Título: A pequena guerreira
Autor: Giuseppe Catozzella
Páginas: 222
Samia Yussuf sempre gostou de correr. Junto com Ali, vizinho e colega de infância, passava o dia treinando, procurando melhorar suas marcas. O problema é que ela era uma garota somali, um país que, além de estar em guerra, tinha muitas restrições às atitudes e vestimentas das mulheres.
O grande sonho de Samia era vencer uma prova dos Jogos Olímpicos. Participou da Olimpíada da China em 2008, mas chegou em último lugar. Decidida a mostrar o seu talento nos Jogos Olímpicos de 2012, a pequena guerreira procura, de todas as formas, sair de seu país para conseguir um treinador e melhores condições de treinamento.
Trechos interessantes:
"Ali e eu nunca nos importamos com a guerra. Que atirassem uns nos outros na rua; a gente não tinha nada a ver com isso. Porque a guerra não afetava a única coisa que importava: o que ele era para mim e o que eu era para ele." (pág. 12)
"-Papai, mas você não tem medo da guerra?
-Você nunca deve dizer que tem medo, pequena Samia. - Ele ficou sério. -Nunca. Caso contrário, as coisas das quais tem medo parecerão grandes e acharão que podem vencê-la." (pág. 32)
"-Mas aonde você quer chegar, hein? - perguntou, apertando as minhas bochechas com uma de suas mãos grandes e mexendo meu rosto de um lado para o outro.
Ele estava brincando, mas eu levei a coisa a sério, como sempre fazia quando se tratava de corrida.
-Aabe, hoje tenho dez anos.
-Sim, é por isso também que, se vencer...
Não o deixei terminar.
-Tenho dez anos e você vai ver que, quando eu tiver dezessete, vou estar disputando uma prova nos Jogos Olímpicos. É lá que eu quero chegar." (pág. 41)
"Gostava das aulas, principalmente de educação física, em que eu era a melhor, mas também de aritmética e contabilidade. O que eu preferia, porém, eram os teoremas da geometria. Era maravilhoso saber que existiam leis escondidas no interior dos nossos terrenos, nos retângulos dos pátios e nos buracos dos banheiros. Ou, por exemplo, dentro do círculo que os burgico deixavam no chão depois das refeições. Parecia algo mágico e me dava uma sensação de segurança. Se haviam regras que o explicavam, o universo não podia ser tão perverso. Quem sabe um dia poderíamos descobrir as leis que levavam os homens a fazer guerra, e, nesse dia, nós a eliminaríamos para sempre. Seria o dia mais bonito da história da humanidade." (pág. 57)
"De um dia para o outro, todos os cinemas foram fechados. Não que eu jamais tivesse tido dinheiro para ir a um, mas a esperança de que isso fosse acontecer, essa existia, e por si só já valia a espera. E, além disso, sempre havia uma colega de turma mais rica que ia às sextas com a família e voltava com aquelas histórias maravilhosas e mágicas. O cinema criava e alimentava sonhos e por isso foi fechado. (pág. 74/75)
"A Viagem é uma coisa que todos nós temos na cabeça desde que nascemos. Cada um tem amigos e parentes que a fizeram ou que, por sua vez, conhecem alguém que a fez. É como uma criatura mitológica que pode levar à salvação ou à morte com a mesma facilidade. Ninguém sabe o quanto pode durar. Se a pessoa tiver sorte, dois meses. Se tiver azar, até um ano, ou dois. (pág. 114)
"O hotel também era lindo. Nada a ver com o de Djibuti.
Colunas e pisos de mármore, portas automáticas. O quarto grande e limpo. Havia televisão e telefone. A cama mais macia que eu já tinha experimentado. Carpete. Um armário para guardar minhas poucas coisas. Toalhas de vários tamanhos no banheiro. Duas pias maravilhosas, uma superfície grandíssima com cremes, xampus e condicionadores de vários tipos. No chão, sobre o mármore, um tapete com as cores do Oriente. E a banheira.
Teríamos a tarde toda livre. Duran só nos havia pedido que não nos afastássemos muito. Mas eu não tinha a mínima intenção de sair. Havia um banheiro bonito demais para ser desperdiçado dando voltas pela cidade." (pág. 126/127)
"Eu tinha chegado por último, mas, ainda assim, e isso foi incrível, menos de dez minutos depois eu também fui afogada pelos jornalistas de todo o mundo. A garotinha de dezessete anos magra feito um prego que vem de um país em guerra, sem um campo e sem treinador, que luta com todas as suas forças e chega por último. Uma história perfeita para espíritos ocidentais, entendi naquele dia. Eu nunca tinha visto as coisas por este ângulo." (pág. 135)
"Éramos 86, ancorados à tecnologia de um GPS.
Não existem ruas no Saara. Não existem trilhas. Cada traficante, cada Viagem, segue sua rota específica. De manhã, as marcas dos pneus são cobertas pela areia. Apagadas para sempre. Não há Viagem igual à outra.
Fica-se durante dias nas mãos de traficantes de pessoas que, por sua vez, estão nas mãos de uma caixinha que se comunica com um satélite." (pág. 181)
"Por que tinha me reduzido a esse estado? Só queria ser uma campeã dos 200 metros. A ninguém no mundo, durante a breve duração de uma vida, devia ser consentido passar por esse inferno." (pág. 194/195)
quinta-feira, 29 de dezembro de 2016
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