sábado, 7 de setembro de 2013

Memórias de uma gueixa

Título: Memórias de uma gueixa
Autor: Arthur Golden
Páginas: 458

A cultura japonesa sempre me fascinou. Tenho a impressão de que é um país que parou no tempo, com seus costumes, tradições, sua história enfim. Parece sempre guardar uma aura de tranquilidade, com seus belos jardins e aquele caminhar suave das pessoas, com gestos macios e ritmados... Ou seja, a mim parece sempre uma imagem poética.

O livro, como eu esperava, traz um pouco dessa magia, contando a história de vida de uma gueixa. É interessante notar como nós, ocidentais, temos uma visão deformada a respeito dos hábitos e costumes de outros povos. O livro nos mostra que a vida de uma gueixa é dificuldade e sofrimento, mas também beleza e glamour.

Trechos interessantes:

"Em criança eu achava que o oceano tinha um resfriado terrível, porque estava sempre chiando, e em certos acessos soltava um espirro enorme - o que significa uma lufada de vento com respingos tremendos." (pág. 10)

"Eu nunca tinha visto um automóvel. Vira fotografias, mas me lembro de ter ficado surpresa de ver como... bem, como pareciam cruéis, por eu estar tão assustada, como se se destinassem antes a machucar pessoas do que a ajudá-las." (pág. 40)

"Devo lhe dizer algo sobre pescoços no Japão, se ainda não sabe; é que via de regra os homens japoneses sentem a respeito de um pescoço e garganta de mulher o mesmo que os homens no Ocidente podem sentir com relação às pernas. É por isso que as gueixas usam as golas de seus quimonos tão abertas atrás que se veem as primeiras vértebras de sua espinha; suponho que é como uma mulher em Paris usando saia bem curta." (pág. 69)

"-Nenhum de nós recebe neste mundo a bondade que deveria receber - ele me disse, e por um momento apertou os olhos como para dizer que eu refletisse a sério naquilo." (pág. 122)

"Nós humanos somos apenas parte de algo muito maior. Quando caminhamos podemos esmagar um besouro, ou simplesmente causar alguma agitação no ar, de modo que uma mosca pouse onde de outra forma não iria parar. E se pensarmos no mesmo exemplo, mas conosco em lugar do inseto, e com o universo no papel que nós tínhamos desempenhado, fica perfeitamente claro que todos os dias somos afetados por forças que não controlamos, assim como o pobre besouro não controla nosso gigantesco pé descendo sobre ele." (pág. 137)

"Não fingirei que nunca vinha gente pobre a Gion, mas raramente víamos alguém como aqueles camponeses famintos, pobres demais até para tomarem banho. Eu jamais teria imaginado que eu - uma escrava aterrorizada pela maldade de Hatsumomo - tivesse uma vida relativamente afortunada durante a Grande Depressão. Mas naquele dia entendi que era verdade." (pág. 198)

"A dor é uma coisa muito esquisita; ficamos tão desamparados diante dela. É como uma janela que simplesmente se abre conforme seu próprio capricho. O aposento fica frio, e nada podemos fazer senão tremer. Mas abre-se menos cada vez, e menos ainda. E um dia nos espantamos porque ela se foi." (pág. 271)

"Fiquei pensando em quanto aquele homem pagara por aquele privilégio. E lembro-me de que a certa altura desejei que ele estivesse se divertindo mais do que eu. Não senti mais prazer do que se alguém tivesse esfregando uma lixa dentro de minhas coxas até eu sangrar." (pág. 300)

"-Você tem dezoito anos, Sayuri - prossegui ela. - Nem você nem eu sabemos qual é o seu destino. E talvez você nunca saiba! O destino não é sempre como uma festa no fim da tarde. Às vezes é apenas lutar na vida, dia após dia." (pág. 311)

"-Não podemos perder tempo pensando nessas coisas. Nada é mais triste do que o futuro exceto talvez o passado." (pág. 354)

"Fui ao nosso okiya e olhei saudosa a pesada fechadura de ferro na porta. Quando estava trancada lá dentro, eu queria sair. Agora a vida mudara tanto que, estando trancada do lado de fora, eu queria entrar de novo. Mas era uma mulher adulta agora - livre, se eu quisesse, para sair de Gion e nunca mais voltar." (pág. 370)

"Embora deva dizer que só depois de viver longo tempo num estado de contentamento pude finalmente olhar para trás e admitir quanto minha vida fora desolada. Estou certa de que de outro modo jamais poderia ter contado minha história. Acho que ninguém pode falar da dor enquanto ainda a sofre." (pág. 441)

"Segurava a bengala com suas duas frágeis mãos, de olhos fechados, e inspirava profundamente o aroma do passado.
-Às vezes - suspirou ele - acho que as coisas que recordo são mais reais do que as que vejo." (pág. 449/450)

Nenhum comentário: