Título: Rosinha,minha canoa
Autor: José Mauro de Vasconcelos
Páginas: 204
Zé Orocó é um sujeito simples, amigo de todos os índios e que vive subindo e descendo os rios com sua canoa. Só tem um problema: Zé orocó conversa com sua canoa, tratando-a como um ser humano. Um dia, chega um médico ao povoado, descobre o "problema" de Zé Orocó e resolve interná-lo para que seja curado.
Um sujeito que nunca fez mal a ninguém e que é estimado por todos, de repente, é jogado num manicômio e fica ali vegetando, enquanto a vida passa por ele. Por que uma coisa simples, que ajuda o homem do interior a suportar a dureza do dia a dia, prejudica tanto os homens que vivem na cidade e nada sabem do sertão?
Trechos interessantes:
"Diversas vezes ele demonstrara o seu jeito de compreender um mundo. Mar era coisa que não existia mesmo. O máximo da coisa era o rio dividindo a terra. Rio, sabia que havia muito, mas mar!... Onde se viu uma besteirada daquelas? Um aguão absurdo cheio de sal? Só a gente besta podia acreditar naquilo. Como é que podia ser? Então não chovia nunca em cima do mar? E se chovesse, como é que o sal não se dissolvia? E se não chovesse, como é que o mar enchia sempre, conforme contavam?..." (pág. 17)
"- Sabe de uma coisa, dotô? Eu corri mais foi dela. Essa coisona aí sem jeito cum vóis de fêmea qui nunca encontrô macho deu em cima de mim qui num foi vida. Munta veis eu vinha carreteando o gado e ela tava lá na pinguela da Matroca, sentada em cima dos morão, cum as perna balançano, cum a saia alevantada, dano corrente de ar na aranha, pensano qui eu quiria quarqué coisa. Mais cumigo não, muié tem que sê gente e não essa melancia espetada em duas flecha..." (pág. 19)
"A chuva bocejou:
- Viu, minha filha? Não é assim tão difícil nascer.
- Mas dói um pouco...
- Se não doesse a vida não teria preço." (pág. 34)
"- Que é garimpeiro?
- Uma espécie de homem que pega diamante.
- E o que é diamante?
- Diamantes são pedacinhos de gotas do Sol que caem dentro dos rios e se transformam em estrelas que viram diamantes. Os homens se matam por causa dos diamantes." (pág. 40)
"Lembrou-se de que, quando era menino e estudava na cidade, nos colégios de padres, o exemplo que davam da Eternidade era assim: 'Se um pombo, de mil em mil anos, viesse à Terra e levasse um grãozinho de areia de cada vez, quando se gastasse a areia do mundo inteiro a Eternidade ainda estaria começando'. Mas que besteira, Deus do Céu! Onde já se viu um pombo com uma desgraçada de uma vida tão comprida?" (pág. 78)
"A velha lá de dentro fez parar o reumatismo e cortou o frio:
- Minha fia, pulo amô de Deus! Dexe de falá nessa palavra senão minhã a gente sofre de um naufrage...
Chica Doida se impacientou:
- E agaranto que seria mió do que vivê penano de romatismo nesse raio de mundo. Que diabo os véio que já vevero tanto tem tanto medo da morte?" (pág. 90)
"Ia morrer. Morrer de todo, porque desde que a gente nasce vai morrendo aos pedacinhos, como se fosse um jogo de dor para armar. Quando fica completo, então pronto, rebenta, some, descansa." (pág. 161)
"Voltou da mesma maneira e se sentou perto de Zé orocó, alisando a dorzinha dos rins.
-Tamo véio, Zé orocó!
-É, Frô,a gente passa e a vida fica.
Foi tudo que disseram deles. Depois começaram uma conversa sobre a vida dos outros, porque velho mesmo só serve para acompanhar o que vem ou o que foi. Eles sabiam disso e se respeitavam." (pág. 180)
domingo, 25 de agosto de 2013
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