quarta-feira, 24 de julho de 2019

O conto brasileiro hoje - volume III


Título: O conto brasileiro hoje – vol. III
Autor: Ada Pellegrini Grinover et alii
Páginas: 134

Coletânea com contos de autores novos, pelo menos para mim que ainda não havia lido nada de nenhum deles. Os contos possuem temática variada, indo do cômico ao sinistro, com leitura fácil e descontraída.

São 18 contos no total, cada um de autor diferente e, ao final de cada conto, uma breve biografia do autor. Dentre os vários que prenderam minha atenção, destaco: N., O trenzinho elétrico e O brinda da vó Anna. Boa leitura.

Trechos interessantes:

Contentamento, vaidade e auto-estima eram sentimentos que a vida praticamente me negara. Tive-os, pela primeira vez, com N., que, embora jovem, de poucos estudos, mas inteligente, dedicou-me olhos e coração de Cinderela. Médico recém-formado, embora muito deserdado, eu era, para a filha de uma simples faxineira, encantamento, conquista inimaginável. Inimaginável, entretanto, era também para ela o fato de que a pobreza, a orfandade de pais vivos, mas separados, e uma adolescência de espinhas no rosto haviam feito com que ela significasse para mim, reciprocamente, uma conquista – minha primeira namorada, o fim de uma timidez tão forte e tão antiga que chegara a me parecer congênita. (pág. 32/33)

Entrementes, Toninho caminha ligeiro de volta à casa. A caixa com seus apetrechos de engraxate é pesada; mas, esta noite não a sente. O coração bate em ritmo acelerado. O trenzinho elétrico rodopia-lhe no cérebro.
“—Eu devia ter quebrado aquele vidro com a minha caixa, pegado o trenzinho e sumido. Ninguém ia podê me pegá... — pensa, enquanto anda, já quase correndo. É... mas a professora diz sempre que não devemos roubar. O meu tio João já tá na cadeia. Mas, como é que faço para ter o brinquedo? Meu pai é pobre. Papai Noel não existe de verdade. Quando eu crescer vou ganhar muito dinheiro. Mas... será que ainda vou gostar de brincar?” (pág.61/62)

Aquele mal-estar acompanhou-me de volta à casa. Nasceu aí minha vontade de saber mais, porque os que sabiam tantas coisas, como meu irmão, eram mais fortes que outros. Então, procurei um dicionário, impondo-me a tarefa de decorar cinco palavras por dia. (pág. 79)

De noite, na casa vazia, ressoavam ecos da alegria da véspera. Chego a pensar que as nossas reuniões ficaram gravadas nas páginas do tempo, guardando partes das histórias de vida de todos que participaram conosco daqueles gratos momentos.
Tenho certeza de que esta tradição, mantida ao longo de tantos anos, fortaleceu laços afetivos e enriqueceu a memória da família, deixando boas recordações em todos nós. (pág. 95)

Fogos que iluminam o céu de meia-noite e zero hora. Um minuto divide a geração — o antes e o depois.
Sempre que supero um ritual, me olho no espelho para ver se fiquei diferente! E nada vejo, aliás, vejo minha cara de sempre, atônita. Mas sobrevivi. Passei para o outro lado. Espero os aplausos, os abraços, os votos. (pág. 103)

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