores mais puros são objeto de mercancia; o afeto de um animal é adquirido como antes a força de trabalho de um negro [...]" (pág. 69)

"O senador olhou-o sem reprovação. Seu rosto exprimia antes esforço por penetrar naquelas palavras tão alheias a seu vocabulário." (pág. 85)

"E um rapaz atlético empurrou o seu barco e lá se foi a arar as terras verdes do mar." (pág. 131)

"O bonde segue paralelo e rente ao passeio, e os postes, no momento preciso em que passa o bonde, deslocam-se imperceptivelmente para mais perto dele. O deslocamento de alguns milímetros é, às vezes, mortal. Todos os que viajam de pé sabem disso. Os que morrem têm tempo de verificar o fenômeno, porém não de evitá-lo." (pág. 133)

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