quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Cada mulher em seu lugar



Título: Cada mulher em seu lugar
Autor: Leona Blair
Páginas: 464

O livro me surpreendeu positivamente. A julgar pelo título e pela descrição resumida na contracapa, julguei inicialmente se tratar de uma história “água com açúcar” sobre um triângulo amoroso e com um final previsível. Mas não, apesar do triângulo amoroso ser a base da história, o livro vai além disso e consegue combinar emoções pessoais e assuntos políticos de forma harmoniosa.

Naomi ama Joshua, mas, sabe-se lá por que, casa-se com Arnold, o irmão de Joshua. Naomi e Arnold vivem na América e iniciam a construção de um império na área de cosmético. Enquanto isso Arnold, com espírito aventureiro, perambula pelo mundo à cata de dinheiro e armas para a construção do Estado de Israel. Com o passar dos anos muita acontece na vida de todos, mas nada consegue eliminar a paixão de Naomi e Joshua.

Trechos interessantes:

“Porém uma terra natal não bastava para esses homens. Eles almejavam nada menos do que um Estado judaico e estavam prontos a lutar por isso, quando chegasse a hora. Eram sionistas neste sentido, mas preferiam não rotular a si mesmos. Para o mundo, o sionismo significava comunismo, socialismo, amor livre — todos os vícios políticos e sociais. Esses homens não se preocupavam com nenhuma dessas coisas.”(pág. 33)

“— Primeiro vamos ver se o volume de vendas que obtivermos é o suficiente para cobrir as duas linhas. Era por esse motivo que havia dois tipos de potes e frascos – um branco e outro dourado — e dois tipos de rótulos: Aurora, para a linha mais barata, e Duquesa, para a dourada. Ambas continham exatamente o mesmo produto, mas o Duquesa custaria o dobro do preço. O Decreto Federal de Medicamentos e Alimentos de 1906 não regulamentava os cosméticos, e não existiam quaisquer exigências quanto ao conteúdo dos rótulos. Ninguém saberia que os dois preços compravam o mesmo produto, e, se isso incomodou Arnold a princípio, ele teve de aceitar o fato como prática estabelecida nessa indústria ou então perder dinheiro.”  (pág. 52)

“Então, agora os sionistas vinham levantar dinheiro na América! De negociantes como Arnold. No final das contas, todos precisavam de dinheiro, até mesmo idealistas como seu irmão pioneiro. E vinham obtê-lo com capitalistas sujos como ele próprio!”  (pág.61)

“Ficaram em silêncio, fumando e bebendo café. Uma das melhores coisas em Lazar, refletiu Joshua com gratidão, era que nunca conversava quando não havia nada a dizer.”  (pág.81)

“— Que o diabo me carregue se algum dia conseguirei entender por que uma indústria de pinturas e pó-de-arroz ganha tanto dinheiro — dizia Martin. — As pessoas não precisam de batom e creme facial. Precisam de um lugar para dormir, de comida para lhes encher a barriga e alguma coisa que as mantenha aquecidas.
É porque vendo sonhos — Arnold sempre insistia. — E nas épocas difíceis, as pessoas necessitam de sonhos mais do que nunca.”  (pág.102)

“Quando um país começa a queimar livros, algo está terrivelmente errado e não são os livros. Sabe que agora não podem publicar nenhum livro na Alemanha sem a aprovação de um vigaristazinho pegajoso chamado Goebbels? Há uma suástica ondulando em quase todos os prédios. E as prisões estão repletas de opositores do regime.” (pág. 119/120)

“Ele e o irmão nunca se compreenderiam, mas isso não era motivo para desconfiar. Os dois eram diferentes demais para que qualquer rivalidade fosse significativa. Sarah havia dito isso certa vez, naquele seu jeito perspicaz: ‘Como um pêssego pode sobrepujar um gerânio? Vocês são duas espécies diferentes’.”  (pág. 155)

“O futuro o aterrorizava. O futuro estava escrito no passado. O crime era grande demais para ser compreendido, mas, com o tempo, seria aceito; este era o mal. E, uma vez aceito um massacre dessa magnitude, o mundo poderia aceitar outro ainda maior. Após um tempo, nenhuma infâmia seria grande demais. Depois do assassinato planejado de catorze milhões de pessoas, seria fácil matar vinte milhões, cinquenta milhões, toda a espécie insana, incômoda e desonrada como era pelos milênios de crimes contra si mesma.”(pág. 229/230)

“— Oscar Wílde disse que a vida tem apenas duas tragédias: uma é não obter o que deseja, e a outra é obtê-lo.”  (pág. 258)

“O casamento não se limita a sexo, mas este é uma parte importante dele. A vida não se limita à paixão, mas como é terrível sua ausência absoluta.”  (pág. 331)

“Princípios eram um luxo desfrutado por poucos. Se tivesse lhe restado algum, Joshua não conseguiria realizar seu trabalho. De quem seria a vida que pereceria na mira de uma arma colocada por ele nas mãos de um soldado desconhecido? De quem seria a carne destroçada por uma das granadas que comprou? Quantas vidas seriam eliminadas por sua causa? Contudo, essa tarefa precisava ser executada, e, se não tinha escrúpulos em realizá-la, não tinha para mais nada.” (pág. 349)

“— Certa vez, quando eu era pequena, meus irmãos e eu dissemos à minha mãe que ela devia preferir um de nós, que não podia amar todos da mesma maneira. Mamãe acendeu uma vela e respondeu: ‘Isto é como o amor’. Depois fez cada um de nós acender uma vela na sua. Todas cintilaram exatamente do mesmo jeito, e a dela também tinha o mesmo brilho. É possível acender mil velas e ainda assim ter outras mil para acender.”(pág. 387)

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