terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Homem-máquina

Título: Homem-máquina
Autor: Max Barry
Páginas: 284

Charles Neumann é um engenheiro que trabalha num laboratório de pesquisas. Um dia, por acidente, ele perdeu uma das pernas em uma máquina e teve que usar uma perna mecânica. Ele percebeu que poderia fazer algumas inovações nessa perna de maneira a melhorar o seu funcionamento.

Ele se sentiu tão bem com o resultado que resolveu, propositadamente, perder a outra perna para também implantar uma nova perna mecânica. Daí para a frente a preocupação de Charles era procurar em seu corpo o que poderia ser trocado por partes mecânicas. Seria possível ao homem inventar-se a si mesmo?

Trechos interessantes:

"Ao acordar, fui pegar meu celular e ele não estava lá. Comecei a tatear pela mesinha de cabeceira, meus dedos se enfiando entre romances que eu não lia mais porque, quando se vira adepto dos e-books, não há mais volta." (pág.7/8)

"Não tinha nada em cima da mesinha de centro, mas embaixo havia um monte de obras de referência em que eu não tocava desde o surgimento do Google. Uma lista telefônica, por algum motivo. Uma lista telefônica. Três milhões de folhas feitas de árvores mortas empilhadas como um monumento à ineficiência do papel como plataforma de distribuição de informação." (pág. 8)

"Sou um sujeito inteligente. Reciclo meu lixo. Um dia encontrei um gatinho perdido e o levei para um abrigo. Às vezes faço piadas. Se há algo de errado com seu carro, posso dizer o que é só de escutá-lo. Gosto de crianças, menos das que são mal-educadas com adultos e cujos pais simplesmente ficam ali parados, sorrindo. Tenho um emprego. Possuo um apartamento próprio. Raramente minto. Pelo que sei, são qualidades que as pessoas procuram em alguém. Só posso pensar que deve ser outra coisa, algo que ninguém menciona, porque não tenho amigos, vivo longe da minha família e não namorei ninguém na última década. Um cara no Controle dos Laboratórios atropelou e matou uma mulher, e ele é convidado para as festas. Não entendo isso." (pág. 12/13)

"Finalmente ele ligou o carro e saiu cantando pneus. Fiquei vendo o carro virar a esquina voando, já a uns 70 ou 80 quilômetros por hora. Continuei meu caminho. Senti-me ligeiramente ofendido por uma pessoa tão má ter um carro tão bom. Porque o carro era o auge de mil  e tantos anos de progresso científico. Mas o sujeito era um babaca. Fiquei me perguntando quando isso havia acontecido: quando tínhamos começado a fazer máquinas melhores que pessoas." (pág. 60/61)

"-[...]Mas qual é o problema da área médica? O mercado é limitado a pessoas doentes. Imagine: você investe 30 milhões no desenvolvimento da maior válvula arterial do mundo e aí chega alguém e cura doenças cardíacas. Seria um desastre. Não para as... não para as pessoas, obviamente. Quero dizer para a empresa. Financeiramente. Sabe, esse é o tipo de risco comercial que deixa o pessoal lá de cima nervoso na hora de fazer grandes investimentos de capital." (pág. 86)

"Ninguém tem culpa de agir de forma violenta quando seu cérebro é inundado por vasopressina. É o que acontece, só isso. Você solta um copo, ele cai em direção ao chão. Talvez não seja esse o resultado que você queria, mas não culpe o copo. Não faça um julgamento moral porque a causa produziu um efeito. Somos máquinas biológicas. Temos necessidades movidas por substâncias químicas. Injete um determinado coquetel químico em uma freira, e ela vai começar a distribuir socos. Isso é fato." (pág. 103)

"Uma vez li que a gente precisa de duas coisas para ser feliz: entre saúde, dinheiro e amor, apenas duas dessas três opções. Eu me reconfortava com essa ideia enquanto tinha um corpo inteiro, um emprego e nenhum amor. Isso fazia com que eu sentisse que não estava perdendo muita coisa. Mas agora eu percebia que isso era uma bobagem sem tamanho, porque saúde e dinheiro não se comparavam de forma nenhuma a amor."(pág. 124)

"-Uma coisa que me surpreende neste lugar - disse Jason. -Nunca se ouve alguém dizer não deveria. Tipo, você não deveria fazer isso. Eles dizem que alguma coisa é impossível ou cara demais. Mas nunca errada. E sei que somos engenheiros, não filósofos. Li a declaração de missão. Mas às vezes eu gostaria que tivéssemos alguma documentação ética. Eu meio que gostaria que alguém muito sábio me dissesse que existem algumas coisas que não devem ser feitas ainda que seja possível fazê-las." (pág. 160)

"O Gerente jazia a poucos metros de distância. Ele não parecia nem um pouco melhor visto mais de perto. Fiquei enjoado, depois senti raiva, porque, se o Gerente tivesse Partes Melhores, estaria bem naquele momento. Estaria andando por aí em pernas mecânicas e eu não me encontraria naquela situação. Que tipo de CEO organizava um projeto para fabricar peças artificiais e não usava nenhuma delas? Era ridículo." (pág. 178)

"Há uma expressão que diz: Para quem só tem um martelo na mão, tudo na vida é prego." (pág. 183)

"-Quero que você diga que Lola é perfeita do jeito que ela é.
Hesitei. Será que existe alguém realmente perfeito? Ninguém pode ser perfeito na maior parte do tempo. Ninguém pode ser perfeito em apenas alguns momentos. Ou você é perfeito ou não é. E eu não acho que a biologia trabalhe com a noção de perfeição. Biologia é ciência aproximada. É uma questão de ser razoavelmente boa. Um vácuo é perfeito. Pi é perfeito. A vida não." (pág. 201)

"Existem cinco estágios de luto. O primeiro é a negação. Por exemplo: Minhas pernas não podem estar mortas. Não podem. O seguinte é a raiva: Você matou as minhas pernas, saia daqui, tire suas mãos de mim, etc. Esse estágio inclui gritos e demonstrações de raiva. Algumas acusações injustas. Lágrimas e sentimentos feridos.
Depois a barganha. É uma fase mais calma. Que pelo menos a bateria fique bem. Por favor, que a bateria ainda esteja funcionando. A quarta, depressão. Elas morreram. Eu morri. É uma espécie de autopiedade. Um fechamento em si mesmo. O último estágio é a aceitação. Não incluo exemplos porque eu ainda estava muito, muito longe da aceitação." (pág.207/208)

"Quando entrei na banheira, uma película de gordura se destacou da minha pele, formando um redemoinho ensebado de Mandelbrot. Eu era o centro de uma galáxia de suor e sujeira que ia se dissolvendo. Eu não havia percebido a intensidade do meu fedor. A gente pode se acostumar a qualquer coisa. Nosso cérebro só reclama quando ocorrem mudanças." (pág. 211/212)

"Mas o senhor sabe como são os usuários. Eles nunca dedicam o tempo necessário para compreender bem a tecnologia. Só querem aprender o essencial. O suficiente para fazer com que ela funcione. E isso simplesmente não é viável quando a tecnologia é tão poderosa. Acho que realmente chegamos ao ponto em que usuários nesse aspecto estão se tornando obsoletos." (pág. 244)

Nenhum comentário: