Título: A perseguição
Autor: Sidney Sheldon
Páginas: 234
História fiel aos padrões de Sheldon, no entanto uma história curta e linear, sem nenhuma ramificação ou trama paralela. Não encontrei referência a este livro na Wikipédia (em inglês).
A história é simples: um magnata japonês morre num acidente aéreo e o filho, com 18 anos, deve assumir as empresas. O tio do garoto acha que o testamento foi injusto e ele é que deve herdar a empresa. Para que isso aconteça, só há uma maneira: o garoto deve morrer. O resto do livro é "a perseguição".
Trechos interessantes:
"Sabe por que os nossos negócios crescem tão depressa, Masao? Porque somos melhores do que os outros. Porque nos importamos mais. Somos afortunados por termos nascido japoneses. Em outros países, os trabalhadores fazem greve durante todo o tempo. Pensam apenas em si mesmos. No Japão, somos todos de uma só família, e o que é bom para um é bom para todos." (pág. 16/17)
"Não havia nenhum motivo para que ganhasse aquela corrida, nada significativo para ele. E, no entanto, sabia que tinha de continuar. Era uma questão de orgulho. Já que entrara na corrida, tinha de vencê-la. Não seria o segundo melhor." (pág. 60)
"Foi só então que Masao compreendeu o quanto sentira falta de sua língua. O japonês era uma língua tão civilizada, tão fácil de compreender!" (pág. 79)
"Masao nunca pensara sobre a fome antes. Quando uma pessoa é bem alimentada, não pensa em comida; mas quando uma pessoa está faminta, não consegue pensar em outra coisa." (pág. 101)
"Quando a vida é serena e suave, o Tempo é um amigo. Quando a vida fica repleta de problemas, o Tempo se torna um inimigo." (pág. 157)
"Masao tentara explicar a atitude dos trabalhadores no Japão.
-É como uma família. O trabalhador é bem cuidado enquanto viver. Sabe que não será dispensado. A prosperidade da companhia é também a sua prosperidade. E ele se orgulha de seu trabalho." (pág. 199)
sábado, 26 de dezembro de 2015
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
Profecia
Título: Profecia
Autor: S. J. Parris
Páginas: 320
Outro romance histórico, seguindo a linha do primeiro (Heresia): Giordano Bruno desta vez está às voltas com espiões e dissidentes que planejam destronar a rainha Elizabeth para que a rainha católica Maria Stuart seja aclamada.
É um livro policial onde o detetive foi substituído pela figura histórica de Giordano Bruno, mas os ingredientes são os mesmos: mistério, suspense, crime, traição, etc. Leitura primorosa, fazendo com que você se sinta como se estivesse na própria Londres do século XVI.
Trechos interessantes:
"-'Quando ouvires falar de guerras e rumores de guerras, não te perturbes; pois é forçoso que essas coisas aconteçam, mas ainda não é o fim - pondero citando o Evangelho de Marcos." (pág. 27)
"Que rapaz de 17 anos, tendo provado a independência, devolveria de bom grado as rédeas do governo à sua mãe? Ele vai precisar de maior vantagem material do que de sentimento filial para ser convencido a apoiar a causa dela." (pág. 44)
"[...]sem dinheiro, títulos ou terras em meu nome, preciso me tornar indispensável aos homens de poder para progredir, e aprendi pelo método mais difícil que a maioria dos poderosos prefere quem os entretenha a quem os esclareça." (pág. 52)
"Por um instante, reflito sobre o caminho estabelecido para as jovens nascidas na nobreza: quão brevemente lhes é permitido brilhar, serem exibidas e admiradas em público em seu próprio meio social, só o tempo exato que levam para encontrar um marido adequado. O dia do casamento é o zênite de seu curto florescimento. Depois disso, esperam-se que desapareçam outra vez no segundo plano, que cubram os cabelos e se contentem com os reflexos da glória do marido e dos filhos." (pág. 153)
"Claro, foi meu antigo criado que testemunhou contra mim no patíbulo, mas um homem diz qualquer coisa quando está com uma corda no pescoço, não é?" (pág. 164)
"-Ele gostava de você - diz Castelnau mansamente. - Era um esquisitão, o Léon, meio fechado. Mas falava muito bem de você. Acho que você era quem ele mais via como um amigo nesse país.
-Eu deveria ter sido um amigo melhor - digo, e a voz sai rouca.
-Nós todos deveríamos tê-lo tratado melhor. O que dá pena é que nunca se pensou nisso enquanto ele estava vivo." (pág. 257)
"Mesmo assim, onde o dinheiro chega, o desespero vem atrás: mendigos tendo apenas míseras camadas de farrapos entre si e a umidade de outubro perambulam por perto das escadas, choramingando seus pedidos de esmolas aos comerciantes bem alimentados e cobertos de peles." (pág. 272)
"Oriundo de um país governado pelo açoite do Santo Ofício, sei muito bem com que facilidade um homem ameaçado pela dor física diz qualquer coisa passível de agradar àquele que pode ordenar que essa dor cesse." (pág. 286)
"-Se eu não soubesse que isso é impossível, Bruno, seria capaz de jurar que você fez um pacto com o próprio diabo. Você é indestrutível. Mas acho que o diabo não teria coragem de fazer essa aposta. Teria medo de você ser mais esperto que ele." (pág. 304)
Autor: S. J. Parris
Páginas: 320
Outro romance histórico, seguindo a linha do primeiro (Heresia): Giordano Bruno desta vez está às voltas com espiões e dissidentes que planejam destronar a rainha Elizabeth para que a rainha católica Maria Stuart seja aclamada.
É um livro policial onde o detetive foi substituído pela figura histórica de Giordano Bruno, mas os ingredientes são os mesmos: mistério, suspense, crime, traição, etc. Leitura primorosa, fazendo com que você se sinta como se estivesse na própria Londres do século XVI.
Trechos interessantes:
"-'Quando ouvires falar de guerras e rumores de guerras, não te perturbes; pois é forçoso que essas coisas aconteçam, mas ainda não é o fim - pondero citando o Evangelho de Marcos." (pág. 27)
"Que rapaz de 17 anos, tendo provado a independência, devolveria de bom grado as rédeas do governo à sua mãe? Ele vai precisar de maior vantagem material do que de sentimento filial para ser convencido a apoiar a causa dela." (pág. 44)
"[...]sem dinheiro, títulos ou terras em meu nome, preciso me tornar indispensável aos homens de poder para progredir, e aprendi pelo método mais difícil que a maioria dos poderosos prefere quem os entretenha a quem os esclareça." (pág. 52)
"Por um instante, reflito sobre o caminho estabelecido para as jovens nascidas na nobreza: quão brevemente lhes é permitido brilhar, serem exibidas e admiradas em público em seu próprio meio social, só o tempo exato que levam para encontrar um marido adequado. O dia do casamento é o zênite de seu curto florescimento. Depois disso, esperam-se que desapareçam outra vez no segundo plano, que cubram os cabelos e se contentem com os reflexos da glória do marido e dos filhos." (pág. 153)
"Claro, foi meu antigo criado que testemunhou contra mim no patíbulo, mas um homem diz qualquer coisa quando está com uma corda no pescoço, não é?" (pág. 164)
"-Ele gostava de você - diz Castelnau mansamente. - Era um esquisitão, o Léon, meio fechado. Mas falava muito bem de você. Acho que você era quem ele mais via como um amigo nesse país.
-Eu deveria ter sido um amigo melhor - digo, e a voz sai rouca.
-Nós todos deveríamos tê-lo tratado melhor. O que dá pena é que nunca se pensou nisso enquanto ele estava vivo." (pág. 257)
"Mesmo assim, onde o dinheiro chega, o desespero vem atrás: mendigos tendo apenas míseras camadas de farrapos entre si e a umidade de outubro perambulam por perto das escadas, choramingando seus pedidos de esmolas aos comerciantes bem alimentados e cobertos de peles." (pág. 272)
"Oriundo de um país governado pelo açoite do Santo Ofício, sei muito bem com que facilidade um homem ameaçado pela dor física diz qualquer coisa passível de agradar àquele que pode ordenar que essa dor cesse." (pág. 286)
"-Se eu não soubesse que isso é impossível, Bruno, seria capaz de jurar que você fez um pacto com o próprio diabo. Você é indestrutível. Mas acho que o diabo não teria coragem de fazer essa aposta. Teria medo de você ser mais esperto que ele." (pág. 304)
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
A ladeira da saudade
Título: A ladeira da saudade
Autor: Ganymédes José
Páginas: 200
O livro narra a aventura de Lília, jovem sonhadora, na cidade de Ouro Preto. Cansada da rotina de São Paulo, Lília vai passar uns dias na casa de sua tia em Ouro Preto, onde faz novas amizades e encontra um novo amor.
O livro em si é mais uma aula de história já que apresenta em detalhes todos os aspectos de Ouro Preto, sua história, sua arquitetura, suas artes, seus poetas e tudo mais. Enfim, a história do livro é simples, mas os aspectos históricos são fascinantes.
Trechos interessantes:
"Em meu coração jovem há tantos caminhos que não consigo percorrer! Por que sou assim tão contraditória? Agora estou triste... agora estou alegre... Aqui estou radiante mas, ali adiante, sou toda lágrimas! Por que não sou sol-amarelo-calor-e-luz? Por que não aprendo a caminhar sem ter destino até o encontro dos braços que me amem? Braços que me aqueçam... braços que tirem de mim todo o sol que tenho para dar ao mundo!" (pág. 13)
Para Lília, todas as pessoas tinham dois eus: o eu de fora, o físico, que todo o mundo vê, e o eu de dentro, o invisível, que só aparece quando as pessoas são honestas, espontâneas, dedicadas... como acontecia com o pai. [...] Podiam existir pessoas bonitas por fora e feias por dentro? Talvez pudesse, porque Lília conhecia pessoas extremamente feias, porém com um eu interior maravilhoso!" (pág. 15/16)
"Para falar a verdade, entre ter um amigo falso e um inimigo franco, eu prefiro o inimigo franco porque posso confiar nele." (pág.30)
"Depois que Tampinha beijou tia Ninota, Lília também beijou-a. Estranho! Foi um gesto impensado! Até então ela nunca havia beijado espontaneamente a tia! Porém, o gesto da Tampinha foi tão natural que, sem querer, Lília fez igual. Com isso, pôs-se a pensar: 'Será que o amor é assim mesmo, aprendemos sem perceber e precisamos de alguém que nos ensine como fazer?'" (pág. 65)
"Das lojas, portas e janelas, abertas para a rua, emanava um cheiro misterioso. Mofo? Não era isso. Era cheiro de coisas antigas, de lembranças; 'Se saudade tiver cheiro, esse é o cheiro da saudade' - pensou, correndo o dedo sobre uma parede áspera." (pág. 133)
"Não são atitudes como a sua que consertam o mundo. Não vê? Existe uma grita geral por aí, dizendo que não há mais diálogo entre pais e filhos. Dialogar não é só perguntar como vai o corpo, a escola, o estudo, se está precisando de dinheiro ou gasolina para o automóvel. Dialogar é mais do que isso, Flávia... dialogar é a gente conversar com os olhos, com o coração. Aí, quando chega o momento certo, é que sabemos se o diálogo funcionou." (pág. 194)
Autor: Ganymédes José
Páginas: 200
O livro narra a aventura de Lília, jovem sonhadora, na cidade de Ouro Preto. Cansada da rotina de São Paulo, Lília vai passar uns dias na casa de sua tia em Ouro Preto, onde faz novas amizades e encontra um novo amor.
O livro em si é mais uma aula de história já que apresenta em detalhes todos os aspectos de Ouro Preto, sua história, sua arquitetura, suas artes, seus poetas e tudo mais. Enfim, a história do livro é simples, mas os aspectos históricos são fascinantes.
Trechos interessantes:
"Em meu coração jovem há tantos caminhos que não consigo percorrer! Por que sou assim tão contraditória? Agora estou triste... agora estou alegre... Aqui estou radiante mas, ali adiante, sou toda lágrimas! Por que não sou sol-amarelo-calor-e-luz? Por que não aprendo a caminhar sem ter destino até o encontro dos braços que me amem? Braços que me aqueçam... braços que tirem de mim todo o sol que tenho para dar ao mundo!" (pág. 13)
Para Lília, todas as pessoas tinham dois eus: o eu de fora, o físico, que todo o mundo vê, e o eu de dentro, o invisível, que só aparece quando as pessoas são honestas, espontâneas, dedicadas... como acontecia com o pai. [...] Podiam existir pessoas bonitas por fora e feias por dentro? Talvez pudesse, porque Lília conhecia pessoas extremamente feias, porém com um eu interior maravilhoso!" (pág. 15/16)
"Para falar a verdade, entre ter um amigo falso e um inimigo franco, eu prefiro o inimigo franco porque posso confiar nele." (pág.30)
"Depois que Tampinha beijou tia Ninota, Lília também beijou-a. Estranho! Foi um gesto impensado! Até então ela nunca havia beijado espontaneamente a tia! Porém, o gesto da Tampinha foi tão natural que, sem querer, Lília fez igual. Com isso, pôs-se a pensar: 'Será que o amor é assim mesmo, aprendemos sem perceber e precisamos de alguém que nos ensine como fazer?'" (pág. 65)
"Das lojas, portas e janelas, abertas para a rua, emanava um cheiro misterioso. Mofo? Não era isso. Era cheiro de coisas antigas, de lembranças; 'Se saudade tiver cheiro, esse é o cheiro da saudade' - pensou, correndo o dedo sobre uma parede áspera." (pág. 133)
"Não são atitudes como a sua que consertam o mundo. Não vê? Existe uma grita geral por aí, dizendo que não há mais diálogo entre pais e filhos. Dialogar não é só perguntar como vai o corpo, a escola, o estudo, se está precisando de dinheiro ou gasolina para o automóvel. Dialogar é mais do que isso, Flávia... dialogar é a gente conversar com os olhos, com o coração. Aí, quando chega o momento certo, é que sabemos se o diálogo funcionou." (pág. 194)
sexta-feira, 18 de dezembro de 2015
A filha da minha mãe e eu
Título: A filha da minha mãe e eu
Autor: Maria Fernanda Guerreiro
Páginas: 272
Apesar do tema central ser a relação entre mãe e filha, o livro está repleto de situações de conflitos familiares de toda natureza: amor, ciúme, drogas, rejeição, preconceito, adoção, etc. A autora conseguiu realizar uma miscelânea de sentimentos entre as personagens do livro que, dificilmente, um leitor não conseguirá se situar em pelo menos um pedaço da historia.
O livro narra a história de Mariana que, ao ser mãe, rememora a sua própria convivência com a mãe e a falta de afinidade entre ambas, situação comum a muitas adolescentes. Com o desenrolar da história fica claro que todos têm seus problemas e que, de uma maneira ou de outra, acabam interferindo nas relações pessoais mas, no fim, descobre que o amor de mãe tem vária formas.
Trechos interessantes:
"Quando vi as duas listras azuis no teste de gravidez, tive uma certeza: preciso me sentir filha antes de me tornar mãe. Porque uma parte da minha alegria era inventada e, a outra, não era minha." (pág. 7)
"Essa era uma grande diferença entre os dois. Enquanto meu pai ressaltava como era prazeroso alguma coisa, apesar de ter que abrir mão de outra, minha mãe preferia falar primeiro que abdicava de alguma coisa pela obrigação de outra. Com ele, depois do trabalho, restava a alegria. Já com minha mãe, como a grande maioria das mães, estava ali noite e dia, no prazer sim, mas, principalmente, na obrigação de educar. E só hoje sei que isso faz toda a diferença no jeito como uma criança olha um adulto." (pág. 28)
"Minha mãe costuma dizer que ela podia esfolar vivo um dos filhos, mas que ninguém mais podia tocar um dedo. Era o direito da maternidade. O direito de errar porque estava tentando acertar." (pág. 60)
"Muitas vezes não é o que se diz que magoa, mas o tom com que se fala faz toda a diferença. E eu conhecia todas as variações de voz da minha mãe para saber que aquele clima não melhoraria no dia seguinte, nem no outro." (pág. 100/101)
"A verdade é que éramos duas estranhas que não sabiam demonstrar o sentimento que a outra precisava. De repente, tudo me pareceu tão simples e o tempo entre nós tão desperdiçado. Era fato o amor que existia entre mãe e filha, mas os caminhos escolhidos para demonstrá-lo não tinham sido os mesmos." (pág. 117)
"-Pai, você tem medo de morrer?
-Acho que num grau ou em outro todo mundo tem.
-Por quê?! Se a gente não lembra de nada antes de nascer, provavelmente também não vai lembrar de nada depois que morrer. Não deve ter dor nenhuma - falei, tranquila." (pág. 134)
"A mudança teria de ser como uma explosão. Partindo de um ponto pequenininho dentro dele e indo para fora, tomando conta de tudo ao redor. Seus hábitos teriam que mudar, seus amigos de balada, seu modo de encarar a vida e, sobretudo, na minha opinião, sua capacidade de lidar com frustrações.
Ele teria que aprender a não mais fugir para as drogas quando as coisas não saíssem como desejava. E o mais difícil: teria que buscar a felicidade em outro lugar, num lugar mais verdadeiro e não na química que, apesar de promover alegria, destruía seu corpo e, pouco a pouco, sua capacidade de raciocínio e convivência com as pessoas. Mas essa era uma decisão que pertencia a ele. Só a ele." (pág. 189)
"Notei que quando a gente percebe que os outros têm os mesmos problemas que a gente, isso ajuda a diminuí-los." (pág. 216)
"Mas não é nos sentimentos demonstrados que residem nossos maiores erros e sim naquele amor que, apesar de existir, não se mostra. Os pais querem tanto ser justos com os filhos que, às vezes, acabam sendo injustos." (pág. 259)
"Então, se você está receosa de achar que não vou ligar para o que você vai me contar só porque eu já vi isso um milhão de vezes, você está enganada. O ser humano sempre me surpreendeu. Isso porque ele tem o livre-arbítrio, o que faz toda a diferença na história de qualquer um. Provavelmente, a única coisa em você que é igual a todo mundo é o fato de sentir-se diferente." (pág. 262)
Autor: Maria Fernanda Guerreiro
Páginas: 272
Apesar do tema central ser a relação entre mãe e filha, o livro está repleto de situações de conflitos familiares de toda natureza: amor, ciúme, drogas, rejeição, preconceito, adoção, etc. A autora conseguiu realizar uma miscelânea de sentimentos entre as personagens do livro que, dificilmente, um leitor não conseguirá se situar em pelo menos um pedaço da historia.
O livro narra a história de Mariana que, ao ser mãe, rememora a sua própria convivência com a mãe e a falta de afinidade entre ambas, situação comum a muitas adolescentes. Com o desenrolar da história fica claro que todos têm seus problemas e que, de uma maneira ou de outra, acabam interferindo nas relações pessoais mas, no fim, descobre que o amor de mãe tem vária formas.
Trechos interessantes:
"Quando vi as duas listras azuis no teste de gravidez, tive uma certeza: preciso me sentir filha antes de me tornar mãe. Porque uma parte da minha alegria era inventada e, a outra, não era minha." (pág. 7)
"Essa era uma grande diferença entre os dois. Enquanto meu pai ressaltava como era prazeroso alguma coisa, apesar de ter que abrir mão de outra, minha mãe preferia falar primeiro que abdicava de alguma coisa pela obrigação de outra. Com ele, depois do trabalho, restava a alegria. Já com minha mãe, como a grande maioria das mães, estava ali noite e dia, no prazer sim, mas, principalmente, na obrigação de educar. E só hoje sei que isso faz toda a diferença no jeito como uma criança olha um adulto." (pág. 28)
"Minha mãe costuma dizer que ela podia esfolar vivo um dos filhos, mas que ninguém mais podia tocar um dedo. Era o direito da maternidade. O direito de errar porque estava tentando acertar." (pág. 60)
"Muitas vezes não é o que se diz que magoa, mas o tom com que se fala faz toda a diferença. E eu conhecia todas as variações de voz da minha mãe para saber que aquele clima não melhoraria no dia seguinte, nem no outro." (pág. 100/101)
"A verdade é que éramos duas estranhas que não sabiam demonstrar o sentimento que a outra precisava. De repente, tudo me pareceu tão simples e o tempo entre nós tão desperdiçado. Era fato o amor que existia entre mãe e filha, mas os caminhos escolhidos para demonstrá-lo não tinham sido os mesmos." (pág. 117)
"-Pai, você tem medo de morrer?
-Acho que num grau ou em outro todo mundo tem.
-Por quê?! Se a gente não lembra de nada antes de nascer, provavelmente também não vai lembrar de nada depois que morrer. Não deve ter dor nenhuma - falei, tranquila." (pág. 134)
"A mudança teria de ser como uma explosão. Partindo de um ponto pequenininho dentro dele e indo para fora, tomando conta de tudo ao redor. Seus hábitos teriam que mudar, seus amigos de balada, seu modo de encarar a vida e, sobretudo, na minha opinião, sua capacidade de lidar com frustrações.
Ele teria que aprender a não mais fugir para as drogas quando as coisas não saíssem como desejava. E o mais difícil: teria que buscar a felicidade em outro lugar, num lugar mais verdadeiro e não na química que, apesar de promover alegria, destruía seu corpo e, pouco a pouco, sua capacidade de raciocínio e convivência com as pessoas. Mas essa era uma decisão que pertencia a ele. Só a ele." (pág. 189)
"Notei que quando a gente percebe que os outros têm os mesmos problemas que a gente, isso ajuda a diminuí-los." (pág. 216)
"Mas não é nos sentimentos demonstrados que residem nossos maiores erros e sim naquele amor que, apesar de existir, não se mostra. Os pais querem tanto ser justos com os filhos que, às vezes, acabam sendo injustos." (pág. 259)
"Então, se você está receosa de achar que não vou ligar para o que você vai me contar só porque eu já vi isso um milhão de vezes, você está enganada. O ser humano sempre me surpreendeu. Isso porque ele tem o livre-arbítrio, o que faz toda a diferença na história de qualquer um. Provavelmente, a única coisa em você que é igual a todo mundo é o fato de sentir-se diferente." (pág. 262)
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
Dois dedos de prosa
Título: Dois dedos de prosa
Autor: Maria do Rosário Cassimiro
Páginas: 196
Este livro de crônicas é um grande marco da literatura goiana. A autora, especialista em educação e ex-reitora da UFG, discorre sobre a história de Goiás, suas personalidades, sua evolução e, principalmente, sobre Catalão - sua terra natal.
São narrativas agradáveis de se ler, mostrando a cultura e o comportamento do povo goiano, fatos estes cuja maioria é desconhecida pelos próprios goianos. Para quem é da terra é fácil se identificar com as personagens e bate aquele sentimento de saudosismo...
Trechos interessantes:
"Dou um conselho aos meus caríssimos leitores: poupem e verão como a medida lhes será frutífera. Só lamento que, nestes tempos de crise, meu conselho vá de encontro ao do presidente Lula, que mandou o povo gastar, conselho que contraria tudo o que aprendi na vida, em matéria de economia. Estendo minha mão à palmatória, quanto ao fato de não entender de macroeconomia. Mas de microeconomia entendo um pouco, e estou satisfeita com esse pouco. Tenho-me dado bem com ele." (pág. 15)
"Lembro-me de que há duas décadas, quando o governo federal lançou a Ferrovia Norte-Sul, a mídia nacional, notadamente a imprensa escrita, julgou a ideia pejorativamente, como se fosse uma tentativa de 'ligar o nada a coisa nenhuma'." (pág. 25)
"Guardo um profundo respeito pelos pioneiros. Aqueles que colocaram o primeiro degrau da escada. Como é difícil plantar o primeiro degrau!... Sobrepor o segundo, o terceiro, o quarto e todos os demais torna-se uma tarefa cada vez mais simples, uma vez que, ao colocá-los, encontramo-nos, já, na escada. Mas quem implanta o primeiro degrau ainda está com os pés no chão e tem de vencer, sem dúvidas, um mundo todo de obstáculos para se fazer chegar ao histórico primeiro marco." (pág. 45)
"Não dou por encerrada minha saga de batalhadora. Prosseguirei com minha missão. Ainda não posso, portanto, repetir as santas palavras do Apóstolo Paulo, pois se é verdade que conservo a fé, não é verdade que tenha terminado a tarefa." (pág. 63)
"Se existem tipos de trabalhos condenáveis aos mais jovens - e eles existem - não é proibindo indistintamente o trabalho a menores de qualquer idade que se fará a justiça. Em muitos casos- se não for na maioria deles - esses pequenos jovens jogados na ociosidade, tornam-se menores marginais, meninos de rua, instrumentos fáceis nas mãos de traficantes de drogas e de outros tipos de bandidagem, nas grandes cidades. Em geral, eles descuidam da escola, tornam-se rebeldes na família e se perdem para a vida, causando enormes males à sociedade e a si mesmos. A ociosidade, também, é uma escola - a pior delas." (pág. 66/67)
"Dizem, e a ciência o prova, que o mundo já foi dos dinossauros, de aves descomunais e de répteis gigantes. É tamanha a saga das transformações que, às vezes, me pergunto se chegará o dia em que algum ser vivente dirá: 'O mundo já foi dos humanos'." (pág. 119)
"Assim é que nos estamos acostumando ao fato de que o desenvolvimento chega sempre antes da educação. No comboio do progresso, a educação é o último dos vagões. É por isso que temos, até hoje, os nossos elevadores riscados, nossos bens públicos - telefones, lâmpadas, arborização, etc. - rabiscados ou danificados, porque o desenvolvimento chegou antes da educação. Quando se projeta uma hidrelétrica nos confins dos nossos sertões, ou as estradas penetram os ermos do nosso território pátrio, a escola não vai junto, chega muito depois, sempre atrasada." (pág. 134)
Autor: Maria do Rosário Cassimiro
Páginas: 196
Este livro de crônicas é um grande marco da literatura goiana. A autora, especialista em educação e ex-reitora da UFG, discorre sobre a história de Goiás, suas personalidades, sua evolução e, principalmente, sobre Catalão - sua terra natal.
São narrativas agradáveis de se ler, mostrando a cultura e o comportamento do povo goiano, fatos estes cuja maioria é desconhecida pelos próprios goianos. Para quem é da terra é fácil se identificar com as personagens e bate aquele sentimento de saudosismo...
Trechos interessantes:
"Dou um conselho aos meus caríssimos leitores: poupem e verão como a medida lhes será frutífera. Só lamento que, nestes tempos de crise, meu conselho vá de encontro ao do presidente Lula, que mandou o povo gastar, conselho que contraria tudo o que aprendi na vida, em matéria de economia. Estendo minha mão à palmatória, quanto ao fato de não entender de macroeconomia. Mas de microeconomia entendo um pouco, e estou satisfeita com esse pouco. Tenho-me dado bem com ele." (pág. 15)
"Lembro-me de que há duas décadas, quando o governo federal lançou a Ferrovia Norte-Sul, a mídia nacional, notadamente a imprensa escrita, julgou a ideia pejorativamente, como se fosse uma tentativa de 'ligar o nada a coisa nenhuma'." (pág. 25)
"Guardo um profundo respeito pelos pioneiros. Aqueles que colocaram o primeiro degrau da escada. Como é difícil plantar o primeiro degrau!... Sobrepor o segundo, o terceiro, o quarto e todos os demais torna-se uma tarefa cada vez mais simples, uma vez que, ao colocá-los, encontramo-nos, já, na escada. Mas quem implanta o primeiro degrau ainda está com os pés no chão e tem de vencer, sem dúvidas, um mundo todo de obstáculos para se fazer chegar ao histórico primeiro marco." (pág. 45)
"Não dou por encerrada minha saga de batalhadora. Prosseguirei com minha missão. Ainda não posso, portanto, repetir as santas palavras do Apóstolo Paulo, pois se é verdade que conservo a fé, não é verdade que tenha terminado a tarefa." (pág. 63)
"Se existem tipos de trabalhos condenáveis aos mais jovens - e eles existem - não é proibindo indistintamente o trabalho a menores de qualquer idade que se fará a justiça. Em muitos casos- se não for na maioria deles - esses pequenos jovens jogados na ociosidade, tornam-se menores marginais, meninos de rua, instrumentos fáceis nas mãos de traficantes de drogas e de outros tipos de bandidagem, nas grandes cidades. Em geral, eles descuidam da escola, tornam-se rebeldes na família e se perdem para a vida, causando enormes males à sociedade e a si mesmos. A ociosidade, também, é uma escola - a pior delas." (pág. 66/67)
"Dizem, e a ciência o prova, que o mundo já foi dos dinossauros, de aves descomunais e de répteis gigantes. É tamanha a saga das transformações que, às vezes, me pergunto se chegará o dia em que algum ser vivente dirá: 'O mundo já foi dos humanos'." (pág. 119)
"Assim é que nos estamos acostumando ao fato de que o desenvolvimento chega sempre antes da educação. No comboio do progresso, a educação é o último dos vagões. É por isso que temos, até hoje, os nossos elevadores riscados, nossos bens públicos - telefones, lâmpadas, arborização, etc. - rabiscados ou danificados, porque o desenvolvimento chegou antes da educação. Quando se projeta uma hidrelétrica nos confins dos nossos sertões, ou as estradas penetram os ermos do nosso território pátrio, a escola não vai junto, chega muito depois, sempre atrasada." (pág. 134)
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
A estrela sobe
Título: A estrela sobe
Autor: Marques Rebelo
Páginas: 220
Leniza é uma garota pobre, que mora no subúrbio somente com a mãe e que tem um sonho desde criança: tornar-se cantora de rádio. No início, quando ainda era um sonho, aquele era, na sua imaginação, um mundo de glamour e satisfação e o fato de pertencer a este mundo garantia a realização de todos os seus desejos.
Mais tarde, quando passou de sonho a possibilidade, ela viu que era preciso mais do que apenas talento para alcançar aquele patamar. Mas, como era seu sonho, batalhou para isso. E, enquanto subia artisticamente, os seus valores morais iam caindo progressivamente. Ao chegar ao topo, não encontrou aquela alegria que ela imaginava.
Trechos interessantes:
"Mas sempre era uma espécie de liberdade andar na rua, não ter horas certas, conversar com este, conversar com aquele, conhecer gente, ver passar gente (por que se encontram nas ruas criaturas às quais, por um sorriso, um piscar de olhos, uma inclinação de cabeça, nos sentimos imediatamente ligados, confundidos os destinos e os desejos, e que passam, e em noventa por cento dos casos, nunca mais vemos?)" (pág. 26/27)
"Uma das habilidades (do diabo) consiste em nos apresentar como triunfos, as nossas derrotas." (pág. 72)
"O tique-taque do relógio aumentava ainda mais o silêncio. Lembrou-se das palavras ouvidas num silêncio assim, na casa pequena da Rua da América. Parecia que as estava ouvindo novamente, martelando o silêncio, tornando o silêncio maior, mais doloroso, mais ameaçador. 'Não devia perdoar. Eu só tenho te ajudado na vida. Você se esquece, você finge esquecer. Tenho sempre te ajudado nos momentos mais difíceis, dia e noite, sem uma queixa, tolerando tudo, suportando tudo. Nunca reclamei nada. Nada! Nada! Mas assim também é demais, Martin. Demais, passa da conta. O que os olhos não veem, o coração não sente, mas eu sempre vi tudo, Martin. Tudo, tudo!'" (pág. 102)
"Leniza levantou-se e encaminhou-se atrás dele para o mostruário, que ficava no fundo da comprida sala. -São muito caros?
Ele vergou-se, num gesto galante.
-Depende do que a senhorita chama caro...
-Sempre chamei caro a tudo que custa muito dinheiro, ué...
-Aí é que erra, se me perdoa dizê-lo. Custa caro o objeto cujo preço não corresponde à sua utilidade. Ora, não pode haver nada mais barato do que um rádio, porque não há objeto mais útil do que ele. É o mundo em casa. Informa, diverte, instrui." (pág. 119)
"Era lamentável como cantora, e, fato raro no meio, tinha perfeita consciência disso. 'Mas onde chego, abafo', dizia mostrando os dentes miraculosamente claros e iguais. E era verdade. A sua graça pessoal, a sua beleza muito retocada e o seu corpo tentador - e o que se propalava dos seus vícios! - faziam transformar a sua mediocridade vocal numa completa sedução, que ela sabia explorar com um tino admirável." (pág. 134)
"Sentia-se miserável,imunda, escória humana,campo de todos os pecados, lama, pura lama. Mas subira. Dois ou três degraus na escada do mundo. Via que já estava num plano bem acima, algumas figuras já ficavam menores, a miséria escondia-se já numa bruma longínqua. Mas precisava subir mais, sempre mais, custasse o que custasse." (pág. 154)
"[...]
-Tuas mãos não dizem isto...
-Mentem.
-Não acredito.
-Você sempre duvidou de todas as verdades e acreditou em todas as mentiras." (pág. 177)
"As horas correm. Cinco horas. Sua mãe apareceu com um prato de mingau. Entregou-lhe o prato olhando para o teto. Como o aceitou, como conseguira engoli-lo? E a mãe ao lado, esperando que ela terminasse. Oh, quão penosa era a presença da mãe! Como imaginar que um coração tão bom tivesse ficado tão duro, tão hostil, tão distante?" (pág. 216)
Autor: Marques Rebelo
Páginas: 220
Leniza é uma garota pobre, que mora no subúrbio somente com a mãe e que tem um sonho desde criança: tornar-se cantora de rádio. No início, quando ainda era um sonho, aquele era, na sua imaginação, um mundo de glamour e satisfação e o fato de pertencer a este mundo garantia a realização de todos os seus desejos.
Mais tarde, quando passou de sonho a possibilidade, ela viu que era preciso mais do que apenas talento para alcançar aquele patamar. Mas, como era seu sonho, batalhou para isso. E, enquanto subia artisticamente, os seus valores morais iam caindo progressivamente. Ao chegar ao topo, não encontrou aquela alegria que ela imaginava.
Trechos interessantes:
"Mas sempre era uma espécie de liberdade andar na rua, não ter horas certas, conversar com este, conversar com aquele, conhecer gente, ver passar gente (por que se encontram nas ruas criaturas às quais, por um sorriso, um piscar de olhos, uma inclinação de cabeça, nos sentimos imediatamente ligados, confundidos os destinos e os desejos, e que passam, e em noventa por cento dos casos, nunca mais vemos?)" (pág. 26/27)
"Uma das habilidades (do diabo) consiste em nos apresentar como triunfos, as nossas derrotas." (pág. 72)
"O tique-taque do relógio aumentava ainda mais o silêncio. Lembrou-se das palavras ouvidas num silêncio assim, na casa pequena da Rua da América. Parecia que as estava ouvindo novamente, martelando o silêncio, tornando o silêncio maior, mais doloroso, mais ameaçador. 'Não devia perdoar. Eu só tenho te ajudado na vida. Você se esquece, você finge esquecer. Tenho sempre te ajudado nos momentos mais difíceis, dia e noite, sem uma queixa, tolerando tudo, suportando tudo. Nunca reclamei nada. Nada! Nada! Mas assim também é demais, Martin. Demais, passa da conta. O que os olhos não veem, o coração não sente, mas eu sempre vi tudo, Martin. Tudo, tudo!'" (pág. 102)
"Leniza levantou-se e encaminhou-se atrás dele para o mostruário, que ficava no fundo da comprida sala. -São muito caros?
Ele vergou-se, num gesto galante.
-Depende do que a senhorita chama caro...
-Sempre chamei caro a tudo que custa muito dinheiro, ué...
-Aí é que erra, se me perdoa dizê-lo. Custa caro o objeto cujo preço não corresponde à sua utilidade. Ora, não pode haver nada mais barato do que um rádio, porque não há objeto mais útil do que ele. É o mundo em casa. Informa, diverte, instrui." (pág. 119)
"Era lamentável como cantora, e, fato raro no meio, tinha perfeita consciência disso. 'Mas onde chego, abafo', dizia mostrando os dentes miraculosamente claros e iguais. E era verdade. A sua graça pessoal, a sua beleza muito retocada e o seu corpo tentador - e o que se propalava dos seus vícios! - faziam transformar a sua mediocridade vocal numa completa sedução, que ela sabia explorar com um tino admirável." (pág. 134)
"Sentia-se miserável,imunda, escória humana,campo de todos os pecados, lama, pura lama. Mas subira. Dois ou três degraus na escada do mundo. Via que já estava num plano bem acima, algumas figuras já ficavam menores, a miséria escondia-se já numa bruma longínqua. Mas precisava subir mais, sempre mais, custasse o que custasse." (pág. 154)
"[...]
-Tuas mãos não dizem isto...
-Mentem.
-Não acredito.
-Você sempre duvidou de todas as verdades e acreditou em todas as mentiras." (pág. 177)
"As horas correm. Cinco horas. Sua mãe apareceu com um prato de mingau. Entregou-lhe o prato olhando para o teto. Como o aceitou, como conseguira engoli-lo? E a mãe ao lado, esperando que ela terminasse. Oh, quão penosa era a presença da mãe! Como imaginar que um coração tão bom tivesse ficado tão duro, tão hostil, tão distante?" (pág. 216)
sábado, 28 de novembro de 2015
A dama do lago
Título: A dama do lago
Autor: Raymond Chandler
Páginas: 266
Clássico livro policial, de mistério e suspense, estilo "noir". Um magnata contrata um detetive particular para encontrar sua esposa desaparecida e as buscas começam num chalé nas montanhas, próximo a um lago que dá título ao livro.
Com a narrativa lenta e despretensiosa, comuns em livros do gênero, o autor vai inserindo mais detalhes na história, envolvendo o leitor em dramas e mistérios diversos até chegar ao clímax, mostrando que havia bem mais que um simples caso de pessoa desaparecida.
Trechos interessantes:
"'Quanto a estar sendo rude demais comigo', disse eu, 'a maior parte dos clientes começa chorando na minha camisa, ou então falando grosso para mostrar quem manda. Mas, de um modo geral, no fim eles ficam bastante razoáveis - se ainda estão vivos'." (pág. 25)
"'Não estava fazendo planos de casar com ela?'
Ele soltou uma baforada e falou por entre a fumaça: 'Pensei nisso, sim. Ela tem dinheiro. Dinheiro é sempre útil. Mas ia ser uma maneira muito desgastante de ganhá-lo'." (pág. 35)
"No canto inferior direito do para-brisas havia um cartaz branco escrito em letras maiúsculas:
ELEITORES, ATENÇÃO! VOTEM EM JIM PATTON PARA XERIFE. ELE ESTÁ VELHO DEMAIS PARA TRABALHAR." (pág. 65)
"'Deram cinco ou seis tiros nele', disse eu. 'Dois acertaram. Ele foi encurralado dentro do box do banheiro. Era uma cena muito sinistra, eu diria. Havia muito ódio num dos lados. Ou então uma mente muito fria'.
'Ele era alguém muito fácil de odiar', disse ela com uma voz vazia. 'E venenosamente fácil de amar. Mulheres, mesmo as mulheres direitas, cometem equívocos terríveis em relação aos homens'." (pág. 134)
"'O trabalho da polícia', disse ele, quase bondosamente, 'é um problema danado. Parece muito com a política. Exige o tipo mais elevado de homem, mas não existe nada nele que atraia o tipo mais elevado de homem. A gente tem que se virar com o que aparece, e o que aparece são coisas desse tipo'." (pág. 176)
"Atrás de mim vinha o som remoto e abafado de uma voz que parecia estar cantando a litania policial: 'Abra essa porta ou vamos arrombar.' Fiz uma careta na direção da voz. Eles não arrombariam nada, porque arrombar uma porta machuca os pés. Policiais são cuidadosos com os próprios pés. Aliás, os próprios pés são a única coisa que eles tratam com cuidado." (pág. 201)
Autor: Raymond Chandler
Páginas: 266
Clássico livro policial, de mistério e suspense, estilo "noir". Um magnata contrata um detetive particular para encontrar sua esposa desaparecida e as buscas começam num chalé nas montanhas, próximo a um lago que dá título ao livro.
Com a narrativa lenta e despretensiosa, comuns em livros do gênero, o autor vai inserindo mais detalhes na história, envolvendo o leitor em dramas e mistérios diversos até chegar ao clímax, mostrando que havia bem mais que um simples caso de pessoa desaparecida.
Trechos interessantes:
"'Quanto a estar sendo rude demais comigo', disse eu, 'a maior parte dos clientes começa chorando na minha camisa, ou então falando grosso para mostrar quem manda. Mas, de um modo geral, no fim eles ficam bastante razoáveis - se ainda estão vivos'." (pág. 25)
"'Não estava fazendo planos de casar com ela?'
Ele soltou uma baforada e falou por entre a fumaça: 'Pensei nisso, sim. Ela tem dinheiro. Dinheiro é sempre útil. Mas ia ser uma maneira muito desgastante de ganhá-lo'." (pág. 35)
"No canto inferior direito do para-brisas havia um cartaz branco escrito em letras maiúsculas:
ELEITORES, ATENÇÃO! VOTEM EM JIM PATTON PARA XERIFE. ELE ESTÁ VELHO DEMAIS PARA TRABALHAR." (pág. 65)
"'Deram cinco ou seis tiros nele', disse eu. 'Dois acertaram. Ele foi encurralado dentro do box do banheiro. Era uma cena muito sinistra, eu diria. Havia muito ódio num dos lados. Ou então uma mente muito fria'.
'Ele era alguém muito fácil de odiar', disse ela com uma voz vazia. 'E venenosamente fácil de amar. Mulheres, mesmo as mulheres direitas, cometem equívocos terríveis em relação aos homens'." (pág. 134)
"'O trabalho da polícia', disse ele, quase bondosamente, 'é um problema danado. Parece muito com a política. Exige o tipo mais elevado de homem, mas não existe nada nele que atraia o tipo mais elevado de homem. A gente tem que se virar com o que aparece, e o que aparece são coisas desse tipo'." (pág. 176)
"Atrás de mim vinha o som remoto e abafado de uma voz que parecia estar cantando a litania policial: 'Abra essa porta ou vamos arrombar.' Fiz uma careta na direção da voz. Eles não arrombariam nada, porque arrombar uma porta machuca os pés. Policiais são cuidadosos com os próprios pés. Aliás, os próprios pés são a única coisa que eles tratam com cuidado." (pág. 201)
domingo, 22 de novembro de 2015
A metade da laranja?
Título: A metade da laranja?
Autor: Ana Canosa
Páginas: 144
Livro pequeno, mas muito interessante. É como se fosse um papo descontraído com um psicólogo (a autora é psicóloga) sobre as atitudes comportamentais do ser humano. Sexo, casamento, relacionamentos, emoções, conflitos, tudo aqui é destrinchado, numa linguagem simples, franca e compreensiva.
Achei também interessante o fato da autora intercalar cada capítulo com um relato pessoal das consultas realizadas por ela (preservados os nomes dos envolvidos, é claro). Ali vemos que muitos problemas são comuns a muita gente e as soluções, ás vezes, podem ser simples.
Trechos interessantes:
"Entenda verdadeiramente o seguinte: nem todo mundo gosta de você, e há realmente quem o ache um saco! Portanto, acredite quando alguém lhe disser que você não agradou, porque isso não é 'viagem', neurose nem loucura alheia! Nem sempre você vai agradar mesmo! E tem mais... é possível que este bilhete vermelho venha justamente quando a paixão já estava começando a enfraquecer, e a pobre coitada da 'rotina' apareceu para estragar tudo. É comum, e sabe por quê? Porque é quando a paixão diminui que as parcerias realmente começam... 'ser parceiro' é admitir que o outro é tão falho quanto nós mesmos, mas ainda assim nós o admiramos e o queremos." (pág. 20)
"Há dois grupos de pessoas: as âncoras, que colocam nossa vida para baixo, e as pessoas do tipo 'balão', que nos puxam para cima. Sim, existem também aquelas que são 'meio-termo', que nunca dão opinião, que não elogiam ou te desqualificam, mas ainda acredito que esse grupo fica mais próximo de gente âncora; nós gostamos de elogios, de opiniões e até mesmo de criticas, que sejam construtivas, ao passo que os que nunca se posicionam costumam nos deixar inseguros, temerosos ou com raiva." (pág. 34)
"É o que sempre digo: intimidade é bem diferente de simbiose, quando um se funde ao outro e a individualidade se perde. Se eu conto tudo para o outro, me esvazio, deixo até de ser interessante e surpreendente." (pág. 46)
"Se alguém souber onde estão vendendo orgasmos, eu gostaria de ser avisada, para poder presentear muita gente!" (pág. 49)
"Sexo no casamento é como cinema: tem a fase da ficção, do romance, da comédia romântica, do pastelão e do drama. Às vezes, tem até a fase do terror! Mudam-se as emoções, mas o enredo é quase sempre igual. E o pior, mesmo, é quando chega a fase do documentário... tudo fica descritivo, sem fantasia!" (pág. 60)
"O segredo da felicidade é simples: basta entender um pouquinho sobre o valor da liberdade para 'ser' quem somos, sem precisarmos abandonar nossa identidade em nome de um relacionamento. Quanto mais livre somos, mais vontade temos de voltar!" (pág. 69)
"Por mais que os cientistas procurem os genes da monogamia, a maioria das pessoas diz que não, o homem não é monogâmico por natureza. Segundo eles, o que aconteceu, num dado momento do desenvolvimento humano, foi a necessidade de regrar o comportamento sexual e afetivo, para que nossa espécie pudesse se desenvolver." (pág. 81)
"Lamentavelmente, não são poucas as pessoas que se escondem atrás das atitudes dos outros, projetando neles suas próprias dificuldades; ou os que se entorpecem com álcool, drogas ou excesso de trabalho. Para assumir a responsabilidade sobre sua vida, é necessário reconhecer suas próprias atitudes tóxicas, o que pode ser muito doloroso: quem não sofre ao admitir que está vivendo uma vida cheia de lixo, na forma de raiva, ressentimento, falta de perspectiva e prazer? Fica mais fácil
culpar alguém."(pág. 101)
"Por fim (ou talvez para começar), é preciso refletir: o que cada um tem feito para ser amado, querido e acarinhado? Só o fato de ser filha ou filho, mãe, pai, irmã ou irmão, esposa ou marido, e mesmo avó, não garante amor. Ninguém consegue amar com devoção alguém que não se faz ser amado. Não adianta cobrarmos afeto, generosidade ou educação se nós somos frios, egoístas, rabugentos e inacessíveis.'Porque eu sou sua mãe!' é uma frase que permite pedir respeito, não amor. Amar não é um verbo imperativo, e, para conjugá-lo, é preciso ter liberdade. O amor não vem pronto, é um sentimento que cresce, amadurece e deve ser cultivado." (pág. 120)
"Não me canso de perguntar: em que ser homossexual, ou bissexual ou, mesmo, assexual (pessoa que não gosta de sexo) desabona alguém? Por que sua preferência o tornaria melhor ou pior do que outra pessoa? Sobre quais valores estamos baseando a educação e o convívio em sociedade, para que o mundo seja melhor?" (pág. 126)
Autor: Ana Canosa
Páginas: 144
Livro pequeno, mas muito interessante. É como se fosse um papo descontraído com um psicólogo (a autora é psicóloga) sobre as atitudes comportamentais do ser humano. Sexo, casamento, relacionamentos, emoções, conflitos, tudo aqui é destrinchado, numa linguagem simples, franca e compreensiva.
Achei também interessante o fato da autora intercalar cada capítulo com um relato pessoal das consultas realizadas por ela (preservados os nomes dos envolvidos, é claro). Ali vemos que muitos problemas são comuns a muita gente e as soluções, ás vezes, podem ser simples.
Trechos interessantes:
"Entenda verdadeiramente o seguinte: nem todo mundo gosta de você, e há realmente quem o ache um saco! Portanto, acredite quando alguém lhe disser que você não agradou, porque isso não é 'viagem', neurose nem loucura alheia! Nem sempre você vai agradar mesmo! E tem mais... é possível que este bilhete vermelho venha justamente quando a paixão já estava começando a enfraquecer, e a pobre coitada da 'rotina' apareceu para estragar tudo. É comum, e sabe por quê? Porque é quando a paixão diminui que as parcerias realmente começam... 'ser parceiro' é admitir que o outro é tão falho quanto nós mesmos, mas ainda assim nós o admiramos e o queremos." (pág. 20)
"Há dois grupos de pessoas: as âncoras, que colocam nossa vida para baixo, e as pessoas do tipo 'balão', que nos puxam para cima. Sim, existem também aquelas que são 'meio-termo', que nunca dão opinião, que não elogiam ou te desqualificam, mas ainda acredito que esse grupo fica mais próximo de gente âncora; nós gostamos de elogios, de opiniões e até mesmo de criticas, que sejam construtivas, ao passo que os que nunca se posicionam costumam nos deixar inseguros, temerosos ou com raiva." (pág. 34)
"É o que sempre digo: intimidade é bem diferente de simbiose, quando um se funde ao outro e a individualidade se perde. Se eu conto tudo para o outro, me esvazio, deixo até de ser interessante e surpreendente." (pág. 46)
"Se alguém souber onde estão vendendo orgasmos, eu gostaria de ser avisada, para poder presentear muita gente!" (pág. 49)
"Sexo no casamento é como cinema: tem a fase da ficção, do romance, da comédia romântica, do pastelão e do drama. Às vezes, tem até a fase do terror! Mudam-se as emoções, mas o enredo é quase sempre igual. E o pior, mesmo, é quando chega a fase do documentário... tudo fica descritivo, sem fantasia!" (pág. 60)
"O segredo da felicidade é simples: basta entender um pouquinho sobre o valor da liberdade para 'ser' quem somos, sem precisarmos abandonar nossa identidade em nome de um relacionamento. Quanto mais livre somos, mais vontade temos de voltar!" (pág. 69)
"Por mais que os cientistas procurem os genes da monogamia, a maioria das pessoas diz que não, o homem não é monogâmico por natureza. Segundo eles, o que aconteceu, num dado momento do desenvolvimento humano, foi a necessidade de regrar o comportamento sexual e afetivo, para que nossa espécie pudesse se desenvolver." (pág. 81)
"Lamentavelmente, não são poucas as pessoas que se escondem atrás das atitudes dos outros, projetando neles suas próprias dificuldades; ou os que se entorpecem com álcool, drogas ou excesso de trabalho. Para assumir a responsabilidade sobre sua vida, é necessário reconhecer suas próprias atitudes tóxicas, o que pode ser muito doloroso: quem não sofre ao admitir que está vivendo uma vida cheia de lixo, na forma de raiva, ressentimento, falta de perspectiva e prazer? Fica mais fácil
culpar alguém."(pág. 101)
"Por fim (ou talvez para começar), é preciso refletir: o que cada um tem feito para ser amado, querido e acarinhado? Só o fato de ser filha ou filho, mãe, pai, irmã ou irmão, esposa ou marido, e mesmo avó, não garante amor. Ninguém consegue amar com devoção alguém que não se faz ser amado. Não adianta cobrarmos afeto, generosidade ou educação se nós somos frios, egoístas, rabugentos e inacessíveis.'Porque eu sou sua mãe!' é uma frase que permite pedir respeito, não amor. Amar não é um verbo imperativo, e, para conjugá-lo, é preciso ter liberdade. O amor não vem pronto, é um sentimento que cresce, amadurece e deve ser cultivado." (pág. 120)
"Não me canso de perguntar: em que ser homossexual, ou bissexual ou, mesmo, assexual (pessoa que não gosta de sexo) desabona alguém? Por que sua preferência o tornaria melhor ou pior do que outra pessoa? Sobre quais valores estamos baseando a educação e o convívio em sociedade, para que o mundo seja melhor?" (pág. 126)
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
A invasão dos ratos
Título: A invasão dos ratos
Autor: James Herbert
Páginas: 142
Livro muito antigo, mas não encontrei em nenhum lugar a data de publicação. História de terror, cuja leitura não me agradou muito por se tratar de animais asquerosos. Mas a história em si é simples e coerente, só as personagens não me agradaram.
Numa cidade da Inglaterra, ratos gigantes aparecem aos montes e passam a atacar as pessoas, sejam elas homens, mulheres ou crianças. Um professor da escola local ajuda a polícia a tentar controlar o caos que se estabeleceu. O final da história é interessante.
Trechos interessantes:
"Que se podia esperar, quando se viviam na zona das docas, os pais trabalhando nas docas ou nas fábricas, a maioria das mães trabalhando também, de forma que os garotos quando saíam da escola para casa iam para uma casa vazia. E, quando os pais chegavam, não tinham tempo para eles. Apesar disso, no tempo dele ainda tinha sido pior. Hoje em dia os estivadores ganham bom dinheiro e os operários também. Muito mais que ele como professor. Hoje a grande diferença entre trabalhadores e classe média é a pronúncia." (pág. 12/13)
"Passou-se algum tempo até serem recebidos pelo médico, que era muito novo, muito mais novo do que Harris. Quando médicos e policiais parecem garotos, a velhice está à porta, divagou Harris." (pág. 18)
"Não, de nada servia exagerar com a autoridade, pois sabia que apatia existe a todos os níveis. O funcionário do gás esquece de reparar um escapamento. O mecânico que não aperta bem uma porca. O condutor que guia a mais de setenta quilômetros com nevoeiro. O leiteiro que deixa uma garrafa em vez de duas. Era tudo questão de proporção. Não era esse o significado do Pecado Original? Todos temos culpas." (pág. 47)
"Mas talvez a fuga mais fantástica de todas fosse a do jornaleiro, na sua volta matinal, que tomou um atalho e viu-se de repente no meio de trinta ou quarenta ratos gigantes. Espetacularmente calmo para um garoto de quatorze anos, avançou tranquilamente por meio deles, tendo o cuidado de não pisar nenhum. Sem qualquer razão aparente, deixaram-no passar incólume. Ninguém teria acreditado no rapaz, se não tivesse sido visto da estrada por dois homens a caminho do trabalho. Não havia explicação para o fenômeno, nenhuma razão lógica." (pág. 89)
"O caso é que quanto mais poder se tem, mais fácil se torna encontrar soluções para os problemas. Basta rodear-se de gente capaz, eles trazem as respostas e você toma a glória. O difícil era chegar a essa posição de autoridade, mas uma vez conseguida o resto era fácil." (pág. 98/99)
Autor: James Herbert
Páginas: 142
Livro muito antigo, mas não encontrei em nenhum lugar a data de publicação. História de terror, cuja leitura não me agradou muito por se tratar de animais asquerosos. Mas a história em si é simples e coerente, só as personagens não me agradaram.
Numa cidade da Inglaterra, ratos gigantes aparecem aos montes e passam a atacar as pessoas, sejam elas homens, mulheres ou crianças. Um professor da escola local ajuda a polícia a tentar controlar o caos que se estabeleceu. O final da história é interessante.
Trechos interessantes:
"Que se podia esperar, quando se viviam na zona das docas, os pais trabalhando nas docas ou nas fábricas, a maioria das mães trabalhando também, de forma que os garotos quando saíam da escola para casa iam para uma casa vazia. E, quando os pais chegavam, não tinham tempo para eles. Apesar disso, no tempo dele ainda tinha sido pior. Hoje em dia os estivadores ganham bom dinheiro e os operários também. Muito mais que ele como professor. Hoje a grande diferença entre trabalhadores e classe média é a pronúncia." (pág. 12/13)
"Passou-se algum tempo até serem recebidos pelo médico, que era muito novo, muito mais novo do que Harris. Quando médicos e policiais parecem garotos, a velhice está à porta, divagou Harris." (pág. 18)
"Não, de nada servia exagerar com a autoridade, pois sabia que apatia existe a todos os níveis. O funcionário do gás esquece de reparar um escapamento. O mecânico que não aperta bem uma porca. O condutor que guia a mais de setenta quilômetros com nevoeiro. O leiteiro que deixa uma garrafa em vez de duas. Era tudo questão de proporção. Não era esse o significado do Pecado Original? Todos temos culpas." (pág. 47)
"Mas talvez a fuga mais fantástica de todas fosse a do jornaleiro, na sua volta matinal, que tomou um atalho e viu-se de repente no meio de trinta ou quarenta ratos gigantes. Espetacularmente calmo para um garoto de quatorze anos, avançou tranquilamente por meio deles, tendo o cuidado de não pisar nenhum. Sem qualquer razão aparente, deixaram-no passar incólume. Ninguém teria acreditado no rapaz, se não tivesse sido visto da estrada por dois homens a caminho do trabalho. Não havia explicação para o fenômeno, nenhuma razão lógica." (pág. 89)
"O caso é que quanto mais poder se tem, mais fácil se torna encontrar soluções para os problemas. Basta rodear-se de gente capaz, eles trazem as respostas e você toma a glória. O difícil era chegar a essa posição de autoridade, mas uma vez conseguida o resto era fácil." (pág. 98/99)
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
Deixados para trás
Título: Deixados para trás
Autor: Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins
Páginas: 416
Durante um voo de rotina o piloto é surpreendido com a notícia de que vários de seus passageiros simplesmente sumiram, restando apenas as roupas nos assentos. Mais tarde descobre-se que não foi um caso isolado: no mundo inteiro, inúmeras pessoas haviam desaparecido da mesma forma. Na falta de uma explicação lógica, as pessoas entenderam que havia chegado o dia do juízo final, aquelas pessoas haviam sido arrebatadas e as demais deixadas para trás.
A história do livro é centrada nisso e mesmo não discutindo de uma forma fanática a religião, no fundo, o objetivo é um só: direcionar para o aspecto religioso. Há alguns trechos envolvendo política, comunicação, jornalismo, etc. mas a maior parte é a discussão do aspecto religioso. Acho que o grande mérito do livro é, justamente, não dar respostas, deixar a situação em aberto.
Trechos interessantes:
"No fim da saleta, ele parou diante da porta com painéis em relevo que dava acesso ao quarto do casal. Que lugar bonito e bem-ornamentado Irene fez, com que gosto ela decorava todos os cantos da casa! Tinha ele alguma vez dito a ela que apreciava isso? Tinha ele alguma vez apreciado isso?" (pág. 71)
"-O que dizer daquela sua sarcástica insistência para que sejamos inteiramente sinceros?
-Dizer toda a verdade nem sempre significa dizer tudo o que fazemos. Você diz à sua tripulação que vai fazer uma pausa para ir ao banheiro, mas não entra em detalhes sobre o que vai fazer lá, não é mesmo?" (pág. 91)
"Finalmente, ele passou a compreender por que as famílias enlutadas se queixavam quando o corpo de um parente estava mutilado demais para ser reconhecido ou tinha sido completamente destruído. Elas costumavam dizer que não fazia sentido alguém lacrar o caixão, sem permitir que o corpo fosse visto, e que o sofrimento se tornava maior porque era difícil aceitarem a ideia de que a pessoa tinha morrido.
Isso sempre pareceu estranho para ele. Que motivos teria alguém para desejar ver o corpo da esposa ou do filho estendido num caixão à espera do funeral? Não seria melhor recordar deles vivos e felizes como eram? Mas ele agora compreendia melhor." (pág. 93)
"Poucas pessoas quiseram argumentar com Deus, tentando dizer-nos que tinham sido realmente crentes e deveriam ter sido arrebatadas com os outros, mas todos estávamos convencidos da verdade. Éramos pseudocristãos. Não havia um único entre nós que não soubesse o que significa ser um verdadeiro cristão. Sabíamos que não o éramos e que tínhamos sido deixados para trás." (pág. 176)
"Inúmeras pessoas pensaram que estavam no caminho para Deus ou para o céu por praticar boas obras, mas essa foi provavelmente a concepção mais equivocada que já houve. Perguntem a qualquer pessoa na rua o que ela pensa que a Bíblia ou a igreja diz a respeito de ganhar o céu, e nove entre dez dirão que, para ir para o céu, é preciso fazer o bem e viver uma vida reta." (pág. 182)
"Fui um homem de negócios acima da média na Romênia, quando ainda frequentava a escola secundária. Estudei muitas línguas à noite, aquelas que eu precisava conhecer para ser bem-sucedido. Durante o dia, administrava meus negócios de importação-exportação e consegui tornar-me um homem de dinheiro. Mas o que eu entendia por riqueza era insignificante diante do que se poderia fazer com ela." (pág. 264)
"-O que você vai decidir a respeito do convite para a nova função?
-Tenho 24 horas, lembra-se?
-Não use todo esse tempo. Se responder muito depressa, vai parecer ansioso; se demorar, indeciso." (pág. 293)
Autor: Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins
Páginas: 416
Durante um voo de rotina o piloto é surpreendido com a notícia de que vários de seus passageiros simplesmente sumiram, restando apenas as roupas nos assentos. Mais tarde descobre-se que não foi um caso isolado: no mundo inteiro, inúmeras pessoas haviam desaparecido da mesma forma. Na falta de uma explicação lógica, as pessoas entenderam que havia chegado o dia do juízo final, aquelas pessoas haviam sido arrebatadas e as demais deixadas para trás.
A história do livro é centrada nisso e mesmo não discutindo de uma forma fanática a religião, no fundo, o objetivo é um só: direcionar para o aspecto religioso. Há alguns trechos envolvendo política, comunicação, jornalismo, etc. mas a maior parte é a discussão do aspecto religioso. Acho que o grande mérito do livro é, justamente, não dar respostas, deixar a situação em aberto.
Trechos interessantes:
"No fim da saleta, ele parou diante da porta com painéis em relevo que dava acesso ao quarto do casal. Que lugar bonito e bem-ornamentado Irene fez, com que gosto ela decorava todos os cantos da casa! Tinha ele alguma vez dito a ela que apreciava isso? Tinha ele alguma vez apreciado isso?" (pág. 71)
"-O que dizer daquela sua sarcástica insistência para que sejamos inteiramente sinceros?
-Dizer toda a verdade nem sempre significa dizer tudo o que fazemos. Você diz à sua tripulação que vai fazer uma pausa para ir ao banheiro, mas não entra em detalhes sobre o que vai fazer lá, não é mesmo?" (pág. 91)
"Finalmente, ele passou a compreender por que as famílias enlutadas se queixavam quando o corpo de um parente estava mutilado demais para ser reconhecido ou tinha sido completamente destruído. Elas costumavam dizer que não fazia sentido alguém lacrar o caixão, sem permitir que o corpo fosse visto, e que o sofrimento se tornava maior porque era difícil aceitarem a ideia de que a pessoa tinha morrido.
Isso sempre pareceu estranho para ele. Que motivos teria alguém para desejar ver o corpo da esposa ou do filho estendido num caixão à espera do funeral? Não seria melhor recordar deles vivos e felizes como eram? Mas ele agora compreendia melhor." (pág. 93)
"Poucas pessoas quiseram argumentar com Deus, tentando dizer-nos que tinham sido realmente crentes e deveriam ter sido arrebatadas com os outros, mas todos estávamos convencidos da verdade. Éramos pseudocristãos. Não havia um único entre nós que não soubesse o que significa ser um verdadeiro cristão. Sabíamos que não o éramos e que tínhamos sido deixados para trás." (pág. 176)
"Inúmeras pessoas pensaram que estavam no caminho para Deus ou para o céu por praticar boas obras, mas essa foi provavelmente a concepção mais equivocada que já houve. Perguntem a qualquer pessoa na rua o que ela pensa que a Bíblia ou a igreja diz a respeito de ganhar o céu, e nove entre dez dirão que, para ir para o céu, é preciso fazer o bem e viver uma vida reta." (pág. 182)
"Fui um homem de negócios acima da média na Romênia, quando ainda frequentava a escola secundária. Estudei muitas línguas à noite, aquelas que eu precisava conhecer para ser bem-sucedido. Durante o dia, administrava meus negócios de importação-exportação e consegui tornar-me um homem de dinheiro. Mas o que eu entendia por riqueza era insignificante diante do que se poderia fazer com ela." (pág. 264)
"-O que você vai decidir a respeito do convite para a nova função?
-Tenho 24 horas, lembra-se?
-Não use todo esse tempo. Se responder muito depressa, vai parecer ansioso; se demorar, indeciso." (pág. 293)
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
Nossas câmeras são seus olhos
Título: Nossas câmeras são seus olhos
Autor: Fernando Barbosa Lima
Páginas: 200
Fernando Barbosa Lima é um profissional da televisão, tendo trabalhado nas principais emissoras de televisão do país e criado mais de cem programas televisivos. Em suma, é uma autoridade em televisão e o livro nos mostra a evolução da televisão no Brasil, através da descrição de seus programas.
A história é contada através de relatos envolvendo atores, diretores e funcionários das empresas de televisão. Nisso mistura-se política, cultura e desenvolvimento ao mostrar a evolução da TV brasileira, não somente no aspecto material mas principalmente no aspecto de conteúdo. Mesmo que você não seja um adepto da televisão, pode-se achar muita coisa interessante no livro.
Trechos interessantes:
"Nenhum veículo de comunicação, em toda a história da humanidade, teve a força que tem a televisão.
[...]
Uma criança brasileira, por exemplo, assiste a mais de seis ou sete horas de televisão por dia, tempo superior ao que ela passa na escola, junto com amigos ou com a família. Como será o futuro dessa criança num Brasil do Terceiro Mundo?" (pág. 20)
"A boa repercussão do programa [Em poucas palavras] nos mostrava que uma televisão com conteúdo tem seu público, seus admiradores. Ao mesmo tempo, pensávamos e questionávamos o fato de a televisão, muitas vezes, estar apelando para uma grande audiência, baixando o nível dos programas e produzindo puro lixo. Entretanto, esses programas de baixo nível, absolutamente idiotas, atingem um público que, mesmo numeroso, mesmo dando alto Ibope, não tem poder aquisitivo para comprar os produtos anunciados. Nunca entendi por que boa parte dos anunciantes nunca levou isso em consideração. Pior, além de não vender, a marca desses anunciantes perde prestígio em meio a tanta vulgaridade." (pág. 41)
"-Coronel, seu filho Heraclinho (que era deputado) é uma boa pessoa, mas mente demais.
O coronel explicou:
Não é bem assim, meu filho; o Heraclinho só tem um defeito. Ele fala demais. A verdade acaba, e ele continua falando..." (pág. 49)
"E o general Castelo Branco, um pseudoliterato que sonhava com a Academia Brasileira de Letras e à noite gostava de frequentar teatros, assumia como ditador; exatamente por ser o primeiro ditador, foi quem mais prendeu e cassou direitos de milhares de intelectuais, políticos, estudantes, operários e camponeses. Nem Médici cassou direitos de tantos e prendeu tantos como Castelo Branco." (pág. 76)
"Nos países do Primeiro Mundo, à exceção de Portugal, as televisões não passam novelas em horário nobre. Por quê? É simples: nesses países as pessoas não querem ficar amarradas à noite vendo novelas. Preferem ir ao cinema, jantar fora, assistir a uma peça teatral ou uma ópera; muitas vezes, ler um bom livro. É outro nível de cultura, outro mundo." (pág. 88)
"No Xingu, o cacique Raoni disse para Washington, numa conversa gravada, uma das frases mais apropriadas que já ouvi:
-O índio, quando quer virar branco, fica bobo.
Traduzindo: quando se quer ser uma coisa que não é, se fica idiota. (pág. 145)
"Em outra ocasião, um famoso fotógrafo da revista Manchete foi convocado á sala de seu Adolpho, que lhe mostrou o último número da revista Geographic Magazine com suas fotos impecáveis, questionando:
-Por que não fazemos fotos tão boas?
-Seu Adolpho, imagine só as câmeras que esses fotógrafos da Geographic têm e compare com as nossas.
Seu Adolpho, sem se dar por vencido, retrucou imediatamente:
-Você acha que se Machado de Assis tivesse uma caneta Parker 51 escreveria melhor?" (pág. 161)
Autor: Fernando Barbosa Lima
Páginas: 200
Fernando Barbosa Lima é um profissional da televisão, tendo trabalhado nas principais emissoras de televisão do país e criado mais de cem programas televisivos. Em suma, é uma autoridade em televisão e o livro nos mostra a evolução da televisão no Brasil, através da descrição de seus programas.
A história é contada através de relatos envolvendo atores, diretores e funcionários das empresas de televisão. Nisso mistura-se política, cultura e desenvolvimento ao mostrar a evolução da TV brasileira, não somente no aspecto material mas principalmente no aspecto de conteúdo. Mesmo que você não seja um adepto da televisão, pode-se achar muita coisa interessante no livro.
Trechos interessantes:
"Nenhum veículo de comunicação, em toda a história da humanidade, teve a força que tem a televisão.
[...]
Uma criança brasileira, por exemplo, assiste a mais de seis ou sete horas de televisão por dia, tempo superior ao que ela passa na escola, junto com amigos ou com a família. Como será o futuro dessa criança num Brasil do Terceiro Mundo?" (pág. 20)
"A boa repercussão do programa [Em poucas palavras] nos mostrava que uma televisão com conteúdo tem seu público, seus admiradores. Ao mesmo tempo, pensávamos e questionávamos o fato de a televisão, muitas vezes, estar apelando para uma grande audiência, baixando o nível dos programas e produzindo puro lixo. Entretanto, esses programas de baixo nível, absolutamente idiotas, atingem um público que, mesmo numeroso, mesmo dando alto Ibope, não tem poder aquisitivo para comprar os produtos anunciados. Nunca entendi por que boa parte dos anunciantes nunca levou isso em consideração. Pior, além de não vender, a marca desses anunciantes perde prestígio em meio a tanta vulgaridade." (pág. 41)
"-Coronel, seu filho Heraclinho (que era deputado) é uma boa pessoa, mas mente demais.
O coronel explicou:
Não é bem assim, meu filho; o Heraclinho só tem um defeito. Ele fala demais. A verdade acaba, e ele continua falando..." (pág. 49)
"E o general Castelo Branco, um pseudoliterato que sonhava com a Academia Brasileira de Letras e à noite gostava de frequentar teatros, assumia como ditador; exatamente por ser o primeiro ditador, foi quem mais prendeu e cassou direitos de milhares de intelectuais, políticos, estudantes, operários e camponeses. Nem Médici cassou direitos de tantos e prendeu tantos como Castelo Branco." (pág. 76)
"Nos países do Primeiro Mundo, à exceção de Portugal, as televisões não passam novelas em horário nobre. Por quê? É simples: nesses países as pessoas não querem ficar amarradas à noite vendo novelas. Preferem ir ao cinema, jantar fora, assistir a uma peça teatral ou uma ópera; muitas vezes, ler um bom livro. É outro nível de cultura, outro mundo." (pág. 88)
"No Xingu, o cacique Raoni disse para Washington, numa conversa gravada, uma das frases mais apropriadas que já ouvi:
-O índio, quando quer virar branco, fica bobo.
Traduzindo: quando se quer ser uma coisa que não é, se fica idiota. (pág. 145)
"Em outra ocasião, um famoso fotógrafo da revista Manchete foi convocado á sala de seu Adolpho, que lhe mostrou o último número da revista Geographic Magazine com suas fotos impecáveis, questionando:
-Por que não fazemos fotos tão boas?
-Seu Adolpho, imagine só as câmeras que esses fotógrafos da Geographic têm e compare com as nossas.
Seu Adolpho, sem se dar por vencido, retrucou imediatamente:
-Você acha que se Machado de Assis tivesse uma caneta Parker 51 escreveria melhor?" (pág. 161)
sábado, 31 de outubro de 2015
O testamento
Título: O testamento
Autor: John Grisham
Páginas: 438
Troy Phelan, um milionário de 84 anos com três ex-esposas e seis filhos desajustados, está prestes a assinar seu último testamento, na presença de três psiquiatras. Depois de assinado, retira do bolso outro testamento, assina na presença de seu advogado e salta do prédio para a morte. Neste último testamento, Troy Phelan deixa toda sua fortuna para uma filha ilegítima, que ninguém sabia de sua existência, deixando os filhos e as ex-esposas sem nada.
O resto do livro é a localização da filha ilegítima e a revolta dos filhos que se sentem injustiçados. A história prende o leitor, que se vê às voltas com as questões legais e éticas do caso. Outro fato interessante é que a filha ilegítima está no Brasil e assim, grande parte da narrativa versa sobre terras brasileiras, especialmente o Pantanal. Boa leitura.
Trechos interessantes:
"O problema que existe em ter dinheiro é que todo mundo quer um pouco." (pág. 12)
"-Parece fraudulento - Durban disse. -Ele os atrai com a promessa de dinheiro, satisfaz seus psiquiatras, e no último segundo assina um testamento que os exclui completamente.
-Foi fraudulento, mas isso é um testamento, não um contrato. Um testamento não é um presente. De acordo com a lei da Virgínia, ninguém é obrigado a deixar um centavo para os filhos." (pág. 37)
"Nate ficou agradavelmente surpreso ao ver que todos os rostos estavam atrás de uma grande variedade de jornais da manhã. O noticiário era tão moderno e bem-feito quanto nos Estados Unidos e estava sendo lido por pessoas ávidas pelas notícias. Talvez o Brasil não fosse tão atrasado quanto tinha pensado. Aquela gente sabia ler!" (pág. 87)
"Como está se sentindo?
-Muito melhor - Nate disse, quase envergonhado. Mas a vergonha era uma emoção que havia abandonado há anos. Os viciados não sabem o que é sentir vergonha. São tantas as ocasiões vergonhosas que acabam imunes a elas." (pág. 139)
"Quando o explorador português Pedro Álvares Cabral pela primeira vez pisou no solo brasileiro, na costa da Bahia, em abril de 1500, havia no país cinco milhões de índios, em novecentas tribos. Tinham mil cento e setenta e cinco línguas diferentes e, a não ser por pequenas escaramuças entre as tribos, viviam em paz.
Depois de séculos submetidos aos processos de 'civilização', impostos pelos europeus, as populações indígenas estavam dizimadas. Apenas duzentos e setenta mil sobreviveram, em duzentas e seis tribos, que usavam cento e setenta línguas diferentes. A guerra, o assassinato, a escravidão, as perdas territoriais, as doenças - nenhum método de exterminação foi esquecido pelas culturas civilizadas." (pág. 179)
"-O cacique gostou de vocês?
-Evidentemente. Quer que passemos a noite aqui.
-O que acha do meu povo?
-Estão todos nus.
-Sempre estiveram.
-Quanto tempo levou para se acostumar?
-Eu não sei. Uns dois anos. Aos poucos a gente se acostuma, e com todo o resto. Nos primeiros três anos tive muita saudade de casa e agora, em certos momentos, eu gostaria de dirigir um carro, comer uma pizza e ver um bom filme. Mas a gente se adapta." (pág. 234)
"-Você teria uma família e amigos se fosse para a casa agora. Seria famosa.
-Outro bom motivo para ficar aqui. Aqui é o meu lar. Eu não quero o dinheiro.
-Não seja tola.
-Não estou sendo tola. O dinheiro não significa coisa alguma para mim. Isso devia ser óbvio.
-Você nem sabe quanto é.
-Não perguntei. Trabalhei hoje sem pensar no dinheiro. Farei o mesmo amanhã e depois de amanhã." (pág. 238)
"-[...]A terra é tudo para os índios. Sua vida. A maior parte foi tomada pelos homens civilizados.
-Já ouvi essa história antes.
-Sim, já ouviu. Nós dizimamos sua população com banhos de sangue e doença e tomamos sua terra. Então os mandamos para as reservas e não podemos compreender por que não se sentem felizes." (pág. 245/246)
"O despachante é parte essencial da vida no Brasil. Nenhuma casa de comércio, banco, empresa de advocacia, grupo de médicos ou pessoa com dinheiro pode operar sem os serviços de um despachante. É o homem que facilita tudo. Num país onde a burocracia é antiquada e lenta, o despachante é o homem que conhece os funcionários da prefeitura, o pessoal dos tribunais, os burocratas, os agentes da alfândega. Conhece o sistema e sabe o que fazer para que funcione. No Brasil não se consegue nenhum documento oficial sem a longa espera nas filas e o despachante é o homem que fica na fila por você. Por uma pequena quantia ele espera oito horas para renovar a vistoria do seu automóvel, depois a prega no pára-brisa enquanto você está trabalhando. Ele faz o serviço de banco, de encomendas, de correspondência - uma lista interminável." (pág. 314)
Autor: John Grisham
Páginas: 438
Troy Phelan, um milionário de 84 anos com três ex-esposas e seis filhos desajustados, está prestes a assinar seu último testamento, na presença de três psiquiatras. Depois de assinado, retira do bolso outro testamento, assina na presença de seu advogado e salta do prédio para a morte. Neste último testamento, Troy Phelan deixa toda sua fortuna para uma filha ilegítima, que ninguém sabia de sua existência, deixando os filhos e as ex-esposas sem nada.
O resto do livro é a localização da filha ilegítima e a revolta dos filhos que se sentem injustiçados. A história prende o leitor, que se vê às voltas com as questões legais e éticas do caso. Outro fato interessante é que a filha ilegítima está no Brasil e assim, grande parte da narrativa versa sobre terras brasileiras, especialmente o Pantanal. Boa leitura.
Trechos interessantes:
"O problema que existe em ter dinheiro é que todo mundo quer um pouco." (pág. 12)
"-Parece fraudulento - Durban disse. -Ele os atrai com a promessa de dinheiro, satisfaz seus psiquiatras, e no último segundo assina um testamento que os exclui completamente.
-Foi fraudulento, mas isso é um testamento, não um contrato. Um testamento não é um presente. De acordo com a lei da Virgínia, ninguém é obrigado a deixar um centavo para os filhos." (pág. 37)
"Nate ficou agradavelmente surpreso ao ver que todos os rostos estavam atrás de uma grande variedade de jornais da manhã. O noticiário era tão moderno e bem-feito quanto nos Estados Unidos e estava sendo lido por pessoas ávidas pelas notícias. Talvez o Brasil não fosse tão atrasado quanto tinha pensado. Aquela gente sabia ler!" (pág. 87)
"Como está se sentindo?
-Muito melhor - Nate disse, quase envergonhado. Mas a vergonha era uma emoção que havia abandonado há anos. Os viciados não sabem o que é sentir vergonha. São tantas as ocasiões vergonhosas que acabam imunes a elas." (pág. 139)
"Quando o explorador português Pedro Álvares Cabral pela primeira vez pisou no solo brasileiro, na costa da Bahia, em abril de 1500, havia no país cinco milhões de índios, em novecentas tribos. Tinham mil cento e setenta e cinco línguas diferentes e, a não ser por pequenas escaramuças entre as tribos, viviam em paz.
Depois de séculos submetidos aos processos de 'civilização', impostos pelos europeus, as populações indígenas estavam dizimadas. Apenas duzentos e setenta mil sobreviveram, em duzentas e seis tribos, que usavam cento e setenta línguas diferentes. A guerra, o assassinato, a escravidão, as perdas territoriais, as doenças - nenhum método de exterminação foi esquecido pelas culturas civilizadas." (pág. 179)
"-O cacique gostou de vocês?
-Evidentemente. Quer que passemos a noite aqui.
-O que acha do meu povo?
-Estão todos nus.
-Sempre estiveram.
-Quanto tempo levou para se acostumar?
-Eu não sei. Uns dois anos. Aos poucos a gente se acostuma, e com todo o resto. Nos primeiros três anos tive muita saudade de casa e agora, em certos momentos, eu gostaria de dirigir um carro, comer uma pizza e ver um bom filme. Mas a gente se adapta." (pág. 234)
"-Você teria uma família e amigos se fosse para a casa agora. Seria famosa.
-Outro bom motivo para ficar aqui. Aqui é o meu lar. Eu não quero o dinheiro.
-Não seja tola.
-Não estou sendo tola. O dinheiro não significa coisa alguma para mim. Isso devia ser óbvio.
-Você nem sabe quanto é.
-Não perguntei. Trabalhei hoje sem pensar no dinheiro. Farei o mesmo amanhã e depois de amanhã." (pág. 238)
"-[...]A terra é tudo para os índios. Sua vida. A maior parte foi tomada pelos homens civilizados.
-Já ouvi essa história antes.
-Sim, já ouviu. Nós dizimamos sua população com banhos de sangue e doença e tomamos sua terra. Então os mandamos para as reservas e não podemos compreender por que não se sentem felizes." (pág. 245/246)
"O despachante é parte essencial da vida no Brasil. Nenhuma casa de comércio, banco, empresa de advocacia, grupo de médicos ou pessoa com dinheiro pode operar sem os serviços de um despachante. É o homem que facilita tudo. Num país onde a burocracia é antiquada e lenta, o despachante é o homem que conhece os funcionários da prefeitura, o pessoal dos tribunais, os burocratas, os agentes da alfândega. Conhece o sistema e sabe o que fazer para que funcione. No Brasil não se consegue nenhum documento oficial sem a longa espera nas filas e o despachante é o homem que fica na fila por você. Por uma pequena quantia ele espera oito horas para renovar a vistoria do seu automóvel, depois a prega no pára-brisa enquanto você está trabalhando. Ele faz o serviço de banco, de encomendas, de correspondência - uma lista interminável." (pág. 314)
sábado, 17 de outubro de 2015
O príncipe dos canalhas
Título: O príncipe dos canalhas
Autor: Loretta Chase
Páginas: 288
Marquês de Dain (conhecido também como lorde Belzebu) foi rejeitado pelo pai, humilhado pelos colegas de escola, abandonado pela mãe, leva uma vida pecadora e depravada e nenhuma dama respeitável sequer se aproxima do mesmo. Eis que surge em cena Jessica Trent, uma mulher independente, que não tem meias palavras e que tem por objetivo livrar o irmão das influências nefastas do marquês.
O encontro dos dois provoca conflitos interessantes: o marquês fica revoltado por encontrar uma mulher a quem ele não consegue dominar e a jovem dama sente-se atraída pela figura repulsiva do marquês. A sequência da história é o que mais ou menos se espera de um romance desta categoria, com um final feliz, é claro. Leitura simples, mas agradável.
Trechos interessantes:
"Dali em diante, decidiu que adotaria o seguinte lema de Horácio: 'Ganha dinheiro honestamente, se puderes; senão, como puderes'." (pág. 14)
"'Esposa ou amante, são todas iguais', ele costuma dizer aos amigos. 'Quando uma dama - virtuosa ou não - se prende a você, você se torna o dono de uma propriedade problemática, onde os arrendatários estão sempre em pé de guerra e pela qual você precisa despender muito trabalho e dinheiro. Tudo pelo privilégio ocasional - que depende dos desejos dela - de conseguir o que você poderia ter com qualquer meretriz em troca de alguns xelins'." (pág. 73)
"'Não há animal mais invencível do que a mulher', dissera Aristófanes. 'Nem o fogo nem qualquer felino selvagem consegue ser tão implacável'." (pág. 105)
"-Eu? Ajudar? - perguntou ele, incrédulo. - Para que diabo servem os criados, sua cabecinha de vento? Eu não lhe disse que pagaria tudo? Se ninguém em casa tem competência para fazer o serviço, então contrate alguém. Se você quer ser uma marquesa rica, por que não começa a agir como uma? As classes trabalhadoras trabalham - explicou ele, com uma paciência exagerada. - As superiores lhes dizem o que fazer. Não se deve ir contra a ordem social." (pág. 117/118)
"Vawtry não se preocupava com os comerciantes a quem devia; as notas promissórias que passara aos amigos é que lhe causavam ansiedade profunda. Se não conseguisse saldá-las, não teria mais amigo nenhum. Um cavalheiro incapaz de pagar suas dívidas não seria mais considerado um cavalheiro. Essa ideia era ainda mais apavorante do que a ameaça dos agiotas ou das prisões para devedores." (pág. 134)
"Com o mundo em ordem, Dain dedicou um tempo preguiçoso do banho para revisar seu dicionário mental. Removeu sua esposa da categoria geral denominada 'Mulheres' e deu a ela uma seção própria. Fez uma anotação onde indicava que ela não o achava repugnante e propôs várias explicações: (a) visão e audição prejudicadas, (b) um pequeno defeito em seu intelecto, que, em todos os outros assuntos, era impecável, (c) uma excentricidade da família Trent ou (d) um ato de Deus. Como o Todo-Poderoso nunca havia lhe concedido a dádiva de um único ato de gentileza em pelo menos 25 anos, Dain pensou que já não era sem tempo, mas agradeceu ao Pai Celestial mesmo assim e prometeu ser um bom marido." (pág. 191)
Autor: Loretta Chase
Páginas: 288
Marquês de Dain (conhecido também como lorde Belzebu) foi rejeitado pelo pai, humilhado pelos colegas de escola, abandonado pela mãe, leva uma vida pecadora e depravada e nenhuma dama respeitável sequer se aproxima do mesmo. Eis que surge em cena Jessica Trent, uma mulher independente, que não tem meias palavras e que tem por objetivo livrar o irmão das influências nefastas do marquês.
O encontro dos dois provoca conflitos interessantes: o marquês fica revoltado por encontrar uma mulher a quem ele não consegue dominar e a jovem dama sente-se atraída pela figura repulsiva do marquês. A sequência da história é o que mais ou menos se espera de um romance desta categoria, com um final feliz, é claro. Leitura simples, mas agradável.
Trechos interessantes:
"Dali em diante, decidiu que adotaria o seguinte lema de Horácio: 'Ganha dinheiro honestamente, se puderes; senão, como puderes'." (pág. 14)
"'Esposa ou amante, são todas iguais', ele costuma dizer aos amigos. 'Quando uma dama - virtuosa ou não - se prende a você, você se torna o dono de uma propriedade problemática, onde os arrendatários estão sempre em pé de guerra e pela qual você precisa despender muito trabalho e dinheiro. Tudo pelo privilégio ocasional - que depende dos desejos dela - de conseguir o que você poderia ter com qualquer meretriz em troca de alguns xelins'." (pág. 73)
"'Não há animal mais invencível do que a mulher', dissera Aristófanes. 'Nem o fogo nem qualquer felino selvagem consegue ser tão implacável'." (pág. 105)
"-Eu? Ajudar? - perguntou ele, incrédulo. - Para que diabo servem os criados, sua cabecinha de vento? Eu não lhe disse que pagaria tudo? Se ninguém em casa tem competência para fazer o serviço, então contrate alguém. Se você quer ser uma marquesa rica, por que não começa a agir como uma? As classes trabalhadoras trabalham - explicou ele, com uma paciência exagerada. - As superiores lhes dizem o que fazer. Não se deve ir contra a ordem social." (pág. 117/118)
"Vawtry não se preocupava com os comerciantes a quem devia; as notas promissórias que passara aos amigos é que lhe causavam ansiedade profunda. Se não conseguisse saldá-las, não teria mais amigo nenhum. Um cavalheiro incapaz de pagar suas dívidas não seria mais considerado um cavalheiro. Essa ideia era ainda mais apavorante do que a ameaça dos agiotas ou das prisões para devedores." (pág. 134)
"Com o mundo em ordem, Dain dedicou um tempo preguiçoso do banho para revisar seu dicionário mental. Removeu sua esposa da categoria geral denominada 'Mulheres' e deu a ela uma seção própria. Fez uma anotação onde indicava que ela não o achava repugnante e propôs várias explicações: (a) visão e audição prejudicadas, (b) um pequeno defeito em seu intelecto, que, em todos os outros assuntos, era impecável, (c) uma excentricidade da família Trent ou (d) um ato de Deus. Como o Todo-Poderoso nunca havia lhe concedido a dádiva de um único ato de gentileza em pelo menos 25 anos, Dain pensou que já não era sem tempo, mas agradeceu ao Pai Celestial mesmo assim e prometeu ser um bom marido." (pág. 191)
quinta-feira, 8 de outubro de 2015
A criação
Título: A criação
Autor: Edward O. Wilson
Páginas: 192
Edward Wilson, um dos maiores biólogos do mundo, faz um claro apela à vida. Tenta sensibilizar a todos, mostrando que pouco sabemos sobre a vida na Terra e temos ainda menos preocupação em ampliar os conhecimentos. Necessitamos da Natureza, mas a tratamos como se ela fosse um objeto secundário.
O livro é escrito na forma de uma carta a um pastor evangélico, conclamando a união da ciência e da religião em prol da vida. Apesar do abismo existente entre estas duas vertentes, o autor argumenta que devemos deixar de lado as questões menos importantes e unirmos força para defender a Criação. Excelente livro.
Trechos interessantes:
"A espécie humana adaptou-se física e mentalmente à vida na Terra, e a nenhum outro lugar. Nossa ética é o código de conduta que temos em comum, com base na razão, na lei, na honra e em um senso inato de decência, ainda que alguns o atribuam à vontade de Deus." (pág. 12)
"Mas o que é a Natureza? A resposta mais simples possível é também a melhor: a Natureza é aquela parte do ambiente original e de suas formas de vida que permanece depois do impacto humano. Natureza é tudo aquilo no planeta Terra que não necessita de nós e pode existir por si só." (pág. 23)
"É prudente deter a destruição final e permanente da Natureza, pelo menos até que compreendamos mais exatamente o que somos, e o que estamos fazendo." (pág. 38)
"É possível que nunca cheguemos a avistar pessoalmente certos animais raros - podemos lembrar o lobo, o pica-pau-bico-de-marfim, o panda, o gorila, a lula-gigante, o grande tubarão-branco, o urso-pardo -, mas precisamos deles como símbolos. Eles proclamam o mistério do mundo. São as joias da coroa da Criação. Só saber que eles existem em algum lugar, estão vivos e passam bem é importante para o espírito, para que a nossa vida seja inteira. Se eles vivem, então a Natureza também vive. Com certeza nosso mundo estará em segurança, e nós estaremos em uma situação melhor. Imagine o choque desta manchete: ABATIDO O ÚLTIMO TIGRE - A ESPÉCIE ESTÁ EXTINTA." (pág. 69)
"Não há nenhuma solução disponível, posso lhe garantir, para salvar a biodiversidade da Terra, além da preservação dos ambientes naturais em reservas grandes o bastante para manter as populações silvestres de forma sustentável. Só a Natureza pode servir como arca de Noé planetária." (pág. 104)
"Os cientistas são para a ciência aquilo que os pedreiros são para as catedrais." (pág. 119)
"No longo caminho à frente, a biologia de modo geral e os estudos sobre a biodiversidade em particular necessitam de um mapa. Pastor, se o senhor está se perguntando o que tem a ver esse pré-requisito com a Criação, devo lhe dizer que nós pouco sabemos sobre o que está acontecendo com a maior parte da vida na Terra porque nem sequer sabemos o que ela é. A humanidade não precisa de uma base na Lua nem de uma viagem tripulada a Marte. Precisamos de uma expedição ao planeta Terra, onde provavelmente menos de 10% das formas de vida são conhecidas pela ciência, e menos de 1% destas já foram estudadas além de uma simples descrição anatômica e algumas anotações sobre sua história natural." (pág. 133)
"Archer era um profissional e me tratava como se eu também fosse. Ele fez com que me sentisse confiante. Ensinou-me a falar a linguagem de um verdadeiro pesquisador científico. Não se importava com dinheiro nem fama; importava-se com a classificação e a biologia das aranhas. Eu não compreendia todas as palavras, mas captava a música." (pág. 147)
"Da liberdade de explorar vem a alegria de aprender. Do conhecimento adquirido pela iniciativa pessoal advém o desejo de obter mais conhecimentos. E ao dominar esse novo e belo mundo que está à espera de cada criança, surge a autoconfiança. Cultivar um naturalista é como cultivar um músico ou um atleta: excelência para os talentosos, prazer por toda a vida para os demais, benefício para toda a humanidade." (pág. 166)
"Deus fez a Criação, é o que o senhor diz. Essa verdade está claramente expressa nas Sagradas Escrituras. Vinte e cinco séculos de teologia e boa parte da civilização ocidental foram construídos com base nessa convicção. Mas não é assim, digo eu, respeitosamente. A vida se fez a si mesma, por meio de mutações aleatórias e da seleção natural das moléculas codificadoras. Por mais radical que pareça tal explicação, ela tem o respaldo de um imenso volume de provas interconectadas. Talvez ainda se chegue a demonstrar que essa teoria está errada; no entanto, a cada ano isso parece menos provável." (pág. 186)
Autor: Edward O. Wilson
Páginas: 192
Edward Wilson, um dos maiores biólogos do mundo, faz um claro apela à vida. Tenta sensibilizar a todos, mostrando que pouco sabemos sobre a vida na Terra e temos ainda menos preocupação em ampliar os conhecimentos. Necessitamos da Natureza, mas a tratamos como se ela fosse um objeto secundário.
O livro é escrito na forma de uma carta a um pastor evangélico, conclamando a união da ciência e da religião em prol da vida. Apesar do abismo existente entre estas duas vertentes, o autor argumenta que devemos deixar de lado as questões menos importantes e unirmos força para defender a Criação. Excelente livro.
Trechos interessantes:
"A espécie humana adaptou-se física e mentalmente à vida na Terra, e a nenhum outro lugar. Nossa ética é o código de conduta que temos em comum, com base na razão, na lei, na honra e em um senso inato de decência, ainda que alguns o atribuam à vontade de Deus." (pág. 12)
"Mas o que é a Natureza? A resposta mais simples possível é também a melhor: a Natureza é aquela parte do ambiente original e de suas formas de vida que permanece depois do impacto humano. Natureza é tudo aquilo no planeta Terra que não necessita de nós e pode existir por si só." (pág. 23)
"É prudente deter a destruição final e permanente da Natureza, pelo menos até que compreendamos mais exatamente o que somos, e o que estamos fazendo." (pág. 38)
"É possível que nunca cheguemos a avistar pessoalmente certos animais raros - podemos lembrar o lobo, o pica-pau-bico-de-marfim, o panda, o gorila, a lula-gigante, o grande tubarão-branco, o urso-pardo -, mas precisamos deles como símbolos. Eles proclamam o mistério do mundo. São as joias da coroa da Criação. Só saber que eles existem em algum lugar, estão vivos e passam bem é importante para o espírito, para que a nossa vida seja inteira. Se eles vivem, então a Natureza também vive. Com certeza nosso mundo estará em segurança, e nós estaremos em uma situação melhor. Imagine o choque desta manchete: ABATIDO O ÚLTIMO TIGRE - A ESPÉCIE ESTÁ EXTINTA." (pág. 69)
"Não há nenhuma solução disponível, posso lhe garantir, para salvar a biodiversidade da Terra, além da preservação dos ambientes naturais em reservas grandes o bastante para manter as populações silvestres de forma sustentável. Só a Natureza pode servir como arca de Noé planetária." (pág. 104)
"Os cientistas são para a ciência aquilo que os pedreiros são para as catedrais." (pág. 119)
"No longo caminho à frente, a biologia de modo geral e os estudos sobre a biodiversidade em particular necessitam de um mapa. Pastor, se o senhor está se perguntando o que tem a ver esse pré-requisito com a Criação, devo lhe dizer que nós pouco sabemos sobre o que está acontecendo com a maior parte da vida na Terra porque nem sequer sabemos o que ela é. A humanidade não precisa de uma base na Lua nem de uma viagem tripulada a Marte. Precisamos de uma expedição ao planeta Terra, onde provavelmente menos de 10% das formas de vida são conhecidas pela ciência, e menos de 1% destas já foram estudadas além de uma simples descrição anatômica e algumas anotações sobre sua história natural." (pág. 133)
"Archer era um profissional e me tratava como se eu também fosse. Ele fez com que me sentisse confiante. Ensinou-me a falar a linguagem de um verdadeiro pesquisador científico. Não se importava com dinheiro nem fama; importava-se com a classificação e a biologia das aranhas. Eu não compreendia todas as palavras, mas captava a música." (pág. 147)
"Da liberdade de explorar vem a alegria de aprender. Do conhecimento adquirido pela iniciativa pessoal advém o desejo de obter mais conhecimentos. E ao dominar esse novo e belo mundo que está à espera de cada criança, surge a autoconfiança. Cultivar um naturalista é como cultivar um músico ou um atleta: excelência para os talentosos, prazer por toda a vida para os demais, benefício para toda a humanidade." (pág. 166)
"Deus fez a Criação, é o que o senhor diz. Essa verdade está claramente expressa nas Sagradas Escrituras. Vinte e cinco séculos de teologia e boa parte da civilização ocidental foram construídos com base nessa convicção. Mas não é assim, digo eu, respeitosamente. A vida se fez a si mesma, por meio de mutações aleatórias e da seleção natural das moléculas codificadoras. Por mais radical que pareça tal explicação, ela tem o respaldo de um imenso volume de provas interconectadas. Talvez ainda se chegue a demonstrar que essa teoria está errada; no entanto, a cada ano isso parece menos provável." (pág. 186)
domingo, 4 de outubro de 2015
Vestígio
Título: Vestígio
Autor: Patricia Cornwell
Páginas: 444
Kay Scarpetta é uma médica legista que foi chamada a investigar a morte de uma garota de 14 anos, em que ninguém conseguia descobrir a causa. O problema é que ela foi chamada pelo departamento onde ela havia sido chefe e sido demitida cinco anos antes. Vários fatores pesam na decisão de aceitar ou não o chamado.
Segundo a orelha do livro, a personagem Kay Scarpetta já protagonizou vários livros da autora, mas confesso que este é o primeiro que li e também tomei conhecimento. Romance policial, com as características de praxe, mas não achei nada excepcional, uma história comum na minha simples opinião.
Trechos interessantes:
"Marino passou a vida adulta na polícia, e um detalhe que um bom policial nunca despreza é a localização. Não adianta nada pegar seu rádio e gritar Socorro se você não souber onde está." (pág. 82)
"Ele ergue os olhos para ela. 'É seguro conversar aqui, tenho certeza. Ele não é tão esperto assim. Além disso, acho que nunca esteve na sala de decomposição. Provavelmente nem sabe onde ela fica'.
'É fácil subestimar as pessoas de quem a gente não gosta'." (pág. 121)
"Ele não é um bom pai. Não é assim que acontece? Nós amamos o que não podemos ter." (pág. 164)
"Quando ela ficava bêbada, buscava o que pensava que queria, só para descobrir depois que não queria o que tinha buscado, e sentia repulsa ou simplesmente indiferença, supondo que conseguisse sempre se lembrar do que fizera ou buscara, e depois de algum tempo ela raramente se lembrava." (pág. 170/171)
"Quando a gente se torna o alvo, é difícil ser objetivo. Como guerreiros, tendemos a objetivar os que nos perseguem da mesma forma como eles objetivam suas vítimas. É diferente quando somos os objetivados, quando somos as vítimas [...]" (pág. 390)
Autor: Patricia Cornwell
Páginas: 444
Kay Scarpetta é uma médica legista que foi chamada a investigar a morte de uma garota de 14 anos, em que ninguém conseguia descobrir a causa. O problema é que ela foi chamada pelo departamento onde ela havia sido chefe e sido demitida cinco anos antes. Vários fatores pesam na decisão de aceitar ou não o chamado.
Segundo a orelha do livro, a personagem Kay Scarpetta já protagonizou vários livros da autora, mas confesso que este é o primeiro que li e também tomei conhecimento. Romance policial, com as características de praxe, mas não achei nada excepcional, uma história comum na minha simples opinião.
Trechos interessantes:
"Marino passou a vida adulta na polícia, e um detalhe que um bom policial nunca despreza é a localização. Não adianta nada pegar seu rádio e gritar Socorro se você não souber onde está." (pág. 82)
"Ele ergue os olhos para ela. 'É seguro conversar aqui, tenho certeza. Ele não é tão esperto assim. Além disso, acho que nunca esteve na sala de decomposição. Provavelmente nem sabe onde ela fica'.
'É fácil subestimar as pessoas de quem a gente não gosta'." (pág. 121)
"Ele não é um bom pai. Não é assim que acontece? Nós amamos o que não podemos ter." (pág. 164)
"Quando ela ficava bêbada, buscava o que pensava que queria, só para descobrir depois que não queria o que tinha buscado, e sentia repulsa ou simplesmente indiferença, supondo que conseguisse sempre se lembrar do que fizera ou buscara, e depois de algum tempo ela raramente se lembrava." (pág. 170/171)
"Quando a gente se torna o alvo, é difícil ser objetivo. Como guerreiros, tendemos a objetivar os que nos perseguem da mesma forma como eles objetivam suas vítimas. É diferente quando somos os objetivados, quando somos as vítimas [...]" (pág. 390)
domingo, 27 de setembro de 2015
Tio Petros e a Conjectura de Goldbach
Título: Tio Petros e a Conjectura de Goldbach
Autor: Apostolos Doxiadis
Páginas: 163
Todo número par maior que 2 é igual à soma de dois números primos. Esta é a conjectura de Goldbach, um dos mais intrigantes desafios da matemática, justamente pelo seu enunciado simples e de fácil entendimento, mesmo pelos leigos. Apesar de já ter sido testada além da casa dos trilhões, ainda não foi possível demonstrá-la.
O livro - escrito por um matemático - conta a história de um homem (Tio Petros) que passou a vida inteira tentando demonstrar a conjectura. O livro é narrado pelo sobrinho - cujo nome não é citado - que, ao saber da história do tio se entusiasma e ao mesmo tempo se decepciona ao saber que o tio não teve o reconhecimento que deveria.
Trechos interessantes:
"O Segredo da Vida é traçar sempre metas alcançáveis. Elas podem ser fáceis ou difíceis, dependendo das circunstâncias, da personalidade e da capacidade de cada um, mas têm sempre que ser al-can-çá-veis!" (pág. 22)
"O que me fascinava era que meu tio, bondoso, reservado e aparentemente despretensioso, era, na realidade,um homem que, por escolha própria, lutara anos a fio nos limites mais extremos da ambição humana. Aquele homem que eu conhecia desde sempre, que era, na verdade, um parente bastante próximo, dedicara toda sua vida à resolução de Um dos Mais Difíceis Problemas da História da Matemática! Enquanto os irmãos estudavam e se casavam, criavam os filhos e administravam o negócio da família, consumindo suas vidas, junto com o restante da humanidade anônima, na rotina diária da subsistência, da procriação e do ócio, ele, tal como Prometeu, empenhava-se para iluminar o mais escuro e inacessível canto do conhecimento." (pág. 22/23)
"Por fim compreendi o significado do dizer na entrada da Academia de Platão: oudeis ageometretos eiseto, ou seja, 'Que não entrem os ignorantes em geometria'. A moral daquela noite surgiu cristalina: a matemática era algo muito mais interessante que a simples resolução de equações de segundo grau ou o cálculo de volume dos sólidos, tarefas menores que realizávamos na escola. Seus profissionais viviam em um verdadeiro paraíso conceitual, um reino poético e majestoso totalmente inacessível aos hoi polloi não matemáticos." (pág. 25)
"Grandes amores muitas vezes nascem da solidão, o que parece ter sido totalmente verdade no caso de meu tio e sua relação com os números durante toda vida. Descobriu seu talento particular para o cálculo muito cedo e não tardou para que este, na falta de outras diversões emocionais, se transformasse em uma verdadeira paixão." (pág. 53)
"[...]E eu consegui resultados intermediários, resultados maravilhosos e importantes, mas não os publiquei quando devia e outros acabaram chegando lá na minha frente. Infelizmente, na matemática não existe medalha de prata. O primeiro a anunciar e a publicar fica com toda a glória. Não sobra nada para mais ninguém." (pág. 89)
"O pré-requisito necessário - mas não suficiente, fique você sabendo - para a realização suprema é a devoção obstinada. Se você possuísse mesmo o dom que gostaria de ter, meu caro rapaz, você não teria vindo pedir a minha bênção para estudar matemática." (pág.120)
"Embora minha educação tenha sido escassa, embora eu tenha molhado apenas as pontas dos pés no imenso oceano da matemática, ela marcou para sempre a minha vida, dando-me o gostinho de um mundo superior. Sim, ela tornou a existência do Ideal um pouco mais plausível, até mesmo tangível." (pág. 130)
Autor: Apostolos Doxiadis
Páginas: 163
Todo número par maior que 2 é igual à soma de dois números primos. Esta é a conjectura de Goldbach, um dos mais intrigantes desafios da matemática, justamente pelo seu enunciado simples e de fácil entendimento, mesmo pelos leigos. Apesar de já ter sido testada além da casa dos trilhões, ainda não foi possível demonstrá-la.
O livro - escrito por um matemático - conta a história de um homem (Tio Petros) que passou a vida inteira tentando demonstrar a conjectura. O livro é narrado pelo sobrinho - cujo nome não é citado - que, ao saber da história do tio se entusiasma e ao mesmo tempo se decepciona ao saber que o tio não teve o reconhecimento que deveria.
Trechos interessantes:
"O Segredo da Vida é traçar sempre metas alcançáveis. Elas podem ser fáceis ou difíceis, dependendo das circunstâncias, da personalidade e da capacidade de cada um, mas têm sempre que ser al-can-çá-veis!" (pág. 22)
"O que me fascinava era que meu tio, bondoso, reservado e aparentemente despretensioso, era, na realidade,um homem que, por escolha própria, lutara anos a fio nos limites mais extremos da ambição humana. Aquele homem que eu conhecia desde sempre, que era, na verdade, um parente bastante próximo, dedicara toda sua vida à resolução de Um dos Mais Difíceis Problemas da História da Matemática! Enquanto os irmãos estudavam e se casavam, criavam os filhos e administravam o negócio da família, consumindo suas vidas, junto com o restante da humanidade anônima, na rotina diária da subsistência, da procriação e do ócio, ele, tal como Prometeu, empenhava-se para iluminar o mais escuro e inacessível canto do conhecimento." (pág. 22/23)
"Por fim compreendi o significado do dizer na entrada da Academia de Platão: oudeis ageometretos eiseto, ou seja, 'Que não entrem os ignorantes em geometria'. A moral daquela noite surgiu cristalina: a matemática era algo muito mais interessante que a simples resolução de equações de segundo grau ou o cálculo de volume dos sólidos, tarefas menores que realizávamos na escola. Seus profissionais viviam em um verdadeiro paraíso conceitual, um reino poético e majestoso totalmente inacessível aos hoi polloi não matemáticos." (pág. 25)
"Grandes amores muitas vezes nascem da solidão, o que parece ter sido totalmente verdade no caso de meu tio e sua relação com os números durante toda vida. Descobriu seu talento particular para o cálculo muito cedo e não tardou para que este, na falta de outras diversões emocionais, se transformasse em uma verdadeira paixão." (pág. 53)
"[...]E eu consegui resultados intermediários, resultados maravilhosos e importantes, mas não os publiquei quando devia e outros acabaram chegando lá na minha frente. Infelizmente, na matemática não existe medalha de prata. O primeiro a anunciar e a publicar fica com toda a glória. Não sobra nada para mais ninguém." (pág. 89)
"O pré-requisito necessário - mas não suficiente, fique você sabendo - para a realização suprema é a devoção obstinada. Se você possuísse mesmo o dom que gostaria de ter, meu caro rapaz, você não teria vindo pedir a minha bênção para estudar matemática." (pág.120)
"Embora minha educação tenha sido escassa, embora eu tenha molhado apenas as pontas dos pés no imenso oceano da matemática, ela marcou para sempre a minha vida, dando-me o gostinho de um mundo superior. Sim, ela tornou a existência do Ideal um pouco mais plausível, até mesmo tangível." (pág. 130)
terça-feira, 22 de setembro de 2015
Aquele estranho dia que nunca chega
Título: Aquele estranho dia que nunca chega
Autor: Luis Fernando Veríssimo
Páginas: 238
As crônicas de Luis Fernando Veríssimo são simplesmente fantásticas. Ele consegue escrever como se estivesse conversando e contando uma história pra você, assim, lado a lado. Não é à toa que é um dos mais conceituados escritores brasileiros, agradando a diferentes gerações.
Neste volume ele nos apresenta algumas crônicas sobre os bastidores da política brasileira. Interessante ver textos da época do Éfe Agá e do Lula como se fossem dos dias atuais. Por aí se vê que passam pessoas e partidos e a nossa política continua a mesma...
Trechos interessantes:
"Simpatizo com os intelectuais, talvez porque já tenham me confundido com um (devem ser os óculos). Os intelectuais têm efeitos contraditórios nas pessoas. Ou são tratados com uma certa reverência brasileira ao doutorismo - ou apenas a quem fala difícil - ou são tratados como "poetas" inocentes e desligados do mundo." (pág. 11)
"Tem um velho provérbio chinês que diz: sempre que estiver em dificuldade para começar uma crônica, apele para um velho provérbio chinês. E tem outro provérbio chinês, que acabei de inventar, que diz: quando não existir nenhum velho provérbio chinês apropriado para começar uma crônica, invente um." (pág. 22)
"Dizem que, no velório do Kennedy, uma senhora da sociedade de Washington viu-se ao lado da viúva e, querendo puxar conversa para distraí-la e não sabendo como começar, indicou com o queixo o caixão do presidente assassinado e perguntou:
-Fora isso, Mrs. Kennedy, o que a senhora achou de Dallas?" (pág. 46)
"Que grande observador do mundo teria bolado a frase 'pra baixo todo santo ajuda'? É o comentário mais devastadoramente irônico jamais feito sobre a circunstância humana, a fé religiosa e a intervenção da metafísica em nossas vidas, sem falar no abjeto oportunismo dos santos que só nos acodem nas boas." (pág. 54)
"Dizem que a gente vive para a frente mas compreende para trás, e é impossível alguém fazer e, ao mesmo tempo, saber o que está fazendo, dentro de um contexto amplo, numa perspectiva histórica, do ponto de vista da eternidade." (pág. 56)
"Ninguém, claro, pode ser refém, da sua própria retórica por toda a vida, ainda mais retórica de pátio de fábrica. Mas mais de um trabalhador, ouvindo o Éfe Agá e o Lula daqueles tempos, deve ter pensado, 'Ah, quando um cara desses for presidente...'. Um já é e não adiantou." (pág. 112)
"Mais uma vez os adversários pinçam, maliciosamente, uma frase do presidente para criticar. No caso, a sua observação de que é chato ser rico. Pois eu entendi a intenção do presidente. Ele estava falando para pobres e preocupado em prepará-los para o fato de que não vão ficar menos pobres e podem até ficar mais, no seu governo, e que isso não é tão ruim assim." (pág. 115)
"A melhor definição dos Bálcãs que já li é a de um lugar onde a geografia se move e a História fica parada. Esse século começou com uma guerra que nasceu com a inconstância geográfica dos Bálcãs e está terminando com as fronteiras ainda indefinidas e a repetição da mesma velha história - só que, desta vez, com mísseis e computadores." (pág. 170)
"O Guy de Maupassant gostava de almoçar na Torre Eiffel porque dizia que era o único lugar em Paris em que você podia olhar todo o horizonte sem o perigo de ver a Torre Eiffel." (pág. 174)
"Antigamente, nos formulários para pedir visto de entrada nos Estados Unidos, você tinha que responder se pretendia matar o presidente deles. Ninguém entendia a ingenuidade da pergunta e alguns não resistiam à tentação de responder com uma piada ('Não, e não adianta insistir' ou 'Eu nem conheço o cara!'). Mas havia uma lógica maluca na pergunta. Aparentemente, se você tentasse mesmo matar o presidente dos Estados Unidos, o fato de não ter declarado sua intenção no pedido de visto seria um peso legal quase equivalente ao do rifle fumegante nas suas mãos. Além de tudo, mentiroso!" (pág. 188)
Autor: Luis Fernando Veríssimo
Páginas: 238
As crônicas de Luis Fernando Veríssimo são simplesmente fantásticas. Ele consegue escrever como se estivesse conversando e contando uma história pra você, assim, lado a lado. Não é à toa que é um dos mais conceituados escritores brasileiros, agradando a diferentes gerações.
Neste volume ele nos apresenta algumas crônicas sobre os bastidores da política brasileira. Interessante ver textos da época do Éfe Agá e do Lula como se fossem dos dias atuais. Por aí se vê que passam pessoas e partidos e a nossa política continua a mesma...
Trechos interessantes:
"Simpatizo com os intelectuais, talvez porque já tenham me confundido com um (devem ser os óculos). Os intelectuais têm efeitos contraditórios nas pessoas. Ou são tratados com uma certa reverência brasileira ao doutorismo - ou apenas a quem fala difícil - ou são tratados como "poetas" inocentes e desligados do mundo." (pág. 11)
"Tem um velho provérbio chinês que diz: sempre que estiver em dificuldade para começar uma crônica, apele para um velho provérbio chinês. E tem outro provérbio chinês, que acabei de inventar, que diz: quando não existir nenhum velho provérbio chinês apropriado para começar uma crônica, invente um." (pág. 22)
"Dizem que, no velório do Kennedy, uma senhora da sociedade de Washington viu-se ao lado da viúva e, querendo puxar conversa para distraí-la e não sabendo como começar, indicou com o queixo o caixão do presidente assassinado e perguntou:
-Fora isso, Mrs. Kennedy, o que a senhora achou de Dallas?" (pág. 46)
"Que grande observador do mundo teria bolado a frase 'pra baixo todo santo ajuda'? É o comentário mais devastadoramente irônico jamais feito sobre a circunstância humana, a fé religiosa e a intervenção da metafísica em nossas vidas, sem falar no abjeto oportunismo dos santos que só nos acodem nas boas." (pág. 54)
"Dizem que a gente vive para a frente mas compreende para trás, e é impossível alguém fazer e, ao mesmo tempo, saber o que está fazendo, dentro de um contexto amplo, numa perspectiva histórica, do ponto de vista da eternidade." (pág. 56)
"Ninguém, claro, pode ser refém, da sua própria retórica por toda a vida, ainda mais retórica de pátio de fábrica. Mas mais de um trabalhador, ouvindo o Éfe Agá e o Lula daqueles tempos, deve ter pensado, 'Ah, quando um cara desses for presidente...'. Um já é e não adiantou." (pág. 112)
"Mais uma vez os adversários pinçam, maliciosamente, uma frase do presidente para criticar. No caso, a sua observação de que é chato ser rico. Pois eu entendi a intenção do presidente. Ele estava falando para pobres e preocupado em prepará-los para o fato de que não vão ficar menos pobres e podem até ficar mais, no seu governo, e que isso não é tão ruim assim." (pág. 115)
"A melhor definição dos Bálcãs que já li é a de um lugar onde a geografia se move e a História fica parada. Esse século começou com uma guerra que nasceu com a inconstância geográfica dos Bálcãs e está terminando com as fronteiras ainda indefinidas e a repetição da mesma velha história - só que, desta vez, com mísseis e computadores." (pág. 170)
"O Guy de Maupassant gostava de almoçar na Torre Eiffel porque dizia que era o único lugar em Paris em que você podia olhar todo o horizonte sem o perigo de ver a Torre Eiffel." (pág. 174)
"Antigamente, nos formulários para pedir visto de entrada nos Estados Unidos, você tinha que responder se pretendia matar o presidente deles. Ninguém entendia a ingenuidade da pergunta e alguns não resistiam à tentação de responder com uma piada ('Não, e não adianta insistir' ou 'Eu nem conheço o cara!'). Mas havia uma lógica maluca na pergunta. Aparentemente, se você tentasse mesmo matar o presidente dos Estados Unidos, o fato de não ter declarado sua intenção no pedido de visto seria um peso legal quase equivalente ao do rifle fumegante nas suas mãos. Além de tudo, mentiroso!" (pág. 188)
terça-feira, 18 de agosto de 2015
Filho das sombras
Título: Filho das sombras
Autor: Juliet Marillier
Páginas: 610
Este segundo livro da trilogia tem como personagens principais os descendentes de Sorcha, a personagem central do primeiro volume. Sorcha tem três filhos: Sean, Niamh e Liadan, tendo esta última herdado da mãe o gosto e a habilidade de manipular ervas medicinais. Quando todos pensavam que sua vida seria bem pacata, preocupando-se apenas em cuidar dos enfermos, eis que de repente dá uma guinada ao conhecer o mais temível dos bandidos da região.
A história segue o mesmo padrão do livro anterior (o que era de se esperar, é claro) contando com riqueza de detalhes sobre os mistérios e a magia do povo celta. Suas histórias, suas crenças e seus heróis são narrados com tanta intensidade que você se sente fazendo parte da história.
Trechos interessantes:
"Niamh e eu seríamos boas esposas. Sabíamos mesmo como administrar uma casa. Afinal, como se pode administrar o trabalho dos empregados se não se conhece o ofício deles?" (pág. 60)
"A melhor maneira de se iniciar uma luta com um homem é tirar dele o que lhe é importante: seu cavalo ou sua esposa. E de começar uma guerra, é tirar de um povo o que lhe é mais sagrado: suas heranças e seus mistérios." (pág. 64)
"Mas meu pai havia me dito certa vez que o medo não vence batalhas. Arregacei as mangas e decidi que não havia tempo para temores ou superficialidade." (pág. 127)
"-Você vê minha morte? Isso a preocupa? Não, não tenha medo disso. Às vezes, eu mesmo penso que seria bom se eu morresse.
-Pois você deveria se preocupar - eu disse, agora em voz mais calma. -Morrer sem conhecer a si mesmo é a pior coisa que pode acontecer." (pág. 174/175)
"Não é por acaso que dizem que as mulheres têm uma paciência muito maior que a dos homens. Passamos boa parte de nosso tempo esperando. Esperamos as crianças nascerem, esperamos os homens voltarem do trabalho, do mar e das batalhas. E esperamos notícias. Essa é a pior parte, pois o medo atravessa o coração e nos faz sofrer muito. A mente fica imaginando coisas terríveis enquanto se espera." (pág. 361)
"É como você mesmo me disse, certa vez. As maiores histórias, se bem contadas, despertam os medos e os desejos dos ouvintes. Cada um houve uma história diferente. Cada um é tocado por algo em especial. As palavras chegam aos ouvidos, mas a mensagem cai direto ao espírito." (pág. 388)
"A questão agora não é se eles confiavam em mim, e sim se eu confiava neles. Bran certa vez havia dito que confiança é um conceito sem sentido. Mas quem não consegue confiar nas pessoas vive sozinho, pois não existe família ou aliança sem o conceito de confiança. Sem ela todos viveriam afastados uns dos outros, perdidos e à mercê dos ventos, sem ter onde se segurar." (pág. 394)
"-Você faz isso parecer tão simples.
-Mas acho que o mundo é simples, em sua essência. Vida, morte. Amor, ódio. Desejo, realização. Magia. Talvez só esta última seja mais complicada." (pág. 575)
Autor: Juliet Marillier
Páginas: 610
Este segundo livro da trilogia tem como personagens principais os descendentes de Sorcha, a personagem central do primeiro volume. Sorcha tem três filhos: Sean, Niamh e Liadan, tendo esta última herdado da mãe o gosto e a habilidade de manipular ervas medicinais. Quando todos pensavam que sua vida seria bem pacata, preocupando-se apenas em cuidar dos enfermos, eis que de repente dá uma guinada ao conhecer o mais temível dos bandidos da região.
A história segue o mesmo padrão do livro anterior (o que era de se esperar, é claro) contando com riqueza de detalhes sobre os mistérios e a magia do povo celta. Suas histórias, suas crenças e seus heróis são narrados com tanta intensidade que você se sente fazendo parte da história.
Trechos interessantes:
"Niamh e eu seríamos boas esposas. Sabíamos mesmo como administrar uma casa. Afinal, como se pode administrar o trabalho dos empregados se não se conhece o ofício deles?" (pág. 60)
"A melhor maneira de se iniciar uma luta com um homem é tirar dele o que lhe é importante: seu cavalo ou sua esposa. E de começar uma guerra, é tirar de um povo o que lhe é mais sagrado: suas heranças e seus mistérios." (pág. 64)
"Mas meu pai havia me dito certa vez que o medo não vence batalhas. Arregacei as mangas e decidi que não havia tempo para temores ou superficialidade." (pág. 127)
"-Você vê minha morte? Isso a preocupa? Não, não tenha medo disso. Às vezes, eu mesmo penso que seria bom se eu morresse.
-Pois você deveria se preocupar - eu disse, agora em voz mais calma. -Morrer sem conhecer a si mesmo é a pior coisa que pode acontecer." (pág. 174/175)
"Não é por acaso que dizem que as mulheres têm uma paciência muito maior que a dos homens. Passamos boa parte de nosso tempo esperando. Esperamos as crianças nascerem, esperamos os homens voltarem do trabalho, do mar e das batalhas. E esperamos notícias. Essa é a pior parte, pois o medo atravessa o coração e nos faz sofrer muito. A mente fica imaginando coisas terríveis enquanto se espera." (pág. 361)
"É como você mesmo me disse, certa vez. As maiores histórias, se bem contadas, despertam os medos e os desejos dos ouvintes. Cada um houve uma história diferente. Cada um é tocado por algo em especial. As palavras chegam aos ouvidos, mas a mensagem cai direto ao espírito." (pág. 388)
"A questão agora não é se eles confiavam em mim, e sim se eu confiava neles. Bran certa vez havia dito que confiança é um conceito sem sentido. Mas quem não consegue confiar nas pessoas vive sozinho, pois não existe família ou aliança sem o conceito de confiança. Sem ela todos viveriam afastados uns dos outros, perdidos e à mercê dos ventos, sem ter onde se segurar." (pág. 394)
"-Você faz isso parecer tão simples.
-Mas acho que o mundo é simples, em sua essência. Vida, morte. Amor, ódio. Desejo, realização. Magia. Talvez só esta última seja mais complicada." (pág. 575)
segunda-feira, 10 de agosto de 2015
O enigma do trem perdido
Título: O enigma do trem perdido
Autor: Sir Arthur Conan Doyle
Páginas: 170
O livro é uma reunião de contos de Conan Doyle, sendo 'O enigma do trem perdido' apenas um deles e, de acordo com meu gosto pessoal, nem o mais interessante. São treze histórias no total e todas elas com algum elemento de mistério, fantasia ou alguma outra coisa que foge à realidade convencional.
Das histórias que fazem parte da coleção, me interessaram particularmente "O terror das alturas", "A caixa de Charão" e "O gato do Brasil". Na verdade há vários contos bons, com os citados apenas tive uma certa afinidade.
Trechos interessantes:
"Um visitante poderia descer neste planeta mil vezes e nunca ver um tigre. No entanto os tigres existem, e se calhasse descer numa selva ele poderia ser devorado. Existem selvas no ar superior, e existem coisas piores do que tigres que as habitam. Acredito que com o tempo essas selvas venham a ser precisamente mapeadas." (pág. 4)
"O charlatão é sempre um pioneiro. Do astrólogo veio o astrônomo, do alquimista o químico, do mesmerita o psicólogo experimental. O curandeiro de ontem é o médico de amanhã. Mesmo coisas sutis e impalpáveis como os sonhos serão no devido tempo reduzidas ao sistema e à ordem. Quando esse tempo chegar, as pesquisas dos nossos amigos naquela estante já não serão divertimentos do místico, mas os fundamentos da ciência." pág. 17)
"É uma infelicidade para um jovem ter gostos dispendiosos, grandes esperanças e relações elegantes, sem ter dinheiro no bolso, nem profissão que o habilite a ganhar algum." (pág. 62)
"É mais fácil afrontar um perigo quando se sabe ter feito tudo o que era possível fazer. Então resta somente ficar quieto e aguardar o resultado." (pág. 73)
"'É um princípio elementar de raciocínio prático', argumentava ele, 'que quando o impossível tenha sido eliminado, o resíduo, por improvável que seja, deve conter a verdade'." (pág. 85)
"O homem teme o fracasso quando corre o risco de pagar por ele, mas no caso não havia pena que a Fortuna pudesse cobrar-me. Eu era como um jogador de bolsos vazios, a quem ainda se permite arriscar a sorte com os outros." (pág. 95)
Autor: Sir Arthur Conan Doyle
Páginas: 170
O livro é uma reunião de contos de Conan Doyle, sendo 'O enigma do trem perdido' apenas um deles e, de acordo com meu gosto pessoal, nem o mais interessante. São treze histórias no total e todas elas com algum elemento de mistério, fantasia ou alguma outra coisa que foge à realidade convencional.
Das histórias que fazem parte da coleção, me interessaram particularmente "O terror das alturas", "A caixa de Charão" e "O gato do Brasil". Na verdade há vários contos bons, com os citados apenas tive uma certa afinidade.
Trechos interessantes:
"Um visitante poderia descer neste planeta mil vezes e nunca ver um tigre. No entanto os tigres existem, e se calhasse descer numa selva ele poderia ser devorado. Existem selvas no ar superior, e existem coisas piores do que tigres que as habitam. Acredito que com o tempo essas selvas venham a ser precisamente mapeadas." (pág. 4)
"O charlatão é sempre um pioneiro. Do astrólogo veio o astrônomo, do alquimista o químico, do mesmerita o psicólogo experimental. O curandeiro de ontem é o médico de amanhã. Mesmo coisas sutis e impalpáveis como os sonhos serão no devido tempo reduzidas ao sistema e à ordem. Quando esse tempo chegar, as pesquisas dos nossos amigos naquela estante já não serão divertimentos do místico, mas os fundamentos da ciência." pág. 17)
"É uma infelicidade para um jovem ter gostos dispendiosos, grandes esperanças e relações elegantes, sem ter dinheiro no bolso, nem profissão que o habilite a ganhar algum." (pág. 62)
"É mais fácil afrontar um perigo quando se sabe ter feito tudo o que era possível fazer. Então resta somente ficar quieto e aguardar o resultado." (pág. 73)
"'É um princípio elementar de raciocínio prático', argumentava ele, 'que quando o impossível tenha sido eliminado, o resíduo, por improvável que seja, deve conter a verdade'." (pág. 85)
"O homem teme o fracasso quando corre o risco de pagar por ele, mas no caso não havia pena que a Fortuna pudesse cobrar-me. Eu era como um jogador de bolsos vazios, a quem ainda se permite arriscar a sorte com os outros." (pág. 95)
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
Dr. Libério - o homem duplo
Título: Dr. Libério - o homem duplo
Autor: Bariani Ortencio
Páginas: 138
Dr. Libério é um médico altamente conceituado que está se preparando para executar o primeiro transplante de cérebro da história. Ao descobrir que era traído pela esposa, mata o amante e, resolvendo aproveitar a situação, resolve que sua equipe faça o transplante do cérebro da vítima para seu próprio corpo.
A partir daí surge uma situação inusitada: a vítima passa a estar no corpo do assassino, com consciência da situação sui generis. Dr. Libério é julgado três vezes pelo crime cometido, e cada uma delas apresentando debates interessantes. Ótima leitura.
Trechos interessantes:
"Lucinda, alta e loura, rosto bonito e simpático, condizia perfeitamente com o corpo de proporções bem distribuídas. Era uma fruta que passava, um encanto a explorar, o Doutor só tendo olhos para os crânios abertos, para as folhas brilhantes dos livros científicos. Acostumado com os seres mortos, a indiferença da morte e o gelo dos corpos eram preferidos ao tato do corpo quente e viçoso, do sorriso de hálito também quente e perfumado nos lábios da jovem esposa." (pág. 13)
"Que ironia, que brincadeira sem graça, essa do Destino, fazendo com que se transformasse em vítima e assassino de um mesmo crime, num corpo só. No espelho ficava muito tempo analisando o seu novo corpo, um corpo muito pior que o dele. Um corpo alquebrado, cansado, desgastado pelo trabalho intelectual. E agora, ficaria com a sua esposa de corpo, ou com a de cérebro? Em qualquer um dos casos estaria prostituindo uma e outra." (pág. 24)
"Homem é assim mesmo, não gosta que a mulher sequer converse com desconhecidos, mas fica por aí em aventuras amorosas." (pág. 36)
Autor: Bariani Ortencio
Páginas: 138
Dr. Libério é um médico altamente conceituado que está se preparando para executar o primeiro transplante de cérebro da história. Ao descobrir que era traído pela esposa, mata o amante e, resolvendo aproveitar a situação, resolve que sua equipe faça o transplante do cérebro da vítima para seu próprio corpo.
A partir daí surge uma situação inusitada: a vítima passa a estar no corpo do assassino, com consciência da situação sui generis. Dr. Libério é julgado três vezes pelo crime cometido, e cada uma delas apresentando debates interessantes. Ótima leitura.
Trechos interessantes:
"Lucinda, alta e loura, rosto bonito e simpático, condizia perfeitamente com o corpo de proporções bem distribuídas. Era uma fruta que passava, um encanto a explorar, o Doutor só tendo olhos para os crânios abertos, para as folhas brilhantes dos livros científicos. Acostumado com os seres mortos, a indiferença da morte e o gelo dos corpos eram preferidos ao tato do corpo quente e viçoso, do sorriso de hálito também quente e perfumado nos lábios da jovem esposa." (pág. 13)
"Que ironia, que brincadeira sem graça, essa do Destino, fazendo com que se transformasse em vítima e assassino de um mesmo crime, num corpo só. No espelho ficava muito tempo analisando o seu novo corpo, um corpo muito pior que o dele. Um corpo alquebrado, cansado, desgastado pelo trabalho intelectual. E agora, ficaria com a sua esposa de corpo, ou com a de cérebro? Em qualquer um dos casos estaria prostituindo uma e outra." (pág. 24)
"Homem é assim mesmo, não gosta que a mulher sequer converse com desconhecidos, mas fica por aí em aventuras amorosas." (pág. 36)
quinta-feira, 30 de julho de 2015
A cidade e as estrelas
Título: A cidade e as estrelas
Autor: Arthur C. Clarke
Páginas: 266
Estamos a um bilhão de anos à frente. A cidade chama-se Diaspar. É uma espécie de bolha, onde todos se sentem confortáveis ali e não têm a mínima preocupação e interesse em saber se existe alguma coisa lá fora. As pessoas vivem mil anos e, quando estão saturadas, "doam" suas memórias ao computador central e poderão renascer novamente daqui a milhares de anos.
Alvin é um cidadão diferente dos demais, sempre preocupado com o que existe fora da cidade e procura de todas as formas uma maneira de sair e explorar o ambiente externo. Quando consegue, muita coisa muda e a vida não será mais a mesma em Diaspar. Este sim, um verdadeiro livro de ficção que dá prazer de ler.
Trechos interessantes:
"Se o artista não sabia qual era seu objetivo, nem mesmo o mais milagroso dos instrumentos seria capaz de encontrá-lo para ele." (pág. 15)
"A lenda diz (e trata-se apenas de uma lenda, veja) que celebramos um pacto com os Invasores. Poderiam ficar com o Universo que tanto desejavam, e nós nos contentaríamos com o mundo em que havíamos nascido." (pág. 28)
"Havia-se descoberto, há muito tempo, que sem um pouco de crime e desordem a Utopia logo se tornaria insuportavelmente monótona. Contudo, devido à natureza das coisas, não se poderia garantir que o crime permanecesse no nível ideal exigido pelas equações sociais. Uma vez liberado e regulamentado, deixaria de ser crime." (pág. 51)
"Alvin pôs esses problemas de lado. Um dia, depois de ter aprendido muito mais coisas, poderia vir ter oportunidade de elucidá-los. Era ocioso especular, construir pirâmides de conjecturas sobre alicerces de ignorância." (pág. 101)
"Na juventude, fora obrigado a abandonar seu mundo nativo, do qual trazia ainda enorme saudade. Atribuía a expulsão a inimigos vingativos, mas a realidade é que sofria de um mal que, dentre todas as raças inteligentes do Universo, aparentemente só acometia o Homo Sapiens: a mania religiosa." (pág. 135)
"Para sua própria paz de espírito, devia voltar ao mundo minúsculo e familiar de Diaspar, ali buscando refúgio, enquanto ponderava seus sonhos e sua ambição. Havia uma ironia nisso: aquele que acicatara a cidade a se aventurar por entre as estrelas voltava para casa como uma criança assustada volta correndo para a mãe." (pág. 236)
"Hilvar, contudo, conhecia melhor a verdade. Percebera, instintivamente, desde o começo, que Alvin era um explorador, e todos os exploradores estão à procura de alguma coisa que perderam. Raramente a encontram, e mais raramente ainda a descoberta lhes proporciona mais alegria do que a procura."(pág. 242)
Autor: Arthur C. Clarke
Páginas: 266
Estamos a um bilhão de anos à frente. A cidade chama-se Diaspar. É uma espécie de bolha, onde todos se sentem confortáveis ali e não têm a mínima preocupação e interesse em saber se existe alguma coisa lá fora. As pessoas vivem mil anos e, quando estão saturadas, "doam" suas memórias ao computador central e poderão renascer novamente daqui a milhares de anos.
Alvin é um cidadão diferente dos demais, sempre preocupado com o que existe fora da cidade e procura de todas as formas uma maneira de sair e explorar o ambiente externo. Quando consegue, muita coisa muda e a vida não será mais a mesma em Diaspar. Este sim, um verdadeiro livro de ficção que dá prazer de ler.
Trechos interessantes:
"Se o artista não sabia qual era seu objetivo, nem mesmo o mais milagroso dos instrumentos seria capaz de encontrá-lo para ele." (pág. 15)
"A lenda diz (e trata-se apenas de uma lenda, veja) que celebramos um pacto com os Invasores. Poderiam ficar com o Universo que tanto desejavam, e nós nos contentaríamos com o mundo em que havíamos nascido." (pág. 28)
"Havia-se descoberto, há muito tempo, que sem um pouco de crime e desordem a Utopia logo se tornaria insuportavelmente monótona. Contudo, devido à natureza das coisas, não se poderia garantir que o crime permanecesse no nível ideal exigido pelas equações sociais. Uma vez liberado e regulamentado, deixaria de ser crime." (pág. 51)
"Alvin pôs esses problemas de lado. Um dia, depois de ter aprendido muito mais coisas, poderia vir ter oportunidade de elucidá-los. Era ocioso especular, construir pirâmides de conjecturas sobre alicerces de ignorância." (pág. 101)
"Na juventude, fora obrigado a abandonar seu mundo nativo, do qual trazia ainda enorme saudade. Atribuía a expulsão a inimigos vingativos, mas a realidade é que sofria de um mal que, dentre todas as raças inteligentes do Universo, aparentemente só acometia o Homo Sapiens: a mania religiosa." (pág. 135)
"Para sua própria paz de espírito, devia voltar ao mundo minúsculo e familiar de Diaspar, ali buscando refúgio, enquanto ponderava seus sonhos e sua ambição. Havia uma ironia nisso: aquele que acicatara a cidade a se aventurar por entre as estrelas voltava para casa como uma criança assustada volta correndo para a mãe." (pág. 236)
"Hilvar, contudo, conhecia melhor a verdade. Percebera, instintivamente, desde o começo, que Alvin era um explorador, e todos os exploradores estão à procura de alguma coisa que perderam. Raramente a encontram, e mais raramente ainda a descoberta lhes proporciona mais alegria do que a procura."(pág. 242)
segunda-feira, 27 de julho de 2015
Eleanor & Park
Título: Eleanor & Park
Autor: Rainbow Rowell
Páginas: 326
Park é um descendente de coreano, que usa roupas escuras, gosta de gibis e música e não tem muitos amigos na escola. Eleanor tem cabelo ruivo, usa roupas desleixadas e mora com a mãe, o padrasto e quatro irmãos. Os dois se conhecem no ônibus escolar e, como seria de se esperar, cada um acha o outro totalmente estranho.
Aos poucos nasce uma simpatia, uma amizade, um amor entre os dois e, mesmo sendo estranho para os demais, cada um tem o outro como a pessoa mais importante de sua vida. Mas todos têm seus problemas e as coisas nem sempre são tão simples. É um livro de romance adolescente, mas alegre, comovente e agradável de se ler.
Trechos interessantes:
"Depois de cinco filhos, a mãe ainda tinha seios e quadris de modelo de propaganda de cigarro. Aos dezesseis Eleanor já estava com a silhueta de uma gerente de uma taverna medieval." (pág. 22)
"Estava ficando velho demais para aquilo, carrinhos e parquinhos, já com onze anos. Os meninos da idade dele jogavam basquete a noite toda ou ficavam em turmas conversando à beira do parquinho. Eleanor torcia para que Ben demorasse a crescer. Não havia espaço naquela casa para ser adolescente." (pág. 39)
"-Eles vão continuar tirando sarro de mim - ela soltou. - A briga não muda nada. Você não pode sair batendo nas pessoas toda vez que alguém me achar estranha ou feia... Promete que não vai acontecer de novo? Promete que vai tentar não se importar?
Ele puxou a mão dela de novo, e balançou a cabeça devagar.
-Porque não importa pra mim, Park. Se você gostar de mim - ela disse -, eu juro por Deus, nada mais importa." (pág. 139)
"O livro de álgebra estava coberto com a letra dela, a letra de uma música retorcida feito um embrulho sobre o título de outra. Viu o nome dele escrito numa pequena letra cursiva, escondido por entre o refrão de uma canção dos Smiths: o nome da gente sempre se destaca." (pág. 176)
"Tina chamou Park para sair e ele disse sim, porque todo mundo sabia que Tina era a menina mais popular da turma. Sair com ela fora uma moeda de troca social tão poderosa que Park ainda estava gastando." (pág. 179)
"Se Eleanor pudesse ter relacionamentos normais com meninos, não acharia que tinha de marcar um golaço na primeira vez em que foi parar no banco traseiro de um carro. Não pensaria que essa seria sua única vez em campo. (E não usaria essas metáforas idiotas de futebol.)" (pág. 278)
"Ele tentou se lembrar novamente do que pensara na primeira vez em que a vira. Tentou se lembrar de como acontecera, de como ela passou de alguém que ele não conhecia para a única pessoa que lhe importava." (pág. 300)
Autor: Rainbow Rowell
Páginas: 326
Park é um descendente de coreano, que usa roupas escuras, gosta de gibis e música e não tem muitos amigos na escola. Eleanor tem cabelo ruivo, usa roupas desleixadas e mora com a mãe, o padrasto e quatro irmãos. Os dois se conhecem no ônibus escolar e, como seria de se esperar, cada um acha o outro totalmente estranho.
Aos poucos nasce uma simpatia, uma amizade, um amor entre os dois e, mesmo sendo estranho para os demais, cada um tem o outro como a pessoa mais importante de sua vida. Mas todos têm seus problemas e as coisas nem sempre são tão simples. É um livro de romance adolescente, mas alegre, comovente e agradável de se ler.
Trechos interessantes:
"Depois de cinco filhos, a mãe ainda tinha seios e quadris de modelo de propaganda de cigarro. Aos dezesseis Eleanor já estava com a silhueta de uma gerente de uma taverna medieval." (pág. 22)
"Estava ficando velho demais para aquilo, carrinhos e parquinhos, já com onze anos. Os meninos da idade dele jogavam basquete a noite toda ou ficavam em turmas conversando à beira do parquinho. Eleanor torcia para que Ben demorasse a crescer. Não havia espaço naquela casa para ser adolescente." (pág. 39)
"-Eles vão continuar tirando sarro de mim - ela soltou. - A briga não muda nada. Você não pode sair batendo nas pessoas toda vez que alguém me achar estranha ou feia... Promete que não vai acontecer de novo? Promete que vai tentar não se importar?
Ele puxou a mão dela de novo, e balançou a cabeça devagar.
-Porque não importa pra mim, Park. Se você gostar de mim - ela disse -, eu juro por Deus, nada mais importa." (pág. 139)
"O livro de álgebra estava coberto com a letra dela, a letra de uma música retorcida feito um embrulho sobre o título de outra. Viu o nome dele escrito numa pequena letra cursiva, escondido por entre o refrão de uma canção dos Smiths: o nome da gente sempre se destaca." (pág. 176)
"Tina chamou Park para sair e ele disse sim, porque todo mundo sabia que Tina era a menina mais popular da turma. Sair com ela fora uma moeda de troca social tão poderosa que Park ainda estava gastando." (pág. 179)
"Se Eleanor pudesse ter relacionamentos normais com meninos, não acharia que tinha de marcar um golaço na primeira vez em que foi parar no banco traseiro de um carro. Não pensaria que essa seria sua única vez em campo. (E não usaria essas metáforas idiotas de futebol.)" (pág. 278)
"Ele tentou se lembrar novamente do que pensara na primeira vez em que a vira. Tentou se lembrar de como acontecera, de como ela passou de alguém que ele não conhecia para a única pessoa que lhe importava." (pág. 300)
quarta-feira, 22 de julho de 2015
Ideias geniais na matemática
Título: Ideias geniais na matemática
Autor: Surendra Verma
Páginas: 176
O objetivo da obra é fantástico: mostrar os principais teoremas, conceitos e explanações gerais da matemática, de forma simples, de maneira que todos possam entender. Claro que em poucas linhas é impossível esgotar completamente um assunto, por isso são apresentadas apenas pinceladas de cada tópico.
Acho que o principal objetivo é despertar a curiosidade de quem lê e mostrar que a matemática pode ser interessante e não aquele monstro que sempre nos disseram. Se você gosta de matemática, vai achar interessante; se não gosta, quem sabe aqui está a chance de vê-la com outros olhos.
Trechos interessantes:
"'O problema do zero é que nós não precisamos dele para as operações da nossa vida cotidiana', diz o filósofo e matemático britânico Alfred North Whitehead (1861-1947). 'Ninguém sai para comprar zero peixes'." (pág.9)
"A história da trágica morte de Arquimedes é menos conhecida. Quando o general romano Marcellus conquistou Siracusa, uma cidade grega na Sicília, ele deu ordens rígidas para que nenhum mal fosse feito a Arquimedes. Contudo, essas ordens nunca chegaram ao destacamento de soldados romanos que o encontraram em seu quintal desenhando algumas figuras geométricas complexas na areia. Ao ver os soldados Arquimedes gritou: 'Não toquem nos meus desenhos!'. Um dos soldados atravessou uma lança no corpo do grande pensador, quando este poderia bem estar ruminando qualquer coisa a respeito do futuro da humanidade." (pág. 23)
"Andrew Wiles,professor de matemática na Universidade de Princeton, finalmente resolveu o teorema [de Fermat] em 1993. Quando ele estudava no Reino Unido, Wiles viu o teorema em um livro de matemática da biblioteca pública. 'Parecia tão simples, e mesmo assim todos os grandes matemáticos da história não conseguiam resolvê-lo', ele lembra-se. 'Havia um problema, que eu, um garoto de dez anos de idade, conseguia entender, e eu soube naquele momento que eu nunca conseguiria me livrar dele. Eu tinha que resolvê-lo.' E ele de fato o fez, depois de vários anos de trabalho duro. A prova final tem 130 páginas." (pág. 57)
"Se compararmos dois pacotes de cartas de baralho (uma delas bem embaralhada), tirando carta por carta, qual a probabilidade de que passemos por ambos os baralhos sem encontrar uma coincidência sequer? A resposta é 1/e (com uma margem de erro de menos de 10-69, para baralhos de 52 cartas)" (pág. 65)
"Se você odeia equações, você não está sozinho. Stephen Hawking escreve em Uma breve história do tempo (1988): 'Alguém me disse que cada equação que eu incluísse no livro faria as vendas caírem pela metade. Portanto eu resolvi não colocar nenhuma equação na obra. No final, entretanto, eu cheguei a inserir uma equação, a mais famosa de Einstein, E = mc2. Espero que isso não assuste meus leitores em potencial'." (pág. 82)
"Cinco em cada quatro pessoas não entendem frações" (pág. 83)
"Certa vez, Babbage mandou uma carta ao poeta inglês Lorde Alfred Tennyson (1809-1892), sobre dois versos de The Vision of Sin, de 1869:
A cada minuto morre um homem,
A cada minuto nasce outro.
Ele escreveu:
Eu acredito que não precise mostrar ao senhor que este cálculo tenderia a manter a soma da população mundial em um estado de total equilíbrio, ao passo que é de conhecimento geral que a soma total cresce constantemente. Portanto, eu tomaria a liberdade de sugerir que na próxima edição de seu excelente poema, o cálculo errôneo ao qual me refiro fosse corrigido da seguinte forma:
A cada minuto morre um homem,
Nascendo então um e um sexto.
Devo acrescentar que os dados exatos são de 1,167, mas algo deve, obviamente, ser concedido às leis da métrica." (pág.88)
"Em matemática, um paradoxo é uma afirmação ou proposição que soa razoável, mas leva a uma conclusão contraditória. Uma falácia matemática, por outro lado, é uma afirmação ou proposição que leva a um resultado falso ou absurdo, devido a um raciocínio inadequado." (pág. 96/97)
"Não existem sistemas lotéricos ou estratégias de sucesso que possam te ajudar com a aposta. Se houvesse um sistema como esse, todos os matemáticos seriam pessoas muito ricas, e não lecionariam em escolas ou faculdades." (pág. 144)
"Mahatma Gandhi (1869-1948) certa vez disse: 'Deve-se cuidar do mundo que não se verá'." (pág. 151)
"Quanto mais claro o professor deixar tudo pra você, pior será. Você deve enxergar as coisas por si e criar suas próprias ideias.
William F. Osgood, The American Mathematical Monthly (dezembro de 1984)" (pág. 155)
Autor: Surendra Verma
Páginas: 176
O objetivo da obra é fantástico: mostrar os principais teoremas, conceitos e explanações gerais da matemática, de forma simples, de maneira que todos possam entender. Claro que em poucas linhas é impossível esgotar completamente um assunto, por isso são apresentadas apenas pinceladas de cada tópico.
Acho que o principal objetivo é despertar a curiosidade de quem lê e mostrar que a matemática pode ser interessante e não aquele monstro que sempre nos disseram. Se você gosta de matemática, vai achar interessante; se não gosta, quem sabe aqui está a chance de vê-la com outros olhos.
Trechos interessantes:
"'O problema do zero é que nós não precisamos dele para as operações da nossa vida cotidiana', diz o filósofo e matemático britânico Alfred North Whitehead (1861-1947). 'Ninguém sai para comprar zero peixes'." (pág.9)
"A história da trágica morte de Arquimedes é menos conhecida. Quando o general romano Marcellus conquistou Siracusa, uma cidade grega na Sicília, ele deu ordens rígidas para que nenhum mal fosse feito a Arquimedes. Contudo, essas ordens nunca chegaram ao destacamento de soldados romanos que o encontraram em seu quintal desenhando algumas figuras geométricas complexas na areia. Ao ver os soldados Arquimedes gritou: 'Não toquem nos meus desenhos!'. Um dos soldados atravessou uma lança no corpo do grande pensador, quando este poderia bem estar ruminando qualquer coisa a respeito do futuro da humanidade." (pág. 23)
"Andrew Wiles,professor de matemática na Universidade de Princeton, finalmente resolveu o teorema [de Fermat] em 1993. Quando ele estudava no Reino Unido, Wiles viu o teorema em um livro de matemática da biblioteca pública. 'Parecia tão simples, e mesmo assim todos os grandes matemáticos da história não conseguiam resolvê-lo', ele lembra-se. 'Havia um problema, que eu, um garoto de dez anos de idade, conseguia entender, e eu soube naquele momento que eu nunca conseguiria me livrar dele. Eu tinha que resolvê-lo.' E ele de fato o fez, depois de vários anos de trabalho duro. A prova final tem 130 páginas." (pág. 57)
"Se compararmos dois pacotes de cartas de baralho (uma delas bem embaralhada), tirando carta por carta, qual a probabilidade de que passemos por ambos os baralhos sem encontrar uma coincidência sequer? A resposta é 1/e (com uma margem de erro de menos de 10-69, para baralhos de 52 cartas)" (pág. 65)
"Se você odeia equações, você não está sozinho. Stephen Hawking escreve em Uma breve história do tempo (1988): 'Alguém me disse que cada equação que eu incluísse no livro faria as vendas caírem pela metade. Portanto eu resolvi não colocar nenhuma equação na obra. No final, entretanto, eu cheguei a inserir uma equação, a mais famosa de Einstein, E = mc2. Espero que isso não assuste meus leitores em potencial'." (pág. 82)
"Cinco em cada quatro pessoas não entendem frações" (pág. 83)
"Certa vez, Babbage mandou uma carta ao poeta inglês Lorde Alfred Tennyson (1809-1892), sobre dois versos de The Vision of Sin, de 1869:
A cada minuto morre um homem,
A cada minuto nasce outro.
Ele escreveu:
Eu acredito que não precise mostrar ao senhor que este cálculo tenderia a manter a soma da população mundial em um estado de total equilíbrio, ao passo que é de conhecimento geral que a soma total cresce constantemente. Portanto, eu tomaria a liberdade de sugerir que na próxima edição de seu excelente poema, o cálculo errôneo ao qual me refiro fosse corrigido da seguinte forma:
A cada minuto morre um homem,
Nascendo então um e um sexto.
Devo acrescentar que os dados exatos são de 1,167, mas algo deve, obviamente, ser concedido às leis da métrica." (pág.88)
"Em matemática, um paradoxo é uma afirmação ou proposição que soa razoável, mas leva a uma conclusão contraditória. Uma falácia matemática, por outro lado, é uma afirmação ou proposição que leva a um resultado falso ou absurdo, devido a um raciocínio inadequado." (pág. 96/97)
"Não existem sistemas lotéricos ou estratégias de sucesso que possam te ajudar com a aposta. Se houvesse um sistema como esse, todos os matemáticos seriam pessoas muito ricas, e não lecionariam em escolas ou faculdades." (pág. 144)
"Mahatma Gandhi (1869-1948) certa vez disse: 'Deve-se cuidar do mundo que não se verá'." (pág. 151)
"Quanto mais claro o professor deixar tudo pra você, pior será. Você deve enxergar as coisas por si e criar suas próprias ideias.
William F. Osgood, The American Mathematical Monthly (dezembro de 1984)" (pág. 155)
sexta-feira, 17 de julho de 2015
Eu amo bike
Título: Eu amo bike
Autor: Roberta Faria (org)
Páginas: 100
Livro pequeno, mas muito interessante. Trata-se do relato de 50 pessoas que usam a bicicleta, seja no trabalho, no esporte, no lazer, ou seja, pessoas que de fato amam a bicicleta.Se você, assim como eu, é fã de bicicleta, certamente vai se identificar com alguma das histórias ou, quem sabe, vai querer incluir a sua.
Gostei no livro, além das histórias, das dicas e macetes que são enxertados em algumas páginas. Além disso, no editorial, cada pessoa mencionada tem uma frase ou menção a alguma coisa relacionada à bicicleta. Achei genial.
Trechos interessantes:
"Devo à bicicleta minha excelente qualidade de vida. Os problemas que tenho certamente seriam maiores se eu fosse sedentário." (pág. 20)
"'Nunca peguei vale-transporte. Fiz questão de pôr no contrato de trabalho que meu meio de locomoção é a bicicleta', orgulha-se. E garante que o condicionamento físico obtido com as pedaladas faz toda a diferença no serviço: 'Vejo moças mais novas que eu que não têm a minha agilidade'." (pág. 21)
"Em Barcelona, eu usava bicicleta, metrô e trem. Vi que o carro não é uma necessidade." (pág. 29)
"Quando estamos no trânsito, não vemos veículos, mas, sim, seres humanos. A bicicleta nos torna mais conscientes do mundo ao nosso redor." (pág. 72)
"Além de bom exemplo e exercício físico, a bicicleta funciona como ferramenta de meditação. 'Quando você presta atenção só no seu caminho, no que tem de fazer naquele trajeto, você se desliga dos problemas'." (pág. 77)
Autor: Roberta Faria (org)
Páginas: 100
Livro pequeno, mas muito interessante. Trata-se do relato de 50 pessoas que usam a bicicleta, seja no trabalho, no esporte, no lazer, ou seja, pessoas que de fato amam a bicicleta.Se você, assim como eu, é fã de bicicleta, certamente vai se identificar com alguma das histórias ou, quem sabe, vai querer incluir a sua.
Gostei no livro, além das histórias, das dicas e macetes que são enxertados em algumas páginas. Além disso, no editorial, cada pessoa mencionada tem uma frase ou menção a alguma coisa relacionada à bicicleta. Achei genial.
Trechos interessantes:
"Devo à bicicleta minha excelente qualidade de vida. Os problemas que tenho certamente seriam maiores se eu fosse sedentário." (pág. 20)
"'Nunca peguei vale-transporte. Fiz questão de pôr no contrato de trabalho que meu meio de locomoção é a bicicleta', orgulha-se. E garante que o condicionamento físico obtido com as pedaladas faz toda a diferença no serviço: 'Vejo moças mais novas que eu que não têm a minha agilidade'." (pág. 21)
"Em Barcelona, eu usava bicicleta, metrô e trem. Vi que o carro não é uma necessidade." (pág. 29)
"Quando estamos no trânsito, não vemos veículos, mas, sim, seres humanos. A bicicleta nos torna mais conscientes do mundo ao nosso redor." (pág. 72)
"Além de bom exemplo e exercício físico, a bicicleta funciona como ferramenta de meditação. 'Quando você presta atenção só no seu caminho, no que tem de fazer naquele trajeto, você se desliga dos problemas'." (pág. 77)
sábado, 11 de julho de 2015
Valis
Título: Valis
Autor: Philip K. Dick
Páginas:
Aqui está um livro totalmente estranho. Tudo bem que é uma ficção, mas chega às raias do absurdo. Uma história que não tem o menor sentido. Discussões filosóficas, religiosas e tudo o mais, simplesmente intragáveis. O livro não tem história,é um amontoado de frases e divagações sem fundamento.
O autor e narrador (que se refere a si mesmo na terceira pessoa) é uma pessoa obsessiva que acredita ter uma revelação de que uma entidade divina, que já foi Buda e Cristo, irá retornar. Essa entidade ele a chama de Valis e passa o livro todo tentando justificar essa obsessão.
Trechos interessantes:
"Embora não houvesse nada que eu pudesse ter feito para ajudar Horselover Fat, ele conseguiu escapar da morte. A primeira coisa que apareceu para salvá-lo tomou a forma de uma colegial de dezoito anos que morava na mesma rua que ele, mais abaixo, e a segunda foi Deus. Dos dois, a garota fez o melhor serviço." (pág. 21)
"Não acontece muita coisa em uma ala psiquiátrica, ao contrário do que os romancistas míticos relatam. Pacientes não têm o poder de dominar a equipe, e a equipe não chega a assassinar os pacientes." (pág. 64)
"-Vou perguntar a Larry se esta é uma das partes corruptas da Bíblia - disse Sherri.
Emputecido, Fat disse:
-Sherri, por que é que você não recorta todas as partes da Bíblia com as quais concorda e as cola juntas? E não precisa lidar com o restante." (pág. 90)
"Certa vez, quando eu dava uma palestra na Universidade da Califórnia em Fullerton, um aluno me pediu uma definição simples e curta de realidade. Eu pensei bem e respondi: 'Realidade é aquela coisa que não desaparece quando você deixa de acreditar nela'." (pág. 93)
"-Será que ele pode criar uma pessoa tão otária que acredite que nada existe? Porque, se nada existe, o que significa a palavra 'nada'? Como é que um 'nada' que existe é definido em comparação com outro 'nada' que não existe?" (pág. 194)
"Lembro-me de uma coisa que o grande médico da Renascença havia descoberto. Venenos, em doses medidas, são remédios; Paracelso foi o primeiro a usar metais como o mercúrio como medicação. Por essa descoberta - o uso medido de metais venenosos como medicamentos -, Paracelso havia entrado para nossos livros de História. Entretanto, a vida do grande médico teve um fim trágico.
Ele morreu por envenenamento de metal.
Então, reformulando a afirmação, medicamentos podem ser venenosos, podem matar. E isso pode acontecer a qualquer momento." (pág. 215)
"É incrível que, quando mais alguém começa a botar pra fora as besteiras em que você próprio acredita, você consegue perceber imediatamente como elas não fazem o menor sentido." (pág. 253)
300
Autor: Philip K. Dick
Páginas:
Aqui está um livro totalmente estranho. Tudo bem que é uma ficção, mas chega às raias do absurdo. Uma história que não tem o menor sentido. Discussões filosóficas, religiosas e tudo o mais, simplesmente intragáveis. O livro não tem história,é um amontoado de frases e divagações sem fundamento.
O autor e narrador (que se refere a si mesmo na terceira pessoa) é uma pessoa obsessiva que acredita ter uma revelação de que uma entidade divina, que já foi Buda e Cristo, irá retornar. Essa entidade ele a chama de Valis e passa o livro todo tentando justificar essa obsessão.
Trechos interessantes:
"Embora não houvesse nada que eu pudesse ter feito para ajudar Horselover Fat, ele conseguiu escapar da morte. A primeira coisa que apareceu para salvá-lo tomou a forma de uma colegial de dezoito anos que morava na mesma rua que ele, mais abaixo, e a segunda foi Deus. Dos dois, a garota fez o melhor serviço." (pág. 21)
"Não acontece muita coisa em uma ala psiquiátrica, ao contrário do que os romancistas míticos relatam. Pacientes não têm o poder de dominar a equipe, e a equipe não chega a assassinar os pacientes." (pág. 64)
"-Vou perguntar a Larry se esta é uma das partes corruptas da Bíblia - disse Sherri.
Emputecido, Fat disse:
-Sherri, por que é que você não recorta todas as partes da Bíblia com as quais concorda e as cola juntas? E não precisa lidar com o restante." (pág. 90)
"Certa vez, quando eu dava uma palestra na Universidade da Califórnia em Fullerton, um aluno me pediu uma definição simples e curta de realidade. Eu pensei bem e respondi: 'Realidade é aquela coisa que não desaparece quando você deixa de acreditar nela'." (pág. 93)
"-Será que ele pode criar uma pessoa tão otária que acredite que nada existe? Porque, se nada existe, o que significa a palavra 'nada'? Como é que um 'nada' que existe é definido em comparação com outro 'nada' que não existe?" (pág. 194)
"Lembro-me de uma coisa que o grande médico da Renascença havia descoberto. Venenos, em doses medidas, são remédios; Paracelso foi o primeiro a usar metais como o mercúrio como medicação. Por essa descoberta - o uso medido de metais venenosos como medicamentos -, Paracelso havia entrado para nossos livros de História. Entretanto, a vida do grande médico teve um fim trágico.
Ele morreu por envenenamento de metal.
Então, reformulando a afirmação, medicamentos podem ser venenosos, podem matar. E isso pode acontecer a qualquer momento." (pág. 215)
"É incrível que, quando mais alguém começa a botar pra fora as besteiras em que você próprio acredita, você consegue perceber imediatamente como elas não fazem o menor sentido." (pág. 253)
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domingo, 5 de julho de 2015
Eu sou Malala
Título: Eu sou Malala
Autor: Malala Yousafzai / Christina Lamb
Páginas: 342
É difícil acreditar que em pleno século XXI ainda existam coisas como as mencionadas no livro. Para nós, ocidentais, palavras como educação, liberdade e conhecimento podem não ser vivenciadas em sua plenitude por todos, mas ao menos são discutidas e almejadas. Porém, em alguns países, não é isso que acontece.
Malala é uma jovem paquistanesa que sempre desejou estudar. Apoiada por seu pai, foi se destacando na escola e incentivando outras garotas a fazerem o mesmo. Os discursos da garota acabaram incomodando o Talibã que acha que as garotas não devem se educar. Malala se recusa a abandonar a escola, sofre um atentado num ônibus escolar e fica à beira da morte. E isso tudo porque ela só queria estudar!
Trechos interessantes:
"Em nossa cultura, todo homem é 'irmão' e toda mulher é 'irmã'. É esse o modo como consideramos um ao outro. Quando meu pai levou minha mãe à escola pela primeira vez, todos os professores se referiram a ela como 'esposa de meu irmão', ou bhabi. O apelido carinhoso pegou, e agora todas a chamamos de Bhabi." (pág. 13/14)
"Nasci menina num lugar onde rifles são disparados em comemoração a um filho, ao passo que as filhas são escondidas atrás de cortinas, sendo seu papel na vida apenas fazer comida e procriar." (pág. 21)
"Enquanto os homens e os meninos podem andar livremente pela cidade, minha mãe não tinha autorização para sair de casa sem que um parente do sexo masculino a acompanhasse, mesmo que esse parente fosse um garotinho de cinco anos de idade. É a tradição." (pág. 34)
"Temos um costume chamado swara, segundo o qual uma menina pode ser dada a outra tribo para resolver uma desavença. Oficialmente, foi banido, mas na prática ainda existe. Em nossa aldeia havia uma viúva, Soraya, casada com um viúvo de um clã que tinha um desavença com a família dela. Ninguém pode se casar com um viúvo sem a permissão da própria família. Quando os parentes de Soraya souberam da união, ficaram furiosos. Ameaçaram a família do viúvo até que uma jirga de anciãos da aldeia foi convocada para resolver a disputa. A jirga decidiu que a família do viúvo devia ser punida, entregando sua moça mais bela para se casar com o homem menos aceitável do clã rival. O rapaz era um joão-ninguém, tão pobre que o pai da moça teve de pagar todas as despesas. Por que a vida de uma menina tem de ser arruinada para resolver uma desavença com a qual ela nada tem a ver?" (pág. 76/77)
"Meu pai me consolou citando os erros cometidos por alguns de nossos heróis quando estes eram crianças. Ele me contou que Mahatma Gandhi disse: 'Não se é digno de desfrutar a liberdade se isso não inclui a liberdade de cometer erros'." (pág. 81)
"Somos um povo de muitos ditados. Um deles é o seguinte: 'A pedra de um pachtum não deve enferrujar na água'. Isto é, não devemos esquecer nem perdoar. É por isso que raramente usamos a palavra manana, 'obrigado'. Acreditamos que um pachtum nunca haverá de esquecer um favor que lhe fizeram e é obrigado a retribuir, do mesmo modo como se vingará do mal que lhe impuserem. A gentileza só pode ser retribuída com gentileza e não deve ser paga com um simples 'obrigado'." (pág. 82)
"É assim que esses militantes agem. Querem ganhar os corações e as mentes do povo. Por isso, primeiro analisam os problemas locais e atacam os responsáveis por eles. Desse modo conseguem o apoio da maioria silenciosa. Foi o que fizeram no Waziristão, onde perseguiram bandidos e sequestradores. Depois, quando tomaram o poder, comportaram-se como os criminosos que um dia caçaram." (pág. 125)
"Embora amássemos estudar, só nos demos conta de quanto a educação é importante quando o Talibã tentou nos roubar esse direito. Frequentar a escola, ler, fazer nossos deveres de casa, não era apenas um modo de passar o tempo. Era nosso futuro." (pág. 156)
"O diário de Gul Makai chamou muita atenção. Alguns jornalistas o reproduziram. Então a BBC o colocou no ar usando a voz de outra menina. Comecei a entender que a caneta e as palavras podem ser muito mais poderosas do que metralhadoras, tanques ou helicópteros. Estávamos aprendendo a lutar. E a perceber como somos poderosos quando nos manifestamos." (pág. 167)
"O Talibã é contra a educação porque pensa que quando uma criança lê livros ou aprende inglês ou estuda ciência ele ou ela vai se ocidentalizar.
Mas eu disse:'Educação é educação. Deveríamos aprender tudo e então escolher qual caminho seguir'. Educação não é oriental nem ocidental, é humana." (pág. 172)
"Quando cruzamos o desfiladeiro Malakand, vi uma mocinha vendendo laranjas. Para cada laranja que vendia, ela fazia uma marquinha com lápis num pedaço de papel, pois não sabia ler nem escrever. Tirei uma foto e jurei que faria tudo o que estivesse a meu alcance para ajudar a educar garotas como ela. Era essa a guerra que eu iria travar." (pág. 228)
"O médico pôs a mão no ombro dele, garantiu que eu seria bem cuidada e que a família podia confiar nele. 'Não é um milagre que todos vocês estivessem aqui quando Malala foi baleada?', meu pai perguntou.
'É minha crença que Deus manda primeiro a solução e depois o problema', respondeu o medico." (pág. 281)
"Não senti nada de especial, talvez só um pouquinho de satisfação. 'Então eles conseguiram'. Só lamentei não haver tido a chance de falar com eles antes de me atingirem. Agora, os talibãs nunca ouviriam o que eu queria lhes dizer. Não tive um único pensamento ruim em relação ao homem que me baleou - não tive ideias de vingança. Só queria voltar para o Swat. Queria ir para casa." (pág. 295)
"Garanti a mamãe que a mim não importava que meu rosto não tivesse simetria. Logo eu, que sempre dera importância à minha aparência, ao aspecto do meu cabelo! Mas quando você vê a morte, as coisas mudam. 'Não importa se eu não puder sorrir ou piscar direito', eu disse a ela. 'Continuo sendo eu, Malala. O importante é que Deus me deu a vida'." (pág. 305)
Autor: Malala Yousafzai / Christina Lamb
Páginas: 342
É difícil acreditar que em pleno século XXI ainda existam coisas como as mencionadas no livro. Para nós, ocidentais, palavras como educação, liberdade e conhecimento podem não ser vivenciadas em sua plenitude por todos, mas ao menos são discutidas e almejadas. Porém, em alguns países, não é isso que acontece.
Malala é uma jovem paquistanesa que sempre desejou estudar. Apoiada por seu pai, foi se destacando na escola e incentivando outras garotas a fazerem o mesmo. Os discursos da garota acabaram incomodando o Talibã que acha que as garotas não devem se educar. Malala se recusa a abandonar a escola, sofre um atentado num ônibus escolar e fica à beira da morte. E isso tudo porque ela só queria estudar!
Trechos interessantes:
"Em nossa cultura, todo homem é 'irmão' e toda mulher é 'irmã'. É esse o modo como consideramos um ao outro. Quando meu pai levou minha mãe à escola pela primeira vez, todos os professores se referiram a ela como 'esposa de meu irmão', ou bhabi. O apelido carinhoso pegou, e agora todas a chamamos de Bhabi." (pág. 13/14)
"Nasci menina num lugar onde rifles são disparados em comemoração a um filho, ao passo que as filhas são escondidas atrás de cortinas, sendo seu papel na vida apenas fazer comida e procriar." (pág. 21)
"Enquanto os homens e os meninos podem andar livremente pela cidade, minha mãe não tinha autorização para sair de casa sem que um parente do sexo masculino a acompanhasse, mesmo que esse parente fosse um garotinho de cinco anos de idade. É a tradição." (pág. 34)
"Temos um costume chamado swara, segundo o qual uma menina pode ser dada a outra tribo para resolver uma desavença. Oficialmente, foi banido, mas na prática ainda existe. Em nossa aldeia havia uma viúva, Soraya, casada com um viúvo de um clã que tinha um desavença com a família dela. Ninguém pode se casar com um viúvo sem a permissão da própria família. Quando os parentes de Soraya souberam da união, ficaram furiosos. Ameaçaram a família do viúvo até que uma jirga de anciãos da aldeia foi convocada para resolver a disputa. A jirga decidiu que a família do viúvo devia ser punida, entregando sua moça mais bela para se casar com o homem menos aceitável do clã rival. O rapaz era um joão-ninguém, tão pobre que o pai da moça teve de pagar todas as despesas. Por que a vida de uma menina tem de ser arruinada para resolver uma desavença com a qual ela nada tem a ver?" (pág. 76/77)
"Meu pai me consolou citando os erros cometidos por alguns de nossos heróis quando estes eram crianças. Ele me contou que Mahatma Gandhi disse: 'Não se é digno de desfrutar a liberdade se isso não inclui a liberdade de cometer erros'." (pág. 81)
"Somos um povo de muitos ditados. Um deles é o seguinte: 'A pedra de um pachtum não deve enferrujar na água'. Isto é, não devemos esquecer nem perdoar. É por isso que raramente usamos a palavra manana, 'obrigado'. Acreditamos que um pachtum nunca haverá de esquecer um favor que lhe fizeram e é obrigado a retribuir, do mesmo modo como se vingará do mal que lhe impuserem. A gentileza só pode ser retribuída com gentileza e não deve ser paga com um simples 'obrigado'." (pág. 82)
"É assim que esses militantes agem. Querem ganhar os corações e as mentes do povo. Por isso, primeiro analisam os problemas locais e atacam os responsáveis por eles. Desse modo conseguem o apoio da maioria silenciosa. Foi o que fizeram no Waziristão, onde perseguiram bandidos e sequestradores. Depois, quando tomaram o poder, comportaram-se como os criminosos que um dia caçaram." (pág. 125)
"Embora amássemos estudar, só nos demos conta de quanto a educação é importante quando o Talibã tentou nos roubar esse direito. Frequentar a escola, ler, fazer nossos deveres de casa, não era apenas um modo de passar o tempo. Era nosso futuro." (pág. 156)
"O diário de Gul Makai chamou muita atenção. Alguns jornalistas o reproduziram. Então a BBC o colocou no ar usando a voz de outra menina. Comecei a entender que a caneta e as palavras podem ser muito mais poderosas do que metralhadoras, tanques ou helicópteros. Estávamos aprendendo a lutar. E a perceber como somos poderosos quando nos manifestamos." (pág. 167)
"O Talibã é contra a educação porque pensa que quando uma criança lê livros ou aprende inglês ou estuda ciência ele ou ela vai se ocidentalizar.
Mas eu disse:'Educação é educação. Deveríamos aprender tudo e então escolher qual caminho seguir'. Educação não é oriental nem ocidental, é humana." (pág. 172)
"Quando cruzamos o desfiladeiro Malakand, vi uma mocinha vendendo laranjas. Para cada laranja que vendia, ela fazia uma marquinha com lápis num pedaço de papel, pois não sabia ler nem escrever. Tirei uma foto e jurei que faria tudo o que estivesse a meu alcance para ajudar a educar garotas como ela. Era essa a guerra que eu iria travar." (pág. 228)
"O médico pôs a mão no ombro dele, garantiu que eu seria bem cuidada e que a família podia confiar nele. 'Não é um milagre que todos vocês estivessem aqui quando Malala foi baleada?', meu pai perguntou.
'É minha crença que Deus manda primeiro a solução e depois o problema', respondeu o medico." (pág. 281)
"Não senti nada de especial, talvez só um pouquinho de satisfação. 'Então eles conseguiram'. Só lamentei não haver tido a chance de falar com eles antes de me atingirem. Agora, os talibãs nunca ouviriam o que eu queria lhes dizer. Não tive um único pensamento ruim em relação ao homem que me baleou - não tive ideias de vingança. Só queria voltar para o Swat. Queria ir para casa." (pág. 295)
"Garanti a mamãe que a mim não importava que meu rosto não tivesse simetria. Logo eu, que sempre dera importância à minha aparência, ao aspecto do meu cabelo! Mas quando você vê a morte, as coisas mudam. 'Não importa se eu não puder sorrir ou piscar direito', eu disse a ela. 'Continuo sendo eu, Malala. O importante é que Deus me deu a vida'." (pág. 305)
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