Título: Tudo menos "normal"
Autor: Nora Raleigh Baskin
Páginas: 190
Com a leitura deste livro atingi a minha meta que havia estipulado no início do ano: a leitura de 35 livros. É um número modesto, mas foi atingido. Levando-se em conta que esse total não contabiliza os livros relacionados ao trabalho e os de programação, me considero satisfeito com o resultado.
Sobre o livro: narrado em primeira pessoa, conta a história de Jason - um garoto autista de 12 anos - e suas dificuldades de convivência com as pessoas "normais". O que lhe dá prazer é criar histórias em um site e, quando uma garota as lê e começam a trocar mensagens, ele se questiona sobre o que a garota pensará ao saber que ele é diferente.
Livro muito belo e tocante, nos mostrando como é estar do outro lado, já que dificilmente nos damos conta disso.
Trechos interessantes:
"A maioria das pessoas gosta de falar em seu próprio idioma.
Elas realmente preferem isso. Preferem tanto que, mesmo quando vão a um país estrangeiro, usam a própria língua, falando mais alto ou mais devagar, porque acham que assim serão compreendidas." (pág. 9)
"Neurotípicos gostam quando os olhamos nos olhos. Supõe-se que signifique que você está ouvindo, como se o oposto fosse verdade, o que não é: só por que você não está olhando para alguém, não significa que não está ouvindo o que esta pessoa diz. Posso ouvir melhor quando não sou distraído pelo rosto de uma pessoa." (pág. 13)
"Sou como uma folha sobre um rio, sendo levada pela água, não exatamente flutuando, nem exatamente afundando. Então, não posso parar e não posso controlar a direção que estou tomando. Posso sentir a água, mas nunca sei para onde estou indo." (pág. 24)
"Toda palavra que você escolhe significa algo que você acha que significa, e mais.
Como,por exemplo, se uma pessoa é diferente, isso é uma coisa boa.
Mas se ela tem um defeito, isso não é." (pág. 80)
"Alguns anos atrás, descobri que os braços de papai ao meu redor não mandam a escuridão, a raiva, a tristeza embora de verdade. Eles apenas as adiam. Isso não me impede, entretanto, de pensar sobre as coisas com as quais meu pai pode me ajudar e as que ele não pode. E o que vai acontecer quando ele não estiver mais por perto." (pág. 83)
"A coisa mais importante a fazer quando você está escrevendo uma história é encontrar um dilema para o seu personagem resolver. Você pode ter os melhores e mais interessantes personagens e pode ter algo realmente importante a dizer, mas você precisa de uma história. Precisa de conflito." (pág. 109)
"-Muito tempo depois de termos desaparecido, nossas palavras serão tudo o que resta de nós, e quem é que vai dizer o que realmente aconteceu ou mesmo qual é a realidade? Nossas histórias, nossa ficção, nossas palavras serão a coisa mais próxima que pode haver da verdade. E ninguém pode tirar isso de vocês." (pág. 182/183)
domingo, 29 de dezembro de 2013
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
1º a morrer
Título: 1º a morrer
Autor: James Patterson
Páginas: 374
Livro policial com todos os ingredientes do gênero. Há um assassino solto na cidade e ele tem um estilo peculiar: só mata casais que acabaram de se casar. Para desvendar esse mistério entra em cena a inspetora de polícia Lindsay que, além do caso em questão, terá que se preocupar também com uma doença grave com a qual foi diagnosticada.
No decorrer da história aparecem mais três mulheres e um parceiro para auxiliar Lindsay em sua empreitada. Fugindo dos padrões tradicionais do estilo policial, o assassino é revelado ainda no meio do livro. Mas nem por isso as emoções acabam. Até o final ainda vão surgir mais alguns detalhes para prender a atenção do leitor.
Trechos interessantes:
"Até ali, a minha filosofia sobre médicos era simples. Quando um deles olhava para você com aquela expressão profunda e preocupada e dizia para você sentar, três coisas podiam acontecer. Só uma delas era ruim. Ia convidá-la para sair, estava se preparando para dar uma notícia desagradável ou então gastara uma fortuna para reestofar a mobília." (pág. 18/19)
"Não sabemos para que lado o trem foi, se olhamos só para os trilhos." (pág. 40)
"A primeira coisa que se notava em Claire era que ela carregava vinte e cinco quilos dos quais não precisava.
-Estou em forma - ela sempre dizia. - Redondo é uma forma." (pág. 50)
"Há uma passagem em Thoreau: 'O tempo é o riacho onde vou pescar. Bebo dele, mas, enquanto bebo, vejo a areia do fundo e percebo como é raso. Sua correnteza desliza para longe, mas a eternidade permanece. Beberia mais profundo, pescaria no céu, cujo fundo é pedregoso de estrelas'." (pág. 99)
"-Essa é a verdade realmente horrorosa do assassinato. Se aprendi alguma coisa como detetive de homicídios, foi que nada segue uma linha fixa. Ontem a senhora era uma vítima inocente, mas agora está envolvida nisso também. Esse assassino vai atacar novamente e a senhora vai se arrepender do que não me contou pelo resto da vida." (pág. 189)
"-Quando eu estiver dando o meu último suspiro, não vou lembrar de todas aquelas conferências importantes das quais participei. Nós só temos poucos momentos na vida para nos soltar, então é bom aproveitá-los quando aparecem." (pág. 198)
"-Vocês querem pegar peixe grande? Voltem e peguem um caniço mais forte." (pág. 216)
Autor: James Patterson
Páginas: 374
Livro policial com todos os ingredientes do gênero. Há um assassino solto na cidade e ele tem um estilo peculiar: só mata casais que acabaram de se casar. Para desvendar esse mistério entra em cena a inspetora de polícia Lindsay que, além do caso em questão, terá que se preocupar também com uma doença grave com a qual foi diagnosticada.
No decorrer da história aparecem mais três mulheres e um parceiro para auxiliar Lindsay em sua empreitada. Fugindo dos padrões tradicionais do estilo policial, o assassino é revelado ainda no meio do livro. Mas nem por isso as emoções acabam. Até o final ainda vão surgir mais alguns detalhes para prender a atenção do leitor.
Trechos interessantes:
"Até ali, a minha filosofia sobre médicos era simples. Quando um deles olhava para você com aquela expressão profunda e preocupada e dizia para você sentar, três coisas podiam acontecer. Só uma delas era ruim. Ia convidá-la para sair, estava se preparando para dar uma notícia desagradável ou então gastara uma fortuna para reestofar a mobília." (pág. 18/19)
"Não sabemos para que lado o trem foi, se olhamos só para os trilhos." (pág. 40)
"A primeira coisa que se notava em Claire era que ela carregava vinte e cinco quilos dos quais não precisava.
-Estou em forma - ela sempre dizia. - Redondo é uma forma." (pág. 50)
"Há uma passagem em Thoreau: 'O tempo é o riacho onde vou pescar. Bebo dele, mas, enquanto bebo, vejo a areia do fundo e percebo como é raso. Sua correnteza desliza para longe, mas a eternidade permanece. Beberia mais profundo, pescaria no céu, cujo fundo é pedregoso de estrelas'." (pág. 99)
"-Essa é a verdade realmente horrorosa do assassinato. Se aprendi alguma coisa como detetive de homicídios, foi que nada segue uma linha fixa. Ontem a senhora era uma vítima inocente, mas agora está envolvida nisso também. Esse assassino vai atacar novamente e a senhora vai se arrepender do que não me contou pelo resto da vida." (pág. 189)
"-Quando eu estiver dando o meu último suspiro, não vou lembrar de todas aquelas conferências importantes das quais participei. Nós só temos poucos momentos na vida para nos soltar, então é bom aproveitá-los quando aparecem." (pág. 198)
"-Vocês querem pegar peixe grande? Voltem e peguem um caniço mais forte." (pág. 216)
sábado, 21 de dezembro de 2013
A casa da seda
Título: A casa da seda
Autor: Anthony Horowitz
Páginas: 270
Estava temeroso ao iniciar a leitura do livro, pois as informações faziam tanta referência ao estilo das histórias de Sherlock Holmes, que fiquei com receio de me decepcionar. Qual nada! É como se você tivesse lendo uma história do próprio Conan Doyle. O autor conseguiu captar tão bem a atmosfera, o gênero e a excentricidade de Sherlock Holmes e o resultado não poderia ser outro: uma história digna do grande detetive.
Como sempre, a história começa com alguém solicitando a ajuda de Holmes para um caso que, aparentemente seria simples. E aí a história começa a se desenrolar, outros aspectos vão se conectando e, de repente, a história já tomou tamanha proporção e há tantas pessoas envolvidas que só mesmo o talento de Holmes para decifrá-la. Se você é fã de livros do gênero, com certeza não irá se decepcionar com a leitura.
Trechos interessantes:
"Creio ser desnecessário lembrá-los de que os gêmeos apareceram na mitologia desde os primórdios da civilização. Houve Rômulo e Remo, Apolo e Ártemis e Castor e Pólux, imortalizados para sempre como a constelação de Gêmeos no céu noturno." (pág. 28)
"Ele não podia ter mais de treze anos, mas apesar disso, como todos os outros, já era completamente adulto. A infância, afinal de contas, é o primeiro bem que a pobreza furta de uma criança." (pág. 54)
"[...]afinal até o próprio Lestrade dissera uma vez, brincando, que um capricho da Mãe Natureza havia lhe dado a aparência de um criminoso, não de um policial, e que, pensando bem, ele poderia ter sido um homem mais rico se tivesse escolhido tal profissão. Também Holmes comentou muitas vezes que suas próprias habilidades, em particular em matéria de forçar fechaduras e forjar falsificações, poderiam tê-lo tornado um criminoso tão bem-sucedido quanto era como detetive, e é divertido pensar que, num outro mundo, os dois homens poderiam ter trabalhado juntos no lado errado da lei." (pág. 65)
"O problema com você, Holmes, é que tem mania de complicar as coisas. Por vezes pergunto a mim mesmo se não faz de propósito. É como se precisasse que o crime representasse um desafio, como se ele tivesse de ser suficientemente extraordinário para merecer solução." (pág. 70)
"'Sr. Sherlock Holmes', disse, 'Sim, sim. Creio que ouvi falar a seu respeito. Um detetive? Não posso imaginar nenhuma circunstância em que suas atividades se conectariam com as minhas'." (pág. 109)
"Mostre a Holmes uma gota d'água e ele deduziria a existência do Atlântico. Mostre-a para mim, e eu procuraria uma torneira. Essa era a diferença entre nós." (pág. 169)
"O senhor poderia dizer que sou um pensador abstrato. O crime em sua forma mais pura é, afinal de contas, uma abstração, como a música. Eu reajo. Outros executam." (pág. 182)
"Existem, acredito, ocasiões em que sabemos ter chegado ao fim de uma longa jornada; em que, mesmo que ainda não divisemos nosso destino, sabemos de algum modo que, quando dobrarmos a esquina que está bem à nossa frente, lá estará ele." (pág. 218)
Autor: Anthony Horowitz
Páginas: 270
Estava temeroso ao iniciar a leitura do livro, pois as informações faziam tanta referência ao estilo das histórias de Sherlock Holmes, que fiquei com receio de me decepcionar. Qual nada! É como se você tivesse lendo uma história do próprio Conan Doyle. O autor conseguiu captar tão bem a atmosfera, o gênero e a excentricidade de Sherlock Holmes e o resultado não poderia ser outro: uma história digna do grande detetive.
Como sempre, a história começa com alguém solicitando a ajuda de Holmes para um caso que, aparentemente seria simples. E aí a história começa a se desenrolar, outros aspectos vão se conectando e, de repente, a história já tomou tamanha proporção e há tantas pessoas envolvidas que só mesmo o talento de Holmes para decifrá-la. Se você é fã de livros do gênero, com certeza não irá se decepcionar com a leitura.
Trechos interessantes:
"Creio ser desnecessário lembrá-los de que os gêmeos apareceram na mitologia desde os primórdios da civilização. Houve Rômulo e Remo, Apolo e Ártemis e Castor e Pólux, imortalizados para sempre como a constelação de Gêmeos no céu noturno." (pág. 28)
"Ele não podia ter mais de treze anos, mas apesar disso, como todos os outros, já era completamente adulto. A infância, afinal de contas, é o primeiro bem que a pobreza furta de uma criança." (pág. 54)
"[...]afinal até o próprio Lestrade dissera uma vez, brincando, que um capricho da Mãe Natureza havia lhe dado a aparência de um criminoso, não de um policial, e que, pensando bem, ele poderia ter sido um homem mais rico se tivesse escolhido tal profissão. Também Holmes comentou muitas vezes que suas próprias habilidades, em particular em matéria de forçar fechaduras e forjar falsificações, poderiam tê-lo tornado um criminoso tão bem-sucedido quanto era como detetive, e é divertido pensar que, num outro mundo, os dois homens poderiam ter trabalhado juntos no lado errado da lei." (pág. 65)
"O problema com você, Holmes, é que tem mania de complicar as coisas. Por vezes pergunto a mim mesmo se não faz de propósito. É como se precisasse que o crime representasse um desafio, como se ele tivesse de ser suficientemente extraordinário para merecer solução." (pág. 70)
"'Sr. Sherlock Holmes', disse, 'Sim, sim. Creio que ouvi falar a seu respeito. Um detetive? Não posso imaginar nenhuma circunstância em que suas atividades se conectariam com as minhas'." (pág. 109)
"Mostre a Holmes uma gota d'água e ele deduziria a existência do Atlântico. Mostre-a para mim, e eu procuraria uma torneira. Essa era a diferença entre nós." (pág. 169)
"O senhor poderia dizer que sou um pensador abstrato. O crime em sua forma mais pura é, afinal de contas, uma abstração, como a música. Eu reajo. Outros executam." (pág. 182)
"Existem, acredito, ocasiões em que sabemos ter chegado ao fim de uma longa jornada; em que, mesmo que ainda não divisemos nosso destino, sabemos de algum modo que, quando dobrarmos a esquina que está bem à nossa frente, lá estará ele." (pág. 218)
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
Vão dos Angicos
Título: Vão dos Angicos
Autor: Bariani Ortencio
Páginas: 200
Vão dos angicos é um livro de contos, retratando o povo, a história e os costumes da região Centro-Oeste. São nove contos - os chamados "causos" - geralmente com apelo humorístico, retratando diversas situações e personagens.
O linguajar específico da região é o que mais chama a atenção nesse tipo de história. É como se estivéssemos, de fato, ouvindo as histórias contadas pelos mais antigos, ao pé do fogão, enrolando um cigarro de palha. Só quem já viveu nesta situação para entender o que é isso.
Trechos interessantes:
"O advogado seguiu viagem, a trenheira enchendo duas bruacas, livros de Direito a maior parte. No interior seria necessário demonstrar poderio; capacidade e inteligência, nem tanto. A maior arma seriam os livros. Doutor de muitos livros na prateleira, sabedoria garantida, respeito absoluto." (pág. 13)
"De peixes eles já estavam saturados e, o que pretendiam, era mesmo caça de carne de sangue para dar sustância. variar da branca de peixe, fraca, embora rica de fosfato. Mas o que eles queriam com fosfato, com inteligência, se não precisavam dela, não tinham onde usá-la, que tudo ali era rotineiro?" (pág. 73)
"Merenciano sempre morou em Pau-d'Arco, dono que foi por herança do pai. Quando cismou de casar, o fez rápido, sem muita escolha, devido à falta do que escolher e serem as moças naquele derredor de cinco léguas, todas prendadas em serviços domésticos e ajuda na roça e curral. Das quatro Marias conhecidas, fisgou a do vizinho Luciano, a mais chegada por divisas, que ele não era de andar muito atrás de rabo-de-saia.
Maria-do-Luciano fez o pior negócio da vida, pois logo no primeiro parto embarcava deste mundo para um melhor, carregada nas asas dos anjos, de boa que era, e chorada sentidamente por Merenciano, que dela pouco aproveitara." (pág. 91)
"Quando está nesta ocupação, reclama à memória, relembra a manta que passou no cigano, na baldroca com aquela égua desgraçada de ruim, mais passarinheira que todos os diabos do inferno. Passar manta em cigano dá patente de alto gabarito comercial." (pág. 95)
"Na cidade, Apolinário empretecendo de tanto tomar café em casa dos eleitores. O peito doía de andar espremendo outros peitos nos abraços infindáveis. Só não abraçava poste porque não tinha braços." (pág. 121)
"Começou pelo chavão mais conhecido que níquel de cem reis:
-Já que é tão grande o momento!
E o Fidêncio arrematou:
-'Jaquetão grande' é 'sobretudo' sua besta!..." (pág. 131)
Autor: Bariani Ortencio
Páginas: 200
Vão dos angicos é um livro de contos, retratando o povo, a história e os costumes da região Centro-Oeste. São nove contos - os chamados "causos" - geralmente com apelo humorístico, retratando diversas situações e personagens.
O linguajar específico da região é o que mais chama a atenção nesse tipo de história. É como se estivéssemos, de fato, ouvindo as histórias contadas pelos mais antigos, ao pé do fogão, enrolando um cigarro de palha. Só quem já viveu nesta situação para entender o que é isso.
Trechos interessantes:
"O advogado seguiu viagem, a trenheira enchendo duas bruacas, livros de Direito a maior parte. No interior seria necessário demonstrar poderio; capacidade e inteligência, nem tanto. A maior arma seriam os livros. Doutor de muitos livros na prateleira, sabedoria garantida, respeito absoluto." (pág. 13)
"De peixes eles já estavam saturados e, o que pretendiam, era mesmo caça de carne de sangue para dar sustância. variar da branca de peixe, fraca, embora rica de fosfato. Mas o que eles queriam com fosfato, com inteligência, se não precisavam dela, não tinham onde usá-la, que tudo ali era rotineiro?" (pág. 73)
"Merenciano sempre morou em Pau-d'Arco, dono que foi por herança do pai. Quando cismou de casar, o fez rápido, sem muita escolha, devido à falta do que escolher e serem as moças naquele derredor de cinco léguas, todas prendadas em serviços domésticos e ajuda na roça e curral. Das quatro Marias conhecidas, fisgou a do vizinho Luciano, a mais chegada por divisas, que ele não era de andar muito atrás de rabo-de-saia.
Maria-do-Luciano fez o pior negócio da vida, pois logo no primeiro parto embarcava deste mundo para um melhor, carregada nas asas dos anjos, de boa que era, e chorada sentidamente por Merenciano, que dela pouco aproveitara." (pág. 91)
"Quando está nesta ocupação, reclama à memória, relembra a manta que passou no cigano, na baldroca com aquela égua desgraçada de ruim, mais passarinheira que todos os diabos do inferno. Passar manta em cigano dá patente de alto gabarito comercial." (pág. 95)
"Na cidade, Apolinário empretecendo de tanto tomar café em casa dos eleitores. O peito doía de andar espremendo outros peitos nos abraços infindáveis. Só não abraçava poste porque não tinha braços." (pág. 121)
"Começou pelo chavão mais conhecido que níquel de cem reis:
-Já que é tão grande o momento!
E o Fidêncio arrematou:
-'Jaquetão grande' é 'sobretudo' sua besta!..." (pág. 131)
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
A linha
Título: A linha
Autor: Teri Hall
Páginas: 246
Eu realmente não entendi o estilo literário deste livro. A autora cria uma ficção, num futuro não determinado, onde as pessoas vivem com medo dos representantes do governo, mas não especifica o motivo. Algo assim como uma versão da guerra fria, mas no futuro.
Há uma linha que divide dois países (?) e a personagem principal fica obcecada por cruzar a linha. Achei o livro muito vago, com personagens simples e sem amarração. E o final então, que tristeza!
Trechos interessantes:
"São sempre as ações da própria pessoa que provocam as mudanças de verdade, sejam boas ou más." (pág. 13)
"-Eu não sei se existe algum governo que quer realmente acabar com a guerra, ela é muito útil." (pág.47)
"-Nunca é uma atitude grosseira expressar a opinião de alguém respeitosamente. Nós apenas pensamos diferente sobre esse assunto." (pág. 75)
"Ela se lembrava de seu alerta durante uma sessão de treinamento:
-Se eles tentarem cavar sua cova - disse -, não vá pegar uma pá e ajudar. Você senta quieto e cala a boca." (pág. 136/137)
"Rachel foi até sua mãe, ajoelhou-se ao seu lado e lhe deu um abraço. Não disse nada. Não sabia o que dizer. Ficou pensando sobre o que a Sra. Moore havia dito minutos antes: 'Você ficaria surpresa com o que as pessoas que achava que eram amigas são capazes de fazer'." (pág. 194)
"-Você não vê? Não dá para ter coragem sem ter medo. Os corajosos sempre temem. Mas, mesmo assim, fazem o que é preciso." (pág. 207)
Autor: Teri Hall
Páginas: 246
Eu realmente não entendi o estilo literário deste livro. A autora cria uma ficção, num futuro não determinado, onde as pessoas vivem com medo dos representantes do governo, mas não especifica o motivo. Algo assim como uma versão da guerra fria, mas no futuro.
Há uma linha que divide dois países (?) e a personagem principal fica obcecada por cruzar a linha. Achei o livro muito vago, com personagens simples e sem amarração. E o final então, que tristeza!
Trechos interessantes:
"São sempre as ações da própria pessoa que provocam as mudanças de verdade, sejam boas ou más." (pág. 13)
"-Eu não sei se existe algum governo que quer realmente acabar com a guerra, ela é muito útil." (pág.47)
"-Nunca é uma atitude grosseira expressar a opinião de alguém respeitosamente. Nós apenas pensamos diferente sobre esse assunto." (pág. 75)
"Ela se lembrava de seu alerta durante uma sessão de treinamento:
-Se eles tentarem cavar sua cova - disse -, não vá pegar uma pá e ajudar. Você senta quieto e cala a boca." (pág. 136/137)
"Rachel foi até sua mãe, ajoelhou-se ao seu lado e lhe deu um abraço. Não disse nada. Não sabia o que dizer. Ficou pensando sobre o que a Sra. Moore havia dito minutos antes: 'Você ficaria surpresa com o que as pessoas que achava que eram amigas são capazes de fazer'." (pág. 194)
"-Você não vê? Não dá para ter coragem sem ter medo. Os corajosos sempre temem. Mas, mesmo assim, fazem o que é preciso." (pág. 207)
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Veias e vinhos
Título: Veias e vinhos
Autor: Miguel Jorge
Páginas: 262
O livro é um clássico da literatura goiana, por isso tão pouco conhecido por aqueles que não são desta terra. O livro narra a história de um crime ocorrido em Goiânia em 1957, quando a cidade ainda engatinhava.
O crime ocorreu no antigo Bairro Popular (hoje anexado ao Setor Central) onde uma família foi brutalmente assassinada, deixando apenas a filha mais nova, Ana, que a tudo assistia. Como o crime não teve solução, o romance mostra a dor e o sofrimento de Ana e os maus tratos daqueles que foram acusados injustamente. Leitura densa, mas sincera.
Trechos interessantes:
"Calmamente o céu e a noite jogavam estrelas sobre o telhado da cidade. E as estrelas empurravam a Lua para um campo limpo, de onde ela dominava sozinha um espaço azul. Uma noite de abril abrindo-se em meio a um calor novo e fácil de se aguentar." (pág. 25)
"Que surpresas agradáveis ou desagradáveis lhe concederia aquele dia? Padre Bonifácio ficou de passar na venda no final da tarde. Diabo de padre, sempre querendo dinheiro. Dinheiro. Era verdade que o bairro crescia em gente e movimento, que os negócios iam bem, mas, que diabo, dar dinheiro assim, sem mais nem menos, não era com ele. E que Deus lhe perdoasse se estava cometendo pecado." (pág. 78)
"Tinha um desejo secreto de ver o Cristo de verdade. Pensava, mas tinha medo de falar em voz alta. Estava cansado de ver o Cristo pregado na cruz, sofrendo a vida inteira. Queria ver o Cristo vivo, homem de fala humana, igual aos outros homens. Era um mistério, o Padre Bonifácio dizia, mas ele não se conformava." (pág. 101)
"Compreendeu desde o início que seu calvário começava ali. E desejou pacientemente que chegassem logo ao fim. Carregaram-no dali e o dependuraram no pau-de-arara. De cabeça para baixo, suas afirmações começaram a vacilar como seu olho direito. Apertavam mais e mais o interrogatório. O soldado deu uma risadinha, e o delegado também. Usavam de métodos e de várias possibilidades de tortura. Sabiam que mais cedo ou mais tarde ele confessaria tudo." (pág. 135)
"-Mome, vamos paperá um pouco? Onde tem um açougue por aqui?
-Açougue? Bem, ali na esquina tem um do seu Josias.
-Açougue, mome, lupanar, bordel, casa de meninas da vida. Não sabe o que é isso?" (pág. 174)
"Sei tão pouco a respeito de crimes e de prisões, não sei falar aos grandes e não tenho o menor desejo em me arrastar feito verme. Posso esperar por um instante. Por um só instante, mas com dignidade." (pág. 179)
"Chegaram uns dez carniças a fim de fazer caridade. Um arigó me cantou a cantarinha. Fiquei zurro e hurro e entrei com a capoeira, rabo-de-arraia-bico-de-papagaio-uma-dança-de-rato. Acertei um direto numa égua bonita, mandei ela ver a duvela. Mas os sacanas me encalharam enfumaçando o lupanar. Foi aí que meti o espeto no bucho dum estepe que ficou estirante. Me meteram num galinheiro e me jogaram na casa de pedra. Então, malandro, me pus frente ao alconha, sem amor, o malandro precisa de um alveitar, tá com as grampas feias. Pode abrir o bico, que sou mesmo que jorba." (pág. 202)
"[...]mas os repórteres me esperavam com máquinas fotográficas e perguntas e perguntas existem momentos decisivos na vida da gente e aquele era um deles por isso enxuguei as lágrimas e com o rosto vermelho e a voz forte rouca mesmo disse bem alto sou inocente saio da penitenciária após vinte anos de prisão dizendo a mesma frase de quando entrei sou inocente sou inocente [...]" (pág. 252)
Autor: Miguel Jorge
Páginas: 262
O livro é um clássico da literatura goiana, por isso tão pouco conhecido por aqueles que não são desta terra. O livro narra a história de um crime ocorrido em Goiânia em 1957, quando a cidade ainda engatinhava.
O crime ocorreu no antigo Bairro Popular (hoje anexado ao Setor Central) onde uma família foi brutalmente assassinada, deixando apenas a filha mais nova, Ana, que a tudo assistia. Como o crime não teve solução, o romance mostra a dor e o sofrimento de Ana e os maus tratos daqueles que foram acusados injustamente. Leitura densa, mas sincera.
Trechos interessantes:
"Calmamente o céu e a noite jogavam estrelas sobre o telhado da cidade. E as estrelas empurravam a Lua para um campo limpo, de onde ela dominava sozinha um espaço azul. Uma noite de abril abrindo-se em meio a um calor novo e fácil de se aguentar." (pág. 25)
"Que surpresas agradáveis ou desagradáveis lhe concederia aquele dia? Padre Bonifácio ficou de passar na venda no final da tarde. Diabo de padre, sempre querendo dinheiro. Dinheiro. Era verdade que o bairro crescia em gente e movimento, que os negócios iam bem, mas, que diabo, dar dinheiro assim, sem mais nem menos, não era com ele. E que Deus lhe perdoasse se estava cometendo pecado." (pág. 78)
"Tinha um desejo secreto de ver o Cristo de verdade. Pensava, mas tinha medo de falar em voz alta. Estava cansado de ver o Cristo pregado na cruz, sofrendo a vida inteira. Queria ver o Cristo vivo, homem de fala humana, igual aos outros homens. Era um mistério, o Padre Bonifácio dizia, mas ele não se conformava." (pág. 101)
"Compreendeu desde o início que seu calvário começava ali. E desejou pacientemente que chegassem logo ao fim. Carregaram-no dali e o dependuraram no pau-de-arara. De cabeça para baixo, suas afirmações começaram a vacilar como seu olho direito. Apertavam mais e mais o interrogatório. O soldado deu uma risadinha, e o delegado também. Usavam de métodos e de várias possibilidades de tortura. Sabiam que mais cedo ou mais tarde ele confessaria tudo." (pág. 135)
"-Mome, vamos paperá um pouco? Onde tem um açougue por aqui?
-Açougue? Bem, ali na esquina tem um do seu Josias.
-Açougue, mome, lupanar, bordel, casa de meninas da vida. Não sabe o que é isso?" (pág. 174)
"Sei tão pouco a respeito de crimes e de prisões, não sei falar aos grandes e não tenho o menor desejo em me arrastar feito verme. Posso esperar por um instante. Por um só instante, mas com dignidade." (pág. 179)
"Chegaram uns dez carniças a fim de fazer caridade. Um arigó me cantou a cantarinha. Fiquei zurro e hurro e entrei com a capoeira, rabo-de-arraia-bico-de-papagaio-uma-dança-de-rato. Acertei um direto numa égua bonita, mandei ela ver a duvela. Mas os sacanas me encalharam enfumaçando o lupanar. Foi aí que meti o espeto no bucho dum estepe que ficou estirante. Me meteram num galinheiro e me jogaram na casa de pedra. Então, malandro, me pus frente ao alconha, sem amor, o malandro precisa de um alveitar, tá com as grampas feias. Pode abrir o bico, que sou mesmo que jorba." (pág. 202)
"[...]mas os repórteres me esperavam com máquinas fotográficas e perguntas e perguntas existem momentos decisivos na vida da gente e aquele era um deles por isso enxuguei as lágrimas e com o rosto vermelho e a voz forte rouca mesmo disse bem alto sou inocente saio da penitenciária após vinte anos de prisão dizendo a mesma frase de quando entrei sou inocente sou inocente [...]" (pág. 252)
quarta-feira, 4 de dezembro de 2013
Até Deus duvida
Título: Até Deus duvida
Autor: Lêda Selma
Páginas: 170
Gosto muito de crônicas, é um estilo que considero descompromissado. É como se fosse um bate-papo, uma conversa informal sobre assuntos corriqueiros e sem muita importância. E, como são textos pequenos e não sequenciais, podem ser lidos em pequenos intervalos.
O livro em questão apresenta várias crônicas e quase todas humorísticas. A autora cria palavras e nomes próprios que são, no mínimo, risíveis. Onde já se viu "Distraildina", "Pescanildo", "sorveteu", "bombrilesca", "impeixíferas", "Bigolândia", "Doidivino", "cachorrólogo" e por aí vai. Em suma, uma leitura agradável.
Trechos interessantes:
"É notório que ele [computador], às vezes, tumultua nosso relacionamento, ao insistir em intrometer-se nos meus escritos (que mania danosa!). Contudo, ignoro tal ousadia e coloco-o em seu devido lugar. E tenho razão: o abelhudo recusa, substitui minhas palavras e, ainda por cima, sublinha-as de vermelho. Vê-se que o tal ignora a liberdade dos textos literários. Resultado: ficam todos carnavalescos, fantasiados. Tenho culpa se o fulano é deficiente semântico, ou se é pobre seu vocabulário conotativo?!" (pág. 17)
"A mesma sorte não teve a pera, que pela de medo dos pelos daquele bigode sobre a boca que a abocanha. Entenderam?! Ih! os conhecidos pares pára/para, pêlo/pelo, péla/pela, pólo/polo não têm mais o diferencial, mas o "têm", no plural, tem, como sempre." (pág. 20)
"De forma que, a certa altura da prosa, ninguém se aventurava a sequer uma retirada rápida, para acalmar as súplicas das necessidades mais íntimas, naturais e intransferíveis. Por puro medo de ser o próximo candidato a frangalho naquelas bocas debochadas e sem trinco." (pág. 44)
"-Transviarei o que meus antepassados sempre disseram: 'É melhor ouvir bobagem do que ser surdo'. Não, não, não, não é! Pela minha batina, ó Deus protetor dos ouvidos insultados, a surdez, por misericórdia!" (pág. 68)
"A verdade nunca o intimidava, principalmente a verdade dos outros. O que tinha a dizer, dizia, assim, de chofre. A verdade era encomenda que ele não deixava ninguém entregar ao destinatário. Fazia-o de própria boca. Sem retoques nem depois." (pág. 78)
"-Senão, o quê?! Me diga, delegado, o quê? O senhor pensa que vou aceitar que escorchem os meus direitos, é?
- (Escorchem... Que diabo é isso? Ah! não: bandido intelectual...?!)" (pág. 125)
"Que outro jeito, filho, senão recordar!? O irreversível, aprendi, é passagem sem ponte, é rio intransponível e sobre o qual não se pode navegar." (pág. 169)
Autor: Lêda Selma
Páginas: 170
Gosto muito de crônicas, é um estilo que considero descompromissado. É como se fosse um bate-papo, uma conversa informal sobre assuntos corriqueiros e sem muita importância. E, como são textos pequenos e não sequenciais, podem ser lidos em pequenos intervalos.
O livro em questão apresenta várias crônicas e quase todas humorísticas. A autora cria palavras e nomes próprios que são, no mínimo, risíveis. Onde já se viu "Distraildina", "Pescanildo", "sorveteu", "bombrilesca", "impeixíferas", "Bigolândia", "Doidivino", "cachorrólogo" e por aí vai. Em suma, uma leitura agradável.
Trechos interessantes:
"É notório que ele [computador], às vezes, tumultua nosso relacionamento, ao insistir em intrometer-se nos meus escritos (que mania danosa!). Contudo, ignoro tal ousadia e coloco-o em seu devido lugar. E tenho razão: o abelhudo recusa, substitui minhas palavras e, ainda por cima, sublinha-as de vermelho. Vê-se que o tal ignora a liberdade dos textos literários. Resultado: ficam todos carnavalescos, fantasiados. Tenho culpa se o fulano é deficiente semântico, ou se é pobre seu vocabulário conotativo?!" (pág. 17)
"A mesma sorte não teve a pera, que pela de medo dos pelos daquele bigode sobre a boca que a abocanha. Entenderam?! Ih! os conhecidos pares pára/para, pêlo/pelo, péla/pela, pólo/polo não têm mais o diferencial, mas o "têm", no plural, tem, como sempre." (pág. 20)
"De forma que, a certa altura da prosa, ninguém se aventurava a sequer uma retirada rápida, para acalmar as súplicas das necessidades mais íntimas, naturais e intransferíveis. Por puro medo de ser o próximo candidato a frangalho naquelas bocas debochadas e sem trinco." (pág. 44)
"-Transviarei o que meus antepassados sempre disseram: 'É melhor ouvir bobagem do que ser surdo'. Não, não, não, não é! Pela minha batina, ó Deus protetor dos ouvidos insultados, a surdez, por misericórdia!" (pág. 68)
"A verdade nunca o intimidava, principalmente a verdade dos outros. O que tinha a dizer, dizia, assim, de chofre. A verdade era encomenda que ele não deixava ninguém entregar ao destinatário. Fazia-o de própria boca. Sem retoques nem depois." (pág. 78)
"-Senão, o quê?! Me diga, delegado, o quê? O senhor pensa que vou aceitar que escorchem os meus direitos, é?
- (Escorchem... Que diabo é isso? Ah! não: bandido intelectual...?!)" (pág. 125)
"Que outro jeito, filho, senão recordar!? O irreversível, aprendi, é passagem sem ponte, é rio intransponível e sobre o qual não se pode navegar." (pág. 169)
sábado, 30 de novembro de 2013
Jornada de esperança
Título: Jornada de esperança
Autor: Brian Aldiss
Páginas: 264
De que valeria a vida se você soubesse que a humanidade, em breve, estará extinta? Esta é a tônica do livro. Um panorama assustador (ficcional, mas perfeitamente possível) se desenrola e muda completamente a vida, os hábitos e atitudes de uns poucos remanescentes diante da visão de um futuro que não mais existirá.
O autor cria uma visão de futuro na qual o uso de armas nucleares interfere e modifica os sistemas humanos, fazendo com que as mulheres deixem de procriar. Com isso não há mais nascimentos, apenas mortes e a certeza que a raça humana chegou ao fim. Para quem gosta de ficção, eis aí uma ótima pedida.
Trechos interessantes:
"Uma das características da idade avançada é que todas as conversas levam de volta a épocas pretéritas." (pág. 24)
"A embarcação vinha cortando a correnteza de viés. Dirigia-a o mais desgrenhado bando de antimarinheiros que jamais se tinha visto. Os remadores pareciam igualmente preocupados com impedir a nau de capotar e fazê-la ir em frente. Cumpre dizer que fracassavam por igual em ambos os intentos." (pág. 26)
"-O que estou tentando dizer, Marta, é que, finalmente, os homens começam a perceber que a raça humana não vai mais reproduzir-se. Aqueles bolinhos de carne que costumávamos ver atados em cueiros são coisas do passado. Aquelas menininhas que costumavam brincar com bonecas e sacos de farinha vazios não existem mais. Os adolescentes motorizados que ficavam nas esquinas tocando as buzinas das suas máquinas se foram para sempre. Não voltarão mais." (pág. 57)
"-Documentos! Você fala como esses idiotas da sala vizinha. Respeito a erudição mas não o pedantismo, entenda bem. Escute. Vou evacuar do hospital todos os canalhas que lá existem. E com eles as suas ideias malucas. Não acredito no passado; acredito no futuro.
Para Timberlane aquilo pareceu uma confissão de demência. -O futuro não existe, lembra-se? Nós o liquidamos no passado." (pág. 70)
"Talvez aquele fosse um dos erros inerradicáveis do gênero humano (até mesmo os ateus tinham que reconhecer a falha): o não contentar-se em aceitar uma coisa simplesmente como tal. Sempre se converteram as coisas em símbolos ou em outras coisas. Um arco-íris não é apenas um arco-íris; uma tempestade é penhor da ira celestial, e até mesmo do seio da terra emergem obscuros deuses. Qual o significado disso tudo?" (pág. 113/114)
"Charley interrompeu seus pensamentos, envergonhado do cinismo fácil para que resvalara. Ó Deus, ainda que eu morra, permiti-me viver!" (pág. 140)
"Qualquer sorte é melhor que a morte¹" (pág. 151)
"Tudo isso estava a ensinar uma lição que desde muito devia ter sido aprendida, pensava Artur: jamais permita que um bando de nefastos políticos pense por você. Sem nenhuma dúvida, eles deveriam ter tido suficiente bom senso para mandar explodir na lua os seus engenhos." (pág. 218)
"-Você sabe ao que me refiro: é preciso renovarmos nossa juventude na geração seguinte. Na casa dos trinta, os filhos constituem a nossa alegria. Na dos quarenta, a nossa preocupação e as nossas amarras ao mundo. Na dos cinquenta, talvez surjam os netos para a gente brincar. Vivemos enquanto os nossos netos lá estão para contemplar o nosso sorriso senil e as nossas mágicas... Eles são os nossos substitutos. Mas, se tudo isso desaparece... não é de admirar que as coisas desandem ou que o pobre Charley comece a ver gnomos." (pág. 238)
"Qualquer que seja o papel por nós pretendido na vida, o importante é desempenhá-lo da melhor forma possível." (pág. 259)
Autor: Brian Aldiss
Páginas: 264
De que valeria a vida se você soubesse que a humanidade, em breve, estará extinta? Esta é a tônica do livro. Um panorama assustador (ficcional, mas perfeitamente possível) se desenrola e muda completamente a vida, os hábitos e atitudes de uns poucos remanescentes diante da visão de um futuro que não mais existirá.
O autor cria uma visão de futuro na qual o uso de armas nucleares interfere e modifica os sistemas humanos, fazendo com que as mulheres deixem de procriar. Com isso não há mais nascimentos, apenas mortes e a certeza que a raça humana chegou ao fim. Para quem gosta de ficção, eis aí uma ótima pedida.
Trechos interessantes:
"Uma das características da idade avançada é que todas as conversas levam de volta a épocas pretéritas." (pág. 24)
"A embarcação vinha cortando a correnteza de viés. Dirigia-a o mais desgrenhado bando de antimarinheiros que jamais se tinha visto. Os remadores pareciam igualmente preocupados com impedir a nau de capotar e fazê-la ir em frente. Cumpre dizer que fracassavam por igual em ambos os intentos." (pág. 26)
"-O que estou tentando dizer, Marta, é que, finalmente, os homens começam a perceber que a raça humana não vai mais reproduzir-se. Aqueles bolinhos de carne que costumávamos ver atados em cueiros são coisas do passado. Aquelas menininhas que costumavam brincar com bonecas e sacos de farinha vazios não existem mais. Os adolescentes motorizados que ficavam nas esquinas tocando as buzinas das suas máquinas se foram para sempre. Não voltarão mais." (pág. 57)
"-Documentos! Você fala como esses idiotas da sala vizinha. Respeito a erudição mas não o pedantismo, entenda bem. Escute. Vou evacuar do hospital todos os canalhas que lá existem. E com eles as suas ideias malucas. Não acredito no passado; acredito no futuro.
Para Timberlane aquilo pareceu uma confissão de demência. -O futuro não existe, lembra-se? Nós o liquidamos no passado." (pág. 70)
"Talvez aquele fosse um dos erros inerradicáveis do gênero humano (até mesmo os ateus tinham que reconhecer a falha): o não contentar-se em aceitar uma coisa simplesmente como tal. Sempre se converteram as coisas em símbolos ou em outras coisas. Um arco-íris não é apenas um arco-íris; uma tempestade é penhor da ira celestial, e até mesmo do seio da terra emergem obscuros deuses. Qual o significado disso tudo?" (pág. 113/114)
"Charley interrompeu seus pensamentos, envergonhado do cinismo fácil para que resvalara. Ó Deus, ainda que eu morra, permiti-me viver!" (pág. 140)
"Qualquer sorte é melhor que a morte¹" (pág. 151)
"Tudo isso estava a ensinar uma lição que desde muito devia ter sido aprendida, pensava Artur: jamais permita que um bando de nefastos políticos pense por você. Sem nenhuma dúvida, eles deveriam ter tido suficiente bom senso para mandar explodir na lua os seus engenhos." (pág. 218)
"-Você sabe ao que me refiro: é preciso renovarmos nossa juventude na geração seguinte. Na casa dos trinta, os filhos constituem a nossa alegria. Na dos quarenta, a nossa preocupação e as nossas amarras ao mundo. Na dos cinquenta, talvez surjam os netos para a gente brincar. Vivemos enquanto os nossos netos lá estão para contemplar o nosso sorriso senil e as nossas mágicas... Eles são os nossos substitutos. Mas, se tudo isso desaparece... não é de admirar que as coisas desandem ou que o pobre Charley comece a ver gnomos." (pág. 238)
"Qualquer que seja o papel por nós pretendido na vida, o importante é desempenhá-lo da melhor forma possível." (pág. 259)
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
A janela de Overton
Título: A janela de Overton
Autor: Glenn Beck
Páginas: 384
Eu esperava mais do livro, a história não chegou a me empolgar como imaginei ao ler a sinopse. A história se baseia mais no romance dos protagonistas que na trama de mistério e conspiração apregoada pela crítica.
O autor quis fazer um livro de ficção baseado em fatos reais, mas, a meu ver, o excesso de fatos reais é que prejudicou o bom andamento da história. Mas pelo menos tenta mostrar como é manipulada a opinião pública em diversos aspectos. Só faltou aquele algo mais para cativar o leitor de fato.
Trechos interessantes:
"Dizem que devemos nos vestir para o trabalho que pretendemos ter, e não para o trabalho que temos. Isto é especialmente verdadeiro no ramo de relações públicas e de assessoria de imagem, em que a aparência é a realidade." (pág. 22)
"Como eu sei de tudo isso? Simples: quando as coisas dão errado, sempre é bom haver alguém que leve a culpa, um vilão, se preferirem. Como dizem por aí, se não se está sentado à mesa para comer, pode ser encontrado no cardápio. Se saírem daqui com a mesma arrogância com que entraram, então, meus amigos, em breve os senhores serão servidos como o prato especial do dia." (pág. 43/44)
"É a primeira regra, e uma das únicas: o melhor trabalho jamais é sequer notado. Se o público vê a mão do marqueteiro ou assessor de imagem, então ele fracassou." (pág. 52)
"As loterias pegam o dinheiro de milhões de pessoas e em troca dão a elas apenas pedaços de papel e decepção; depois - e aqui está o segredo -, os marqueteiros do mundo das relações públicas conseguem ludibriar as pessoas e convencê-las a fazer fila para jogar de novo. Se se consegue enganar as pessoas desse jeito e ainda dormir tranquilo à noite, então é possível que se tenha uma longa e promissora carreira pela frente." (pág. 54)
"Vou dar uma notícia de última hora para você, filho: não existe Papai Noel, nem coelhinho da Páscoa, nem uma Fada da Justiça que dê a mínima para o que você viu. A injustiça existe neste mundo, e, se você tem a sorte de viver protegido da pior parte dela, a maior parte das pessoas não tem." (pág. 123)
"Tudo aquilo que é obtido por um preço baixo demais merece nossa pouca estima: é o alto preço que dá a cada coisa seu valor. Deus sabe como atribuir o preço adequado a suas mercadorias, e de fato seria muito estranho se um bem tão divino como a liberdade não custasse tão caro." (pág. 201)
"A mulher olhou para ele, e sua conduta tinha ficado mais fria. Isso acontece com alguns médicos. Assim que o paciente dá sinais de melhora, eles não veem mais utilidade em ser gentis." (pág. 235)
"Em mais de uma ocasião o velho já tinha dito com todas as letras: se um dia saísse de casa e por algum milagre todas as pessoas do mundo tivessem desaparecido da face da Terra, seria a realização de seu maior sonho. Essa era a prova irrefutável de quanto ele adorava ficar sozinho." (pág. 249/250)
"Quando eu nasci, havia 2 bilhões de pessoas no mundo; agora esse número mais do que triplicou, no período de uma vida. E no meio dessa superpopulação, que está inchando o mundo além do ponto de ruptura, não há muitos Mozart, Einstein, Pascal, Salk, Shakespeare ou George Washington. São uns comilões inúteis e retardados mentais, que estão esgotando a capacidade do planeta." (pág. 254)
"Não tenha medo, ela dissera; esse é o segredo, por pior que seja a situação. Por exemplo, alguém que esteja dentro de um carro dirigindo em alta velocidade para saltar sobre o espaço vazio de uma ponte, já que a possibilidade de parar o veículo é impossível. A maior parte das pessoas desperdiçariam seus últimos segundos de vida pisando, em vão, nos freios. No entanto, o que deveriam fazer, diante da morte iminente, seria rezar e pisar com tudo - porque há sempre uma ínfima chance de se chegar ao outro lado." (pág. 284)
Autor: Glenn Beck
Páginas: 384
Eu esperava mais do livro, a história não chegou a me empolgar como imaginei ao ler a sinopse. A história se baseia mais no romance dos protagonistas que na trama de mistério e conspiração apregoada pela crítica.
O autor quis fazer um livro de ficção baseado em fatos reais, mas, a meu ver, o excesso de fatos reais é que prejudicou o bom andamento da história. Mas pelo menos tenta mostrar como é manipulada a opinião pública em diversos aspectos. Só faltou aquele algo mais para cativar o leitor de fato.
Trechos interessantes:
"Dizem que devemos nos vestir para o trabalho que pretendemos ter, e não para o trabalho que temos. Isto é especialmente verdadeiro no ramo de relações públicas e de assessoria de imagem, em que a aparência é a realidade." (pág. 22)
"Como eu sei de tudo isso? Simples: quando as coisas dão errado, sempre é bom haver alguém que leve a culpa, um vilão, se preferirem. Como dizem por aí, se não se está sentado à mesa para comer, pode ser encontrado no cardápio. Se saírem daqui com a mesma arrogância com que entraram, então, meus amigos, em breve os senhores serão servidos como o prato especial do dia." (pág. 43/44)
"É a primeira regra, e uma das únicas: o melhor trabalho jamais é sequer notado. Se o público vê a mão do marqueteiro ou assessor de imagem, então ele fracassou." (pág. 52)
"As loterias pegam o dinheiro de milhões de pessoas e em troca dão a elas apenas pedaços de papel e decepção; depois - e aqui está o segredo -, os marqueteiros do mundo das relações públicas conseguem ludibriar as pessoas e convencê-las a fazer fila para jogar de novo. Se se consegue enganar as pessoas desse jeito e ainda dormir tranquilo à noite, então é possível que se tenha uma longa e promissora carreira pela frente." (pág. 54)
"Vou dar uma notícia de última hora para você, filho: não existe Papai Noel, nem coelhinho da Páscoa, nem uma Fada da Justiça que dê a mínima para o que você viu. A injustiça existe neste mundo, e, se você tem a sorte de viver protegido da pior parte dela, a maior parte das pessoas não tem." (pág. 123)
"Tudo aquilo que é obtido por um preço baixo demais merece nossa pouca estima: é o alto preço que dá a cada coisa seu valor. Deus sabe como atribuir o preço adequado a suas mercadorias, e de fato seria muito estranho se um bem tão divino como a liberdade não custasse tão caro." (pág. 201)
"A mulher olhou para ele, e sua conduta tinha ficado mais fria. Isso acontece com alguns médicos. Assim que o paciente dá sinais de melhora, eles não veem mais utilidade em ser gentis." (pág. 235)
"Em mais de uma ocasião o velho já tinha dito com todas as letras: se um dia saísse de casa e por algum milagre todas as pessoas do mundo tivessem desaparecido da face da Terra, seria a realização de seu maior sonho. Essa era a prova irrefutável de quanto ele adorava ficar sozinho." (pág. 249/250)
"Quando eu nasci, havia 2 bilhões de pessoas no mundo; agora esse número mais do que triplicou, no período de uma vida. E no meio dessa superpopulação, que está inchando o mundo além do ponto de ruptura, não há muitos Mozart, Einstein, Pascal, Salk, Shakespeare ou George Washington. São uns comilões inúteis e retardados mentais, que estão esgotando a capacidade do planeta." (pág. 254)
"Não tenha medo, ela dissera; esse é o segredo, por pior que seja a situação. Por exemplo, alguém que esteja dentro de um carro dirigindo em alta velocidade para saltar sobre o espaço vazio de uma ponte, já que a possibilidade de parar o veículo é impossível. A maior parte das pessoas desperdiçariam seus últimos segundos de vida pisando, em vão, nos freios. No entanto, o que deveriam fazer, diante da morte iminente, seria rezar e pisar com tudo - porque há sempre uma ínfima chance de se chegar ao outro lado." (pág. 284)
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
Antes que eu vá
Título: Antes que eu vá
Autor: Lauren Oliver
Páinas: 358
O início do livro parece uma história normal sobre a vida de uma adolescente: Samantha Kingston, suas amigas, suas colegas de escola, se namorado, seus conflitos de adolescência e por aí vai. De repente a história muda, quando ela descobre que morreu, mas tem a possibilidade de reviver aquele dia novamente.
E assim começa a "segunda parte" do livro quando ela tenta mudar os acontecimentos para se salvar e, sempre acontece alguma coisa que a impede de atingir seu objetivo e ela acaba tendo que reviver novamente o último dia. Com a história no seu ápice, você chega a imaginar vários tipos de finais para o livro e, no meu caso, achei o final decepcionante. Mas talvez é porque eu não tenha sensibilidade para entendê-lo. Quem sabe?
Trechos interessantes:
"A questão é: nós podemos fazer coisas desse tipo. Sabe por quê? Porque somos populares. E somos populares porque podemos sair ilesas de tudo. Então é um círculo vicioso.
Acho que o que estou tentando dizer é que não adianta analisar. Se você desenhar um círculo, sempre haverá um lado de dentro e um lado de fora e, a não ser que você seja completamente idiota, é bem fácil perceber qual é qual. É simplesmente assim que funciona." (pág. 17)
"Não devia ter matado a aula de inglês, isso me deu muito tempo para pensar. E pensar não faz bem a ninguém, independentemente do que digam pais, professores e nerds do clube de ciência." (pág. 41)
"Ele não é muito bom com peitos em geral, para falar a verdade. Quer dizer, não é como se eu soubesse como deveria ser, mas sempre que ele toca meus seios, simplesmente os massageia em círculos, com força. Meu ginecologista faz a mesma coisa quando me examina, então um dos dois tem que estar fazendo errado. E, para ser sincera, não acho que seja o médico." (pág. 50)
"Uma boa amiga guarda segredos para você. Uma melhor amiga ajuda você a guardar os próprios segredos." (pág. 83)
"O pior de tudo é saber que não posso contar para ninguém o que está acontecendo - ou o que aconteceu - comigo. Nem mesmo para minha mãe. Acho que faz anos desde que conversei pela última vez com ela sobre coisas importantes, mas começo a sentir falta dos dias que acreditava que ela podia resolver tudo. É engraçado, não é? Quando se é novo, só se quer crescer, e depois só se quer voltar a ser criança." (pág. 103)
"Eis outra coisa a se lembrar: a esperança o mantém vivo. Mesmo quando você está morto, é a única coisa que o mantém vivo." (pág. 106)
"Eis uma das coisas que aprendi naquela manhã: se você ultrapassar um limite e nada acontece, o limite perde o sentido. É como aquele velho enigma sobre uma árvore caindo em uma floresta, e se ela faz ou não barulho, se não há ninguém por perto para ouvir." (pág. 150)
"É a coisa mais esquisita. Sou popular - muito popular -, mas não tenho tantos amigos. O que é mais estranho é que é a primeira vez que percebo isso." (pág. 172)
"Os detalhes que compõem o padrão especial da minha vida, como em colchas de retalhos, que são especiais por causa dos pequenos defeitos na costura, pequenos espaços, altos-relevos e falhas que jamais podem ser reproduzidos.
Algumas coisas se tornam lindas quando você realmente olha." (pág. 261)
"Eu me lembro de que uma vez assisti a um filme antigo com Lindsay; nele o protagonista falava sobre quanto é triste o fato de que na última vez que a pessoa faz sexo ela não sabe que é a última vez. Como nunca nem tive uma primeira, não sou exatamente uma expert, mas suponho que seja assim para a maioria das coisas na vida - o último beijo, a última risada, a última xícara de café, o último pôr do sol, a última vez em que você salta um borrifador de água ou toma uma casquinha de sorvete, ou põe a língua para fora para pegar flocos de neve. Você simplesmente não sabe." (pág. 315/316)
Autor: Lauren Oliver
Páinas: 358
O início do livro parece uma história normal sobre a vida de uma adolescente: Samantha Kingston, suas amigas, suas colegas de escola, se namorado, seus conflitos de adolescência e por aí vai. De repente a história muda, quando ela descobre que morreu, mas tem a possibilidade de reviver aquele dia novamente.
E assim começa a "segunda parte" do livro quando ela tenta mudar os acontecimentos para se salvar e, sempre acontece alguma coisa que a impede de atingir seu objetivo e ela acaba tendo que reviver novamente o último dia. Com a história no seu ápice, você chega a imaginar vários tipos de finais para o livro e, no meu caso, achei o final decepcionante. Mas talvez é porque eu não tenha sensibilidade para entendê-lo. Quem sabe?
Trechos interessantes:
"A questão é: nós podemos fazer coisas desse tipo. Sabe por quê? Porque somos populares. E somos populares porque podemos sair ilesas de tudo. Então é um círculo vicioso.
Acho que o que estou tentando dizer é que não adianta analisar. Se você desenhar um círculo, sempre haverá um lado de dentro e um lado de fora e, a não ser que você seja completamente idiota, é bem fácil perceber qual é qual. É simplesmente assim que funciona." (pág. 17)
"Não devia ter matado a aula de inglês, isso me deu muito tempo para pensar. E pensar não faz bem a ninguém, independentemente do que digam pais, professores e nerds do clube de ciência." (pág. 41)
"Ele não é muito bom com peitos em geral, para falar a verdade. Quer dizer, não é como se eu soubesse como deveria ser, mas sempre que ele toca meus seios, simplesmente os massageia em círculos, com força. Meu ginecologista faz a mesma coisa quando me examina, então um dos dois tem que estar fazendo errado. E, para ser sincera, não acho que seja o médico." (pág. 50)
"Uma boa amiga guarda segredos para você. Uma melhor amiga ajuda você a guardar os próprios segredos." (pág. 83)
"O pior de tudo é saber que não posso contar para ninguém o que está acontecendo - ou o que aconteceu - comigo. Nem mesmo para minha mãe. Acho que faz anos desde que conversei pela última vez com ela sobre coisas importantes, mas começo a sentir falta dos dias que acreditava que ela podia resolver tudo. É engraçado, não é? Quando se é novo, só se quer crescer, e depois só se quer voltar a ser criança." (pág. 103)
"Eis outra coisa a se lembrar: a esperança o mantém vivo. Mesmo quando você está morto, é a única coisa que o mantém vivo." (pág. 106)
"Eis uma das coisas que aprendi naquela manhã: se você ultrapassar um limite e nada acontece, o limite perde o sentido. É como aquele velho enigma sobre uma árvore caindo em uma floresta, e se ela faz ou não barulho, se não há ninguém por perto para ouvir." (pág. 150)
"É a coisa mais esquisita. Sou popular - muito popular -, mas não tenho tantos amigos. O que é mais estranho é que é a primeira vez que percebo isso." (pág. 172)
"Os detalhes que compõem o padrão especial da minha vida, como em colchas de retalhos, que são especiais por causa dos pequenos defeitos na costura, pequenos espaços, altos-relevos e falhas que jamais podem ser reproduzidos.
Algumas coisas se tornam lindas quando você realmente olha." (pág. 261)
"Eu me lembro de que uma vez assisti a um filme antigo com Lindsay; nele o protagonista falava sobre quanto é triste o fato de que na última vez que a pessoa faz sexo ela não sabe que é a última vez. Como nunca nem tive uma primeira, não sou exatamente uma expert, mas suponho que seja assim para a maioria das coisas na vida - o último beijo, a última risada, a última xícara de café, o último pôr do sol, a última vez em que você salta um borrifador de água ou toma uma casquinha de sorvete, ou põe a língua para fora para pegar flocos de neve. Você simplesmente não sabe." (pág. 315/316)
segunda-feira, 28 de outubro de 2013
Histórias que nunca esqueci
Título: Histórias que nunca esqueci
Autor: Alfred Hitchcock
Páginas: 248
Novamente, mais uma coletânea de histórias de suspense da coleção Alfred Hitchcock. Desta vez são 14 histórias, dos mais variados estilos. O meu gosto pessoal também foi contemplado pois sete das histórias são do meu agrado, o que é raro num livro de coletâneas.
Dentre as que me impressionaram destaco: "A solução Dettweiler", "Vida ou morte" e também "Uma guerra particular". Claro, não são histórias fenomenais, mas as considero acima da média.
Trechos interessantes:
"-Parece muito angustiado, Parker. O que o está perturbando.
-É... Não é nada.
-Tudo é alguma coisa." (pág. 17)
"O prédio lembrou a Walden Swift outro parecido, no qual frequentemente visitara uma jovem que outrora amara. Mas isso acontecera no tempo em que ele era jovem o bastante para acreditar numa moça que lhe dizia para nunca se envolver com as pessoas." (pág. 41)
"Ainda restavam mais cabelos a Seth do que a Porter, embora ele fosse mais velho em três anos. Eu poderia descrevê-los em maiores detalhes, até as cicatrizes, verrugas e marcas distintivas, mas tenho a impressão de que vocês gostariam de ler essas coisas tanto quanto eu apreciaria escrever a respeito. Ou seja, absolutamente nada. Portanto, vamos continuar com a história." (pág. 46)
"-Linda Mae está lhe criando problemas?
-Estava. Passou a ser mais cortês depois que lhe dei uma surra na última vez.
-Deus sabia o que estava fazendo ao criar os homens mais forte do que as mulheres - comentou Porter. - Já imaginou como seria a vida se as mulheres pudessem surrar os maridos, ao invés do contrário?" (pág. 50)
"Há uma lei expressa contra o suicídio em nosso Estado e provavelmente por toda parte. Mas é muito difícil impor o cumprimento dessa lei, tão difícil quanto fazer um bezerro com as quatro pernas quebradas ficar de pé. Não me recordo de ninguém por aqui que tenha sido processado por se matar. E tenho a impressão de que isso nunca acontecerá. Dá para a gente ficar se perguntando o que os homens estavam pensando quando meteram essa lei em particular no código." (pág. 54)
"Ele caminhava pela noite amena como se estivesse em transe. Inválida. Paralisia parcial. Respirador pessoal. Diálise renal.
Chegara bem perto de perdê-la para sempre. E agora acontecia aquilo. Mas que confusão monumental! Myra já era difícil o bastante de suportar quando estava bem... o que quase nunca acontecia. Vinte anos de hipocondria e nunca houvera uma única doença fatal. E agora acontecia aquilo. Uma inválida." (pág. 125)
"O joelho rígido, resquício de um acidente de automóvel cinco anos antes, não doía mais. Era apenas um incômodo às vezes. Mas também um homem se aproximando dos 50 anos, com todos os sonhos de tornar-se um heroi do mundo dos esportes ou outro Fred Astaire, não precisava de articulações flexíveis para ensinar história a alunos do primeiro ano." (pág. 151)
"Michael viera ainda no meio da semana para trabalhar, trazendo as provas de sua última novela. Precisava passar vários dias fazendo as correções. Era a única parte do processo de escrever que realmente apreciava, a última etapa, quando o livro ainda era parte dele. A partir do momento em que aparecesse entre capas, passava a pertencer aos outros." (pág. 228)
Autor: Alfred Hitchcock
Páginas: 248
Novamente, mais uma coletânea de histórias de suspense da coleção Alfred Hitchcock. Desta vez são 14 histórias, dos mais variados estilos. O meu gosto pessoal também foi contemplado pois sete das histórias são do meu agrado, o que é raro num livro de coletâneas.
Dentre as que me impressionaram destaco: "A solução Dettweiler", "Vida ou morte" e também "Uma guerra particular". Claro, não são histórias fenomenais, mas as considero acima da média.
Trechos interessantes:
"-Parece muito angustiado, Parker. O que o está perturbando.
-É... Não é nada.
-Tudo é alguma coisa." (pág. 17)
"O prédio lembrou a Walden Swift outro parecido, no qual frequentemente visitara uma jovem que outrora amara. Mas isso acontecera no tempo em que ele era jovem o bastante para acreditar numa moça que lhe dizia para nunca se envolver com as pessoas." (pág. 41)
"Ainda restavam mais cabelos a Seth do que a Porter, embora ele fosse mais velho em três anos. Eu poderia descrevê-los em maiores detalhes, até as cicatrizes, verrugas e marcas distintivas, mas tenho a impressão de que vocês gostariam de ler essas coisas tanto quanto eu apreciaria escrever a respeito. Ou seja, absolutamente nada. Portanto, vamos continuar com a história." (pág. 46)
"-Linda Mae está lhe criando problemas?
-Estava. Passou a ser mais cortês depois que lhe dei uma surra na última vez.
-Deus sabia o que estava fazendo ao criar os homens mais forte do que as mulheres - comentou Porter. - Já imaginou como seria a vida se as mulheres pudessem surrar os maridos, ao invés do contrário?" (pág. 50)
"Há uma lei expressa contra o suicídio em nosso Estado e provavelmente por toda parte. Mas é muito difícil impor o cumprimento dessa lei, tão difícil quanto fazer um bezerro com as quatro pernas quebradas ficar de pé. Não me recordo de ninguém por aqui que tenha sido processado por se matar. E tenho a impressão de que isso nunca acontecerá. Dá para a gente ficar se perguntando o que os homens estavam pensando quando meteram essa lei em particular no código." (pág. 54)
"Ele caminhava pela noite amena como se estivesse em transe. Inválida. Paralisia parcial. Respirador pessoal. Diálise renal.
Chegara bem perto de perdê-la para sempre. E agora acontecia aquilo. Mas que confusão monumental! Myra já era difícil o bastante de suportar quando estava bem... o que quase nunca acontecia. Vinte anos de hipocondria e nunca houvera uma única doença fatal. E agora acontecia aquilo. Uma inválida." (pág. 125)
"O joelho rígido, resquício de um acidente de automóvel cinco anos antes, não doía mais. Era apenas um incômodo às vezes. Mas também um homem se aproximando dos 50 anos, com todos os sonhos de tornar-se um heroi do mundo dos esportes ou outro Fred Astaire, não precisava de articulações flexíveis para ensinar história a alunos do primeiro ano." (pág. 151)
"Michael viera ainda no meio da semana para trabalhar, trazendo as provas de sua última novela. Precisava passar vários dias fazendo as correções. Era a única parte do processo de escrever que realmente apreciava, a última etapa, quando o livro ainda era parte dele. A partir do momento em que aparecesse entre capas, passava a pertencer aos outros." (pág. 228)
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Um amor como nunca se viu
Título: Um amor como nunca se viu
Autor: Frank Slaughter
Páginas: 228
Se você estiver pensando em ler este livro baseado em seu título, devo dizer que você irá se decepcionar. O título sugere um romance tórrido ou até mesmo meloso, estilo água com açúcar, porém essa impressão é equivocada.
Tudo bem que o casal central tem um romance, mas a história fica em segundo ou terceiro plano. O enfoque principal do livro é sobre um casal de médicos e seus problemas de ordem profissional: ela tentando determinar o sexo de um bebê importante e ele tentando salvar a vida de um amigo que foi baleado. Enfim, uma história comum.
Trechos interessantes:
"-Eu apoio a aprovação da emenda sobre igualdade de direitos. Mas posso assegurar-lhe que isso nada terá a ver, de forma alguma, com o fato de eu tratar da rainha...
-Perdoe-me, doutora - disse Almani -, mas 'rainha' não é o termo. Em Telfa as mulheres escolhidas pelo emir como consortes mantêm esse título até que deem à luz uma criança do sexo masculino; apenas então é lhes permitido assumir o título de rainha." Pág. 53)
"-O senhor está me dizendo que o futuro de um país poderá estar dependendo de um feto que a princesa Zorah tem em seu ventre ser macho ou fêmea?
-A senhora disse-o melhor do que eu poderia ter feito, doutora MacGowan.
-Como médica, o sexo do feto é para mim de muito menos importância do que a vida dele, senhor Longaker.
-Concordo - disse o funcionário do ministério. - Mas, sob a lei de Telfa, e quase em qualquer outra parte do mundo, uma criança que ainda não nasceu não é uma pessoa." (pág. 75)
"-A injeção eliminou a dor - disse Corazón. - A cocaína faria isso se você a estivesse usando em vez de Demerol?
-Provavelmente. Por que você pergunta?
-Estou começando a entender por que algumas pessoas que estiveram doentes por muito tempo podem viciar-se em drogas." (pág. 99)
"[...]
-No entanto há muita discussão hoje em dia acerca de manter as pessoas vivas quando elas já estão mortas de acordo com os padrões que usávamos há poucos anos - disse Pierce ponderadamente. - Uma porção de médicos parece pensar que as funções do corpo devem ser preservadas por tanto tempo quanto possível, sem ligar para o cérebro, embora seja um processo muito dispendioso..." (pág. 147)
"-O carro está mergulhado - explicou Ted -, mas felizmente eu me lembrei de algo que li há muito tempo acerca de como enfrentar uma situação como essa. Nós ficamos dentro do Porsche enquanto ele se enchia de água, e pudemos respirar o ar que ficou preso embaixo do teto. Quando a pressão do ar interno e a do lado de fora se igualaram, abri a porta e nadamos para fora do carro.
-Foi um milagre - disse o policial em tom de espanto.
-O doutor Bronson faz milagres todos os dias, sargento - disse Liz."(pág. 165/166)
"-Olhe aqui, doutor Bronson, lembrei-me daquela passagem da Bíblia que o senhor estava procurando ainda há pouco - disse a senhora Burke. - É a seguinte: 'O maior amor que um homem pode demonstrar é oferecer sua vida em troca da de seus amigos'." (pág. 202)
Autor: Frank Slaughter
Páginas: 228
Se você estiver pensando em ler este livro baseado em seu título, devo dizer que você irá se decepcionar. O título sugere um romance tórrido ou até mesmo meloso, estilo água com açúcar, porém essa impressão é equivocada.
Tudo bem que o casal central tem um romance, mas a história fica em segundo ou terceiro plano. O enfoque principal do livro é sobre um casal de médicos e seus problemas de ordem profissional: ela tentando determinar o sexo de um bebê importante e ele tentando salvar a vida de um amigo que foi baleado. Enfim, uma história comum.
Trechos interessantes:
"-Eu apoio a aprovação da emenda sobre igualdade de direitos. Mas posso assegurar-lhe que isso nada terá a ver, de forma alguma, com o fato de eu tratar da rainha...
-Perdoe-me, doutora - disse Almani -, mas 'rainha' não é o termo. Em Telfa as mulheres escolhidas pelo emir como consortes mantêm esse título até que deem à luz uma criança do sexo masculino; apenas então é lhes permitido assumir o título de rainha." Pág. 53)
"-O senhor está me dizendo que o futuro de um país poderá estar dependendo de um feto que a princesa Zorah tem em seu ventre ser macho ou fêmea?
-A senhora disse-o melhor do que eu poderia ter feito, doutora MacGowan.
-Como médica, o sexo do feto é para mim de muito menos importância do que a vida dele, senhor Longaker.
-Concordo - disse o funcionário do ministério. - Mas, sob a lei de Telfa, e quase em qualquer outra parte do mundo, uma criança que ainda não nasceu não é uma pessoa." (pág. 75)
"-A injeção eliminou a dor - disse Corazón. - A cocaína faria isso se você a estivesse usando em vez de Demerol?
-Provavelmente. Por que você pergunta?
-Estou começando a entender por que algumas pessoas que estiveram doentes por muito tempo podem viciar-se em drogas." (pág. 99)
"[...]
-No entanto há muita discussão hoje em dia acerca de manter as pessoas vivas quando elas já estão mortas de acordo com os padrões que usávamos há poucos anos - disse Pierce ponderadamente. - Uma porção de médicos parece pensar que as funções do corpo devem ser preservadas por tanto tempo quanto possível, sem ligar para o cérebro, embora seja um processo muito dispendioso..." (pág. 147)
"-O carro está mergulhado - explicou Ted -, mas felizmente eu me lembrei de algo que li há muito tempo acerca de como enfrentar uma situação como essa. Nós ficamos dentro do Porsche enquanto ele se enchia de água, e pudemos respirar o ar que ficou preso embaixo do teto. Quando a pressão do ar interno e a do lado de fora se igualaram, abri a porta e nadamos para fora do carro.
-Foi um milagre - disse o policial em tom de espanto.
-O doutor Bronson faz milagres todos os dias, sargento - disse Liz."(pág. 165/166)
"-Olhe aqui, doutor Bronson, lembrei-me daquela passagem da Bíblia que o senhor estava procurando ainda há pouco - disse a senhora Burke. - É a seguinte: 'O maior amor que um homem pode demonstrar é oferecer sua vida em troca da de seus amigos'." (pág. 202)
sábado, 12 de outubro de 2013
O recurso
Título: O recurso
Autor: John Grisham
Páginas: 380
O livro começa com o resultado de um julgamento no qual uma empresa é condenada (justamente) a pagar uma quantia milionária para pessoas simples de uma cidadezinha. Todo o resto do livro é dedicado às tramoias e falcatruas utilizadas pela empresa para recorrer do pagamento da sentença.
Não há como ler o livro sem se deixar influenciar pela história. Ninguém acha que já tem o bastante e, mesmo possuindo milhões, pouco se importa com quem não tem nada. Quanto mais eu vejo que isto não deveria acontecer, mais eu me convenço de que, na realidade, é desta forma que as coisas acontecem.
Trechos interessantes:
"Envolver-se em um julgamento importante é como mergulhar em um lago escuro e pantanoso com um cinto de pedras. Você tenta subir para respirar, mas o resto do mundo não se importa. E você sempre acha que está se afogando." (pág. 14)
"Eles tinham uma filha, de quem Carl poderia facilmente abrir mão. Ele já tinha seis, muitos, pensou. Três eram mais velhos que Brianna. Mas ela insistiu, e por razões óbvias. Um filho dava segurança, e como ela era casada com um homem que adorava mulheres e adorava a instituição do casamento, um filho significava família, laços, raízes e, o que não se mencionava, complicações legais no caso de as coisas desandarem. Um filho era a proteção de que toda esposa troféu precisava." (pág. 32/33)
"Queria um lar, nada mais. Não se importava mais com carros importados e um escritório caro e todos os outros brinquedos que um dia pareceram tão importantes. Queria ser a mãe de seus filhos e queria uma casa para criá-los." (pág. 86)
"O pastor Ott já tinha convencido seu rebanho há muito tempo de que, uma vez que o corpo estava morto e que o espírito subiu ao céu, os rituais mundanos eram bobos e tinham pouco significado. Funerais, velórios, embalsamamento, flores, caixões caros: tudo era um desperdício de tempo e dinheiro. Do pó vieste e ao pó voltarás. Deus nos mandou ao mundo nus, e assim devemos deixá-lo." (pág. 108)
"Seguindo a tradição do Sul, após o último adeus todos se reuniram, levando algum prato de comida, no salão comunitário. Para pessoas tão acostumadas à morte, a refeição pós-enterro permitia que uns chorassem nos ombros dos outros, compartilhando suas lágrimas." (pág. 109)
"Um dia, ele acordou e decidiu que de repente estava apaixonado pela magistratura e já quis começar de cima. É um insulto àqueles que trabalham no Judiciário e o fazem funcionar.
-Duvido que essa candidatura tenha sido ideia dele.
-Não, ele foi escolhido. E isso é ainda mais vergonhoso. Eles procuram, escolhem alguém verde com um sorriso bonito e sem nenhum passado que possa ser usado para atacar, e aí o envolvem no marketing esperto deles. É política. Mas a política não deveria contaminar o Judiciário." (pág. 235)
"A maior responsabilidade da lei é proteger o lado mais fraco da nossa sociedade. Os ricos geralmente conseguem se cuidar sozinhos." (pág. 241)
"Você é uma juíza. Toda vez que toma uma decisão, alguém perde. Esses caras não ligam para a verdade, então podem fazer qualquer coisa parecer feia." (pág. 281)
"[...]Reduzimos a pressão dentro do crânio. Mas o cérebro estava inchado, para ser franco, estava muito inchado. É provável que haja sequelas permanentes.
'Vida' e 'morte' são palavras facilmente compreendidas, mas 'sequela' traz medos que não estão prontamente definidos." (pág. 353/354)
"Naquela época, apenas dois meses atrás, nunca sentira a dor de um pai com um filho ferido. Ou o medo de perder o filho.
Agora, no meio deste pesadelo, ele se lembrou de Aaron de uma forma diferente. Quando leu os relatórios médicos sobre o caso, fizera isso no conforto de seu gabinete, bem longe da realidade. O menino foi gravemente ferido, que pena, mas acidentes acontecem todos os dias." (pág. 355)
Autor: John Grisham
Páginas: 380
O livro começa com o resultado de um julgamento no qual uma empresa é condenada (justamente) a pagar uma quantia milionária para pessoas simples de uma cidadezinha. Todo o resto do livro é dedicado às tramoias e falcatruas utilizadas pela empresa para recorrer do pagamento da sentença.
Não há como ler o livro sem se deixar influenciar pela história. Ninguém acha que já tem o bastante e, mesmo possuindo milhões, pouco se importa com quem não tem nada. Quanto mais eu vejo que isto não deveria acontecer, mais eu me convenço de que, na realidade, é desta forma que as coisas acontecem.
Trechos interessantes:
"Envolver-se em um julgamento importante é como mergulhar em um lago escuro e pantanoso com um cinto de pedras. Você tenta subir para respirar, mas o resto do mundo não se importa. E você sempre acha que está se afogando." (pág. 14)
"Eles tinham uma filha, de quem Carl poderia facilmente abrir mão. Ele já tinha seis, muitos, pensou. Três eram mais velhos que Brianna. Mas ela insistiu, e por razões óbvias. Um filho dava segurança, e como ela era casada com um homem que adorava mulheres e adorava a instituição do casamento, um filho significava família, laços, raízes e, o que não se mencionava, complicações legais no caso de as coisas desandarem. Um filho era a proteção de que toda esposa troféu precisava." (pág. 32/33)
"Queria um lar, nada mais. Não se importava mais com carros importados e um escritório caro e todos os outros brinquedos que um dia pareceram tão importantes. Queria ser a mãe de seus filhos e queria uma casa para criá-los." (pág. 86)
"O pastor Ott já tinha convencido seu rebanho há muito tempo de que, uma vez que o corpo estava morto e que o espírito subiu ao céu, os rituais mundanos eram bobos e tinham pouco significado. Funerais, velórios, embalsamamento, flores, caixões caros: tudo era um desperdício de tempo e dinheiro. Do pó vieste e ao pó voltarás. Deus nos mandou ao mundo nus, e assim devemos deixá-lo." (pág. 108)
"Seguindo a tradição do Sul, após o último adeus todos se reuniram, levando algum prato de comida, no salão comunitário. Para pessoas tão acostumadas à morte, a refeição pós-enterro permitia que uns chorassem nos ombros dos outros, compartilhando suas lágrimas." (pág. 109)
"Um dia, ele acordou e decidiu que de repente estava apaixonado pela magistratura e já quis começar de cima. É um insulto àqueles que trabalham no Judiciário e o fazem funcionar.
-Duvido que essa candidatura tenha sido ideia dele.
-Não, ele foi escolhido. E isso é ainda mais vergonhoso. Eles procuram, escolhem alguém verde com um sorriso bonito e sem nenhum passado que possa ser usado para atacar, e aí o envolvem no marketing esperto deles. É política. Mas a política não deveria contaminar o Judiciário." (pág. 235)
"A maior responsabilidade da lei é proteger o lado mais fraco da nossa sociedade. Os ricos geralmente conseguem se cuidar sozinhos." (pág. 241)
"Você é uma juíza. Toda vez que toma uma decisão, alguém perde. Esses caras não ligam para a verdade, então podem fazer qualquer coisa parecer feia." (pág. 281)
"[...]Reduzimos a pressão dentro do crânio. Mas o cérebro estava inchado, para ser franco, estava muito inchado. É provável que haja sequelas permanentes.
'Vida' e 'morte' são palavras facilmente compreendidas, mas 'sequela' traz medos que não estão prontamente definidos." (pág. 353/354)
"Naquela época, apenas dois meses atrás, nunca sentira a dor de um pai com um filho ferido. Ou o medo de perder o filho.
Agora, no meio deste pesadelo, ele se lembrou de Aaron de uma forma diferente. Quando leu os relatórios médicos sobre o caso, fizera isso no conforto de seu gabinete, bem longe da realidade. O menino foi gravemente ferido, que pena, mas acidentes acontecem todos os dias." (pág. 355)
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Gente como a gente
Título: Gente como a gente
Autor: Judith Guest
Páginas: 238
Para quem se aventura pela área da psicanálise, o livro é um prato cheio. Situações envolvendo conflitos, temores, anseios, não faltam. Aliás, suspeito que esta seja a tônica do livro.
A história, como indica o título, está centrada numa família comum, onde os integrantes passam por várias crises de relacionamento. O enredo não é contado de imediato, pinceladas vão sendo soltas e o leitor vai construindo a história. Um filho tem crise de culpa pela morte do irmão e tenta o suicídio. Pai e mãe tem visões diferentes da situação e tentam encontrar uma forma da família se manter unida.
Trechos interessantes:
"Você não perdeu o senso de humor, mas o seu senso de identidade é que parece estar confuso. Não. Errado. A gente não perde o que nunca teve." (pág. 21)
"Sou o tipo de homem que - que não tem a menor ideia de que tipo de homem eu sou." Pág. 51)
"Não chega a haver propriamente uma resposta, mas, pelo menos, estão batendo um papo. Cal quer manter aberta a porta da comunicação entre eles. Mas como fazer isso? Às vezes, é tão difícil conseguir comunicar-se com aquele misterioso desconhecido que é o seu filho." (pág. 59)
"-Quando fico furioso, fico muito furioso - responde cuidadoso. - Não sei me controlar.
-Eu sei como é - diz Berger. - É como se fosse um armário atulhado. A gente abre a porta e tudo cai.
- Não - diz ele. - Há um cara dentro do armário. O problema é que eu nem sequer o conheço." (pág. 94)
"A dor é terrível. Isola as pessoas. Não é algo para ser partilhado com os outros; é algo para se temer, de que se livrar, e bem depressa. Afastem esses meses, esses dias, essas horas, esses minutos da frente, quanto mais depressa, melhor!" (pág. 117)
"Quando se fala em perder pessoas, Ray é amargo. A gente se preocupa principalmente, diz ele a Cal, com perder os filhos. E, no fim, acaba perdendo-os de qualquer maneira. Então, para que se preocupar? Ele acha que perdeu Valerie para sempre. Mas as coisas mudam, as situações mudam. Pode ser que ela volte. Provavelmente voltará, algum dia, através de um marido, de filhos.
O medo que há por trás do medo de perder as pessoas é que talvez você pudesse ter feito algo para evitar que isso acontecesse." (pág. 148/9)
"Será que não pode haver comunicação sem contaminação? Sem essa de 'Este sou eu lhe dando um conselho'? No fim, isso contribui mais para separar as pessoas do que para uni-las. As pessoas não gostam de conselhos. Deve haver um jeito de dar um recado, sem ser preciso armar-se em santo. Mas será que a necessidade de transmitir uma mensagem já não é, em si, uma prova de que você é um santo?" (pág. 170/1)
"Escute, o que aconteceu hoje de manhã foi que você se permitiu sentir um pouco de dor. O sentimento é um todo, já lhe disse várias vezes. Se você não consegue sentir dor, também não vai conseguir sentir mais nada. E o mundo está cheio de dor. E também de alegria. De maldade. De bondade. De horror e de amor. É só você nomeá-los, e aí estão eles. Por isso, não adianta querer fugir, querer se eximir, entende?" (pág. 205)
"Não sei o que ele quer de mim, nunca soube! Será que ele quer que eu o abrace e beije, quando ele tira uma boa nota em química? Eu não sou capaz disso! Não reajo, quando alguém diz: 'Ei, fiz uma coisa importante, quero que você me ame por isso!' Não sou capaz!" (pág. 215)
"O que está acontecendo, seja o que for, já aconteceu, talvez há anos atrás, as sementes plantadas nas suas diferentes naturezas, nos seus backgrounds, porque tudo o que você pode fazer é, no fundo, o que você é capaz de fazer." (pág. 231)
Autor: Judith Guest
Páginas: 238
Para quem se aventura pela área da psicanálise, o livro é um prato cheio. Situações envolvendo conflitos, temores, anseios, não faltam. Aliás, suspeito que esta seja a tônica do livro.
A história, como indica o título, está centrada numa família comum, onde os integrantes passam por várias crises de relacionamento. O enredo não é contado de imediato, pinceladas vão sendo soltas e o leitor vai construindo a história. Um filho tem crise de culpa pela morte do irmão e tenta o suicídio. Pai e mãe tem visões diferentes da situação e tentam encontrar uma forma da família se manter unida.
Trechos interessantes:
"Você não perdeu o senso de humor, mas o seu senso de identidade é que parece estar confuso. Não. Errado. A gente não perde o que nunca teve." (pág. 21)
"Sou o tipo de homem que - que não tem a menor ideia de que tipo de homem eu sou." Pág. 51)
"Não chega a haver propriamente uma resposta, mas, pelo menos, estão batendo um papo. Cal quer manter aberta a porta da comunicação entre eles. Mas como fazer isso? Às vezes, é tão difícil conseguir comunicar-se com aquele misterioso desconhecido que é o seu filho." (pág. 59)
"-Quando fico furioso, fico muito furioso - responde cuidadoso. - Não sei me controlar.
-Eu sei como é - diz Berger. - É como se fosse um armário atulhado. A gente abre a porta e tudo cai.
- Não - diz ele. - Há um cara dentro do armário. O problema é que eu nem sequer o conheço." (pág. 94)
"A dor é terrível. Isola as pessoas. Não é algo para ser partilhado com os outros; é algo para se temer, de que se livrar, e bem depressa. Afastem esses meses, esses dias, essas horas, esses minutos da frente, quanto mais depressa, melhor!" (pág. 117)
"Quando se fala em perder pessoas, Ray é amargo. A gente se preocupa principalmente, diz ele a Cal, com perder os filhos. E, no fim, acaba perdendo-os de qualquer maneira. Então, para que se preocupar? Ele acha que perdeu Valerie para sempre. Mas as coisas mudam, as situações mudam. Pode ser que ela volte. Provavelmente voltará, algum dia, através de um marido, de filhos.
O medo que há por trás do medo de perder as pessoas é que talvez você pudesse ter feito algo para evitar que isso acontecesse." (pág. 148/9)
"Será que não pode haver comunicação sem contaminação? Sem essa de 'Este sou eu lhe dando um conselho'? No fim, isso contribui mais para separar as pessoas do que para uni-las. As pessoas não gostam de conselhos. Deve haver um jeito de dar um recado, sem ser preciso armar-se em santo. Mas será que a necessidade de transmitir uma mensagem já não é, em si, uma prova de que você é um santo?" (pág. 170/1)
"Escute, o que aconteceu hoje de manhã foi que você se permitiu sentir um pouco de dor. O sentimento é um todo, já lhe disse várias vezes. Se você não consegue sentir dor, também não vai conseguir sentir mais nada. E o mundo está cheio de dor. E também de alegria. De maldade. De bondade. De horror e de amor. É só você nomeá-los, e aí estão eles. Por isso, não adianta querer fugir, querer se eximir, entende?" (pág. 205)
"Não sei o que ele quer de mim, nunca soube! Será que ele quer que eu o abrace e beije, quando ele tira uma boa nota em química? Eu não sou capaz disso! Não reajo, quando alguém diz: 'Ei, fiz uma coisa importante, quero que você me ame por isso!' Não sou capaz!" (pág. 215)
"O que está acontecendo, seja o que for, já aconteceu, talvez há anos atrás, as sementes plantadas nas suas diferentes naturezas, nos seus backgrounds, porque tudo o que você pode fazer é, no fundo, o que você é capaz de fazer." (pág. 231)
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
Uma breve história do mundo
Título: Uma breve história do tempo
Autor: Geoffrey Blainey
Páginas: 336
É como o título diz: uma visão resumida da história do mundo. Do surgimento do ser humano até os dias de hoje, vários aspectos estão descritos no livro, mostrando a importância e o significado de cada um.
Pessoas ilustres são citadas e ainda outras que, mesmo não sendo tão famosas, tiveram grande importância no desenvolvimento da humanidade. O livro é uma aula de história, mas uma aula agradável, sem aquele amontoado de dados jogados a esmo que se aprende na escola.
Trechos interessantes:
"Nas palavras de um médico especialista, em uma atividade complexa como a fala, 'a interação das partes do cérebro não se assemelha ao sistema de uma máquina, mas a uma colcha de retalhos'. Seja qual for sua origem, a fala é a maior de todas as invenções." (pág. 12)
"Uma tribo em constante movimento não podia cuidar dos doentes e dos que não suportavam longas caminhadas. Até bebês gêmeos representavam grande transtorno, e provavelmente um dos dois era morto. Os mais idosos, que já não podiam andar, eram abandonados para morrer. Em uma sociedade itinerante, não havia alternativa." (pág. 15)
"O papel, que é quase a essência da burocracia, é uma invenção do Egito." (pág. 50)
"Nenhum outro pedaço de água salgada exerceu uma influência tão ampla sobre o nascimento do mundo atual quanto o Mar Mediterrâneo. Não fosse esse mar, com suas qualidades peculiares e sua localização extraordinária, a vida política, econômica, social e cultural do mundo teria tomado outro rumo." (pág. 60)
"Seus ensinamentos [Buda] foram mais tarde resumidos pelo político indiano Mahatma Gandhi nestas palavras: 'A vida não é feita de prazeres, mas de responsabilidades'." (pág. 83)
"Por que o Império Romano veio a decair? [...] As causas da decadência foram internas. É quase certo que a questão mais importante - e de mais difícil compreensão - seja: por que o império durou tanto tempo? Ascensão e queda constituem o padrão normal das instituições humanas. É mais fácil subir que permanecer no topo." (pág. 109)
"Uma peste é como um turista compulsivo: cria ânimo quando um novo caminho é aberto. A invasão dos mongóis, com sua presença unificadora sobre uma imensa área da Ásia, ressuscitou o comércio ao longo de antigas rotas de caravanas e abriu caminho para a peste bubônica avançar rumo ao noroeste, em direção à Europa. Nos portos europeus, ratos e pulgas foram os portadores da doença." (pág. 149)
"Acreditava-se que os santos mantinham sob vigilância um depósito de misericórdias e indulgências, das quais uma porção podia ser distribuída a pecadores ricos que, no último momento, desejassem a salvação e pudessem pagar por ela. Algumas indulgências e concessões, dadas em troca de dinheiro ou de serviços prestados, tinham uma sólida base espiritual." (pág. 179)
"Finalmente, em 1582, o papa Gregório XIII resolveu agir. Usando os cálculos de Luigi Ghiraldi, astrônomo e médico de Nápoles, anunciou a solução: naquele ano, eliminaria os 10 dias que iam de 5 a 14 de outubro. Em suma, o calendário seria atualizado com um golpe de caneta. O futuro receberia o mesmo tratamento. Como corretivo a longo prazo, o novo sistema estabeleceu cálculos para determinar quais anos seriam bissextos e quais não." (pág. 213)
"Quando o jovem poeta londrino John Keats escreveu as palavras 'muito viajei nos reinos de ouro e muitos estados e reinos formosos encontrei', ele queria dizer que viajava pela leitura. Nessa época, nunca havia se afastado muito de seu local de nascimento." (pág. 251/252)
"Na África, um dos famoso exploradores foi David Livingstone, um operário fabril escocês que se tornara missionário cristão. Já o médico Albert Schweitzer, nascido na Alsácia, passou a maior parte da vida ajudando as vítimas da lepra e da doença do sono no Gabão. Missionários, como o padre Damien, de origem belga, que morreu enquanto ajudava os leprosos no Havaí, eram os heróis do povo numa época em que ainda não se pensava em aclamar com tal título os jogadores de futebol." (pág. 284)
"Às vezes, reclamava-se em sussurros - já que tal pensamento era uma verdadeira heresia - que, se o conhecimento e a sabedoria eram realmente tão importantes, por que a maioria dos especialistas se contentava com a posse de uma porção tão pequena e concentrada deles?" (pág. 287)
"Nada parecido fora visto na história do mundo. É comum que a culpa recaia sobre os generais, mas, na maioria dos países em guerra, até as mães, esposas e namoradas inicialmente apoiavam os conflitos, acreditando, com a ajuda da propaganda, que o incessante derramamento de sangue terminaria milagrosamente com a derrota do inimigo exausto." (pág. 293)
"O verão da fartura cedia seu lugar a um inverno de contenções. Thomas Hood, poeta inglês, uma vez escreveu:
Nem frutas, nem flores, nem folhas, nem pássaros - Novembro!" (pág. 319)
Autor: Geoffrey Blainey
Páginas: 336
É como o título diz: uma visão resumida da história do mundo. Do surgimento do ser humano até os dias de hoje, vários aspectos estão descritos no livro, mostrando a importância e o significado de cada um.
Pessoas ilustres são citadas e ainda outras que, mesmo não sendo tão famosas, tiveram grande importância no desenvolvimento da humanidade. O livro é uma aula de história, mas uma aula agradável, sem aquele amontoado de dados jogados a esmo que se aprende na escola.
Trechos interessantes:
"Nas palavras de um médico especialista, em uma atividade complexa como a fala, 'a interação das partes do cérebro não se assemelha ao sistema de uma máquina, mas a uma colcha de retalhos'. Seja qual for sua origem, a fala é a maior de todas as invenções." (pág. 12)
"Uma tribo em constante movimento não podia cuidar dos doentes e dos que não suportavam longas caminhadas. Até bebês gêmeos representavam grande transtorno, e provavelmente um dos dois era morto. Os mais idosos, que já não podiam andar, eram abandonados para morrer. Em uma sociedade itinerante, não havia alternativa." (pág. 15)
"O papel, que é quase a essência da burocracia, é uma invenção do Egito." (pág. 50)
"Nenhum outro pedaço de água salgada exerceu uma influência tão ampla sobre o nascimento do mundo atual quanto o Mar Mediterrâneo. Não fosse esse mar, com suas qualidades peculiares e sua localização extraordinária, a vida política, econômica, social e cultural do mundo teria tomado outro rumo." (pág. 60)
"Seus ensinamentos [Buda] foram mais tarde resumidos pelo político indiano Mahatma Gandhi nestas palavras: 'A vida não é feita de prazeres, mas de responsabilidades'." (pág. 83)
"Por que o Império Romano veio a decair? [...] As causas da decadência foram internas. É quase certo que a questão mais importante - e de mais difícil compreensão - seja: por que o império durou tanto tempo? Ascensão e queda constituem o padrão normal das instituições humanas. É mais fácil subir que permanecer no topo." (pág. 109)
"Uma peste é como um turista compulsivo: cria ânimo quando um novo caminho é aberto. A invasão dos mongóis, com sua presença unificadora sobre uma imensa área da Ásia, ressuscitou o comércio ao longo de antigas rotas de caravanas e abriu caminho para a peste bubônica avançar rumo ao noroeste, em direção à Europa. Nos portos europeus, ratos e pulgas foram os portadores da doença." (pág. 149)
"Acreditava-se que os santos mantinham sob vigilância um depósito de misericórdias e indulgências, das quais uma porção podia ser distribuída a pecadores ricos que, no último momento, desejassem a salvação e pudessem pagar por ela. Algumas indulgências e concessões, dadas em troca de dinheiro ou de serviços prestados, tinham uma sólida base espiritual." (pág. 179)
"Finalmente, em 1582, o papa Gregório XIII resolveu agir. Usando os cálculos de Luigi Ghiraldi, astrônomo e médico de Nápoles, anunciou a solução: naquele ano, eliminaria os 10 dias que iam de 5 a 14 de outubro. Em suma, o calendário seria atualizado com um golpe de caneta. O futuro receberia o mesmo tratamento. Como corretivo a longo prazo, o novo sistema estabeleceu cálculos para determinar quais anos seriam bissextos e quais não." (pág. 213)
"Quando o jovem poeta londrino John Keats escreveu as palavras 'muito viajei nos reinos de ouro e muitos estados e reinos formosos encontrei', ele queria dizer que viajava pela leitura. Nessa época, nunca havia se afastado muito de seu local de nascimento." (pág. 251/252)
"Na África, um dos famoso exploradores foi David Livingstone, um operário fabril escocês que se tornara missionário cristão. Já o médico Albert Schweitzer, nascido na Alsácia, passou a maior parte da vida ajudando as vítimas da lepra e da doença do sono no Gabão. Missionários, como o padre Damien, de origem belga, que morreu enquanto ajudava os leprosos no Havaí, eram os heróis do povo numa época em que ainda não se pensava em aclamar com tal título os jogadores de futebol." (pág. 284)
"Às vezes, reclamava-se em sussurros - já que tal pensamento era uma verdadeira heresia - que, se o conhecimento e a sabedoria eram realmente tão importantes, por que a maioria dos especialistas se contentava com a posse de uma porção tão pequena e concentrada deles?" (pág. 287)
"Nada parecido fora visto na história do mundo. É comum que a culpa recaia sobre os generais, mas, na maioria dos países em guerra, até as mães, esposas e namoradas inicialmente apoiavam os conflitos, acreditando, com a ajuda da propaganda, que o incessante derramamento de sangue terminaria milagrosamente com a derrota do inimigo exausto." (pág. 293)
"O verão da fartura cedia seu lugar a um inverno de contenções. Thomas Hood, poeta inglês, uma vez escreveu:
Nem frutas, nem flores, nem folhas, nem pássaros - Novembro!" (pág. 319)
sábado, 14 de setembro de 2013
O mistério de Sittaford
Título: O mistério de Sittaford
Autor: Agatha Christie
Páginas: 220
Depois de ter lido inúmeros livros da "Rainha do crime", ainda não me acostumei à ausência de Mrs. Marple ou Hercule Poirot como personagem principal. Parece que fica faltando alguma coisa para dar consistência à história. Eu sei que é implicância minha, mas é como me sinto.
A história em si não tem novidades: um homem é assassinado, muitos teriam motivo mas, aparentemente, ninguém teria a oportunidade e a culpa inicialmente cai sobre aquele que não tem um álibi. O inspetor local e a namorada do acusado se desdobram para provar que o culpado é, como seria de imaginar, o menos provável.
Trechos interessantes:
"Uma jovem bonita, um tanto magra, sem dúvida, mas afinal todas as moças tinham esse tipo atualmente. Entretanto nos jornais liam-se que as curvas estavam voltando, o que já não era sem tempo. Afinal o que haveria de bom numa mulher se ela não se parecesse exatamente com o que é: uma mulher?" (pág. 12)
"Minha experiência me diz, sargento, que um homem que faz inimizades num lugar poderá criá-las em outro, mas admito que não podemos colocar inteiramente de lado essa possibilidade." (pág. 30/31)
"Ele não era um homem muito simpático... Estou certa de que não o foi. E nem uma pessoa a quem se pudesse recorrer numa dificuldade qualquer, sempre exigente e crítico. Não era o tipo de homem que soubesse aquilatar o valor da literatura. O sucesso... o verdadeiro êxito nem sempre é avaliado em termos de dinheiro, inspetor." (pág. 70)
"Na verdade o que queria era transformar o Sr. Enderby numa espécie de detetive particular a seu serviço. Para ir onde ela lhe indicasse, fazer as perguntas que ela própria gostaria de formular e ser como um servidor seu, de modo geral. Mas tinha consciência da necessidade de disfarçar essa intenção com palavras lisonjeiras e amáveis. Na realidade, ela seria o patrão, no caso, mas precisava de tato para persuadir o Sr. Enderby." (pág. 78)
"Desejaria, de todo coração, ter conhecido, nem que fosse apenas de passagem, o falecido capitão. É tão difícil formar uma opinião sobre uma pessoa que nunca se viu [...]." (pág. 107)
"[...]Num lugar como este tem-se que ensinar as pessoas a deixarem um homem em paz. Estão sempre batendo à nossa porta, se insinuando e bisbilhotando. Não me incomodo de ver pessoas aqui quando estou disposto... mas tem que ser a meu modo e não do delas. Nem o velho Trevelyan, com seus ares de senhor feudal, entrava aqui quando queria. Não há viva alma neste lugar que me venha incomodar agora." (pág. 124)
Autor: Agatha Christie
Páginas: 220
Depois de ter lido inúmeros livros da "Rainha do crime", ainda não me acostumei à ausência de Mrs. Marple ou Hercule Poirot como personagem principal. Parece que fica faltando alguma coisa para dar consistência à história. Eu sei que é implicância minha, mas é como me sinto.
A história em si não tem novidades: um homem é assassinado, muitos teriam motivo mas, aparentemente, ninguém teria a oportunidade e a culpa inicialmente cai sobre aquele que não tem um álibi. O inspetor local e a namorada do acusado se desdobram para provar que o culpado é, como seria de imaginar, o menos provável.
Trechos interessantes:
"Uma jovem bonita, um tanto magra, sem dúvida, mas afinal todas as moças tinham esse tipo atualmente. Entretanto nos jornais liam-se que as curvas estavam voltando, o que já não era sem tempo. Afinal o que haveria de bom numa mulher se ela não se parecesse exatamente com o que é: uma mulher?" (pág. 12)
"Minha experiência me diz, sargento, que um homem que faz inimizades num lugar poderá criá-las em outro, mas admito que não podemos colocar inteiramente de lado essa possibilidade." (pág. 30/31)
"Ele não era um homem muito simpático... Estou certa de que não o foi. E nem uma pessoa a quem se pudesse recorrer numa dificuldade qualquer, sempre exigente e crítico. Não era o tipo de homem que soubesse aquilatar o valor da literatura. O sucesso... o verdadeiro êxito nem sempre é avaliado em termos de dinheiro, inspetor." (pág. 70)
"Na verdade o que queria era transformar o Sr. Enderby numa espécie de detetive particular a seu serviço. Para ir onde ela lhe indicasse, fazer as perguntas que ela própria gostaria de formular e ser como um servidor seu, de modo geral. Mas tinha consciência da necessidade de disfarçar essa intenção com palavras lisonjeiras e amáveis. Na realidade, ela seria o patrão, no caso, mas precisava de tato para persuadir o Sr. Enderby." (pág. 78)
"Desejaria, de todo coração, ter conhecido, nem que fosse apenas de passagem, o falecido capitão. É tão difícil formar uma opinião sobre uma pessoa que nunca se viu [...]." (pág. 107)
"[...]Num lugar como este tem-se que ensinar as pessoas a deixarem um homem em paz. Estão sempre batendo à nossa porta, se insinuando e bisbilhotando. Não me incomodo de ver pessoas aqui quando estou disposto... mas tem que ser a meu modo e não do delas. Nem o velho Trevelyan, com seus ares de senhor feudal, entrava aqui quando queria. Não há viva alma neste lugar que me venha incomodar agora." (pág. 124)
sábado, 7 de setembro de 2013
Memórias de uma gueixa
Título: Memórias de uma gueixa
Autor: Arthur Golden
Páginas: 458
A cultura japonesa sempre me fascinou. Tenho a impressão de que é um país que parou no tempo, com seus costumes, tradições, sua história enfim. Parece sempre guardar uma aura de tranquilidade, com seus belos jardins e aquele caminhar suave das pessoas, com gestos macios e ritmados... Ou seja, a mim parece sempre uma imagem poética.
O livro, como eu esperava, traz um pouco dessa magia, contando a história de vida de uma gueixa. É interessante notar como nós, ocidentais, temos uma visão deformada a respeito dos hábitos e costumes de outros povos. O livro nos mostra que a vida de uma gueixa é dificuldade e sofrimento, mas também beleza e glamour.
Trechos interessantes:
"Em criança eu achava que o oceano tinha um resfriado terrível, porque estava sempre chiando, e em certos acessos soltava um espirro enorme - o que significa uma lufada de vento com respingos tremendos." (pág. 10)
"Eu nunca tinha visto um automóvel. Vira fotografias, mas me lembro de ter ficado surpresa de ver como... bem, como pareciam cruéis, por eu estar tão assustada, como se se destinassem antes a machucar pessoas do que a ajudá-las." (pág. 40)
"Devo lhe dizer algo sobre pescoços no Japão, se ainda não sabe; é que via de regra os homens japoneses sentem a respeito de um pescoço e garganta de mulher o mesmo que os homens no Ocidente podem sentir com relação às pernas. É por isso que as gueixas usam as golas de seus quimonos tão abertas atrás que se veem as primeiras vértebras de sua espinha; suponho que é como uma mulher em Paris usando saia bem curta." (pág. 69)
"-Nenhum de nós recebe neste mundo a bondade que deveria receber - ele me disse, e por um momento apertou os olhos como para dizer que eu refletisse a sério naquilo." (pág. 122)
"Nós humanos somos apenas parte de algo muito maior. Quando caminhamos podemos esmagar um besouro, ou simplesmente causar alguma agitação no ar, de modo que uma mosca pouse onde de outra forma não iria parar. E se pensarmos no mesmo exemplo, mas conosco em lugar do inseto, e com o universo no papel que nós tínhamos desempenhado, fica perfeitamente claro que todos os dias somos afetados por forças que não controlamos, assim como o pobre besouro não controla nosso gigantesco pé descendo sobre ele." (pág. 137)
"Não fingirei que nunca vinha gente pobre a Gion, mas raramente víamos alguém como aqueles camponeses famintos, pobres demais até para tomarem banho. Eu jamais teria imaginado que eu - uma escrava aterrorizada pela maldade de Hatsumomo - tivesse uma vida relativamente afortunada durante a Grande Depressão. Mas naquele dia entendi que era verdade." (pág. 198)
"A dor é uma coisa muito esquisita; ficamos tão desamparados diante dela. É como uma janela que simplesmente se abre conforme seu próprio capricho. O aposento fica frio, e nada podemos fazer senão tremer. Mas abre-se menos cada vez, e menos ainda. E um dia nos espantamos porque ela se foi." (pág. 271)
"Fiquei pensando em quanto aquele homem pagara por aquele privilégio. E lembro-me de que a certa altura desejei que ele estivesse se divertindo mais do que eu. Não senti mais prazer do que se alguém tivesse esfregando uma lixa dentro de minhas coxas até eu sangrar." (pág. 300)
"-Você tem dezoito anos, Sayuri - prossegui ela. - Nem você nem eu sabemos qual é o seu destino. E talvez você nunca saiba! O destino não é sempre como uma festa no fim da tarde. Às vezes é apenas lutar na vida, dia após dia." (pág. 311)
"-Não podemos perder tempo pensando nessas coisas. Nada é mais triste do que o futuro exceto talvez o passado." (pág. 354)
"Fui ao nosso okiya e olhei saudosa a pesada fechadura de ferro na porta. Quando estava trancada lá dentro, eu queria sair. Agora a vida mudara tanto que, estando trancada do lado de fora, eu queria entrar de novo. Mas era uma mulher adulta agora - livre, se eu quisesse, para sair de Gion e nunca mais voltar." (pág. 370)
"Embora deva dizer que só depois de viver longo tempo num estado de contentamento pude finalmente olhar para trás e admitir quanto minha vida fora desolada. Estou certa de que de outro modo jamais poderia ter contado minha história. Acho que ninguém pode falar da dor enquanto ainda a sofre." (pág. 441)
"Segurava a bengala com suas duas frágeis mãos, de olhos fechados, e inspirava profundamente o aroma do passado.
-Às vezes - suspirou ele - acho que as coisas que recordo são mais reais do que as que vejo." (pág. 449/450)
Autor: Arthur Golden
Páginas: 458
A cultura japonesa sempre me fascinou. Tenho a impressão de que é um país que parou no tempo, com seus costumes, tradições, sua história enfim. Parece sempre guardar uma aura de tranquilidade, com seus belos jardins e aquele caminhar suave das pessoas, com gestos macios e ritmados... Ou seja, a mim parece sempre uma imagem poética.
O livro, como eu esperava, traz um pouco dessa magia, contando a história de vida de uma gueixa. É interessante notar como nós, ocidentais, temos uma visão deformada a respeito dos hábitos e costumes de outros povos. O livro nos mostra que a vida de uma gueixa é dificuldade e sofrimento, mas também beleza e glamour.
Trechos interessantes:
"Em criança eu achava que o oceano tinha um resfriado terrível, porque estava sempre chiando, e em certos acessos soltava um espirro enorme - o que significa uma lufada de vento com respingos tremendos." (pág. 10)
"Eu nunca tinha visto um automóvel. Vira fotografias, mas me lembro de ter ficado surpresa de ver como... bem, como pareciam cruéis, por eu estar tão assustada, como se se destinassem antes a machucar pessoas do que a ajudá-las." (pág. 40)
"Devo lhe dizer algo sobre pescoços no Japão, se ainda não sabe; é que via de regra os homens japoneses sentem a respeito de um pescoço e garganta de mulher o mesmo que os homens no Ocidente podem sentir com relação às pernas. É por isso que as gueixas usam as golas de seus quimonos tão abertas atrás que se veem as primeiras vértebras de sua espinha; suponho que é como uma mulher em Paris usando saia bem curta." (pág. 69)
"-Nenhum de nós recebe neste mundo a bondade que deveria receber - ele me disse, e por um momento apertou os olhos como para dizer que eu refletisse a sério naquilo." (pág. 122)
"Nós humanos somos apenas parte de algo muito maior. Quando caminhamos podemos esmagar um besouro, ou simplesmente causar alguma agitação no ar, de modo que uma mosca pouse onde de outra forma não iria parar. E se pensarmos no mesmo exemplo, mas conosco em lugar do inseto, e com o universo no papel que nós tínhamos desempenhado, fica perfeitamente claro que todos os dias somos afetados por forças que não controlamos, assim como o pobre besouro não controla nosso gigantesco pé descendo sobre ele." (pág. 137)
"Não fingirei que nunca vinha gente pobre a Gion, mas raramente víamos alguém como aqueles camponeses famintos, pobres demais até para tomarem banho. Eu jamais teria imaginado que eu - uma escrava aterrorizada pela maldade de Hatsumomo - tivesse uma vida relativamente afortunada durante a Grande Depressão. Mas naquele dia entendi que era verdade." (pág. 198)
"A dor é uma coisa muito esquisita; ficamos tão desamparados diante dela. É como uma janela que simplesmente se abre conforme seu próprio capricho. O aposento fica frio, e nada podemos fazer senão tremer. Mas abre-se menos cada vez, e menos ainda. E um dia nos espantamos porque ela se foi." (pág. 271)
"Fiquei pensando em quanto aquele homem pagara por aquele privilégio. E lembro-me de que a certa altura desejei que ele estivesse se divertindo mais do que eu. Não senti mais prazer do que se alguém tivesse esfregando uma lixa dentro de minhas coxas até eu sangrar." (pág. 300)
"-Você tem dezoito anos, Sayuri - prossegui ela. - Nem você nem eu sabemos qual é o seu destino. E talvez você nunca saiba! O destino não é sempre como uma festa no fim da tarde. Às vezes é apenas lutar na vida, dia após dia." (pág. 311)
"-Não podemos perder tempo pensando nessas coisas. Nada é mais triste do que o futuro exceto talvez o passado." (pág. 354)
"Fui ao nosso okiya e olhei saudosa a pesada fechadura de ferro na porta. Quando estava trancada lá dentro, eu queria sair. Agora a vida mudara tanto que, estando trancada do lado de fora, eu queria entrar de novo. Mas era uma mulher adulta agora - livre, se eu quisesse, para sair de Gion e nunca mais voltar." (pág. 370)
"Embora deva dizer que só depois de viver longo tempo num estado de contentamento pude finalmente olhar para trás e admitir quanto minha vida fora desolada. Estou certa de que de outro modo jamais poderia ter contado minha história. Acho que ninguém pode falar da dor enquanto ainda a sofre." (pág. 441)
"Segurava a bengala com suas duas frágeis mãos, de olhos fechados, e inspirava profundamente o aroma do passado.
-Às vezes - suspirou ele - acho que as coisas que recordo são mais reais do que as que vejo." (pág. 449/450)
domingo, 1 de setembro de 2013
Aquela canção
Título: Aquela canção
Autor: Publifolha
Páginas: 176
O livro reúne 12 contos, cada um de autor diferente e desenvolvido em torno de uma canção popular. O livro traz também um CD com as músicas que serviram de inspiração para a criação dos contos. No início de cada conto há também a letra da música relacionada.
Como são autores e estilos diferentes, gostei da maioria, exceto uns quatro que não soube apreciar. Mas trata-se de gosto pessoal, nem sempre se pode agradar a todos. Qualidade todos têm, portanto a seleção vai do estilo de cada um.
Trechos interessantes:
"De modo que eu te peço, pelo amor que você teve ao seu cachorro que morreu, e que foi a melhor companhia que você teve na vida, como faz questão de me lembrar quase todos os dias, que seja a última vez que vamos falar nesse assunto." (pág. 8)
"Chamava-se Napoleão. Nome pomposo demais para um rapaz magrinho, moreno, desmilinguido, desdentado. Mas representava a esperança de seu pai, já falecido, que ao batizá-lo assim pensara num futuro glorioso para o filho." (pág. 49)
"Enfim, o Rancho Fundo não fica bem pra lá do fim do mundo. Ou talvez fique, mas a verdade é que o fim do mundo não é tão ruim quanto parece." (pág. 57)
"A sorte masculina é que, na geografia feminina, a vulva fica mais próxima do coração do que da cabeça." (pág. 83)
"Naquela época eu já perdera o brilhante futuro que, num passado recente, alguns críticos me haviam prometido." (pág. 87)
"Dona Marta morreu atingida a tiro por um assaltante, num subúrbio de Roma, cidade de onde viera a sua família, e para onde se mudara com medo da violência no Brasil." (pág. 92)
"Fico o tempo todo pressentido que vou perder a visão. Esse medo vai crescendo durante o sonho, até que acordo assustado. Aí é que o susto aumenta até virar pânico, porque me lembro de repente que já estou cego. O quarto está totalmente escuro, mas sei que não é só porque ainda não amanheceu: é porque não vai amanhecer. Entende? O verdadeiro pesadelo começa quando acordo." (pág. 115/116)
"Se o coração acelerava, que acelerasse. Se naquele mundo do circo tanta coisa se fingia, era porque as coisas fingidas são mais verdadeiras, e nenhuma dor, nenhuma vergonha admitia ser varrida para baixo do tapete." (pág. 171)
Autor: Publifolha
Páginas: 176
O livro reúne 12 contos, cada um de autor diferente e desenvolvido em torno de uma canção popular. O livro traz também um CD com as músicas que serviram de inspiração para a criação dos contos. No início de cada conto há também a letra da música relacionada.
Como são autores e estilos diferentes, gostei da maioria, exceto uns quatro que não soube apreciar. Mas trata-se de gosto pessoal, nem sempre se pode agradar a todos. Qualidade todos têm, portanto a seleção vai do estilo de cada um.
Trechos interessantes:
"De modo que eu te peço, pelo amor que você teve ao seu cachorro que morreu, e que foi a melhor companhia que você teve na vida, como faz questão de me lembrar quase todos os dias, que seja a última vez que vamos falar nesse assunto." (pág. 8)
"Chamava-se Napoleão. Nome pomposo demais para um rapaz magrinho, moreno, desmilinguido, desdentado. Mas representava a esperança de seu pai, já falecido, que ao batizá-lo assim pensara num futuro glorioso para o filho." (pág. 49)
"Enfim, o Rancho Fundo não fica bem pra lá do fim do mundo. Ou talvez fique, mas a verdade é que o fim do mundo não é tão ruim quanto parece." (pág. 57)
"A sorte masculina é que, na geografia feminina, a vulva fica mais próxima do coração do que da cabeça." (pág. 83)
"Naquela época eu já perdera o brilhante futuro que, num passado recente, alguns críticos me haviam prometido." (pág. 87)
"Dona Marta morreu atingida a tiro por um assaltante, num subúrbio de Roma, cidade de onde viera a sua família, e para onde se mudara com medo da violência no Brasil." (pág. 92)
"Fico o tempo todo pressentido que vou perder a visão. Esse medo vai crescendo durante o sonho, até que acordo assustado. Aí é que o susto aumenta até virar pânico, porque me lembro de repente que já estou cego. O quarto está totalmente escuro, mas sei que não é só porque ainda não amanheceu: é porque não vai amanhecer. Entende? O verdadeiro pesadelo começa quando acordo." (pág. 115/116)
"Se o coração acelerava, que acelerasse. Se naquele mundo do circo tanta coisa se fingia, era porque as coisas fingidas são mais verdadeiras, e nenhuma dor, nenhuma vergonha admitia ser varrida para baixo do tapete." (pág. 171)
domingo, 25 de agosto de 2013
Rosinha, minha canoa
Título: Rosinha,minha canoa
Autor: José Mauro de Vasconcelos
Páginas: 204
Zé Orocó é um sujeito simples, amigo de todos os índios e que vive subindo e descendo os rios com sua canoa. Só tem um problema: Zé orocó conversa com sua canoa, tratando-a como um ser humano. Um dia, chega um médico ao povoado, descobre o "problema" de Zé Orocó e resolve interná-lo para que seja curado.
Um sujeito que nunca fez mal a ninguém e que é estimado por todos, de repente, é jogado num manicômio e fica ali vegetando, enquanto a vida passa por ele. Por que uma coisa simples, que ajuda o homem do interior a suportar a dureza do dia a dia, prejudica tanto os homens que vivem na cidade e nada sabem do sertão?
Trechos interessantes:
"Diversas vezes ele demonstrara o seu jeito de compreender um mundo. Mar era coisa que não existia mesmo. O máximo da coisa era o rio dividindo a terra. Rio, sabia que havia muito, mas mar!... Onde se viu uma besteirada daquelas? Um aguão absurdo cheio de sal? Só a gente besta podia acreditar naquilo. Como é que podia ser? Então não chovia nunca em cima do mar? E se chovesse, como é que o sal não se dissolvia? E se não chovesse, como é que o mar enchia sempre, conforme contavam?..." (pág. 17)
"- Sabe de uma coisa, dotô? Eu corri mais foi dela. Essa coisona aí sem jeito cum vóis de fêmea qui nunca encontrô macho deu em cima de mim qui num foi vida. Munta veis eu vinha carreteando o gado e ela tava lá na pinguela da Matroca, sentada em cima dos morão, cum as perna balançano, cum a saia alevantada, dano corrente de ar na aranha, pensano qui eu quiria quarqué coisa. Mais cumigo não, muié tem que sê gente e não essa melancia espetada em duas flecha..." (pág. 19)
"A chuva bocejou:
- Viu, minha filha? Não é assim tão difícil nascer.
- Mas dói um pouco...
- Se não doesse a vida não teria preço." (pág. 34)
"- Que é garimpeiro?
- Uma espécie de homem que pega diamante.
- E o que é diamante?
- Diamantes são pedacinhos de gotas do Sol que caem dentro dos rios e se transformam em estrelas que viram diamantes. Os homens se matam por causa dos diamantes." (pág. 40)
"Lembrou-se de que, quando era menino e estudava na cidade, nos colégios de padres, o exemplo que davam da Eternidade era assim: 'Se um pombo, de mil em mil anos, viesse à Terra e levasse um grãozinho de areia de cada vez, quando se gastasse a areia do mundo inteiro a Eternidade ainda estaria começando'. Mas que besteira, Deus do Céu! Onde já se viu um pombo com uma desgraçada de uma vida tão comprida?" (pág. 78)
"A velha lá de dentro fez parar o reumatismo e cortou o frio:
- Minha fia, pulo amô de Deus! Dexe de falá nessa palavra senão minhã a gente sofre de um naufrage...
Chica Doida se impacientou:
- E agaranto que seria mió do que vivê penano de romatismo nesse raio de mundo. Que diabo os véio que já vevero tanto tem tanto medo da morte?" (pág. 90)
"Ia morrer. Morrer de todo, porque desde que a gente nasce vai morrendo aos pedacinhos, como se fosse um jogo de dor para armar. Quando fica completo, então pronto, rebenta, some, descansa." (pág. 161)
"Voltou da mesma maneira e se sentou perto de Zé orocó, alisando a dorzinha dos rins.
-Tamo véio, Zé orocó!
-É, Frô,a gente passa e a vida fica.
Foi tudo que disseram deles. Depois começaram uma conversa sobre a vida dos outros, porque velho mesmo só serve para acompanhar o que vem ou o que foi. Eles sabiam disso e se respeitavam." (pág. 180)
Autor: José Mauro de Vasconcelos
Páginas: 204
Zé Orocó é um sujeito simples, amigo de todos os índios e que vive subindo e descendo os rios com sua canoa. Só tem um problema: Zé orocó conversa com sua canoa, tratando-a como um ser humano. Um dia, chega um médico ao povoado, descobre o "problema" de Zé Orocó e resolve interná-lo para que seja curado.
Um sujeito que nunca fez mal a ninguém e que é estimado por todos, de repente, é jogado num manicômio e fica ali vegetando, enquanto a vida passa por ele. Por que uma coisa simples, que ajuda o homem do interior a suportar a dureza do dia a dia, prejudica tanto os homens que vivem na cidade e nada sabem do sertão?
Trechos interessantes:
"Diversas vezes ele demonstrara o seu jeito de compreender um mundo. Mar era coisa que não existia mesmo. O máximo da coisa era o rio dividindo a terra. Rio, sabia que havia muito, mas mar!... Onde se viu uma besteirada daquelas? Um aguão absurdo cheio de sal? Só a gente besta podia acreditar naquilo. Como é que podia ser? Então não chovia nunca em cima do mar? E se chovesse, como é que o sal não se dissolvia? E se não chovesse, como é que o mar enchia sempre, conforme contavam?..." (pág. 17)
"- Sabe de uma coisa, dotô? Eu corri mais foi dela. Essa coisona aí sem jeito cum vóis de fêmea qui nunca encontrô macho deu em cima de mim qui num foi vida. Munta veis eu vinha carreteando o gado e ela tava lá na pinguela da Matroca, sentada em cima dos morão, cum as perna balançano, cum a saia alevantada, dano corrente de ar na aranha, pensano qui eu quiria quarqué coisa. Mais cumigo não, muié tem que sê gente e não essa melancia espetada em duas flecha..." (pág. 19)
"A chuva bocejou:
- Viu, minha filha? Não é assim tão difícil nascer.
- Mas dói um pouco...
- Se não doesse a vida não teria preço." (pág. 34)
"- Que é garimpeiro?
- Uma espécie de homem que pega diamante.
- E o que é diamante?
- Diamantes são pedacinhos de gotas do Sol que caem dentro dos rios e se transformam em estrelas que viram diamantes. Os homens se matam por causa dos diamantes." (pág. 40)
"Lembrou-se de que, quando era menino e estudava na cidade, nos colégios de padres, o exemplo que davam da Eternidade era assim: 'Se um pombo, de mil em mil anos, viesse à Terra e levasse um grãozinho de areia de cada vez, quando se gastasse a areia do mundo inteiro a Eternidade ainda estaria começando'. Mas que besteira, Deus do Céu! Onde já se viu um pombo com uma desgraçada de uma vida tão comprida?" (pág. 78)
"A velha lá de dentro fez parar o reumatismo e cortou o frio:
- Minha fia, pulo amô de Deus! Dexe de falá nessa palavra senão minhã a gente sofre de um naufrage...
Chica Doida se impacientou:
- E agaranto que seria mió do que vivê penano de romatismo nesse raio de mundo. Que diabo os véio que já vevero tanto tem tanto medo da morte?" (pág. 90)
"Ia morrer. Morrer de todo, porque desde que a gente nasce vai morrendo aos pedacinhos, como se fosse um jogo de dor para armar. Quando fica completo, então pronto, rebenta, some, descansa." (pág. 161)
"Voltou da mesma maneira e se sentou perto de Zé orocó, alisando a dorzinha dos rins.
-Tamo véio, Zé orocó!
-É, Frô,a gente passa e a vida fica.
Foi tudo que disseram deles. Depois começaram uma conversa sobre a vida dos outros, porque velho mesmo só serve para acompanhar o que vem ou o que foi. Eles sabiam disso e se respeitavam." (pág. 180)
sábado, 17 de agosto de 2013
Não matem as flores
Título: Não matem as flores
Autor: Johannes Mario Simmel
Páginas: 626
Cansado de sua vida, sua esposa, sua rotina, o famoso advogado Charles Duhamel resolve abandonar sua vida e começar outra. Aproveitando um acidente de avião (no qual é dado como morto) utiliza-se de documentos falsos e transforma-se em outra pessoa. Agora, com o nome de Peter Kent, volta novamente a sentir alegria pela vida. Encontra a companheira ideal e tudo se encaminha para um futuro promissor.
Mas sua esposa, convencida de que ele não morreu no acidente aéreo, resolve mover céus e terra para provar que o marido ainda está vivo, com um nome falso em algum lugar. Satisfeito com sua nova vida, Peter não tem nenhuma intenção de retornar à antiga. Conseguirá Charles/Peter ocultar para sempre a sua existência?
Trechos interessantes:
"Tive de pensar na frase do filósofo Ernest Bloch, que escreveu: 'O ser humano precisa pelo menos de uma pequena visão de algo apaziguador que lhe traga alegria.' Simplesmente tem de ter alguma coisa, ou não conseguirá viver." (pág. 17)
"E pensei que não era a morte que resolvia todas as coisas. Não, era a vida que punha um fim em tudo, a grande felicidade e o grande amor. E fiquei muito triste." (pág. 32)
"-Deus! Deus do céu!Faça passar logo! Me deixe viver! Sim, agora eu rezava para um Deus em quem não acreditava. Quem pode entender isso? Pessoas com a minha doença entendem. Num acesso de angina pectoris acredita-se em Deus." (pág. 127)
"O minuto era o seguinte: na velha Rússia (talvez ainda hoje, quem sabe?) era costume, especialmente no campo, todos ficarem quietos um minuto na casa quando alguém iniciava uma grande viagem. Nesse minuto os outros pensavam nele, rezando para que nada de mal lhe acontecesse, para que ele não ficasse doente e sua viagem fosse bem-sucedida, e também os que não rezavam lhe desejavam isso." (pág. 151)
"Quando me contou sua história disse que sua pena elevada fora correta, pois matara um ser humano. E objetei que o homem se salvara. 'Por sorte', disse, 'senão seriam dois.' Referia-se ao outro, o falso Hans Taler, a quem raptara da prisão de Kufstein com seus amigos e tivera de matar. Disse-lhe que se não tivesse feito isso talvez tivessem sido assassinadas mil pessoas, e ele respondeu: 'É verdade. Mas matei uma pessoa. E quem mata um ser humano destrói um mundo inteiro'." (pág. 184)
"...e então me ocorreu uma frase que lera certa vez num livro: 'Se cada pessoa do mundo quisesse fazer feliz só uma única outra pessoa, o mundo todo seria feliz'." (pág. 193)
"-É uma coisa tão perversa - disse ela. - Pensamos na Polônia, e temos medo e compaixão. E no Chile e em El Salvador ninguém pensa, e ninguém tem medo, e ninguém sente compaixão, embora lá aconteçam coisas horríveis, nessas ditaduras.
-É porque a Polônia é perto, e El Salvador e Chile ficam tão longe - disse eu. - Mas que mundo é este, em que se tem compaixão e medo segundo a geografia?" (pág. 252)
"Pensando no que fiz, tenho horror de mim mesmo. Um grande escritor escreveu que o ser humano é um abismo." (pág. 296)
"Andreia era louca por saladas. Tirava o avental colorido de cozinha antes de começar a comer, e alegrava-se como uma criança quando eu dizia que tudo estava saborosíssimo. Acho que se devia dizer isso muitas vezes a uma mulher que além das outras tarefas ainda se dá o trabalho de cozinhar. Mulheres recebem tão pouco reconhecimento pelos seus inúmeros afazeres domésticos." (pág. 330)
"-E tem mais uma coisa, muito importante. Além do medo ainda temos a angústia. Uma diferença gigantesca! Pode ler em qualquer dicionário: medo é uma sensação que nasce de uma ameaça real, ou perigo real. Angústia nasce de ameaças e perigos indefinidos. Quem tem medo pode se defender, mas não quem tem angústia, por não saber do quê e contra quê. A angústia faz ficar doente. Quem tem neurose de angústia tem de ir ao psiquiatra." (pág. 346/347)
"Alguma coisa de todas as pessoas permanece na Terra. A figura da pessoa desaparece, mas tudo o que ela teve de bom, de melhor, continua no mundo. Por isso, na verdade cada pessoa é um mundo inteiro." (pág. 388/389)
"O famoso psicólogo Bruno Bettelheim disse: 'O ser humano não pode se preocupar com tantas coisas ao mesmo tempo, por isso um medo facilmente substitui o outro'." (pág. 510)
"Oelschlegel levantou-se e foi até uma grande seringueira num canto da sala. Pegou um regadorzinho de plástico vermelho e começou a regar cuidadosamente a árvore. Via-se que a amava. Talvez não tivesse mais nada para amar. Qualquer pessoa precisa ter uma coisa para amar. O juiz de instrução criminal Dr. Hans Oelschlegel amava uma seringueira." (pág. 578)
"De quanta coisa vamos nos lembrar, meu bem, de quanta coisa! Pois o que é o amor, senão lembrança?" (pág. 626)
Autor: Johannes Mario Simmel
Páginas: 626
Cansado de sua vida, sua esposa, sua rotina, o famoso advogado Charles Duhamel resolve abandonar sua vida e começar outra. Aproveitando um acidente de avião (no qual é dado como morto) utiliza-se de documentos falsos e transforma-se em outra pessoa. Agora, com o nome de Peter Kent, volta novamente a sentir alegria pela vida. Encontra a companheira ideal e tudo se encaminha para um futuro promissor.
Mas sua esposa, convencida de que ele não morreu no acidente aéreo, resolve mover céus e terra para provar que o marido ainda está vivo, com um nome falso em algum lugar. Satisfeito com sua nova vida, Peter não tem nenhuma intenção de retornar à antiga. Conseguirá Charles/Peter ocultar para sempre a sua existência?
Trechos interessantes:
"Tive de pensar na frase do filósofo Ernest Bloch, que escreveu: 'O ser humano precisa pelo menos de uma pequena visão de algo apaziguador que lhe traga alegria.' Simplesmente tem de ter alguma coisa, ou não conseguirá viver." (pág. 17)
"E pensei que não era a morte que resolvia todas as coisas. Não, era a vida que punha um fim em tudo, a grande felicidade e o grande amor. E fiquei muito triste." (pág. 32)
"-Deus! Deus do céu!Faça passar logo! Me deixe viver! Sim, agora eu rezava para um Deus em quem não acreditava. Quem pode entender isso? Pessoas com a minha doença entendem. Num acesso de angina pectoris acredita-se em Deus." (pág. 127)
"O minuto era o seguinte: na velha Rússia (talvez ainda hoje, quem sabe?) era costume, especialmente no campo, todos ficarem quietos um minuto na casa quando alguém iniciava uma grande viagem. Nesse minuto os outros pensavam nele, rezando para que nada de mal lhe acontecesse, para que ele não ficasse doente e sua viagem fosse bem-sucedida, e também os que não rezavam lhe desejavam isso." (pág. 151)
"Quando me contou sua história disse que sua pena elevada fora correta, pois matara um ser humano. E objetei que o homem se salvara. 'Por sorte', disse, 'senão seriam dois.' Referia-se ao outro, o falso Hans Taler, a quem raptara da prisão de Kufstein com seus amigos e tivera de matar. Disse-lhe que se não tivesse feito isso talvez tivessem sido assassinadas mil pessoas, e ele respondeu: 'É verdade. Mas matei uma pessoa. E quem mata um ser humano destrói um mundo inteiro'." (pág. 184)
"...e então me ocorreu uma frase que lera certa vez num livro: 'Se cada pessoa do mundo quisesse fazer feliz só uma única outra pessoa, o mundo todo seria feliz'." (pág. 193)
"-É uma coisa tão perversa - disse ela. - Pensamos na Polônia, e temos medo e compaixão. E no Chile e em El Salvador ninguém pensa, e ninguém tem medo, e ninguém sente compaixão, embora lá aconteçam coisas horríveis, nessas ditaduras.
-É porque a Polônia é perto, e El Salvador e Chile ficam tão longe - disse eu. - Mas que mundo é este, em que se tem compaixão e medo segundo a geografia?" (pág. 252)
"Pensando no que fiz, tenho horror de mim mesmo. Um grande escritor escreveu que o ser humano é um abismo." (pág. 296)
"Andreia era louca por saladas. Tirava o avental colorido de cozinha antes de começar a comer, e alegrava-se como uma criança quando eu dizia que tudo estava saborosíssimo. Acho que se devia dizer isso muitas vezes a uma mulher que além das outras tarefas ainda se dá o trabalho de cozinhar. Mulheres recebem tão pouco reconhecimento pelos seus inúmeros afazeres domésticos." (pág. 330)
"-E tem mais uma coisa, muito importante. Além do medo ainda temos a angústia. Uma diferença gigantesca! Pode ler em qualquer dicionário: medo é uma sensação que nasce de uma ameaça real, ou perigo real. Angústia nasce de ameaças e perigos indefinidos. Quem tem medo pode se defender, mas não quem tem angústia, por não saber do quê e contra quê. A angústia faz ficar doente. Quem tem neurose de angústia tem de ir ao psiquiatra." (pág. 346/347)
"Alguma coisa de todas as pessoas permanece na Terra. A figura da pessoa desaparece, mas tudo o que ela teve de bom, de melhor, continua no mundo. Por isso, na verdade cada pessoa é um mundo inteiro." (pág. 388/389)
"O famoso psicólogo Bruno Bettelheim disse: 'O ser humano não pode se preocupar com tantas coisas ao mesmo tempo, por isso um medo facilmente substitui o outro'." (pág. 510)
"Oelschlegel levantou-se e foi até uma grande seringueira num canto da sala. Pegou um regadorzinho de plástico vermelho e começou a regar cuidadosamente a árvore. Via-se que a amava. Talvez não tivesse mais nada para amar. Qualquer pessoa precisa ter uma coisa para amar. O juiz de instrução criminal Dr. Hans Oelschlegel amava uma seringueira." (pág. 578)
"De quanta coisa vamos nos lembrar, meu bem, de quanta coisa! Pois o que é o amor, senão lembrança?" (pág. 626)
sábado, 10 de agosto de 2013
Heresia
Título: Heresia
Autor: S. J. Parris
Páginas: 360
Heresia é um romance histórico baseado na vida do filósofo Giordano Bruno, que foi perseguido pela igreja romana devido às suas ideias, muito avançadas para a época. Na história do livro, Giordano é convidado para um debate em Oxford, onde pretende defender as ideias apresentadas por Copérnico.
Durante sua estada acontecem alguns assassinatos misteriosos e ele acaba se envolvendo, na tentativa de solucionar as mortes. A história é uma aventura policial no século XVI, cheia de emoções e reviravoltas. Para os fãs do gênero, o livro certamente agradará.
Trechos interessantes:
"- E minha filha, Sophia. - Como pode perceber, dei a ela o nome grego da sabedoria.
- Nesse caso, seus pretendentes poderão se chamar verdadeiramente de 'filósofos' - respondi sorrindo para a moça. - Os que amam Sophia." (pág. 51/52)
"- Amanhã à noite, feiticeiro - sibilou com um sorriso desdentado -, você irá contradizer as devotas certezas deles, e estarei lá na primeira fila para aplaudir. Não porque eu apoie suas ideias heréticas, mas porque admiro os homens destemidos. Restam muito poucos neste lugar." (pág. 65)
"No mesmo instante eu soube o que significava aquilo, porque meu anfitrião, o embaixador francês, trabalhava com tais calendários na embaixada: os números em vermelho mostravam a data de acordo com o novo calendário, introduzido em fevereiro do ano anterior pelo papa Gregório, e que agora era obrigatório nas nações católicas, por ordem da bula papal Inter gravissimas. Ele não fora adotado pela Inglaterra e por outros países protestantes da Europa, num gesto contundente de desafio à autoridade papal, mas muitas vezes eu ouvira o embaixador se queixar de que isso tornava extremamente confusa a correspondência entre os representantes dos diferentes países, porque ninguém tinha muita certeza da data a que se fazia referência." (pág. 92)
"Seria necessário um ato realmente excepcional de imaginação para explicar por que eu me trancara no quarto recém-revirado de um homem que acabara de morrer, e por que agora segurava seu cofre no meu colo empapado de sangue." (pág. 94)
"- Nosso traço menos atraente como nação é essa convicção da nossa superioridade." [referindo-se à Inglaterra] (pág. 126)
"Você só sabe o valor de um lar quando o perde." (pág. 138)
"Àquela altura, já fazia tempo suficiente que eu estava na Inglaterra para saber que sopa era um prato resultante da mistura de aveia com o sumo que sobrava do cozimento da carne, uma coisa que por direito deveria ser servida ao gado, mas que os ingleses pareciam considerar um acréscimo indispensável a qualquer mesa." (pág. 166)
"Vi homens serem assassinados com a displicência de garotos atirando pedras em passarinhos, esfaqueados pelos sapatos que calçavam ou pelas poucas moedas que tinham, e vi a lei desviar os olhos, porque era trabalhoso demais levar alguém à justiça. Porque, para a lei, os mortos valiam tão pouco quanto aqueles que os haviam matado, e que provavelmente seriam mortos no dia seguinte, por sua vez. E tenho a convicção de que nenhuma vida humana vale tão pouco que, ao ser encerrada pela violência, devamos dar de ombros para o crime e deixar um assassino impune. É por isso que eu me envolvo, Mestre Slythurst: isso se chama justiça." (pág. 204)
"- É gentileza sua reservar um tempo para me ouvir, senhor. Quer dizer,visto que estamos em posições diferentes.
- Se vamos falar de posições, Thomas, não nos esqueçamos de que você é filho de um professor de Oxford e eu sou filho de um soldado. Mas pouco me interessam essas distinções... Ainda me atrevo a esperar pelo dia em que as pessoas serão julgadas pelo seu caráter e suas realizações, não por seu sobrenome paterno." (pág. 210/211)
"Fiquei tão confuso e amedrontado que me peguei concordando com afirmações que sabia não serem verdadeiras. É estranho como a pessoa disposta a julgar alguém culpado é capaz de fazê-lo acreditar na própria culpa, mesmo quando ele sabe que é inocente. Tive medo de condenar a mim mesmo por engano." (pág. 218/219)
"- O livro. Primeiro me diga quanto está disposto a pagar por esse manuscrito.
- Primeiro eu precisaria vê-lo - respondi, impassível. - Quanto quer por ele?
- Essa é uma pergunta difícil, Bruno. É que o valor de um objeto, qualquer que seja, depende inteiramente do desejo que o outro tem dele, não é?" (pág. 272)
"- Não odeio ninguém. Só quero que me deixem em paz para compreender os mistérios do Universo à minha maneira.
- Deus já nos exibiu os mistérios do Universo, ou tantos quantos permite que o homem compreenda. Você acha que seu jeito é melhor?
- Melhor do que essas guerras de dogmas que têm levado as pessoas a incendiar e retalhar umas às outras por toda a Europa, durante 50 anos? Sim, acho." (pág. 325)
Autor: S. J. Parris
Páginas: 360
Heresia é um romance histórico baseado na vida do filósofo Giordano Bruno, que foi perseguido pela igreja romana devido às suas ideias, muito avançadas para a época. Na história do livro, Giordano é convidado para um debate em Oxford, onde pretende defender as ideias apresentadas por Copérnico.
Durante sua estada acontecem alguns assassinatos misteriosos e ele acaba se envolvendo, na tentativa de solucionar as mortes. A história é uma aventura policial no século XVI, cheia de emoções e reviravoltas. Para os fãs do gênero, o livro certamente agradará.
Trechos interessantes:
"- E minha filha, Sophia. - Como pode perceber, dei a ela o nome grego da sabedoria.
- Nesse caso, seus pretendentes poderão se chamar verdadeiramente de 'filósofos' - respondi sorrindo para a moça. - Os que amam Sophia." (pág. 51/52)
"- Amanhã à noite, feiticeiro - sibilou com um sorriso desdentado -, você irá contradizer as devotas certezas deles, e estarei lá na primeira fila para aplaudir. Não porque eu apoie suas ideias heréticas, mas porque admiro os homens destemidos. Restam muito poucos neste lugar." (pág. 65)
"No mesmo instante eu soube o que significava aquilo, porque meu anfitrião, o embaixador francês, trabalhava com tais calendários na embaixada: os números em vermelho mostravam a data de acordo com o novo calendário, introduzido em fevereiro do ano anterior pelo papa Gregório, e que agora era obrigatório nas nações católicas, por ordem da bula papal Inter gravissimas. Ele não fora adotado pela Inglaterra e por outros países protestantes da Europa, num gesto contundente de desafio à autoridade papal, mas muitas vezes eu ouvira o embaixador se queixar de que isso tornava extremamente confusa a correspondência entre os representantes dos diferentes países, porque ninguém tinha muita certeza da data a que se fazia referência." (pág. 92)
"Seria necessário um ato realmente excepcional de imaginação para explicar por que eu me trancara no quarto recém-revirado de um homem que acabara de morrer, e por que agora segurava seu cofre no meu colo empapado de sangue." (pág. 94)
"- Nosso traço menos atraente como nação é essa convicção da nossa superioridade." [referindo-se à Inglaterra] (pág. 126)
"Você só sabe o valor de um lar quando o perde." (pág. 138)
"Àquela altura, já fazia tempo suficiente que eu estava na Inglaterra para saber que sopa era um prato resultante da mistura de aveia com o sumo que sobrava do cozimento da carne, uma coisa que por direito deveria ser servida ao gado, mas que os ingleses pareciam considerar um acréscimo indispensável a qualquer mesa." (pág. 166)
"Vi homens serem assassinados com a displicência de garotos atirando pedras em passarinhos, esfaqueados pelos sapatos que calçavam ou pelas poucas moedas que tinham, e vi a lei desviar os olhos, porque era trabalhoso demais levar alguém à justiça. Porque, para a lei, os mortos valiam tão pouco quanto aqueles que os haviam matado, e que provavelmente seriam mortos no dia seguinte, por sua vez. E tenho a convicção de que nenhuma vida humana vale tão pouco que, ao ser encerrada pela violência, devamos dar de ombros para o crime e deixar um assassino impune. É por isso que eu me envolvo, Mestre Slythurst: isso se chama justiça." (pág. 204)
"- É gentileza sua reservar um tempo para me ouvir, senhor. Quer dizer,visto que estamos em posições diferentes.
- Se vamos falar de posições, Thomas, não nos esqueçamos de que você é filho de um professor de Oxford e eu sou filho de um soldado. Mas pouco me interessam essas distinções... Ainda me atrevo a esperar pelo dia em que as pessoas serão julgadas pelo seu caráter e suas realizações, não por seu sobrenome paterno." (pág. 210/211)
"Fiquei tão confuso e amedrontado que me peguei concordando com afirmações que sabia não serem verdadeiras. É estranho como a pessoa disposta a julgar alguém culpado é capaz de fazê-lo acreditar na própria culpa, mesmo quando ele sabe que é inocente. Tive medo de condenar a mim mesmo por engano." (pág. 218/219)
"- O livro. Primeiro me diga quanto está disposto a pagar por esse manuscrito.
- Primeiro eu precisaria vê-lo - respondi, impassível. - Quanto quer por ele?
- Essa é uma pergunta difícil, Bruno. É que o valor de um objeto, qualquer que seja, depende inteiramente do desejo que o outro tem dele, não é?" (pág. 272)
"- Não odeio ninguém. Só quero que me deixem em paz para compreender os mistérios do Universo à minha maneira.
- Deus já nos exibiu os mistérios do Universo, ou tantos quantos permite que o homem compreenda. Você acha que seu jeito é melhor?
- Melhor do que essas guerras de dogmas que têm levado as pessoas a incendiar e retalhar umas às outras por toda a Europa, durante 50 anos? Sim, acho." (pág. 325)
terça-feira, 30 de julho de 2013
Alma gêmea
Título: Alma gêmea
Autor: Deepak Chopra
Páginas: 224
Raj Rabban é um médico indiano que trabalha num hospital de Manhattan, na ala de psiquiatria. Ele é noivo de Maya e se apaixona por Molly, uma jovem atriz que viu por acaso no metrô. Maya e Molly são totalmente diferentes e Raj acredita que ama as duas mulheres, cada uma a seu modo.
Molly morre num acidente e Raj passa a sentir sua presença junto dele no hospital, orientando os pacientes. A história não é somente sobre uma homem que ama duas mulheres, mas sobre as infinitas formas e poderes do amor, manifestando sobre os seres humanos. A história não é trágica nem cômica, mas profundamente sensível.
Trechos interessantes:
"-Estou dizendo que todos os doidos são pessoas e que todas as pessoas são doidas. É uma equação cósmica que você passará o resto da vida tentando resolver." (pág. 21)
"O amor é sempre chamado de mistério, mas a paixão não. A paixão é superficial, um impulso que costuma terminar em arrependimento, mais do que numa união duradoura." (pág. 28)
"Não há varinha de condão para curar a mente humana quando ela não deseja ser curada." (pág. 60)
"-Todas as pessoas são como um poço profundo - disse Molly. - Mas os homens mantêm esse poço fechado.Quando conheci você, você chegou atropelando tudo, e pensei que talvez fosse a tampa se abrindo. Não vou mergulhar no escuro, por isso estou esperando." (pág. 74)
"Um dos primeiros clichês que um psiquiatra aprende é sobre a diferença entre um neurótico e um psicótico. Um neurótico é alguém que constrói castelos no ar. O psicótico é alguém que vai morar neles. A frase de efeito é: 'E o psiquiatra é alguém que recebe o aluguel'." (pág.79)
"Não existe a eterna condenação nem a eterna recompensa.Quando uma vida acaba e a soma de boas e más ações é apurada, a alma toma um caminho um pouquinho diferente. Caindo ou subindo, ela retorna mais uma vez às lições da vida." (pág. 166)
"A morte é onde a decepção acaba e algo maravilhoso se abre, o completo desconhecido. Se eu pudesse gritaria para todo mundo: Não tenham medo. A morte é um salto da alma. Mas as pessoas que compreenderiam provavelmente não estariam na plateia." (pág. 174)
"Liberte a pessoa de todos os seus problemas e o que resta deve ser a alma." (pág. 214)
Autor: Deepak Chopra
Páginas: 224
Raj Rabban é um médico indiano que trabalha num hospital de Manhattan, na ala de psiquiatria. Ele é noivo de Maya e se apaixona por Molly, uma jovem atriz que viu por acaso no metrô. Maya e Molly são totalmente diferentes e Raj acredita que ama as duas mulheres, cada uma a seu modo.
Molly morre num acidente e Raj passa a sentir sua presença junto dele no hospital, orientando os pacientes. A história não é somente sobre uma homem que ama duas mulheres, mas sobre as infinitas formas e poderes do amor, manifestando sobre os seres humanos. A história não é trágica nem cômica, mas profundamente sensível.
Trechos interessantes:
"-Estou dizendo que todos os doidos são pessoas e que todas as pessoas são doidas. É uma equação cósmica que você passará o resto da vida tentando resolver." (pág. 21)
"O amor é sempre chamado de mistério, mas a paixão não. A paixão é superficial, um impulso que costuma terminar em arrependimento, mais do que numa união duradoura." (pág. 28)
"Não há varinha de condão para curar a mente humana quando ela não deseja ser curada." (pág. 60)
"-Todas as pessoas são como um poço profundo - disse Molly. - Mas os homens mantêm esse poço fechado.Quando conheci você, você chegou atropelando tudo, e pensei que talvez fosse a tampa se abrindo. Não vou mergulhar no escuro, por isso estou esperando." (pág. 74)
"Um dos primeiros clichês que um psiquiatra aprende é sobre a diferença entre um neurótico e um psicótico. Um neurótico é alguém que constrói castelos no ar. O psicótico é alguém que vai morar neles. A frase de efeito é: 'E o psiquiatra é alguém que recebe o aluguel'." (pág.79)
"Não existe a eterna condenação nem a eterna recompensa.Quando uma vida acaba e a soma de boas e más ações é apurada, a alma toma um caminho um pouquinho diferente. Caindo ou subindo, ela retorna mais uma vez às lições da vida." (pág. 166)
"A morte é onde a decepção acaba e algo maravilhoso se abre, o completo desconhecido. Se eu pudesse gritaria para todo mundo: Não tenham medo. A morte é um salto da alma. Mas as pessoas que compreenderiam provavelmente não estariam na plateia." (pág. 174)
"Liberte a pessoa de todos os seus problemas e o que resta deve ser a alma." (pág. 214)
sexta-feira, 26 de julho de 2013
Senzala
Título: Senzala
Autor: Salvador Gentile
Páginas: 276
Senzala, como o próprio nome indica, é um romance ambientado na época da escravidão. Trata-se de duas fazendas vizinhas onde, em uma delas, os escravos eram tratados com amor e carinho, formando uma comunidade e, na outra, eram tratados como a escória humana. Diante disso, inevitavelmente, acabam surgindo desavenças entre as duas fazendas.
Como se trata de um romance espírita, a história em si é o que menos importa. O objetivo maior é travar discussões acerca dos planos espirituais , de como as vidas de todos estão interligadas e de como as boas atitudes são importantes e necessárias para a realização de um bem maior.
Trechos interessantes:
"Recordou que certa feita um negro estuprara uma jovem de cor e o Coronel, sem contudo castigá-lo fisicamente, mandara vendê-lo na cidade,no mercado de escravos. Para aquela gente, esse era o castigo maior: a perda do convívio daquela comunidade, onde eram, verdadeiramente, gentes ao invés de coisas." (pág. 34)
"-[...]Homem da terra, algum dia você colheu o que não plantou?
-Não - respondeu Sousa -, nem poderia esperar isso.
-Da mesma forma, meu amigo, em qualquer plano da vida, cada um de nós recolhe os frutos da própria semeadura." (pág. 40/41)
"...não existe ninguém tão pobre que não tenha algo de si mesmo para dar, seja uma palavra de carinho, seja um gesto de compreensão." (pág. 49)
"Mesmo que o homem não procure a Deus, desde que não agasalhe a revolta e vença, passo a passo, sua caminhada, aproveitará sua existência integralmente." (pág. 71)
"Bondade e justiça não se alcançam tão-só com o desejo de obtê-las." (pág. 111)
"Esteja certo disto, meu amigo, não há culpa que não tenha um preço dentro de nós mesmos, e que não carreguemos indefinidamente até pagá-lo." (pág. 177)
"Pecado, pois, para defini-lo melhor perante a vida, é todo ato humano que resulte em culpa, em sentimento de culpa, perante o tribunal de nossa própria consciência. É, pois, uma sentença condenatória cuja pena cumpriremos, mais dia menos dia, ou com as moedas do amor mais puro quando encontramos compreensão das nossas vítimas, ou com as lágrimas mais amargas quando estas nos exigem olho por olho, dente por dente." (pág. 180/181)
"Quem conhece o cheiro do estrume do mangueirão, sabe dar maior valor ao perfume do jardim, embora não deva deixar de ir ao mangueirão onde precisa colher o leite que serve à mesa, nem deixar de ir ao jardim porque flores não alimentam." (pág. 216)
Autor: Salvador Gentile
Páginas: 276
Senzala, como o próprio nome indica, é um romance ambientado na época da escravidão. Trata-se de duas fazendas vizinhas onde, em uma delas, os escravos eram tratados com amor e carinho, formando uma comunidade e, na outra, eram tratados como a escória humana. Diante disso, inevitavelmente, acabam surgindo desavenças entre as duas fazendas.
Como se trata de um romance espírita, a história em si é o que menos importa. O objetivo maior é travar discussões acerca dos planos espirituais , de como as vidas de todos estão interligadas e de como as boas atitudes são importantes e necessárias para a realização de um bem maior.
Trechos interessantes:
"Recordou que certa feita um negro estuprara uma jovem de cor e o Coronel, sem contudo castigá-lo fisicamente, mandara vendê-lo na cidade,no mercado de escravos. Para aquela gente, esse era o castigo maior: a perda do convívio daquela comunidade, onde eram, verdadeiramente, gentes ao invés de coisas." (pág. 34)
"-[...]Homem da terra, algum dia você colheu o que não plantou?
-Não - respondeu Sousa -, nem poderia esperar isso.
-Da mesma forma, meu amigo, em qualquer plano da vida, cada um de nós recolhe os frutos da própria semeadura." (pág. 40/41)
"...não existe ninguém tão pobre que não tenha algo de si mesmo para dar, seja uma palavra de carinho, seja um gesto de compreensão." (pág. 49)
"Mesmo que o homem não procure a Deus, desde que não agasalhe a revolta e vença, passo a passo, sua caminhada, aproveitará sua existência integralmente." (pág. 71)
"Bondade e justiça não se alcançam tão-só com o desejo de obtê-las." (pág. 111)
"Esteja certo disto, meu amigo, não há culpa que não tenha um preço dentro de nós mesmos, e que não carreguemos indefinidamente até pagá-lo." (pág. 177)
"Pecado, pois, para defini-lo melhor perante a vida, é todo ato humano que resulte em culpa, em sentimento de culpa, perante o tribunal de nossa própria consciência. É, pois, uma sentença condenatória cuja pena cumpriremos, mais dia menos dia, ou com as moedas do amor mais puro quando encontramos compreensão das nossas vítimas, ou com as lágrimas mais amargas quando estas nos exigem olho por olho, dente por dente." (pág. 180/181)
"Quem conhece o cheiro do estrume do mangueirão, sabe dar maior valor ao perfume do jardim, embora não deva deixar de ir ao mangueirão onde precisa colher o leite que serve à mesa, nem deixar de ir ao jardim porque flores não alimentam." (pág. 216)
segunda-feira, 22 de julho de 2013
Fundamentos científicos de Teilhard de Chardin
Título: Fundamentos científicos de Teilhard de Chardin
Autor: Louis Barral
Páginas: 194
O livro pretende simplificar as ideias e teorias de Teilhard de Chardin, de maneira a que as pessoas comuns possam compreender os significados, num sentido geral. Portanto, o livro é uma miríade de assuntos: origem do homem, biofísica, relatividade, fenômenos da luz, teoria molecular, fórmulas matemáticas e por aí afora.
Tudo bem que os conceitos são simplificados, mas há que se ter um conhecimento básico para conseguir assimilar os assuntos perfilados. Se o objetivo é induzir o leitor a procurar se aprofundar nos assuntos discutidos, o livro desempenha muito bem o seu papel. Pra quem já tem um conhecimento, o assunto é superficial,mas para quem não tem é deveras interessante.
Trechos interessantes:
"A ignorância é inata e não se pode sair dela sozinho. O autodidata raramente se atira para os domínios que exigem o máximo de esforço." (pág. 9)
"Se algo se compreende sem explicação, compreender-se-á melhor com explicação." (pág. 11)
"O conhecimento aproximado é nitidamente preferível à ignorância absoluta." (pág. 22)
"Em todos os tempos o Homem deu conta de que, largando um objeto no espaço, ele atinge o solo. Até ao fim do século XVI, acreditou-se que os objetos caíam tanto mais depressa quanto mais pesados eram. Galileu desfez o erro." (pág. 74)
"Se o não especialista que eu sou se crê à altura de lhe explicar os rudimentos, é porque creio que os compreendi e portanto seria surpreendente que alguém os não pudesse compreender também." (pág. 78)
"Em 1923, L. de Broglie generalizou a todos os fenômenos físicos o caráter dualista da luz. A luz é uma onda; no entanto manifesta também um caráter corpuscular." (pág. 132/133)
"Os acontecimentos cuja probabilidade é suficientemente pequena, nunca se produzem." (pág. 168)
Autor: Louis Barral
Páginas: 194
O livro pretende simplificar as ideias e teorias de Teilhard de Chardin, de maneira a que as pessoas comuns possam compreender os significados, num sentido geral. Portanto, o livro é uma miríade de assuntos: origem do homem, biofísica, relatividade, fenômenos da luz, teoria molecular, fórmulas matemáticas e por aí afora.
Tudo bem que os conceitos são simplificados, mas há que se ter um conhecimento básico para conseguir assimilar os assuntos perfilados. Se o objetivo é induzir o leitor a procurar se aprofundar nos assuntos discutidos, o livro desempenha muito bem o seu papel. Pra quem já tem um conhecimento, o assunto é superficial,mas para quem não tem é deveras interessante.
Trechos interessantes:
"A ignorância é inata e não se pode sair dela sozinho. O autodidata raramente se atira para os domínios que exigem o máximo de esforço." (pág. 9)
"Se algo se compreende sem explicação, compreender-se-á melhor com explicação." (pág. 11)
"O conhecimento aproximado é nitidamente preferível à ignorância absoluta." (pág. 22)
"Em todos os tempos o Homem deu conta de que, largando um objeto no espaço, ele atinge o solo. Até ao fim do século XVI, acreditou-se que os objetos caíam tanto mais depressa quanto mais pesados eram. Galileu desfez o erro." (pág. 74)
"Se o não especialista que eu sou se crê à altura de lhe explicar os rudimentos, é porque creio que os compreendi e portanto seria surpreendente que alguém os não pudesse compreender também." (pág. 78)
"Em 1923, L. de Broglie generalizou a todos os fenômenos físicos o caráter dualista da luz. A luz é uma onda; no entanto manifesta também um caráter corpuscular." (pág. 132/133)
"Os acontecimentos cuja probabilidade é suficientemente pequena, nunca se produzem." (pág. 168)
quarta-feira, 10 de julho de 2013
Banco
Título: Banco
Autor: Henri Charrière
Páginas: 446
Henri Charrière, autor do famoso clássico Papillon, conta neste livro as suas aventuras depois de sua fuga da prisão de Caiena. Conta do seu ódio e desejo de retornar para vingar-se de todos que o mandaram para a prisão e de como a Venezuela, que o acolheu com carinho, fez com que ele abandonasse essa ideia. Conta ainda da saga que foi escrever e publicar Papillon.
Em suma, conta as aventuras de um homem que tinha tudo para trilhar o lado mau da vida, mas que, pouco a pouco, descobre que a felicidade vem com as coisas simples: rever os familiares, um lar tranquilo, ajudar quem precisa e assim por diante. Dizem que a vida de muitos homens daria um livro: a de Henri Charrière deu dois.
Trechos interessantes:
"A não ser que esteja enraivecido, e nessa altura não há nada a fazer, um homem pode arrepender-se e tornar-se bom, se o ajudarem. É por isso que na Venezuela você será protegido: porque gostamos das pessoas e, com a ajuda de Deus, acreditamos nelas." (pág. 12)
"...a felicidade que vocês têm, e que eu espero vir a possuir um dia, valia muito mais que ser rico." (pág. 47)
"Um só inimigo conta na selva: o animal dos animais, o mais inteligente, o mais cruel, o pior, o mais cúpido, o mais odioso e também o mais maravilhoso: o homem." (pág. 66)
"Vou dizer-lhes uma coisa: quando vocês falam dos judeus julgo ver uma raça vomitando o seu ódio contra outra raça.
Vocês vivem na Venezuela, no meio do seu povo, e não são capazes de assimilar a maravilhosa filosofia das pessoas deste país. Aqui não há nenhuma discriminação, nem racial nem religiosa." (pág. 150)
"Cada um tem a sua lista de pessoas a abater, a condenar, a prender e, apesar da minha desgraça, não consigo deixar de rir quando ouço essas pessoas, sentadas num café ou na sala de um hotel de terceira categoria, criticar tudo e concluir que só elas são capazes de endireitar o mundo." (pág. 151)
"O homem mais meticuloso, o mais calculador, o mais genial organizador da sua vida é apenas um joguete perante o mistério do destino. Só o presente é certo; o resto é o desconhecido, que se chama sorte, azar, destino, ou ainda a misteriosa e incompreensível mão de Deus.
A única coisa que conta na vida, antes de mais nada: nunca se dar por vencido e, depois de um fracasso, recomeçar." (pág. 158)
"...conheci homens de todas as classes que me deram a sua amizade, com os quais arrisquei a vida, e com tudo isso me lamento? Estou duro ou quase? Isso não tem importância, a pobreza não é uma doença muito difícil de curar." (pág. 167)
"Esta morte, não a sinto como um homem de quarenta anos, na plena força da vida, que acaba de saber da morte do pai que não vê a vinte anos, sinto-a como um garoto de dez anos que teria vivido com o pai e que, tendo lhe desobedecido e faltado à escola, sabe da morte do pai ao chegar a casa." (pág. 228)
"Depois da morte da minha mãe, com apenas onze anos, guardava em mim este ferro em brasa que era a injustiça do destino. Não se compreende a morte aos onze anos. Não se aceita. Que os muito velhos morram, está certo. Mas a nossa mãe, a nossa fada, plena de juventude, de beleza, de saúde, transbordante de amor por nós, é justo que ela morra?" (pág. 262/263)
"E então me disse uma frase que ficou para sempre gravada no meu íntimo:
-Sabe, meu querido, não há idade para se ser órfão. Lembre-se disso toda a vida." (pág. 266)
"-Daqui em diante não quero mais negócios com gente séria. Mentem e roubam demasiado! No futuro só tratarei com malandros! Ao menos com esses a gente sabe com o que conta." (pág. 304)
Autor: Henri Charrière
Páginas: 446
Henri Charrière, autor do famoso clássico Papillon, conta neste livro as suas aventuras depois de sua fuga da prisão de Caiena. Conta do seu ódio e desejo de retornar para vingar-se de todos que o mandaram para a prisão e de como a Venezuela, que o acolheu com carinho, fez com que ele abandonasse essa ideia. Conta ainda da saga que foi escrever e publicar Papillon.
Em suma, conta as aventuras de um homem que tinha tudo para trilhar o lado mau da vida, mas que, pouco a pouco, descobre que a felicidade vem com as coisas simples: rever os familiares, um lar tranquilo, ajudar quem precisa e assim por diante. Dizem que a vida de muitos homens daria um livro: a de Henri Charrière deu dois.
Trechos interessantes:
"A não ser que esteja enraivecido, e nessa altura não há nada a fazer, um homem pode arrepender-se e tornar-se bom, se o ajudarem. É por isso que na Venezuela você será protegido: porque gostamos das pessoas e, com a ajuda de Deus, acreditamos nelas." (pág. 12)
"...a felicidade que vocês têm, e que eu espero vir a possuir um dia, valia muito mais que ser rico." (pág. 47)
"Um só inimigo conta na selva: o animal dos animais, o mais inteligente, o mais cruel, o pior, o mais cúpido, o mais odioso e também o mais maravilhoso: o homem." (pág. 66)
"Vou dizer-lhes uma coisa: quando vocês falam dos judeus julgo ver uma raça vomitando o seu ódio contra outra raça.
Vocês vivem na Venezuela, no meio do seu povo, e não são capazes de assimilar a maravilhosa filosofia das pessoas deste país. Aqui não há nenhuma discriminação, nem racial nem religiosa." (pág. 150)
"Cada um tem a sua lista de pessoas a abater, a condenar, a prender e, apesar da minha desgraça, não consigo deixar de rir quando ouço essas pessoas, sentadas num café ou na sala de um hotel de terceira categoria, criticar tudo e concluir que só elas são capazes de endireitar o mundo." (pág. 151)
"O homem mais meticuloso, o mais calculador, o mais genial organizador da sua vida é apenas um joguete perante o mistério do destino. Só o presente é certo; o resto é o desconhecido, que se chama sorte, azar, destino, ou ainda a misteriosa e incompreensível mão de Deus.
A única coisa que conta na vida, antes de mais nada: nunca se dar por vencido e, depois de um fracasso, recomeçar." (pág. 158)
"...conheci homens de todas as classes que me deram a sua amizade, com os quais arrisquei a vida, e com tudo isso me lamento? Estou duro ou quase? Isso não tem importância, a pobreza não é uma doença muito difícil de curar." (pág. 167)
"Esta morte, não a sinto como um homem de quarenta anos, na plena força da vida, que acaba de saber da morte do pai que não vê a vinte anos, sinto-a como um garoto de dez anos que teria vivido com o pai e que, tendo lhe desobedecido e faltado à escola, sabe da morte do pai ao chegar a casa." (pág. 228)
"Depois da morte da minha mãe, com apenas onze anos, guardava em mim este ferro em brasa que era a injustiça do destino. Não se compreende a morte aos onze anos. Não se aceita. Que os muito velhos morram, está certo. Mas a nossa mãe, a nossa fada, plena de juventude, de beleza, de saúde, transbordante de amor por nós, é justo que ela morra?" (pág. 262/263)
"E então me disse uma frase que ficou para sempre gravada no meu íntimo:
-Sabe, meu querido, não há idade para se ser órfão. Lembre-se disso toda a vida." (pág. 266)
"-Daqui em diante não quero mais negócios com gente séria. Mentem e roubam demasiado! No futuro só tratarei com malandros! Ao menos com esses a gente sabe com o que conta." (pág. 304)
quinta-feira, 4 de julho de 2013
Elogio da Loucura
Título: Elogio da Loucura
Autor: Erasmo de Rotterdam
Páginas: 125
O livro, apesar de pequeno, exigiu bastante do meu parco conhecimento. É um clássico, claro, que usa uma linguagem específica e possui amplas referências a personagens da história, mitologia, etc. Felizmente traz bastantes notas de rodapé, comentando justamente os trechos que pessoas com pouco conhecimento, como eu, ousam desconhecer.
A história em si é bem simples: como o título diz, faz-se um elogio à loucura. Segundo o autor o responsável pelo prazer e a alegria do homem nada mais é que a loucura. Apesar de todos buscarem a razão, a verdadeira felicidade está na existência da loucura.
Trechos interessantes:
"Ainda que os homens tenham o hábito de manchar minha reputação, e eu saiba muito bem como sou malquisto entre os tolos, tenho orgulho em vos dizer que esta Loucura é a única que pode trazer alegria aos homens e aos deuses." (pág. 15)
"Não tens quem te elogie? Elogia-te a ti mesmo." (pág. 16)
"Já escreveu sensatamente alguém que ser deus consiste em favorecer os mortais." (pág. 21)
"Assim é que se verifica que todo semelhante ama o seu semelhante." (pág. 24)
"Segundo a definição dos estóicos, sábio é aquele que vive de acordo com as regras da razão, e louco, ao contrário, é o que se deixa arrastar ao sabor de suas paixões." (pág. 28)
"Finalmente, a felicidade consiste, sobretudo, em querer ser o que se é." (pág. 34)
"Creso, rei da Lídia, foi o homem mais rico da terra. Tendo um dia perguntado a Sólon se não era ele o mais feliz dos mortais, o filósofo respondeu-lhe: 'Majestade, vós me pareceis muito rico, tendes um grande reino; reservo-me, porém, para responder à vossa pergunta quando fordes muito feliz'." (pág. 54)
"[...]Mas não penseis que não encontrem quem os aplauda, pois toda tolice, por mais grosseira que seja, sempre encontra sequazes." (pág. 62)
"[...]a loucura tem uma força maior do que a razão, porque, muitas vezes, aquilo que não se pode conseguir com nenhum argumento se obtém com uma chacota." (pág. 73)
"Quantas lindas lorotas não vão esses doutores impingindo a respeito do inferno? Conhecem tão bem todos os seus apartamentos, falam com tanta franqueza da natureza e dos vários graus do fogo eterno, e das diversas incumbências dos demônios, discorrem, finalmente, com tanta precisão sobre a república dos danados, que parecem já ter sido cidadãos da mesma durante muitos anos." (pág. 82/83)
"A loucura de Deus é melhor que a sabedoria dos homens." (pág. 108)
"Eu jamais desejaria beber com um homem que se lembrasse de tudo." (pág. 116)
Autor: Erasmo de Rotterdam
Páginas: 125
O livro, apesar de pequeno, exigiu bastante do meu parco conhecimento. É um clássico, claro, que usa uma linguagem específica e possui amplas referências a personagens da história, mitologia, etc. Felizmente traz bastantes notas de rodapé, comentando justamente os trechos que pessoas com pouco conhecimento, como eu, ousam desconhecer.
A história em si é bem simples: como o título diz, faz-se um elogio à loucura. Segundo o autor o responsável pelo prazer e a alegria do homem nada mais é que a loucura. Apesar de todos buscarem a razão, a verdadeira felicidade está na existência da loucura.
Trechos interessantes:
"Ainda que os homens tenham o hábito de manchar minha reputação, e eu saiba muito bem como sou malquisto entre os tolos, tenho orgulho em vos dizer que esta Loucura é a única que pode trazer alegria aos homens e aos deuses." (pág. 15)
"Não tens quem te elogie? Elogia-te a ti mesmo." (pág. 16)
"Já escreveu sensatamente alguém que ser deus consiste em favorecer os mortais." (pág. 21)
"Assim é que se verifica que todo semelhante ama o seu semelhante." (pág. 24)
"Segundo a definição dos estóicos, sábio é aquele que vive de acordo com as regras da razão, e louco, ao contrário, é o que se deixa arrastar ao sabor de suas paixões." (pág. 28)
"Finalmente, a felicidade consiste, sobretudo, em querer ser o que se é." (pág. 34)
"Creso, rei da Lídia, foi o homem mais rico da terra. Tendo um dia perguntado a Sólon se não era ele o mais feliz dos mortais, o filósofo respondeu-lhe: 'Majestade, vós me pareceis muito rico, tendes um grande reino; reservo-me, porém, para responder à vossa pergunta quando fordes muito feliz'." (pág. 54)
"[...]Mas não penseis que não encontrem quem os aplauda, pois toda tolice, por mais grosseira que seja, sempre encontra sequazes." (pág. 62)
"[...]a loucura tem uma força maior do que a razão, porque, muitas vezes, aquilo que não se pode conseguir com nenhum argumento se obtém com uma chacota." (pág. 73)
"Quantas lindas lorotas não vão esses doutores impingindo a respeito do inferno? Conhecem tão bem todos os seus apartamentos, falam com tanta franqueza da natureza e dos vários graus do fogo eterno, e das diversas incumbências dos demônios, discorrem, finalmente, com tanta precisão sobre a república dos danados, que parecem já ter sido cidadãos da mesma durante muitos anos." (pág. 82/83)
"A loucura de Deus é melhor que a sabedoria dos homens." (pág. 108)
"Eu jamais desejaria beber com um homem que se lembrasse de tudo." (pág. 116)
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