segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A caldeira do diabo

Título: A caldeira do diabo
Autor: Grace Metalious
Páginas: 440

Peyton Place é uma pequena cidade dos Estados Unidos, com todas as vantagens e problemas de uma cidade pequena: todos se conhecem e se ajudam, mas também há as intrigas, fofocas e maledicências. Os mais velhos já estão resignados a permanecerem no local, mas os jovens querem, a todo custo, abandonar a cidade.

As divergências de moradores sobre questões locais, a chegada de um novo diretor da escola, um bêbado que espanca a mulher e depois desaparece, a guerra, a rebeldia dos filhos, são alguns dos aspectos que vão se misturando num caldeirão de emoções até chegar ao ponto de transbordar.

A história começa devagar e morna, tal qual uma cidade do interior mas, com a evolução dos acontecimentos, chega a um ritmo alucinado. Sem dúvida,vale a leitura.

Trechos interessantes:

"O veranico de outono é como uma mulher. Sazonado, arrebatado e ardente, mas inconstante; chega e parte quando bem lhe apraz, ninguém jamais sabendo exatamente se vai mesmo chegar ou por quanto tempo irá ficar." (pág. 7)

"Nessas ocasiões, quando a srta. Thornton estava muito cansada, sentia estar travando uma batalha inglória contra a ignorância, e era dominada por uma sensação de futilidade e desamparo. Que sentido havia em insistir interminavelmente com um menino para que memorizasse as datas da ascensão e queda do Império Romano, quando esse menino, ao se tornar adulto, ordenharia vacas como meio de vida, como o haviam feito seu pai e avô antes dele? Que lógica havia em martelar frações decimais na cabeça de uma menina, a qual, eventualmente, precisaria apenas contar o número de meses de cada gravidez?" (pág. 16)

"Se eu puder transmitir algo a uma criança, se eu puder despertar em apenas uma criança o sentimento da beleza, a alegria da verdade, a admissão da ignorância e a sede de conhecimentos, então estarei realizada." (pág. 17)

"Bem, então, pensava Allison, por que rezar afinal? Se Deus ia fazer de qualquer jeito o que Ele achasse melhor, para que o trabalho de pedir aquilo que a gente quisesse? Se a gente orasse, e Deus pensasse que o que se pedia merecia ser concedido, Ele sempre o faria. Se você não orasse, e fosse verdade que Deus age sempre para o nosso bem, você receberia, de todos os modos, o que Ele quisesse que você recebesse. A oração, pensou Allison, era um negócio tremendamente injusto e muito pouco esportivo, com todas as vantagens só para um lado." (pág. 60)

"-Você trancou a porta? - perguntou ele, quando já estavam lá fora.
-Isso é outra coisa que você terá de aprender sobre o tipo de vida numa cidade pequena - respondeu-lhe. - Se você começar a trancar a porta em Peyton Place, as pessoas logo pensam que você tem algo a esconder." (pág. 177)

"Ainda muito jovem, Tom percebera que havia duas espécies de pessoas: aquelas que se cercavam penosamente de conchas de sua própria fabricação, e as que não o faziam. As primeiras viviam em terror constante, receosas de que as conchas que haviam fabricado se abrissem e revelassem a fraqueza que estava por baixo; as outras, as que não o haviam feito, essas ficavam ou esmagadas ou se tornavam mais resistentes." (pág. 212)

"Deixe uma criança comigo até ela completar sete anos, pensou Tom, e ela será minha para sempre. Quando os fascistas dizem isso, são uns vagabundos e sequestradores, porém quando é a Igreja que o proclama, diz-se que é para pôr a criança nos trilhos." (pág. 214)

"Em Peyton Place, havia três motivos de escândalo: suicídio, homicídio e gravidez de moça solteira. Não tinha havido um suicídio na cidade desde que o velho dr. Quimby levara um revólver à cabeça e se dera um tiro, havia já muitos anos. Suicidando-se, Nellie Cross causara mais sensação na cidade do que jamais o fizera em vida." (pág. 286)

"Será mesmo verdade o que dizem quanto a bastardos geralmente serem bem sucedidos nos ramos de atividade que escolhem, por sentirem a necessidade de compensar o fato de não terem tido pais?" (pág. 324)

"-Oh, como eu o detesto! - havia ela respondido, cheia de veneno. - Como eu o detesto!
-Não - disse Tom -, você não me detesta. Você detesta a verdade, mas não me detesta. A diferença entre nós, Constance, é que a verdade não me incomoda, não importa quão sórdida ela seja. Mas detesto mentirosos." (pág. 326)

"-Se cada homem - declarou Seth, sem ouvir a observação do médico - deixasse de odiar e culpar o outro pelos insucessos e deficiências que ele próprio tem, veríamos o fim de todos os males do mundo, da guerra à maledicência." (pág. 333/334)

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