Título: Conversas com um jovem professor
Autor: Leandro Karnal
Páginas: 144
O livro, segundo o autor, é uma espécie de conversa com ele mesmo. Seria mais ou menos como dar conselhos (vindos de alguém com experiência) a alguém que está começando em sala de aula. As dúvidas básicas como, por exemplo, relacionamento com pais e alunos, elaboração de provas, comportamento dos alunos, conselhos de classe, etc, são abordadas e discutidas na sua visão prática (com bastantes exemplos) e não apenas de forma conceitual.
Escrito de maneira simples, o livro cumpre bem o seu papel, ao oferecer a quem está ingressando na profissão, várias dicas e conceitos, adquiridos ao longo do tempo. Se você é professor, tenho certeza que irá se identificar com muitas das situações ali descritas, além de ter vivenciado inúmeras outras. Ótima dica de leitura.
Trechos interessantes:
"Ainda há vontade de ser professor e, se não identifico mais a labareda que incinerava tudo no início, também é evidente que não vivo um universo de cinzas. É um lugar bom: o ponto do meio para a frente, o ponto de uma avaliação que escape de dois polos enganadores - o entusiasmo excessivo e a tristeza. Ambos embaçam a visão." (pág. 10)
"Uma primeira aula ruim tem efeitos menos visíveis do que uma primeira cirurgia ruim ou uma primeira ponte mal projetada. Porém, o sutil da função de professor é que a primeira cirurgia ruim ou pontes ruins podem ter relação com... aulas ruins. Quando pego um aluno em pleno doutorado que ainda não domina regras básicas do uso da crase, penso: há uns 10 ou 15 anos um professor errou e eu noto isso só agora." (pág. 17)
"Preciso dizer de forma clara: não acredito em reflexão sobre sala de aula vinda de pessoas que nunca nela estiveram como professores. Para mim, essas pessoas são como modelos jovens de 18 anos fazendo propaganda de produto contra rugas na televisão. Falam do que não sabem, do que não precisam e do que não entendem." (pág. 30)
"Lembre-se de uma regra de ouro: seus fracassos serão eventualmente criticados, mas seus sucessos causarão ódio muito maior." (pág. 48)
"Um exemplo de diferença de concepção de método que atinge tantas vezes o professor: se o pai é mais velho e teve uma escola com insistência na memorização, ele nunca entenderá, o fato de que se o filho sabia a matéria "de cor", como pode ter ido mal na prova. Para esse modelo, ainda muito forte, estudar era repetir. Alguns ainda insistiam que tinham "tomado" a lição dos filhos e eles sabiam todas as respostas. É muito complexo explicar que não se pode pedir a um professor que cobre exclusivamente memorização nas avaliações em pleno século XXI, como não se pode pedir a um médico que faça sangrias com sanguessugas. O conhecimento avança e as avaliações hoje são, ou deveriam ser, mais ricas e criativas." (pág. 61)
"Seus alunos são seus alunos. Faz parte da dinâmica do sistema que eles tentem colar ou conversem, que falem mal de você pelas costas e que sejam eventualmente agressivos com você. Seus superiores são seus superiores. Também integra a dinâmica que haja certo enfrentamento. Ainda que Dante tenha colocado a felonia, a traição aos superiores, no mais profundo dos círculos do Inferno, poucas coisas são tão gostosas como falar mal do chefe." (Pág. 69)
"De todas as coisas que podemos tolerar dos outros, o sucesso é a mais difícil." (pág. 71)
"Como diz um dos grandes autores sobre o tema (von Clausewitz), a 'guerra é a continuação da política por outros meios'." (pág. 74)
"Se algum dia, um aluno que o irritou não atingiu a nota final por pouco, sempre prefira aprová-lo. Na dúvida, diz um ditado latino, devemos ser favoráveis ao réu. Um aluno que teve problemas comigo e não atingiu a nota é alguém que, automaticamente, coloca em dúvida minha avaliação." (pág. 78)
"Sempre e para encerrar: no caso de dúvida, absolva. Erre sempre pelo excesso de clemência. Reprove se necessário, mas que isso seja o mais consensual possível e nascido do desejo genuíno de que será melhor para o aluno. Não para a escola e nem para você, mas exclusivamente para o aluno. Na dúvida, absolva. É um erro médio aprovar quem não merece. É um erro gigantesco reprovar quem não merece." (pág. 88)
"Sou da opinião que não se deve deixar passar as coisas pequenas, para não surgir a necessidade de se corrigirem as grandes no futuro. Transportando para o dia a dia, se ignorarmos a prática da observação em nossos alunos, contribuiremos, mesmo que indiretamente, para o surgimento da indisciplina." (pág. 110)
"Quando temos dúvida sobre permanecer com alguém ou em algum lugar, é porque a soma das coisas negativas não é tão terrível que elimine a dúvida. Quando estamos num inferno total, não temos dúvidas: queremos sair. Dúvida revela, por vezes, que há coisas boas." (pág. 121)
sábado, 22 de outubro de 2016
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