sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Morte de um dissidente

Título: Morte de um dissidente
Autor: Alex Goldfarb e Marina Litvinenko
Páginas: 454

O livro narra os bastidores da política russa que, apesar de não apresentar a mesma força da época da guerra fria, ainda desperta grandes interesses.

Alexander Litvinenko (Sacha) foi um agente da KGB na época de Boris Ieltsin. Com a ascensão de Putin ao poder, a relação de Sacha com o governo ficou instável,levando este a se exilar em Londres, temendo por sua vida. Apesar de todas as precauções Sacha foi envenenado e o livro descreve sua vida e suas atividades, procurando pistas para descobrir o responsável pela sua morte.

Trechos interessantes:

"Joseph explicou que, para pedir asilo, Sacha deveria primeiro ter entrado nos Estados Unidos. Fora dali, ele só poderia pedir um visto de refugiado, e havia uma cota anual. Teria de esperar meses, talvez anos." (pág. 26)

"Quando penso por que éramos tão felizes, acho que era porque podíamos ser nós mesmos, sem necessidade de fingir, de nos preocupar em ser atraentes, não havia nada a conquistar e nada a provar. Isso ficou óbvio para nós desde o primeiro dia, e era tão natural. Nenhum de nós jamais tinha pensado que algo assim fosse possível, e ficamos atônitos com isso até nosso último dia juntos." (pág. 49)

"O capitalismo na Rússia está apenas começando; afinal, é preciso antes de mais nada ganhar dinheiro, para poder doá-lo. Estou satisfeito de ver que tudo vai bem para vocês e de saber que dão a mesma importância que eu à ciência e à educação." (pág. 77/78)

"'Conheço um homem pelo aperto de mão', disse Sacha a Marina depois do encontro. 'O dele era frio e pegajoso. Eu podia ver em seus olhos que ele me odiava'." (pág. 180)

"Anos depois, numa caminhada por Londres, Sacha parou diante da inscrição na estátua de Oscar Wilde: 'Estamos todos na sarjeta, mas alguns de nós estão olhando para as estrelas'." (pág. 215)

"Uma vez, vi um rato enorme e corri atrás dele, até acuá-lo num canto. [...]Ele se virou e correu para cima de mim. Aquilo foi inesperado, e assustador. De repente o rato me caçava [...], mas fui mais rápido e bati a porta atrás de mim, no focinho dele. Foi assim que ele aprendeu, de uma vez por todas, o significado da palavra 'acuado'." (pág. 230)

"É claro que notei que havia qualquer coisa, que Naltchik era um disfarce. Achei que ele quisesse nos tirar de Moscou para nos proteger de algum perigo. Essas coisas acontecem na profissão, explicou Marina posteriormente. Mas, quando ele ligou, disse que talvez não pudéssemos voltar para a Rússia, nunca mais. Fiquei chocada. Para mim, aquilo era impensável, era como se me dissessem que eu tinha câncer, ou que alguém muito próximo estava envolvido num acidente de carro." (pág. 281)

"Diferentemente das alegações de cumplicidade no assassinato de uma criança inocente no século XVII, a suspeita de envolvimento na morte de 247 inocentes dificilmente derrubará o regime agora, não depois dos milhões de mortes semelhantes na moderna história russa, escreveu Zarakhovitch. Apesar disso, quanto mais as coisas pioram, mais o povo falará. Um dia, a conversa pode mais uma vez evoluir para um rugido." (pág. 317)

"O governo é acusado de matar grande número de cidadãos russos, e metade do povo acredita; para mim isso basta. A presunção de inocência não se aplica aos governos; é um mecanismo para proteger as pessoas contra abusos do governo. Putin tem a obrigação de afastar as suspeitas." (pág. 325)

"[...]a razão que o levara a escolher aquele lugar fora um velho ditado tchetcheno: 'Primeiro conhece o teu vizinho, depois constrói tua casa perto dele'." (pág. 375)

"Na verdade, eu estava começando a conhecer Marina. E recordaria nossa conversa mais tarde, depois da morte de Sacha, quando ela decidiu enfrentar a mídia. E o fez com força e graça, apesar de sua aversão á notoriedade, como um dever para com Sacha, como a mulher do pioneiro, que deixa de lado a roupa por lavar e pega a espingarda do marido morto para defender o lar." (pág. 407)

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