quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

A pequena guerreira

Título: A pequena guerreira
Autor: Giuseppe Catozzella
Páginas: 222

Samia Yussuf sempre gostou de correr. Junto com Ali, vizinho e colega de infância, passava o dia treinando, procurando melhorar suas marcas. O problema é que ela era uma garota somali, um país que, além de estar em guerra, tinha muitas restrições às atitudes e vestimentas das mulheres.

O grande sonho de Samia era vencer uma prova dos Jogos Olímpicos. Participou da Olimpíada da China em 2008, mas chegou em último lugar. Decidida a mostrar o seu talento nos Jogos Olímpicos de 2012, a pequena guerreira procura, de todas as formas, sair de seu país para conseguir um treinador e melhores condições de treinamento.

Trechos interessantes:

"Ali e eu nunca nos importamos com a guerra. Que atirassem uns nos outros na rua; a gente não tinha nada a ver com isso. Porque a guerra não afetava a única coisa que importava: o que ele era para mim e o que eu era para ele." (pág. 12)

"-Papai, mas você não tem medo da guerra?
-Você nunca deve dizer que tem medo, pequena Samia. - Ele ficou sério. -Nunca. Caso contrário, as coisas das quais tem medo parecerão grandes e acharão que podem vencê-la." (pág. 32)

"-Mas aonde você quer chegar, hein? - perguntou, apertando as minhas bochechas com uma de suas mãos grandes e mexendo meu rosto de um lado para o outro.
Ele estava brincando, mas eu levei a coisa a sério, como sempre fazia quando se tratava de corrida.
-Aabe, hoje tenho dez anos.
-Sim, é por isso também que, se vencer...
Não o deixei terminar.
-Tenho dez anos e você vai ver que, quando eu tiver dezessete, vou estar disputando uma prova nos Jogos Olímpicos. É lá que eu quero chegar." (pág. 41)

"Gostava das aulas, principalmente de educação física, em que eu era a melhor, mas também de aritmética e contabilidade. O que eu preferia, porém, eram os teoremas da geometria. Era maravilhoso saber que existiam leis escondidas no interior dos nossos terrenos, nos retângulos dos pátios e nos buracos dos banheiros. Ou, por exemplo, dentro do círculo que os burgico deixavam no chão depois das refeições. Parecia algo mágico e me dava uma sensação de segurança. Se haviam regras que o explicavam, o universo não podia ser tão perverso. Quem sabe um dia poderíamos descobrir as leis que levavam os homens a fazer guerra, e, nesse dia, nós a eliminaríamos para sempre. Seria o dia mais bonito da história da humanidade." (pág. 57)

"De um dia para o outro, todos os cinemas foram fechados. Não que eu jamais tivesse tido dinheiro para ir a um, mas a esperança de que isso fosse acontecer, essa existia, e por si só já valia a espera. E, além disso, sempre havia uma colega de turma mais rica que ia às sextas com a família e voltava com aquelas histórias maravilhosas e mágicas. O cinema criava e alimentava sonhos e por isso foi fechado. (pág. 74/75)

"A Viagem é uma coisa que todos nós temos na cabeça desde que nascemos. Cada um tem amigos e parentes que a fizeram ou que, por sua vez, conhecem alguém que a fez. É como uma criatura mitológica que pode levar à salvação ou à morte com a mesma facilidade. Ninguém sabe o quanto pode durar. Se a pessoa tiver sorte, dois meses. Se tiver azar, até um ano, ou dois. (pág. 114)

"O hotel também era lindo. Nada a ver com o de Djibuti.
Colunas e pisos de mármore, portas automáticas. O quarto grande e limpo. Havia televisão e telefone. A cama mais macia que eu já tinha experimentado. Carpete. Um armário para guardar minhas poucas coisas. Toalhas de vários tamanhos no banheiro. Duas pias maravilhosas, uma superfície grandíssima com cremes, xampus e condicionadores de vários tipos. No chão, sobre o mármore, um tapete com as cores do Oriente. E a banheira.

Teríamos a tarde toda livre. Duran só nos havia pedido que não nos afastássemos muito. Mas eu não tinha a mínima intenção de sair. Havia um banheiro bonito demais para ser desperdiçado dando voltas pela cidade." (pág. 126/127)

"Eu tinha chegado por último, mas, ainda assim, e isso foi incrível, menos de dez minutos depois eu também fui afogada pelos jornalistas de todo o mundo. A garotinha de dezessete anos magra feito um prego que vem de um país em guerra, sem um campo e sem treinador, que luta com todas as suas forças e chega por último. Uma história perfeita para espíritos ocidentais, entendi naquele dia. Eu nunca tinha visto as coisas por este ângulo." (pág. 135)

"Éramos 86, ancorados à tecnologia de um GPS.
Não existem ruas no Saara. Não existem trilhas. Cada traficante, cada Viagem, segue sua rota específica. De manhã, as marcas dos pneus são cobertas pela areia. Apagadas para sempre. Não há Viagem igual à outra.
Fica-se durante dias nas mãos de traficantes de pessoas que, por sua vez, estão nas mãos de uma caixinha que se comunica com um satélite." (pág. 181)

"Por que tinha me reduzido a esse estado? Só queria ser uma campeã dos 200 metros. A ninguém no mundo, durante a breve duração de uma vida, devia ser consentido passar por esse inferno." (pág. 194/195)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Explicando Deus numa corrida de táxi

Título: Explicando Deus numa corrida de táxi
Autor: Paul Arden
Páginas: 126

Está claro que o título do livro é uma falácia: nada é explicado, muito menos num período de uma corrida de táxi.

Na verdade trata-se de uma apresentação de frases e ideias para que o leitor faça a conexão e as interprete da maneira que achar melhor. Livro curto, com pouco texto e muitas imagens. Estilo outdoor.

Trechos interessantes:

"Darwin diz que não existe algo como Deus.
Só existem ciência e evolução.
Isso é árido demais para a maioria de nós. Precisamos de uma alma gêmea: olhamos para cima à procura dela.
A maioria de nós precisa de algo espiritual em que acreditar. O homem não pode viver só de pão." (pág. 10)

"Todos temos nossa própria linha direta com Deus.
Não precisamos de pregadores ou profetas.
Precisamos apenas acreditar que existe um poder, ou uma força, que é em si perfeito.
Mas algumas pessoas não aceitam isso.
É simples demais. Precisamos tornar as coisas complicadas.
E Deus sabe como a Igreja sempre torna as coisas complicadas!" (pág. 18)

"Como você pode ter uma fé cega em algo de que não se tem qualquer vestígio de prova?
Pois bem, a resposta é: você não pode.
Se pudesse provar, não se trataria de fé.
Você pode ter fé naquilo que não conhece.
Isso é fé." (pág. 36)

"Brigamos com nossos vizinhos porque não os entendemos, não por discordarmos deles." (pág. 59)

"Nossa recusa a entender as crenças dos outros é a razão de ainda termos guerras religiosas até hoje." (pág. 60)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Jogando xadrez com os anjos

Título: Jogando xadrez com os anjos
Autor: Fabiane Ribeiro
Páginas: 396

Livro que deve agradar ao público juvenil já que sua história é da mesma linha de Pollyanna, onde o otimismo é a tônica principal. Claro que há dificuldades e tropeços, mas a protagonista sempre procura ver o lado bom, apesar das adversidades.

Anny é uma menina de 8 anos cujos pais a entregam aos cuidados de uma vizinha, só a visitando uma vez por ano. Para se consolar a menina conta com uma boneca de pano e um jogo de xadrez que ganhou do pai. Longe dos pais, a menina é tratada como escrava e, para minorar seus sofrimentos, usa o jogo de xadrez para criar um mundo imaginário. Lentamente, mas bem lentamente, as coisas vão mudando...

Trechos interessantes:

"Em seu interior tratava-se de uma disputa, como em uma partida infinita de xadrez. O que o confortava era pensar que todas as pessoas, assim como ele, têm o bem e o mal em seus corações. Era um duelo sem-fim." (pág. 23)

"-A vida é como uma partida de xadrez, se não se consegue em um dia, deve-se tentar no dia seguinte, e nunca deixar de acreditar - Anny dizia para Tiara." (pág. 26)

"Não podemos esperar das pessoas mais do que elas estão prontas para nos entregar - ela pensou -, papai me disse isso uma vez." (pág. 62)

"-Sabe, Anny, nunca se esqueça de sorrir e nunca se esqueça de como é ser criança.
-Mesmo quando eu for adulta? - ela indagou, confusa.
-Principalmente quando você for adulta - falou o rapaz. -Preste atenção no que eu vou lhe dizer. A diferença entre os adultos e as crianças é que, quando crescemos, aprendemos a usar palavras difíceis, achamos que entendemos tudo, aprendemos a nos distanciar dos sonhos e fingimos, fingimos muito. Porque sempre nos preocupamos em manter as aparências, e não em fazer coisas que nos deixam realmente felizes. Deixamos de nos encantar, de dar valor ao que tem valor, de fazer o mundo ao nosso redor sorrir e de sorrir de volta para ele. Não nos permitimos fazer coisas diferentes, porque seguimos regras o tempo todo. Aí, cada vez mais pensamos que podemos controlar tudo e a todos; e ensinamos as crianças, quando, na verdade, elas é que deveriam nos ensinar." (pág. 80)

"Hermes carregava profundas mágoas e arrependimentos; era nítido. Era como se ele assistisse à vida passar, como se assiste a uma peça de teatro - ele era um mero espectador da vida, e não um ator; não era o protagonista de seus dias. Estava sempre na plateia e nunca nos palcos. Era essa a diferença entre viver ou simplesmente existir." (pág. 106)

"-Sabe, pequena, há muita gente aí fora no mundo. Cada um com uma vida diferente, com problemas e alegrias diferentes. Mas todos deveriam ter a oportunidade de ouvir você falar, para que aprendessem a dar valor a tudo na vida, porque as coisas mais simples são as que mais importam." (pág. 144)

"Quando tomamos uma decisão em nossa vida, qualquer que seja, ela deve se tornar a nossa razão de viver. Se a dúvida ou o arrependimento existirem, nunca viveremos em paz, nunca honraremos a nossa escolha e, dessa forma, é como se não tivéssemos feito escolha alguma." (pág. 173/174)

"-Nunca se esqueça que aqueles que amamos não nos deixam verdadeiramente." (pág. 236)

-Puxa! - exclamou Anny. -Deve ser legal. Mas você não sente falta de enxergar com os olhos?
-Como se pode sentir falta de algo que nunca se teve? Eu nunca enxerguei com os olhos, desde que nasci aprendi a ver o mundo com as mãos." (pág. 277)

"Ela sabia que na existência de qualquer pessoa há espinhos e flores pelo caminho. No entanto, ela escolheu ver somente as flores, sem importar-se com os espinhos. Aí residia toda a diferença do mundo." (pág. 392)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Almanaque das curiosidades matemáticas

Título: Almanaque das curiosidades matemáticas
Autor: Ian Stewart
Páginas: 314

Como o próprio título sugere, o livro está repleto de curiosidades matemáticas. Algumas curiosidades são simples, outras mais complexas e algumas requerem um bom entendimento da matemática. Ao longo do livro, inúmeros desafios são apresentados ao leitor (com respostas comentadas no final do livro).

Em suma, é um livro indicado a quem é apaixonado por matemática. Não que os demais não possam lê-lo, mas, talvez não conseguirão apreciar todos os detalhes que o tema sugere e  que o autor se propôs a explanar.

Trechos interessantes:

"Como sabemos que π não é uma fração exata? Por mais que aperfeiçoemos a aproximação x/y usando números cada vez maiores, jamais chegaremos a π propriamente dito, teremos apenas aproximações cada vez melhores. Um número que não pode ser escrito exatamente como uma fração é chamado irracional. A prova mais simples de que π é irracional utiliza o cálculo, e foi descoberta por Johann Lambert em 1770." (pág. 31)

"O nó de um matemático é como um nó comum em um pedaço de barbante, mas ele é feito em um fio de pontas unidas, de modo que o nó não possa se desfazer. Mais precisamente, um nó é uma volta fechada no espaço. A volta mais simples é um círculo, que é chamado de nó trivial." (pág. 37)

"A teoria dos nós é usada na biologia molecular, para entender os nós do DNA, e na física quântica. Digo isso caso você esteja pensando que os nós só servem para amarrar pacotes." (pág. 39)

"Fermat, no entanto, não era um matemático profissional - ele nunca teve um cargo acadêmico. Em seu tempo, trabalhava como conselheiro jurídico. Mas sua paixão era a matemática, especialmente o que chamamos atualmente de teoria dos números, as propriedades dos números inteiros comuns. Essa área utiliza os ingredientes mais simples de toda a matemática; paradoxalmente, é uma das áreas em que o progresso é mais difícil. Quanto mais simples os ingredientes, mais difícil é fazer algo com eles." (pág. 59)

"Como ocorre com toda a numerologia, podemos encontrar o que quer que estejamos buscando, desde que busquemos com bastante afinco." (pág. 106)

"Os fiscais de impostos usam a Lei de Benford para detectar números falsos em declarações, porque as pessoas que usam números fictícios tendem a usar os diferentes algarismos iniciais com a mesma frequência. Provavelmente por pensarem que é isso o que acontece com os números verdadeiros!" (pág. 117)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Muito além do tempo

Título: Muito além do tempo
Autor: Alexandra Monir
Páginas: 270

Livro recomendado para o público adolescente, com uma história leve, descontraída, sem muitas surpresas e com o toque mágico que todos os jovens gostam.

Michele não conheceu seu pai e mora sozinha com a mãe em Nova York. Quando sua mãe morre ela vai viver com seus avós, os quais ela desconhecia totalmente e que fazem parte da elite da cidade. No seu quarto ela encontra objetos antigos que a fazem viajar no tempo, 100 anos atrás e encontrar com o amor de sua vida. O resto é a sequência esperada.

Trechos interessantes:

"-Tenho que admitir que, quando descobri, cheguei ao fundo do poço. Mas então caiu a ficha de que eu havia perdido tudo - meu noivo, minha família, meu lar -, e que agora Deus me dava algo por que viver - dissera Marion, pegando a mão de Michele. -Havia uma razão para toda essa dor. Talvez eu tivesse que conhecer Henry Irving e me apaixonar por ele para trazer você ao mundo. E, quando a vi, foi amor à primeira vista. Prometi a mim mesma que seria uma mãe de verdade para você. Seria tudo que seus pais e seus avós não puderam ser." (pág. 21)

"-Me escuta, Michele. Não existe nada nesta vida capaz de te destruir, a não ser você mesma. Coisas ruins acontecem com todo mundo e, quando acontecem, você não pode simplesmente desmoronar e morrer. Você tem que lutar. Senão, é você quem perde no final das contas. Mas, se for em frente e lutar, você ganha. Assim como eu ganhei tendo você." (pág. 22)

"-Michele, querida, você não deve dizer essas coisas para a criadagem. Não é apropriado.
Michele olhou para ela, perplexa.
-Mas... estamos no século XXI!
-Claro que estamos - Dorothy interpôs com rapidez. - Mas, já que o emprego deles é servi-la, eles ficam envergonhados quando você se oferece para ajudar, pois é como se não estivessem fazendo bem seu serviço." (pág. 45)

"Parece incrível - admirou-se Philip. - Em comparação, você deve achar meu mundo entediante.
-Na verdade, não. É só diferente. Gosto do que estou vendo da antiga Nova York.
-E do que é que você gosta?
-Eu amo as cores, os espaços abertos e o céu sem poluição - Michele respondeu, pensativa. - Não sei. Acho que o que gosto mesmo é que tudo parece mais... inocente." (pág. 112)

"-Alguém uma vez me disse que os amigos são a família que você escolhe. Então, veja só: vou ser sua família e você pode ser a minha." (pág. 138)

"O amor deles a havia salvado depois que a mãe tinha morrido. O que a salvaria agora? E, agora que ela havia encontrado o tipo de amor real e verdadeiro com que todos sonham, mas que raramente ousam esperar de verdade, como poderia sequer imaginar estar com outra pessoa?" (pág. 186)

"Qual era o sentido de amar, quando as pessoas que você amava eram tiradas de você? Por que o amor existia, quando a Morte e e o Tempo estavam sempre de prontidão para atacar?
Fechou os olhos com força, e os rostos de Marion e Philip encheram sua visão. Por que devemos passar tanto tempo da vida sentindo a falta das pessoas, em vez de estar com elas?" (pág. 249)

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Morte na primavera

Título: Morte na primavera
Autor: Magdalen Nabb
Páginas: 222

Duas jovens são sequestradas em Florença e uma delas é solta para apresentar as condições do resgate à família da outra jovem. Começa uma busca frenética para localizar o cativeiro da jovem em meio às inúmeras propriedades rurais da região, onde já estava se tornando comum esta prática criminosa.

Apesar de ser um livro policial, com toques de suspense e reviravoltas, não foi um livro que chamou a minha atenção. Achei a história confusa, com personagens confusos, com um enredo que prende pouco a atenção, esperando o momento em que a história fosse realmente deslanchar. E o momento não veio. É como se fosse um sequestro sem sequestro.

Trechos interessantes:

"Mais turistas. A invasão começava mais e mais cedo a cada ano, tornando insuportável cuidar das coisas do dia a dia em meio às ruas estreitas superlotadas. Ontem mesmo alguém escrevera aos editores do Nazione sugerindo com tristeza que o prefeito providenciasse uma área de camping nas montanhas para os florentinos, já que não havia mais lugar para eles em sua própria cidade. Por mais rentável que o turismo pudesse ser, a invasão anual os deixava indignados." (pág. 10/11)

"-Se quer saber se vamos pegá-los, vamos, sim, mas também é quase certo que matem a garota. Amadores são incompetentes e entram em pânico. Já os profissionais são bem organizados, nunca são vistos pelas vítimas e não matam. Não é bom para os negócios. Se as pessoas não tivessem certeza de pegar a vítima de volta em troca do dinheiro, não se disporiam a pagar o preço. Com amadores não adianta pagar, eles vão matar a vítima de qualquer maneira por causa do medo. Prefiro lidar com profissionais." (pág. 38)

"-Espero que não tenha lhe tirado de algo mais importante esta noite.
-Na verdade, tirou sim - o promotor respondeu gravemente -, mas pelo amor de Deus, não se preocupe com isso, o senhor já tem coisas demais com que se preocupar.
Era impossível ver no escuro se o que ele disse tinha a habitual centelha de ironia." (pág. 166)

"É terrível ver uma pessoa infeliz quando queremos ajudar essa pessoa e não podemos." (pág. 170)

domingo, 27 de novembro de 2016

O jogo dos assassinos

Título: O jogo dos assassinos
Autor: Alfred Hitchcock
Páginas: 98

Como fã dos livros de mistério e suspense, atirei-me a este livro pensando tratar-se de material inédito. Na verdade é apenas uma coletânea das coletâneas já publicadas anteriormente. Não há nenhuma história original.

Outro ponto em desfavor do livro é que não há um índice. As histórias têm que ser lidas na sequência, ou então devem ser procuradas manualmente. A decepção só não foi maior porque o livro é pequeno.

Trechos interessantes:

"Não ande carregando pensamentos mórbidos. Não pense na morte todo o tempo, preocupe-se com a vida. Pense sobre o seu trabalho, por exemplo.
Mas o que se pode fazer, se o seu trabalho, frequentemente, é lidar com a morte?" (pág.11)

"Se o rapaz não pudesse entender a atrocidade do que fizera, se era jovem demais, se a vida era para ele ainda algo tão natural, uma dádiva tão natural, uma dádiva tão inevitável, pelo menos os pais dele certamente já tinham vivido o bastante para entender. Será que o Sr. Brodek nunca esteve deitado na cama, sem poder dormir, pensando no fraco e envelhecido som do seu próprio coração bombeando a vida através das veias? Será que a Sra. Brodek não sentiu o aperto do medo diante da morte,quando se achava prestes a dar a vida ao seu filho? Eles sabiam, eles tinham que entender o que realmente significa matar." (pág. 21)

"-Volto à sua frequente afirmação de que, sendo todas as soluções impossíveis eliminadas, qualquer possibilidade restante, ainda parecendo improvável, será a verdadeira." (pág. 45)

"Existem criaturas patéticas neste mundo, para as quais a posse do dinheiro significa tudo. Conhecem pouco sobre a vida e nada sobre viver." (pág. 52)

"O amor pelo dinheiro, Parker, é de fato, a raiz de todo o mal." (pág. 55)

"Milhares de pessoas nos Estados Unidos da América tinham levantado essa manhã sem saber que iriam morrer antes do cair da noite. Por que a sua querida Mary não podia estar entre eles? Por que ela não podia morrer, sem que ele precisasse assassiná-la?" (pág. 70)

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Esposa 22

Título: Esposa 22
Autor: Melanie Gideon
Páginas: 396

Alice é uma mulher na casa dos 40 anos, entediada com o casamento, trabalha numa escola local como professora de Arte e acredita que a filha tem transtorno alimentar e que o filho é gay. Desiludida com o casamento, tem a crise de meia idade acentuada quando o marido perde o emprego e a escola em que trabalha resolve não renovar seu contrato para o próximo ano.

Por impulso resolve participar de uma pesquisa sobre relacionamento de casais que chega ao seu e-mail, surgindo daí uma animada troca de mensagens entre ela (Esposa 22) e o entrevistador (Pesquisador 101). Começando como uma coisa simples, a pesquisa cresce de importância passando a ter grande influência na sua vida. Tudo isso, sempre fazendo uso das mídias modernas: e-mail, twitter, facebook e pesquisas do Google.

Trechos interessantes:

"Não consigo disfarçar minha expressão de espanto. Eles estão competindo para ver quantos resultados seus nomes geram no Google. E estão todos na casa do milhar?
-Vejam só que vocês fizeram. Alice está apavorada - diz Kelly. - E não a censuro. Somos um bando de narcisistas mesquinhos.
-Não, não, não. Eu não estava julgando. Acho engraçado. Pesquisa narcisística. Todo mundo faz isso, não? Só que ninguém tem coragem de admitir." (pág. 19/20)

"Ele está vestido para ir trabalhar: calça cáqui e camisa social violeta. Fui eu que comprei essa camisa, sabendo em como ele ficaria bem com essa cor, combinando com seus olhos e cabelo escuros. Quando cheguei com ela em casa, ele protestou, claro.
-Homens não usam lilás - disse ele.
-Sim, mas homens usam roxo - retruquei.
Às vezes a gente só precisa chamar as coisas por outro nome para conseguir que os homens concordem com a gente." (pág. 40)

"A escola de Peter leva a ecologia muito, muito a sério. Plástico é proibido. Guardanapos de pano são incentivados.
[...]
Vão ser pratos de papel.
-Se alguém perguntar, diga que o custo carbono de arranjar um novo kit de utensílios pesa muito mais que usar cinco pratos descartáveis da sua mãe, comprados em 1998, na época em que os gases estufa provinham do excesso de repolho no almoço dos jardineiros." (pág. 89)


"O que as Abelhas Abelhudas sabem, o que é tácito entre nós, o que não precisa ser explicado nem dito, é que ninguém jamais vai nos amar como nossas mães nos amaram. Sim, somos e seremos amadas, por nossos pais, amigos, irmãos, tios e avós e cônjuges - e nossos filhos, se optamos por tê-los -, mas nunca experimentaremos aquele tipo de amor materno incondicional, do tipo 'nada que você fizer vai me afastar de você'." (pág. 110)

"Eu lembro que quando as crianças eram pequenas, uma conhecida me confidenciou como ela e o marido estavam desolados com a partida do filho para estudar em outra cidade. Sem refletir, eu disse a ela: 'Ora, a questão não é essa. Ele se lançou no mundo. Vocês não deveriam estar felizes?!' Cheguei em casa e contei isso a William e nós dois ficamos desconcertados. Envolvidos como estávamos no dia a dia difícil dos pais jovens com filhos pequenos, ambos daríamos qualquer coisa para ter uma tarde só nossa. Estávamos ansiosos para que nosso filhos se tornassem independentes. Imagine a pessoa ser tão dependente dos filhos a ponto de se sentir perdida quando eles saem de casa, dissemos um ao outro. Dez anos depois, estou começando a entender." (pág. 115)

"Tenho certeza de que éramos irritantes ao extremo. Especialmente para os casais mais velhos que não andavam na calçada de mãos dadas, que muitas vezes pareciam nem se falar, separados por uma distância de um metro. Eu não conseguia entender que o silêncio deles poderia ser confortável, um silêncio conquistado a duras penas, um benefício decorrente de anos de vida em comum; só pensava em como era triste eles não terem nada para dizer um ao outro." (pág. 162)

"Que tipo de guerra a pessoa trava consigo mesma?
Uma guerra em que um lado da pessoa acha que ela está cruzando uma linha e o outro acha que essa linha está pedindo para ser cruzada." (pág. 218)

"E o mais importante, minha mãe teria me informado sobre o tempo. Teria dito: 'Querida, é um paradoxo. Na primeira metade da vida, cada minuto leva um ano para passar, mas, na segunda metade, cada ano leva um minuto.' Teria me garantido que era normal e que não adiantava ir contra. É o preço que se paga pelo privilégio de envelhecer."

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Amazônia, a viagem quase impossível

Título: Amazônia, a viagem quase impossível
Autor: Louise Sutherland
Páginas: 180

Pedalar pela Transamazônica recém inaugurada, esse era o desejo da autora, uma neozelandesa apaixonada por ciclismo e que resolveu se aventurar pela Amazônia depois de já ter percorrido grande parte do globo. Foram 4.400 quilômetros enfrentando sol e chuva, numa estrada irregular e não concluída, em meio à floresta, atravessando áreas indígenas, leitos de rios, em áreas desertas e, o mais interessante, sozinha e sem falar uma palavra em português.

Apesar da dificuldade e dos rótulos de 'impossível' que todos proferiram, ela conseguiu. E mais importante: amou a viagem, se interessou pelo povo que vive ali a ponto de fazer uma campanha em seu país e arrecadar 20 mil libras e montar um clínica móvel para operar naquela região pois havia ficado impressionada pela falta de assistência médica à população local. Ou seja, além de apaixonada pelo ciclismo, também defensora das causas sociais. Leitura extremamente recomendada.

Trechos interessantes:

"Eu estava começando a me sentir um pouco preocupada. Tudo o que eu pretendia era pedir alguns detalhes atualizados sobre a estrada. Eu já havia percebido que ela não seria uma autoestrada pavimentada como as grandes vias da Europa, com suas paradas frequentes que ofereciam todo o conforto aos viajantes. Mas, da mesma forma, eu não esperava que tudo fosse tão drástico quanto o Dr. Araújo descrevia.
Em primeiro lugar, se era, realmente tão isolada, por que construir a estrada? Ela havia sido divulgada em todo o mundo como um feito fantástico da engenharia e aclamada como uma das maravilhas do mundo moderno; deveria haver mais de uma razão, além de provar que podiam fazê-la." (pág. 15)

"-Você sabe - eu disse para alguém em particular - eu descobri que um velho ditado é bem verdadeiro, e ele diz o seguinte: a maior parte das pessoas, na maior parte dos países é muito mais gentil do que imagina a maioria das OUTRAS pessoas." (pág. 16)

"Eu sempre descobri, em todos os países pelos quais andei de bicicleta, que quanto mais primitivas eram as pessoas, maior sua hospitalidade. Eu descobri que é mais fácil passar por uma área estranha, disposta a aceitar as pessoas, SEUS hábitos e SEU modo de vida. E não com uma atitude 'assustada' ou sentindo-se 'superior'. Na maior parte dos casos eles respondiam com gentileza, mesmo quando eu não conseguia me comunicar com eles. Eu sou a estranha, a visitante. Aquela é SUA terra natal." (pág. 53)

"Quando as portas do banco se abriram eu era a primeira. Um dos caixas examinou os cheques e meu passaporte, depois balançou a cabeça.
-Sinto muito, não trocamos cheques de viagem.
Mas eu havia ficado sem dinheiro brasileiro. O que poderia fazer?
O caixa sugeriu que eu procurasse alguém na cidade que comprasse os meus cheques. Eu não podia acreditar nisso: banco me dizendo para procurar o mercado negro!" (pág. 54)

"A solidão não me preocupava. Eu nunca estava só quando pedalava. Eu tinha minha bicicleta para conversar. Mas era à noite, ou em uma cidade estranha onde não conhecia ninguém que eu me sentia realmente sozinha." (pág. 65)

"Eu amei a floresta!
Viajar de bicicleta durante dias, tendo apenas as árvores e o sol brilhante ao meu redor. Tendo os papagaios, as cobras e milhares de borboletas como companhia. O tornozelo ainda infeccionado e a comida monótona eram detalhes a serem esquecidos. ESTA era a vida que eu pedira a Deus." (pág. 79)

"Não são os animais selvagens que ameaçam a floresta (na verdade, eles é que estão sendo ameaçados), mas os insetos poderiam fazê-lo. Minha impressão foi que os insetos estão decididamente aumentando. Com a queimada da floresta e o cultivo das terras, as cobras, os morcegos e outros predadores do mundo dos insetos estão sendo levados à extinção. Isto significa que os insetos podem se reproduzir livremente e multiplicar-se em profusão. Todos aqueles milhões de borboletas que vi, ao longo da estrada, já foram lagartas. Cada uma delas comendo a vegetação da floresta. Que ideia!
Quanto mais se aprende sobre a interdependência de todas as coisas vivas da floresta - as árvores, as plantas e a vida animal - mais interessante ela se torna. A natureza criou tudo de tal forma que toda a região da floresta foi capaz de sobreviver por milhares de anos. Mas a interferência destruidora do homem pode alterar o delicado equilíbrio e mudar vastas áreas de vida abundante para a devastação total, em apenas três a cinco anos!" (pág. 102)

"Tentar achar o caminho foi uma experiência terrível. Em três meses esta era a primeira vez que estava em uma cidade grande e achei que aquilo era muito mais selva do que a selva onde estivera. Prefiro muito mais todas as árvores e cobras do que aqueles carros voando ao meu redor!" (pág. 124)

"Isso, eu acho, é uma das coisas maravilhosas de se viver na selva. Um grupo de vinte e cinco pessoas pode aparecer no meio da noite, totalmente inesperados, e ninguém se abala. Eles conversam animadamente, comem alguma coisa, ou simplesmente tomam café e todos podem ir para suas redes e dormir. Eu tentei imaginar a confusão que isso seria se acontecesse na casa de alguém do 'mundo civilizado'. Isso me fez pensar no que é a VERDADEIRA definição da palavra civilizado." (pág. 156/157)

terça-feira, 15 de novembro de 2016

A ciclista solitária

Título: A ciclista solitária
Autor: Sir Arthur Conan Doyle
Páginas: 216

Sherlock Holmes está de volta! Em 1893 Conan Doyle havia resolvido encerrar as histórias de Holmes e, para isso, escreveu a morte do personagem na última história do livro "Memórias de Sherlock Holmes". Em 1905 (arrependido?) resolveu "reviver" o detetive e publicou 12 histórias num livro chamado "O retorno de Sherlock Holmes". E é desse livro que foram retiradas as histórias de "A ciclista solitária".

Para quem já está habituado com as histórias de Holmes, não vai encontrar nenhuma novidade. O detetive resolve crimes intrigantes, com a ajuda do amigo Watson, utilizando-se de métodos pouco convencionais  e que deixam a polícia britânica totalmente aparvalhada.

Trechos interessantes:

"-O trabalho é o melhor antídoto para a tristeza, meu caro Watson - ele disse -, e eu tenho um pouco de trabalho para nós dois hoje à noite que, se tivermos êxito, por si só justificará a existência de um homem nesse planeta." (pág. 19)

"-[...] Há algumas árvores, Watson, que crescem até uma certa altura e então subitamente desenvolvem alguma excentricidade repugnante. Você vê isso seguidamente em seres humanos. Tenho uma teoria de que o indivíduo representa em seu desenvolvimento toda a procissão dos seus antepassados, e que uma virada súbita para o bem ou para o mal sinaliza alguma forte influência que veio na linha do seu pedigree." (pág. 31)

"Meu amigo não tomara café, pois uma de suas peculiaridades era não comer nada nos momentos mais intensos, e já o vi contar demasiado com sua força extraordinária até desmaiar de pura inanição. 'No momento não posso desperdiçar energia e resistência com a digestão', ele diria, em resposta às minhas admoestações médicas." (pág. 54/55)

"-Asseguro-lhe, meu bom sr. Lestrade, que tenho uma razão excelente para tudo que estou fazendo. Talvez o senhor se lembre que caçoou de mim um pouco há algumas horas, quando o vento soprava para o seu lado, de modo que não pode deixar de conceder-me um pouco de pompa e cerimônia agora." (pág. 60)

"-[...]Se a senhora está tão ferida como o senhor diz, quem escreveu esta nota? - exclamou com um brilho de suspeita nos olhos, jogando o bilhete sobre a mesa.
-Eu escrevi para trazê-lo aqui.
-O senhor escreveu? Não havia ninguém no mundo, fora da Junta, que conhecesse o segredo dos dançarinos. Como o senhor poderia escrever?
-O que um homem pode inventar, o outro pode descobrir - disse Holmes." (pág. 94/95)

"-O assunto pode ser facilmente solucionado - disse o intimidado professor. -O sr. Sherlock Holmes pode voltar a Londres no trem da manhã.
-Nada disso, doutor, nada disso - disse Holmes, no seu tom mais gentil. -Esse ar do Norte é revigorante e agradável, de modo que pretendo passar alguns dias nas suas terras e ocupar minha mente da melhor maneira possível. Se terei o abrigo da sua casa, ou da estalagem do vilarejo, é algo para o senhor decidir, é claro." (pág. 135)

"-Bem, infelizmente não posso ajudá-lo, sr. Lestrade - disse Holmes. -O fato é que conheci esse tal Milverton e o considerava um dos homens mais perigosos de Londres. Acho que há determinados crimes em que a lei não pode interferir, e que por esse motivo até certo ponto justificam a vingança privada. Não, não adianta insistir, já tomei uma decisão. Minha solidariedade está com os criminosos, não com a vítima, e não vou trabalhar nesse caso." (pág. 214)

sábado, 12 de novembro de 2016

O leitor de almas

Título: O leitor de almas
Autor: Paul Harper
Páginas: 228

Vera List é uma psicanalista que suspeita que duas de suas clientes estão tendo um caso com o mesmo homem. O fato em si não teria maiores consequências, se Vera não sentisse que o caso com suas clientes possuem situações similares e estão caminhando a passos rápidos para um desfecho trágico. Vera então contrata Fane para tentar localizar o amante misterioso e esclarecer de vez a situação.

Dilemas éticos, morais e sociais se misturam nessa avalanche de situações. Fane possui uma equipe que coloca em ação com o intuito de cobrir todas as áreas enquanto Vera tenta, inicialmente, manter as clientes desinformadas do que está acontecendo com suas vidas. Muita adrenalina e emoção na história.

Trechos interessantes:

"'É o espírito do nosso tempo', disse ela. 'Assistir à autodestruição das pessoas, observar vidas que vão por água abaixo, é nosso passatempo nacional. Somos viciados em segredos sujos.'
Era uma observação bastante amarga, e Fane desconfiou que devia refletir uma dura experiência pessoal. Mas não pôde discordar. O anonimato - a privacidade - era o último refúgio da normalidade num mundo cada vez mais hiperconectado, revelador, sedento por fofocas. Era raro como o pudor e, uma vez perdido, irrecuperável, como a inocência." (pág. 24)

"Abrir a mente de uma mulher era como tentar abrir uma ostra com uma lâmina afiada. Se a pessoa quiser a pérola, tem de usar o instrumento adequado. Se for muito grosso, não vai funcionar. Se for fino demais, vai quebrar com a pressão. É preciso ter a lâmina exata, e ele sabia qual era." (pág. 39)

"Muitas vezes ele se perguntava o que fora mais importante para fazer dele o homem que era: o isolamento de seus anos de menino que perdera as lembranças ou sua adolescência independente, em que cada passo que dava e cada decisão que tomava eram um lance de dados.
É claro que essa não era, para começar, a pergunta certa. Raramente (ou talvez nunca) a vida pode ser compartimentada assim. Mas agora ele não perdia mais tempo com esse tipo de pergunta." (pág. 77)

"'A senhora então não acompanhou de perto a investigação policial?'
'Não acompanhei nada. A carga psíquica e moral do assassinato de Stephen cabe ao homem que puxou o gatilho. Não cabe a mim. Meu luto não é afetado pelo que possa acontecer ao assassino de Stephen. Não há relação entre uma coisa e outra. E sei que minha tristeza não é especial. Só é especial para mim. Tento mantê-la só comigo'." (pág. 107)

"Vera Lista já estava pagando seu preço, e não se sentia satisfeita consigo mesma pelo que decidira fazer. A verdade é que Fane sabia desde o começo que Vera subestimaria o quanto teria de pagar por sua decisão. Quando ficam desesperadas para se livrar de um dilema, as pessoas normalmente dão mais peso à esperança que à realidade. É uma das coisas tristes e maravilhosas da natureza humana." (pág. 109)

"'Sempre fui usada para sexo', ela disse. Era uma afirmação triste porque era dita sem tristeza.'Não é surpresa para mim o que os homens são capazes de fazer por isso, ou o que são capazes de fazer a outra pessoa por isso. Mas não é a única coisa capaz de levar os homens a extremos'." (pág. 118)

"O homem é inseparável dos dilemas éticos trazidos por seus segredos: quais são, quem os guarda, quem não os guarda... e por quê." (pág. 216)

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Histórias para aquecer o coração das mães

Título: Histórias para aquecer o coração das mães
Autor: Jack Canfield, Mark Victor Hansen, Jennifer Read Hawthorne, Marci Shimoff
Páginas: 110

Pequeno livro de histórias singelas, mas que apresentam alto teor de emotividade, ternura e gratidão. Em todas as histórias a peça central é a mãe e, no fundo, todas buscam mostrar uma espécie de lição que todos devemos adotar e aprender.

As histórias são trechos de cartas, livros e textos de pessoas diversas e foram compiladas por esses quatro autores, formando esta obra que, sem dúvida, vai tocar profundamente o coração de todas as mães. Há histórias para todos os gostos: ternas, sinceras, engraçadas, tristes, sensíveis. Leitura recomendada a todos.

Trechos interessantes:

"Ela deu como que um suspiro, colocando a mão no peito, me olhou com infinita tristeza e disse; 'Você é padre há tantos anos e nunca viu Deus?'
Eu insisti: 'Mãe, a gente não vê Deus.'
Ela retrucou: 'Você não vê Deus, mas eu O vejo todos os dias. Quando o sol se põe lá no horizonte, Deus passa com um manto fantástico, lindo. Ele vem sempre sério, e teu pai que já faleceu vem atrás, olha para mim, me dá um sorriso e segue junto com Deus. Eu vejo Ele todos os dias.'
Eu fiquei parado, me perguntando: 'Quem é o teólogo aqui, ela ou eu? A analfabeta ou o doutor em teologia?'" (pág. 17)

"Lembro-me de ter lido uma vez, num livro sobre psicologia do desenvolvimento, que somente um pai ou uma mãe podem outorgar a maioridade a um filho. Na época, não entendi realmente o sentido dessas palavras. Hoje, acho que compreendo. Existe uma confirmação que só pode vir daqueles que nos deram a vida, que nos conhecem completamente desde que nascemos. Mesmo velhos, o poder dos pais em conceder essa confirmação não diminui." (pág. 23)

"Quando bateu à porta, esta se abriu sozinha. Chegou a pensar que alguém a arrombara. Preocupada com a mãe, correu para o quarto, mas a senhora dormia. A filha a acordou, dizendo: 'Sou eu, sou eu, voltei para casa!'
A mãe não podia acreditar. Em prantos, abraçou-se à filha, que disse: 'Fiquei tão preocupada! A porta estava aberta e pensei que alguém tinha entrado!'
A mãe respondeu docemente: 'Não, querida. Desde o dia em que você se foi, a porta nunca esteve fechada'." (pág. 30)

"Sentada em frente a eles, eu os observava. Soube naquele momento que os cabelos, as roupas e as tatuagens eram só afirmação de adolescente. Isso mudaria com o tempo. Mas sua participação nas orações da nossa festa e a união de nossa família permaneceriam para sempre nos seus corações. Mesmo quando fossem mais velhos, isso nunca iria mudar." (pág. 39)

"É impressionante como a gente acaba sabendo muito mais da história e da motivação por trás dela quando está abraçando uma criança, mesmo uma criança num corpo adulto. Quando eu segurava a língua, acabava ouvindo meus filhos falarem de seus medos, de sua raiva, de culpas e arrependimentos. Não ficavam na defensiva porque eu não os estava acusando de coisa alguma. Podiam admitir que estavam errados sabendo que eram amados, apesar de tudo. Dava para trabalharmos com 'o que você acha que devemos fazer agora', em vez de ficarmos presos a 'como foi que a gente veio parar aqui?'" (pág. 62)

"Enquanto mamãe levava a caneca de volta à cozinha, o senhor Hall conseguiu se apoiar na bengala, afastou a colcha dobrada sobre a cadeira e saiu cambaleando porta afora em direção à tempestade.
Ficamos observando-o enquanto chegava, vacilante, até o portão da frente, os clarões dos raios iluminando o caminho.
'Parece que nosso hóspede já consegue andar sozinho.'
'Mamãe, por que você o chama de nosso hóspede?', perguntei. 'Ele só é nosso vizinho. Nós não o convidamos a entrar.'
'Um hóspede é qualquer pessoa que venha à nossa casa em paz'." (pág. 69/70)

"Perdoai-me, Senhor, por todas as tarefas que hoje ficaram por fazer. Mas, de manhã, quando meu filho, com seus passinhos incertos, entrou no quarto e pediu: 'Mamãe, quer brincar comigo?', eu simplesmente tive de dizer sim." (pág. 79)

"Se eu soubesse como é maravilhoso ter netos, eu os teria antes dos filhos. [Lois Wyse]" (pág. 85)

domingo, 6 de novembro de 2016

Aléxandros - os confins do mundo

Título: Aléxandros - os confins do mundo
Autor: Valerio Massimo Manfredi
Páginas: 410

Terceiro e último livro da saga de Alexandre. Aqui são relatadas as suas últimas batalhas, seus casamentos com Estatira e Roxana, os atentados que sofreu, o seu encontro com o sábio Kalanos, até o instante final em que morreu rodeado pelos amigos.

Alexandre, cujo sonho era conquistar o mundo, perseguiu, com seus fiéis companheiros, este sonho intensamente. Venceu diversas tribos, viajou por montanhas, florestas, desertos e mares, fundou inúmeras cidades e foi morrer tranquilamente em casa, de uma causa banal. Não conquistou o mundo, mas foi dono do maior império já visto.

Trechos interessantes:

"A lamparina que mais intensamente brilha na sala é fadada a ser a primeira a apagar-se, mas todos os convidados irão lembrar quão bonita e agradável foi a sua luz durante a festa." (pág. 14)

"-Achas realmente que haverá um milhão de homens esperando por nós naquele trecho do deserto? - perguntou Leonato visivelmente perturbado. -Por Hércules, nem consigo imaginar! O que vem a ser, afinal, um milhão de homens?
-É muito fácil explicar - disse Eumênio. -Significa que cada um de nós tem de matar vinte se quisermos vencer, e ainda sobrariam alguns." (pág. 67/68)

"-Chefiarás o ataque da tua cavalaria, amanhã, não é?
-Isso mesmo.
-Por que expor-te a um perigo mortal? Se algo acontecer contigo, os teus homens ficarão sem guia.
-Um rei tem seus privilégios, mas deve estar pronto a ser o primeiro a morrer quando a sua gente enfrenta o perigo." (pág. 78)

"Todos os povos da terra identificam o mal com os outros, com os povos estrangeiros e os seus deuses e, infelizmente, creio que para isto não haja remédio. Foi por este motivo que destruíram as obras mais belas da nossa civilização. E é por isso que nós destruímos agora as obras mais belas da deles." (pág. 140)

"Alexandre olhou para o inimigo, para os olhos vidrados que um dia o haviam fitado por um instante, cheios de aflição, no campo de batalha de Isso e sentiu um profundo sentimento de piedade por aquele homem que até poucos meses antes estava sentado no mais alto trono da terra, venerado como um deus por milhões de súditos e que agora, traído e morto por seus próprios amigos, jazia abandonado numa estrada poeirenta. Lembrou-se então dos versos da Queda de Ílio que descreviam o corpo inerte de Príamo morto por Neoptólemo:

Jaz o rei da Ásia, aquele que foi poderoso senhor de exércitos,
como árvore abatida pelo raio,
um tronco abandonado, um corpo sem nome." (pág. 171)

"Para uma mãe não há dor maior do que a de perder um filho, mas, te peço, não me odeies: a ti, pelo menos, os deuses concederam chorar por ele e sepultá-lo segundo o costume dos antepassados. À minha mãe, que há anos espera por mim, talvez nem isto seja concedido." (pág. 172)

"-Se estás pensando em Dédalo e Ícaro, preciso lembrar-te que infelizmente se trata apenas de uma lenda. O homem jamais conseguiria voar, nem mesmo que alguém construísse asas para ele. Acredita, é simplesmente impossível.
-Não conheço essa palavra - replicou o rei. -E houve uma época em que tu mesmo não a conhecias, meu amigo.Receio que estejas ficando velho." (pág. 295/296)

-[...]Alguém ouviu-te perguntar o que era preciso para tornar-se o homem mais famoso do mundo e ele teria respondido: 'Matar o homem mais poderoso do mundo'." (pág. 303)

"Não há conquista que faça sentido, não há guerra que valha a pena de ser combatida. No fim, a única terra que nos sobra é aquela em que seremos sepultados." (pág. 380)

"A dor de Alexandre pela morte de Heféstion é a mesma de Aquiles pela morte de Pátroclos. Não importa como Heféstion morreu, o que importa é como ele viveu: um grande guerreiro, um grande amigo, um jovem ceifado cedo demais pelo fado." (pág. 398)

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Sozinha mundo afora

Título: Sozinha mundo afora
Autor: Mari Campos
Páginas: 108

Quem nunca sentiu vontade de explorar o mundo, conhecer novas culturas, novas paisagens, novos ares? Acho que todo mundo tem esse desejo. Mas, muitas vezes, mesmo tendo os recursos financeiros, não encontramos ninguém que se disponha e enfrentar esse desafio conosco. E aí o desejo fica apenas no sonho.

Nesse livro a autora tenta desmistificar esse conceito e mostra que é possível viajar sozinha e se divertir, sem se sentir culpada ou entediada. Quando se está aberto a novas experiências tudo é muito mais fácil e não é a falta de companhia que vai te impedir de desfrutar uma viagem interessante. Viajar é muito bom, tanto faz se com companhia ou mesmo sozinho.

Trechos interessantes:

"Quem já experimentou pode afirmar: viajar sozinha eleva a autoestima, amplia horizontes, fortalece, aplaca os medos e economiza anos de terapia em matéria de autoconhecimento." (pág. 12)

"Para quem me pergunta por que eu viajo sozinha, sempre respondo: 'Porque eu adoro a minha própria companhia!' E nenhuma pergunta capciosa costuma vir depois disso, ponto final." (pág. 14)

"Quando abrimos a porta que nos separa de conhecer um mundo diferente do nosso, não podemos mais fechá-la." (pág. 22)

"Em países muçulmanos, por exemplo, evite andar com os cabelos soltos e procure usar roupas discretas - nada muito justo, curto ou decotado. Se você é visita, independente de concordar ou não, respeite o modo de pensar e viver de seus anfitriões." (pág. 30)

"Descobri que sou uma ótima companhia para mim mesma e que posso, sim, sentir prazer em fazer aquilo que gosto sem depender de ninguém. Nem pensei em entrar em uma excursão ou convidar uma amiga. É uma delícia fazer a programação dos seus dias sem ter que levar em conta a vontade de ninguém, apenas a sua." (pág. 89)

"[...]Tem medo, e muito, antes de embarcar, mas quando volta nem lembra por que diabos refletiu tanto antes de partir..." (pág. 108)

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A caldeira do diabo

Título: A caldeira do diabo
Autor: Grace Metalious
Páginas: 440

Peyton Place é uma pequena cidade dos Estados Unidos, com todas as vantagens e problemas de uma cidade pequena: todos se conhecem e se ajudam, mas também há as intrigas, fofocas e maledicências. Os mais velhos já estão resignados a permanecerem no local, mas os jovens querem, a todo custo, abandonar a cidade.

As divergências de moradores sobre questões locais, a chegada de um novo diretor da escola, um bêbado que espanca a mulher e depois desaparece, a guerra, a rebeldia dos filhos, são alguns dos aspectos que vão se misturando num caldeirão de emoções até chegar ao ponto de transbordar.

A história começa devagar e morna, tal qual uma cidade do interior mas, com a evolução dos acontecimentos, chega a um ritmo alucinado. Sem dúvida,vale a leitura.

Trechos interessantes:

"O veranico de outono é como uma mulher. Sazonado, arrebatado e ardente, mas inconstante; chega e parte quando bem lhe apraz, ninguém jamais sabendo exatamente se vai mesmo chegar ou por quanto tempo irá ficar." (pág. 7)

"Nessas ocasiões, quando a srta. Thornton estava muito cansada, sentia estar travando uma batalha inglória contra a ignorância, e era dominada por uma sensação de futilidade e desamparo. Que sentido havia em insistir interminavelmente com um menino para que memorizasse as datas da ascensão e queda do Império Romano, quando esse menino, ao se tornar adulto, ordenharia vacas como meio de vida, como o haviam feito seu pai e avô antes dele? Que lógica havia em martelar frações decimais na cabeça de uma menina, a qual, eventualmente, precisaria apenas contar o número de meses de cada gravidez?" (pág. 16)

"Se eu puder transmitir algo a uma criança, se eu puder despertar em apenas uma criança o sentimento da beleza, a alegria da verdade, a admissão da ignorância e a sede de conhecimentos, então estarei realizada." (pág. 17)

"Bem, então, pensava Allison, por que rezar afinal? Se Deus ia fazer de qualquer jeito o que Ele achasse melhor, para que o trabalho de pedir aquilo que a gente quisesse? Se a gente orasse, e Deus pensasse que o que se pedia merecia ser concedido, Ele sempre o faria. Se você não orasse, e fosse verdade que Deus age sempre para o nosso bem, você receberia, de todos os modos, o que Ele quisesse que você recebesse. A oração, pensou Allison, era um negócio tremendamente injusto e muito pouco esportivo, com todas as vantagens só para um lado." (pág. 60)

"-Você trancou a porta? - perguntou ele, quando já estavam lá fora.
-Isso é outra coisa que você terá de aprender sobre o tipo de vida numa cidade pequena - respondeu-lhe. - Se você começar a trancar a porta em Peyton Place, as pessoas logo pensam que você tem algo a esconder." (pág. 177)

"Ainda muito jovem, Tom percebera que havia duas espécies de pessoas: aquelas que se cercavam penosamente de conchas de sua própria fabricação, e as que não o faziam. As primeiras viviam em terror constante, receosas de que as conchas que haviam fabricado se abrissem e revelassem a fraqueza que estava por baixo; as outras, as que não o haviam feito, essas ficavam ou esmagadas ou se tornavam mais resistentes." (pág. 212)

"Deixe uma criança comigo até ela completar sete anos, pensou Tom, e ela será minha para sempre. Quando os fascistas dizem isso, são uns vagabundos e sequestradores, porém quando é a Igreja que o proclama, diz-se que é para pôr a criança nos trilhos." (pág. 214)

"Em Peyton Place, havia três motivos de escândalo: suicídio, homicídio e gravidez de moça solteira. Não tinha havido um suicídio na cidade desde que o velho dr. Quimby levara um revólver à cabeça e se dera um tiro, havia já muitos anos. Suicidando-se, Nellie Cross causara mais sensação na cidade do que jamais o fizera em vida." (pág. 286)

"Será mesmo verdade o que dizem quanto a bastardos geralmente serem bem sucedidos nos ramos de atividade que escolhem, por sentirem a necessidade de compensar o fato de não terem tido pais?" (pág. 324)

"-Oh, como eu o detesto! - havia ela respondido, cheia de veneno. - Como eu o detesto!
-Não - disse Tom -, você não me detesta. Você detesta a verdade, mas não me detesta. A diferença entre nós, Constance, é que a verdade não me incomoda, não importa quão sórdida ela seja. Mas detesto mentirosos." (pág. 326)

"-Se cada homem - declarou Seth, sem ouvir a observação do médico - deixasse de odiar e culpar o outro pelos insucessos e deficiências que ele próprio tem, veríamos o fim de todos os males do mundo, da guerra à maledicência." (pág. 333/334)

sábado, 22 de outubro de 2016

Conversas com um jovem professor

Título: Conversas com um jovem professor
Autor: Leandro Karnal
Páginas: 144

O livro, segundo o autor, é uma espécie de conversa com ele mesmo. Seria mais ou menos como dar conselhos (vindos de alguém com experiência) a alguém que está começando em sala de aula. As dúvidas básicas como, por exemplo, relacionamento com pais e alunos, elaboração de provas, comportamento dos alunos, conselhos de classe, etc, são abordadas e discutidas na sua visão prática (com bastantes exemplos) e não apenas de forma conceitual.

Escrito de maneira simples, o livro cumpre bem o seu papel, ao oferecer a quem está ingressando na profissão, várias dicas e conceitos, adquiridos ao longo do tempo. Se você é professor, tenho certeza que irá se identificar com muitas das situações ali descritas, além de ter vivenciado inúmeras outras. Ótima dica de leitura.

Trechos interessantes:

"Ainda há vontade de ser professor e, se não identifico mais a labareda que incinerava tudo no início, também é evidente que não vivo um universo de cinzas. É um lugar bom: o ponto do meio para a frente, o ponto de uma avaliação que escape de dois polos enganadores - o entusiasmo excessivo e a tristeza. Ambos embaçam a visão." (pág. 10)

"Uma primeira aula ruim tem efeitos menos visíveis do que uma primeira cirurgia ruim ou uma primeira ponte mal projetada. Porém, o sutil da função de professor é que a primeira cirurgia ruim ou pontes ruins podem ter relação com... aulas ruins. Quando pego um aluno em pleno doutorado que ainda não domina regras básicas do uso da crase, penso: há uns 10 ou 15 anos um professor errou e eu noto isso só agora." (pág. 17)

"Preciso dizer de forma clara: não acredito em reflexão sobre sala de aula vinda de pessoas que nunca nela estiveram como professores. Para mim, essas pessoas são como modelos jovens de 18 anos fazendo propaganda de produto contra rugas na televisão. Falam do que não sabem, do que não precisam e do que não entendem." (pág. 30)

"Lembre-se de uma regra de ouro: seus fracassos serão eventualmente criticados, mas seus sucessos causarão ódio muito maior." (pág. 48)

"Um exemplo de diferença de concepção de método que atinge tantas vezes o professor: se o pai é mais velho e teve uma escola com insistência na memorização, ele nunca entenderá, o fato de que se o filho sabia a matéria "de cor", como pode ter ido mal na prova. Para esse modelo, ainda muito forte, estudar era repetir. Alguns ainda insistiam que tinham "tomado" a lição dos filhos e eles sabiam todas as respostas. É muito complexo explicar que não se pode pedir a um professor que cobre exclusivamente memorização nas avaliações em pleno século XXI, como não se pode pedir a um médico que faça sangrias com sanguessugas. O conhecimento avança e as avaliações hoje são, ou deveriam ser, mais ricas e criativas." (pág. 61)

"Seus alunos são seus alunos. Faz parte da dinâmica do sistema que eles tentem colar ou conversem, que falem mal de você pelas costas e que sejam eventualmente agressivos com você. Seus superiores são seus superiores. Também integra a dinâmica que haja certo enfrentamento. Ainda que Dante tenha colocado a felonia, a traição aos superiores, no mais profundo dos círculos do Inferno, poucas coisas são tão gostosas como falar mal do chefe." (Pág. 69)

"De todas as coisas que podemos tolerar dos outros, o sucesso é a mais difícil." (pág. 71)

"Como diz um dos grandes autores sobre o tema (von Clausewitz), a 'guerra é a continuação da política por outros meios'." (pág. 74)

"Se algum dia, um aluno que o irritou não atingiu a nota final por pouco, sempre prefira aprová-lo. Na dúvida, diz um ditado latino, devemos ser favoráveis ao réu. Um aluno que teve problemas comigo e não atingiu a nota é alguém que, automaticamente, coloca em dúvida minha avaliação." (pág. 78)

"Sempre e para encerrar: no caso de dúvida, absolva. Erre sempre pelo excesso de clemência. Reprove se necessário, mas que isso seja o mais consensual possível e nascido do desejo genuíno de que será melhor para o aluno. Não para a escola e nem para você, mas exclusivamente para o aluno. Na dúvida, absolva. É um erro médio aprovar quem não merece. É um erro gigantesco reprovar quem não merece." (pág. 88)

"Sou da opinião que não se deve deixar passar as coisas pequenas, para não surgir a necessidade de se corrigirem as grandes no futuro. Transportando para o dia a dia, se ignorarmos a prática da observação em nossos alunos, contribuiremos, mesmo que indiretamente, para o surgimento da indisciplina." (pág. 110)

"Quando temos dúvida sobre permanecer com alguém ou em algum lugar, é porque a soma das coisas negativas não é tão terrível que elimine a dúvida. Quando estamos num inferno total, não temos dúvidas: queremos sair. Dúvida revela, por vezes, que há coisas boas." (pág. 121)

sábado, 15 de outubro de 2016

Só as mulheres e as baratas sobreviverão

Título: Só as mulheres e as baratas sobreviverão
Autor: Claudia Tajes
Páginas: 134

Dulce se prepara para sair no sábado à noite e, ao procurar o vestido especial, descobre que uma barata está alojada sobre o mesmo. Incapaz de espantar a barata e sem ter outra opção, Dulce passa a noite travando diálogos imaginários com a barata.

Livro pequeno, cômico, fácil de se ler e aborda um tema recorrente nas mulheres: o pavor absoluto deste inseto. Tudo bem que a personagem leva tudo ao extremo, mas tem muita gente que convive com essa neurose.

Trechos interessantes:

"Nunca tive um vestido preto que me caísse tão bem. Dependendo das oscilações do meu peso, algumas eventuais gorduras escapam pelas cavas, e o crepe salienta não as curvas, mas a minha barriga. No geral, porém, faço uma boa figura com ele." (pág. 11)

"Pior foi a minha avó, que disse: vai ver, ela subiu na sua cama por causa do seu nome: Dulce. Doce. Barata gosta de doce. Logo, as baratas gostam de você.
Minha querida avó, onde você estiver, saiba que a senhora foi a responsável por traumatizar uma inocente menininha de seis anos. As baratas gostam de você. Isso lá é coisa que se diga?" (pág. 22)

"Em dez anos eu troquei de namorado trinta vezes. Troquei duas vezes de apartamento. Troquei de cabelo mil vezes, de partido político outras cinco, troquei tudo e só não trocava o número de celular porque alguém podia querer me ligar e não teria como me encontrar.
No fim, todo mundo continuou me encontrando, mais até do que eu gostaria. Continuaram ligando do meu trabalho para eu trabalhar nos meus dias de descanso e dos telemarketings para me vender coisas de que eu não preciso. Continuaram me pedindo donativos para creches, dinheiro emprestado sem juros, ligando das lojas para me avisar das liquidações, da dentista para lembrar a revisão atrasada, do banco para dizer que o cheque especial estourou, da família para contar algum problema novo, ou um velho mesmo.
Mas quando eu mais preciso, ninguém me liga." (pág. 67/68)

"Sabe o que mais? Vou comer um sanduíche. E com maionese, bacon, ovo e patê.
Essa barata não vai me destruir sozinha: eu vou colaborar também." (pág. 73)

"O nome é a prova de amor mais discutível que os pais dão aos filhos, você não acha? Porque eles tentam fazer o melhor, pensam, debatem, se informam. E volta e meia todo esse esforço sai pela culatra, como no caso do bebê da tia do lanche lá da revista, que pelo resto da vida vai se chamar Google. Mas ela deve ter registrado Gugol." (pág. 100/101)

"Da minha aparência, não tenho queixas. Há dois ou três anos, algumas garotas do colégio espalharam que eu seria igual ao Brad Pitt, se o ator americano fosse atropelado e pegasse varíola." (pág. 105)

domingo, 9 de outubro de 2016

O jogador

Título: O jogador
Autor: Fiódor Dostoiévski´
Páginas: 172

Essa obra é uma espécie de romance biográfico, tendo em vista que o autor, durante toda sua vida, sempre esteve envolvido com o jogo, perdendo somas consideráveis, amigos e boa parte de sua vida. O livro procura retratar o domínio que o jogo tem sobre o indivíduo, levando-o a arriscar sempre e sempre mais, com a esperança de reaver o que perdeu. E, nas raras vezes em que ganha, o jogador esbanja o lucro com naturalidade, acreditando que, quando quiser, logo obterá mais no jogo.


O prefácio relata a vida de Dostoievski, mostrando as agruras e percalços em que se envolveu. É difícil acreditar que, com tantos problemas, tenha sido capaz de publicar textos tão geniais. O final apresenta um complemento de leitura com 10 perguntas sobre o conteúdo do livro.

Trechos interessantes:

"Odeio-o porque tomou demasiada liberdade comigo e, outrossim, porque preciso de seus serviços. Mas não se impressione, conservá-lo-ei ao pé de mim apenas enquanto necessitar de você." (pág. 25)

"Em que é o jogo pior do que qualquer outro meio de se obter dinheiro? Do que o comércio, por exemplo? verdade é que, entre cem indivíduos, um apenas ganha. Mas que me importa?" (pág. 30)

"Oh! Esses jogadores entendidos! Plantam-se ali tendo nas mãos papéis cobertos de números, anotam cuidadosamente todos os golpes, contam, calculam as probabilidades e, após haverem recebidos todos os prós e contras, apontam e perdem... exatamente como os simples mortais que jogam sem raciocinar." (pág. 41)

"-Não sei se há alguma razão no que diz - insinuou o general, pensativo -, mas o que sei é que você se torna duma petulância intolerável quando se lhe dá um pouquinho mais de rédea..." (pág. 45)

"Imediatamente pus cem florins no vermelho, e ganhei; os duzentos de novo no vermelho, e ganhei; quatrocentos em noir, e ganhei; oitocentos em negro, e ainda ganhei. Possuía agora mil e setecentos florins e, isso, em menos de cinco minutos! Não há dúvida de que, em tais momentos, a gente esquece os reveses anteriores. Pois eu obtivera esse resultado arriscando mais do que a vida; ousara arriscar e voltava a pertencer à humanidade." (pág. 157)

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Aula de inglês

Título: Aula de inglês
Autor: Lygia Bojunga
Páginas: 214

O livro apresenta as reflexões de um velho (o personagem não possui nome - é sempre chamado de professor ou aluno) sobre a existência, conflitos familiares, sexuais e sociais. Pela história nota-se que o professor teve uma paixão quando adolescente e outra agora, no final da vida, mas que durante toda a fase central da vida, a paixão nunca se fez presente.

Entre uma aula de inglês e outra, entre uma fotografia e outra (o professor também é fotógrafo) as relações humanas vão sendo esmiuçadas até o ponto de sabermos o que, de fato, é importante na vida. Livro recomendado aos jovens, de leitura fácil e agradável.

Trechos interessantes:

"Tinha lido uma entrevista de um fotógrafo famoso: a câmera era a melhor companheira dele; saíam sempre juntos e era através dela que ele via o mundo; as grandes fotos dele não tinham sido programadas: ele saía andando sem rumo e, de repente, ele sentia que uma cena qualquer estava 'pedindo para ser fotografada'; aí começava o que ele chamava de encantamento: o enquadramento: como é que ele ia enquadrar a cena? ela toda? pela metade? só sugerida? mais sombria? mais iluminada?" (pág. 30)

"-Aula de inglês muita gente dá, mas aula assim feito o senhor me deu esse tempo todo! puxa vida, foi sorte demais que eu tive. Quantas vezes eu cheguei aqui mal-humorada, distraída, apavorada, e o senhor sempre tão gentil, tão... sei lá! dedicado; parecia que nem percebia quando eu não prestava atenção. - Envolveu ainda mais a mão aninhada do Professor. - Sabia que eu nunca vi o senhor olhar pro relógio cuidando da hora da aula? Acho que se eu quisesse ficar aqui a tarde inteira o senhor era capaz de nem dizer nada e ir tocando a aula pra frente." (pág. 46)

"-E, de repente, sabe, professor, a gente vai jantar lá em Copacabana, no restaurante árabe que ele gosta, e quando sai do carro vê aquela turma dormindo na rua, criança, velho, uma família inteira embrulhada nuns trapos, e a noite tava tão fria que a minha revolta com essa coisa nossa de tanta riqueza de um lado e tanta miséria de outro saiu pelo ladrão: fiz uma cena ali mesmo, desatei a chorar, disse que ninguém fazia nada pra mudar essa história e que a gente também não: ia entrar no restaurante, ia comer à vontade, ia beber caipirinha, ia pedir sobremesa e depois entrava no carro pra continuar curtindo a noite e era tudo uma delícia[...]" (pág. 104)

"Mas ele tinha sido feliz, sim... com a câmera, com os livros, com a casa, com o mar, com a floresta [...] Mas, por quê?... Por que que, ansiando tanto ser feliz com uma mulher, tinha sido sempre aquilo: uma vez o sexo apaziguado, vinha logo a sensação de solidão se instalar entre os dois..." (pág. 164)

"-Sabe, Aluno, quando a gente vai chegando no fim da vida, a cada dia que passa a gente se lembra com mais insistência dos momentos em que foi verdadeiramente feliz. E quanto mais a gente lembra deles, mais quer lembrar, mais quer revisitar a felicidade e, assim, preencher as horas desses dias de espera." (pág. 174)

domingo, 2 de outubro de 2016

O sobrevivente

Título: O sobrevivente
Autor: Gregg Hurwitz
Páginas: 366

Livro repleto de ação e adrenalina do começo ao fim.
Nate voltou da guerra com alguns traumas, chegando ao ponto de se separar da esposa e filha, apesar de amá-las. Como se não bastasse, descobre que tem uma doença incurável e seus dias estão contados.
Resolve cometer suicídio para acabar com a agonia. Sobe em um prédio e está do lado de fora, pronto para saltar, quando vê um assalto em andamento no andar em que está. Resolve impedir o assalto e mata 5 criminosos, mas um deles escapa e ameaça acabar com a vida de Nate.
O resto do livro é Nate tentando se safar das ameaças dos criminosos a ele e sua família. Se você gosta de suspense, emoção, aventura e ação, este é o livro. Boa leitura.

Trechos interessantes:

"-Então... Você foi fincado com um abridor de cartas.
-Poxa, falando assim até parece que não foi nada.
A médica não fez mais que erguer as adoráveis sobrancelhas.
-Desculpe - disse Nate. - Costumo brincar para que as pessoas não percebam meus problemas de autoestima.
-Não está funcionando.
-É um projeto de longo prazo - respondeu ele, estremecendo ao exalar." (pág. 23)

"-Nada importante. Só uma palavra que ouvi outro dia. Tyazhiki. Acho que significa...
-Povo das Sombras - adiantou-se Ken. - Capangas importados pelos russos. Sem documento, sem visto, sem porra nenhuma. Totalmente clandestinos. São literalmente despachados num navio de carga até o porto de Long Beach e, de lá, só Deus sabe para onde. Fazem um serviço, depois voltam para casa. Não deixam nem uma pegada." (pág. 125)

"-Sabe o que acontece toda vez que olho para minhas filhas? - perguntou ele.
-Você lembra que o futuro é das crianças?
Abara olhou torto para ele, mas não riu.
-Fico me perguntando o que elas não estão me contando. Talvez por ser um agente. Mas você sabe como são as adolescentes. Tenho duas em casa. E é uma mentira atrás da outra. Não porque elas sejam desonestas ou algo assim, mas só porque a massa branca do cérebro delas ainda não está completamente formada." (Pág. 126)

"Janie estava confessando tudo aquilo que nos últimos anos ele havia sonhado ouvir de sua boca, mas, agora que seu sonho enfim se realizava, a sensação de vitória não era nem de longe a que tinha imaginado. Pelo contrário, tinha a impressão de que estava caminhando sobre uma fina camada de gelo que poderia se quebrar sob seus pés a qualquer instante. Bastaria um passo em falso para que desabasse na água gelada." (pág. 159)

"Não somos uma máfia. Também não somos russos. E na Rússia, os piores criminosos são os que estão na Duma e no Kremlin. Não existem leis. Apenas brechas nas leis. Além de favores e propinas. Vivemos sob o jugo da guerra já há muitas gerações. Não tememos a Deus. Não acreditamos em nada. Para sobreviver, você precisa ter força. E vontade de sobreviver. Aqui vocês precisam apenas de advogados. Que, aliás, eu tenho também. Um bando deles, quase todos judeus, trabalhando em equipe, virando noites quando é preciso. Protegem meus negócios. Minha liberdade." (pág. 205)

"-Será que eles tem uma jacuzzi? - aventou Jason.
-Você deveria saber - retrucou Nate. - O cara não é seu amigo?
-Tu não manja nada, né não? - ironizou Jason.- Ninguém é realmente amigo de ninguém na internet." (pág. 242/243)

"-Quando sua mãe morreu, cheguei ao fundo do poço, você sabe disso. Eu via que você só queria ficar fora do meu caminho, mas você era um menino, não sabia como. E eu não tinha a menor ideia do que fazer para ajudá-lo. Muito menos para me ajudar. É uma sensação terrível, saber que está fazendo uma cagada e continuar fazendo mesmo assim." (pág. 314)

"-Cometi tantos erros na vida... - observou Nate.- Mas os erros dos quais me arrependo são aqueles que não cometi." (pág. 329)

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Sete faces do humor

Título: Sete faces do humor
Autor: Carlos Queiroz Telles et alii
Páginas: 126

Pequena coletânea de crônicas - apenas 7 no total - com uma característica comum: todas estão relacionadas ao humor (verbal, de comportamento, de personagem, grotesco, etc). A crônica em si é fácil de ser degustada, quando se relaciona ao humor então, melhor ainda.

Além das crônicas, o livro apresenta também uma descrição sobre os variados tipos de humor, uma relação de obras para serem apreciadas (que foram mencionadas nas crônicas) e ainda uma relação de filmes sobre a mesma temática. Livro pequeno, simples, mas muito agradável de se ler.

Trechos interessantes:

"Outra divertida peça clássica é A farsa de Inês pereira, de Gil Vicente, teatrólogo português do entresséculo XV-XVI. Sua Inês Pereira é moça casadoura, que recusa um pretendente rico mas simplório, para optar por um nobre - só que falido. Depois do casamento, vê a bobagem que fez: o marido é muito ciumento e pão-duro. Após ficar viúva e casar-se com o comerciante, fala a frase-mensagem da peça: 'Mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube'." (pág. 12)

"Comecei a pensar que ia ter de viver o resto da minha vida naquela calçada.
Eu era um náufrago numa ilha deserta, com uma avó que teimava em pedir a certidão de nascimento dos comandantes dos navios salva-vidas." (pág. 21)

"No livro Dois amigos e um chato, o escritor - entre outras atividades - Sérgio Porto dá vários exemplos de humor verbal, através de seu heterônimo Stanislaw Ponte Preta, um carioca que representa um tipo de vida boêmia e bem-humorada do Rio de Janeiro, anos 50-60: 'Mulher e livro - emprestou, volta estragado'. 'Política tem essa desvantagem: de vez em quando o sujeito vai preso em nome da liberdade'. 'Entre as três melhores coisas da vida, comer está em segundo e dormir em terceiro'." (pág. 30/31)

"Aliás, tudo no mundo pode esperar meia hora. A gente passa a vida correndo atrás do conhecimento e da felicidade, mas na verdade ninguém tem obrigação de ser sábio nem feliz." (pág. 40)

"Se você conhecer o inimigo e a si próprio, não precisará temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhecer, mas não ao inimigo, para cada vitória conseguida também sofrerá uma derrota. Se você não conhecer o inimigo nem a si próprio, sucumbirá em todas as batalhas." (pág. 52)

domingo, 18 de setembro de 2016

Assassinos pelos quais me apaixonei

Título: Assassinos pelos quais me apaixonei
Autor: Alfred Hitchcock
Páginas: 210

Coletânea com 14 contos de suspense e, como o título sugere, todas as histórias apresentam algum envolvimento com assassinatos. Muitas das histórias têm desfecho óbvio, mas algumas são até interessantes.

Particularmente gostei de "Bem vindo à minha prisão" e "Um risco especial". Há histórias de vários autores consagrados, como Fletcher Flora, Bill Pronzini, Nedra Tyre, Henry Slesar, entre outros.

Trechos interessantes:

"-É por minha causa, Stella. É minha aparência. Basta olhar para mim e ver. Várias pessoas já tiveram medo de mim várias vezes. Mulheres, principalmente. Há alguns sujeitos para quem as mulheres dão 'bola', e eles gostam disso. Dá-lhes uma chance de se aproximarem. Faz com que se sintam realmente bem. Mas eu não. O que eu consigo das mulheres é justamente o contrário. Elas dizem para eu me afastar. Como você, Stella. E eu não costumo gostar quando as coisas são desse jeito." (pág. 11)

"-Estive pensando nisso. Estive muito pensando sobre isso.
Sei que esteve, pensei. mas isso é um sonho, Pollard meu velho. Nunca vai se sentar nessa cadeira. Você é inseguro demais. Tem que aprender a movimentar-se, para chegar no alto da escada. É o que sempre acontece, em todos os lugares. Não é somente aqui. Mas gente como você nunca aprende." (pág. 52)

"Não sei ler uma só nota musical e nem mesmo toco algum instrumento. Simplesmente, gosto de música, é só." (pág. 58)

"Benrud mantinha uma gota de uísque rolando em sua língua. Eis uma coisa realmente nobre. Se os celtas não tivessem feito nada mais além do uísque e de terem dado ao mundo James Stephens e as equações canônicas de Hamilton, já teriam dado ao mundo o suficiente." (pág. 141)

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Um gosto por morte

Título: Um gosto por morte
Autor: P. D. James
Páginas: 558

Quando um nobre é encontrado morto numa igreja, com o pescoço cortado com sua própria navalha, é natural que se pense em suicídio. Mas, e se ao lado do morto estiver um mendigo, também morto, com a mesma navalha? Aí a coisa complica.

Este é o panorama inicial que nos oferece a autora. Toda a trama se desenrola na tentativa de localizar o culpado pelas mortes. Um comandante da Scotland Yard é designado para elucidar o crime. Em resumo, um romance policial repleto de investigação.

Trechos interessantes:

"-Está muito frio, Darren. Não deveria botar seu casaco de lã? Ele encolheu os ombros e fez um gesto com a cabeça dizendo que não. Estava impressionada com a pouca roupa que vestia e como era resistente ao frio. Tinha a impressão de que vivia tremendo perpetuamente. Lembrou-se de que se agasalhar demais numa manhã gelada de outono seria considerado efeminado pelos homens." (pág. 16)

"Já chegara naquela idade em que o homem já não mais se incomoda com certos prazeres clássicos da juventude, mas irrita-se facilmente quando seus planos pessoais são perturbados." (pág. 33)

"Quando tinha apenas quinze anos, ao lado do corpo de sua mãe, não sentira a necessidade de pensar, quanto mais de murmurar, a palavra adeus na presença da morte. Não é possível falar com alguém que não está mais presente. Quase tudo o homem pode vulgarizar, menos a morte." (pág. 50)

"Dalgliesh não entendeu como Berowne sabia de sua predileção por arquitetura. Só poderia ser porque já lera seus poemas... E um poeta pode detestar que falem sobre seus trabalhos, mas, quando sabe que alguém realmente os leu, sente-se extremamente elogiado." (pág. 103)

"Imediatamente, o comandante lembrou-se das palavras de um velho sargento de polícia que conhecera quando ainda era um principiante na Scotland Yard:
-Meu filho... as quatro razões mais comuns para assassinar são: amor, luxúria, ódio e... lucro. E preste atenção: lucro sempre foi o motivo principal..." (pág. 155)

"A srta. Wharton fora ensinada desde criança a ter medo e esta é uma lição que ninguém desaprende." (pág. 196)

"Guardara dois versos de Shakespeare que lera por acaso na biblioteca da escola como diretriz filosófica para sua vida:
Não importa o que houve antes ou depois
Daqui por diante começo e termino comigo mesmo.
" (pág. 200)

"O homem é um animal e sempre pode viver melhor com seus semelhantes toda vez que está consciente do fenômeno. Sabemos que o homem é o mais inteligente e perigoso dos animais, mas ainda assim continua sendo um animal. Poetas e filósofos complicam as coisas, mas elas não são complicadas. As necessidades básicas são muito simples: comida, abrigo, calor, sexo e prestígio, exatamente nessa ordem de prioridade. As pessoas felizes sempre seguem tal orientação e ficam satisfeitas." (pág. 243)

"-Tenho certeza de que estamos diante de um caso de duplo assassinato, doutor.
-Acredito que sim. Mas vai ser muito difícil provar e temo que meu laudo pericial não possa ajudá-lo. O suicídio é o ato mais pessoal e misterioso que existe, inexplicável, porque o ator principal nunca está presente para explicá-lo." (pág. 257)

"-[...]E nunca esqueci o que ele me disse. Que algumas pessoas pensam no suicídio como mais uma opção para seus problemas. Que na sua opinião não era assim e, ao contrário, o suicídio representa a total falta de opções. E citou o filósofo Schopenhauer: 'O suicídio pode ser interpretado como uma experiência, um dilema que os homens oferecem à natureza para ver se a obrigam a responder. Mas trata-se de uma experiência tola, porque destrói a própria consciência que faz a pergunta e que devia aguardar a resposta'." (pág. 283)

"-Ele poderia ter citado mais adequadamente Nietzsche - disse Garrod. - 'A ideia de suicídio é um grande consolo. Pensando nele podemos com sucesso enfrentar uma noite de insônia'." (pág. 283)

"-Meu avô costuma dizer que uma mulher deveria casar-se pelo menos uma vez, mas não transformar o casamento num hábito." (pág. 357)

"Não podemos eliminar os amigos de nossas vidas e pensar que vão ficar à nossa disposição somente porque sentimos necessidade de voltar a ser humanos." (pág. 380)

"-Decência não tem nada a ver com nosso trabalho. Isto é uma guerra. Homens decentes podem travar as guerras, mas não vencê-las." (pág. 440)

sábado, 27 de agosto de 2016

O desaparecimento

Título: O desaparecimento
Autor: J. F. Freedman
Páginas: 464

A filha de Doug Lancaster, um magnata da televisão, foi sequestrada e, pouco tempo depois, encontrada morta. Mais de um ano depois, a polícia recebe uma denúncia anônima e prende um suspeito. Entra na história Luke Garrison, um advogado que já havia sido promotor, para defender o acusado.

Nem Luke acredita na inocência de seu cliente, mas precisa defendê-lo. Todos os envolvidos têm coisas a esconder, fazendo a história se tornar muito complexa e dificultando cada vez mais a identificação do verdadeiro culpado. Como é típico neste tipo de história, os pequenos detalhes é que ajudarão a solucionar o caso.

Trechos interessantes:

"-Num sequestro sem testemunhas, os membros da família são os primeiros suspeitos - explica com paciência. - Principalmente numa situação sem nenhuma testemunha." (pág. 31)

"O problema é que democracia não quer dizer maior participação no controle. Significa apenas que outros passaram a controlar: os que se dispõem a dedicar tempo a isso, a trabalhar nos comitês, a assumir os cargos menores e assim por diante. Hoje em dia, ser político é uma ocupação de tempo integral." (pág. 84/85)

"Despem-se: ele tira, o jeans; ela, tudo o que está vestindo. A seguir, estão na cama, um abraçado no outro, e não é o sexo que importa, é o amor que fazem." (pág. 129)

"A velha casa está morrendo, tal como certos pacientes que atende: vidas prestes a abandonar este mundo e moças com medo de nele pôr novas, gente interessada em saber se está grávida, mas sem querer que a família saiba, ou que já sabe que engravidou e ainda não decidiu quando abortar." (pág. 213)

"Só os covardes se escondem de seus próprios demônios." (pág. 217)

"Não se pode defender um homem acusado de um crime, sobretudo de homicídio, do mesmo jeito que se monta um quebra-cabeça. Esta peça aqui, aquela, ali, tudo se encaixa e pronto. Nem todas as peças se encaixam, isso nunca acontece. Mesmo quando o júri chega a um veredicto, mesmo quando o condenado cumpre a pena, não acabou. Nunca acaba." (pág. 241/242)

"-Qual é o pior pesadelo de um promotor? - pergunta. E se incumbe de responder. -Acusar o homem errado.
Lovett fez uma careta.
-Esse é o segundo pior pesadelo.
-E o primeiro?
-É acusar o homem errado e a bomba estourar na sua mão." (pág. 258)

"O que verdadeiramente incomoda Logan é a referência ao taco de golfe como a possível arma do crime. Coloca Doug Lancaster ainda mais no centro da história. Cedo ou tarde, ele terá de enfrentar e dar um jeito de diluir isso se puder. Do contrário, será como estar com um elefante na sala: mesmo que não se fala nele, todo mundo o vê." (pág. 343)

"Pensa em Joe Allison, o seu cliente, e em todas as baboseiras que lhe contou. A droga é que precisa continuar defendendo esse cara, não tem escolha, o advogado não faz juízos morais, está preso às normas e aos códigos da profissão, independentemente de quem é ou do que fez o cliente." (pág. 391)

"Se, quando a interrogaram pela primeira vez, uma das parte lhe tivesse perguntado se havia acontecido alguma coisa depois de ela ter visto Joe Allison naquela noite, o resultado seria muito diferente. Mas ninguém perguntou. E, embora estivesse razoavelmente convencida de que a Sra. Lancaster havia matado Emma ou pelo menos a machucara, não teve coragem de falar voluntariamente sobre isso. Ela e sua família deviam a própria existência à Sra. Lancaster.
Ninguém perguntou. María não iria tomar a iniciativa de dizer nada: não nos Estados Unidos. Coisa que aprendeu no dia em que chegou: nunca tome a iniciativa de dizer nada." (pág. 458/459)

domingo, 21 de agosto de 2016

A sorte do agora

Título: A sorte do agora
Autor: Matthew Quick
Páginas: 222

Bartholomew tem mais de 30 anos e apresenta problemas mentais. Com a morte da mãe passa a ficar totalmente desamparado pois ela era a figura central em sua vida. Para tentar encaixar Bartholomew no mundo real entram em cena um padre, uma bibliotecária e um sujeito que adora falar palavrões e acredita em aliens.

Tentando seguir em frente Bartholomew cria uma correspondência fictícia com Richard Gere (ator modelo para sua mãe) onde discute os problemas enfrentados e, sob a orientação de Dalai Lama, tenta achar as soluções. O resultado é uma história diferente e instigante.

Trechos interessantes:

"Se você quer que os outros sejam felizes, pratique compaixão. Se você quer ser feliz, pratique compaixão.
Dalai Lama" (pág. 7)

"'O mundo gosta mais de dinheiro do que da verdade', minha mãe também costuma dizer. 'Então, estamos ferrados'." (pág. 26)

"Dalai Lama afirma que 'devemos reconhecer que o sofrimento de uma pessoa ou de uma nação é o sofrimento da humanidade. Que a felicidade de uma pessoa ou de uma nação é a felicidade da humanidade'." (pág. 34)

"A beleza está dentro de todos nós, Bartholomew. Às vezes, ela apenas se esconde. Isso é certo." (pág. 100)

"Quando nosso coração está repleto de empatia, um forte desejo de eliminar o sofrimento alheio surge dentro de nós." (pág. 108)

"Para cada coisa ruim que acontece, uma coisa boa também acontece. É assim que o mundo permanece em harmonia." (pág. 121)

"Pessoas como você, eu e Elizabeth... Por que nós existimos, porra?
[...]
Talvez porque o mundo precise de pessoas como nós?
Para que, porra? Não fazemos nada, merda! Eu só rasgo ingressos na porra do cinema! Qualquer um poderia fazer isso!
Bem, se não houvesse gente estranha e incomum para fazer coisas esquisitas ou não fazer nada, não poderia existir pessoas normais que fazem coisas úteis e normais, não é?" (pág. 167)

"No Ocidente, as pessoas muitas vezes pensam erradamente que os koans são enigmas, testes intelectuais, algo a ser resolvido. Mas uma interpretação mais correta seria a de que os koans são breves histórias sobre as quais meditar. Eles não têm resposta. Não podemos 'resolver' ou 'entender' estes koans mais do que podemos resolver ou entender uma estrela cadente, o rugido de um leão, o cheiro do orvalho fresco sobre as rosas ou a sensação da areia morna entre nossos dedos dos pés. Só podemos refletir a fundo sobre todas essas coisas e nos deleitar com o mistério. É um erro achar que há uma resposta ou uma solução correta, mas também é bom refletir." (pág. 184/185)
"O pior pensamento era que mesmo se eu conseguisse fazer algo útil com minha vida no futuro, mesmo que um milagre acontecesse e eu, de alguma maneira, finalmente tomasse jeito, minha mãe e o padre McNamee não estavam mais por perto para ver. Eles morreram conhecendo o Bartholomew do passado, e eu não estava nem um pouco contente com o Bartholomew do passado." (pág. 202)