terça-feira, 11 de dezembro de 2018

O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota



Título: O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota
Autor: Olavo de Carvalho
Páginas: 616

O livro é uma coletânea de artigos do autor, publicados em diversos jornais dos quais o mesmo era colunista, no período de 1997 a 2013. Os artigos versam sobre diversos assuntos (cultura, ciência, educação, religião, socialismo, etc.) e têm por objetivo, sob um viés filosófico, discutir os principais problemas do Brasil e o consequente agravamento dos mesmos nos últimos tempos.

Dado o volume de páginas e a linguagem culta e rebuscada, o livro não é um atrativo para grande parte dos brasileiros que mal conseguem ler o horóscopo. Uma pena, pois o conteúdo é de alto nível e sua leitura é essencial para, no mínimo, fomentar no leitor a curiosidade e o interesse em se aprofundar mais nos temas tratados. O título talvez seja um pouco forte, mas concluída a leitura, você já terá dado um passo para esquivar-se da alcunha de alienado social.

Trechos interessantes:

Os pequenos canalhas se aproveitam da idiotice pronta. Os grandes a fabricam. (pág. 18)

“É natural no ser humano o desejo de conhecer”. Quando li pela primeira vez esta sentença inicial da Metafísica de Aristóteles, mais de quarenta anos atrás, ela me pareceu um grosso exagero. Afinal, por toda parte onde olhasse – na escola, em família, nas ruas, em clubes ou igrejas – eu me via cercado de pessoas que não queriam conhecer coisíssima alguma, que estavam perfeitamente satisfeitas com suas ideias toscas sobre todos os assuntos, e que julgavam um acinte a mera sugestão de que se soubessem um pouco mais a respeito suas opiniões seriam melhores.
Precisei viajar um bocado pelo mundo para me dar conta de que Aristóteles se referia à natureza humana em geral e não à cabeça dos brasileiros. (pág. 37)

O nosso próximo na medida em que o elevamos à altura dos anjos. Fazemos-lhe o mal quando o rebaixamos à condição de bichinho, seja com maus-tratos, seja com afagos. (pág. 59)

O pragmatismo grosso, a superficialidade da experiência religiosa, o desprezo pelo conhecimento, a redução das atividades do espírito ao mínimo necessário para a conquista do emprego (inclusive universitário), a subordinação da inteligência aos interesses partidários, tais são as causas estruturais e constantes do fracasso desse povo. Todas as demais explicações alegadas – a exploração estrangeira, a composição racial da população, o latifúndio, a índole autoritária ou rebelde dos brasileiros, os impostos ou a sonegação deles, a corrupção e mil e um erros que as oposições imputam aos governos presentes e estes aos governos passados — são apenas subterfúgios com que uma intelectualidade provinciana e acanalhada foge a um confronto com a sua própria parcela de culpa no estado de coisas e evita dizer a um povo pueril a verdade que o tomaria adulto: que a língua, a religião e a alta cultura vêm primeiro, a prosperidade depois. (pág. 67)

Repetidamente um fenômeno tem chamado a atenção de professores estrangeiros que vêm lecionar no Brasil: por que nossas crianças estão entre as mais inteligentes do mundo e nossos universitários entre os mais burros? Como é possível que um ser humano dotado se transforme, decorridos quinze anos, num oligofrênico incapaz de montar uma frase com sujeito e verbo? (pág. 67/68)

As prefeituras e governos estaduais nos advertem, em cartazes piedosos, para não dar esmolas. Sim a caridade individual está em baixa. Os frutos da bondade humana não devem ir direto para o bolso do necessitado: devem ir para as ONGs e os órgãos públicos, sustentando funcionários e diretores, financiando movimentos políticos, pagando despesas de aluguel, administração, publicidade transporte, para no fim, bem no fim, se sobrar alguma coisa, virar sopa dos pobres, diante das câmeras, para a glória de São Betinho. (pág. 80)

E, embora ninguém atribua às atuais democracias a virtude da perfeição, há um consenso geral que Norberto Bobbio resumiu com uma sentença lapidar: “A única solução para os males da democracia é mais democracia. ” (pág. 103)

O remédio para os males da democracia não está em mais democracia: está em reconhecer que a democracia não é o remédio de todos os males. (pág. 106)

A mais criminosa ilusão da modernidade foi persuadir os homens de que podem enobrecer-se mediante a identificação com uma “causa”, quando na verdade todas as causas, enquanto nomes de valores abstratos, só adquirem valor concreto pela nobreza dos homens que a representam, O fundo da degradação se atinge quando algumas “causas” são tão valorizadas que parecem infundir virtudes, automaticamente, em qualquer vagabundo, farsante ou bandido que consinta em representá-las. (pág. 141)

A “luta contra a miséria” continua sendo o principal pretexto moral do socialismo, mas a verdade é que a maior contribuição do socialismo à vitória nessa luta seria simplesmente cessar de existir. Do mesmo modo, o protesto inflamado contra qualquer violência antissocialista é um persistente leitmotiv do discurso de esquerda, mas nenhum regime direitista jamais matou, prendeu ou torturou tantos militantes esquerdistas quanto Stalin, Mao, Pol-Pot ou Fidel Castro. (pág. 145)

Aristóteles, Descartes e Leibniz ensinavam que, quando você tem um problema grande, a melhor maneira de resolvê-lo é subdividi-lo em unidades menores. A retórica globalista nada pode contra essa regra de método. Ampliar a escala de um Problema jamais pode ser um bom meio de enfrentá-lo. A experiência de certas cidades americanas, que praticamente eliminaram a criminalidade de seus territórios usando apenas seus recursos locais, é a melhor prova de que, cm vez de ampliar, é preciso diminuir a escala, subdividir o poder, e enfrentar os males na dimensão do contato direto e local em vez de deixar-se embriagar pela grandeza das ambições globais. (pág. 161/162)

Nunca me preocupei muito com a formatação editorial daquilo que tenho a dizer. Investigo os assuntos que me interessam e, quando chego a algumas conclusões que me parecem razoáveis, transmito-as oralmente ou por escrito conforme as oportunidades se apresentam. Transformar isso em “livros” é uma chatice que, se eu pudesse, deixaria por conta de um assistente. (pág. 186)

O clamor obsessivo dos intelectuais, dos políticos e da mídia pela “supressão das desigualdades” e por uma “sociedade mais justa” pode não produzir, mesmo no longo prazo, nenhum desses dois resultados ou qualquer coisa que se pareça com eles. Mas, de imediato, produz ao menos um resultado infalível: faz as pessoas acreditarem que o predomínio da justiça e do bem depende da sociedade, do Estado, das leis, e não delas próprias. (pág. 198)

“Todos os pecados se apegam ao mal, para que se realize”, dizia Santo Agostinho: “Só a soberba se apega ao bem, para que pereça”. (pág. 227)

O estudante universitário brasileiro lê em média menos de dois livros por ano, e nem por isso deixa de receber seu diplominha e tornar-se, no devido tempo, chefe de departamento, reitor ou ministro.
Um amigo meu, nascido e criado no morro da Rocinha, no Rio de janeiro, confessava: “Sofri mais discriminação na favela, por ler livros, do que aqui na cidade por ser preto.” (pág. 252)

A inteligência e o talento são dons inatos, que a natureza ou a providência distribuem desigualmente aos seres humanos, criando entre eles urna diferenciação hierárquica que, do ponto de vista dos mal dotados, é uma humilhação permanente, uma ofensa intolerável e um mecanismo de exclusão verdadeiramente fascista. (pág. 252)

O homem que não domina as palavras é dominado por elas: vive num mundo de ilusões verbais, que toma por realidades. Quando consegue montar uma frase, imagina que provou um fato. A fala, em vez de ser uma janela para o mundo, substitui o mundo. É a auto-hipnose verbal tomando o lugar do conhecimento. (pág. 255)

Em grego, idios quer dizer “o mesmo”. Idiotes, de onde veio o nosso termo “idiota”, é o sujeito que nada enxerga além dele mesmo, que julga tudo pela sua própria pequenez. (pág. 281)

Platão já ensinava que a desordem se instala na sociedade quando muitas pessoas começam a galgar postos de importância e prestígio para os quais não têm a mais mínima qualificação Isso refere-se principalmente àqueles que hoje chamaríamos “intelectuais” ou “formadores de opinião”. Delinquentes, vigaristas e políticos ladrões trazem dano material às suas vítimas, mas só se corrompem a si próprios. Quando a corrupção penetra na alma dos críticos sociais, dos professores de moral, alastra-se por toda a sociedade. (pág. 281/282)

Nunca estudei para brilhar, para fazer carreira, mas para enxergar a realidade, talvez para superar o sentimento opressivo de ignorância e confusão que me atormentava na infância. (pág. 293)

A democratização do ensino, abolindo as barreiras econômicas, deveria ter instituído barreiras intelectuais em compensação, para impedir que a descida do padrão social trouxesse, de contrabando, uma queda do nível de consciência. A nova elite de pés-rapados talvez fosse menos numerosa, mas teria superado em mérito e qualidade suas antecessoras. Na verdade, o que se fez foi o contrário: já que o ensino é para todos, por que haverá de ser um ensino de elite? Para qualquer um, basta qualquer coisa. A massa dos neoletrados, lisonjeada até as nuvens, corre às escolas, às livrarias, à mídia, aos teatros e aos cinemas para receber sua ração diária de lixo, que ela imagina superior à educação de um nobre do Renascimento ou de um clérigo do século XIII. Qualquer garoto de escola, incapaz de soletrar, se crê um portador das luzes, por haver nascido depois de Platão. Qualquer cronista de província fala com desprezo das “trevas do passado”.
Entre o homem que sabe e o que não sabe, dizia Montaigne, há mais diferença do que entre um homem e um ganso. Quem quer que tenha algum conhecimento do que foi a educação nos séculos antigos não pode deixar de sentir-se deprimido até as lágrimas ao contemplar hoje a multidão dos gansos que falam. E como falam! (pág. 332)

Se você quer ser acreditado sem a mínima contestação, fale sobre coisas das quais nada sabe a alguém que delas tudo ignore. É infalível. Na ausência total de referência objetiva, a unanimidade sonsa é uma tábua para os náufragos. (pág. 336)

A gente confessa ódio, humilhação, medo, ciúme, tristeza, cobiça. Inveja, nunca. A inveja admitida se anularia no ato, transmutando-se em competição franca ou em desistência resignada. A inveja é o único sentimento que se alimenta de sua própria ocultação. (pág. 373)

Lenin dizia que, quando você tirou do adversário a vontade de lutar, já venceu a briga. Mas, nas modernas condições de “guerra assimétrica”, controlar a opinião pública tornou-se mais decisivo do que alcançar vitórias no campo militar. (pág. 416)

Se há uma coisa que, quanto mais você perde, menos sente falta, é a inteligência. Uso a palavra não no sentido vulgar de habilidadezinhas mensuráveis, mas no de percepção da realidade. Quanto menos você percebe, menos percebe que não percebe. Quase que invariavelmente, a perda vem por isso acompanhada de um sentimento de plenitude, de segurança, quase de infalibilidade. É claro: quanto mais burro você fica, menos atina com as contradições e dificuldades, e tudo lhe parece explicável em meia dúzia de palavras. (pág. 431)

Dentro de poucos anos, o sujeito ser preso por ler em voz alta certos versículos da Bíblia será considerado a coisa mais natural do mundo, e quem quer que diga que a perseguição antirreligiosa é a realização de um velho plano comunista será tido por louco. Perdão: isso não acontecerá dentro de alguns anos. Já está acontecendo agora. (pág. 484)

A inteligência, ao contrário do dinheiro ou da saúde, tem esta peculiaridade: quanto mais você a perde, menos dá pela falta dela. O homem inteligente, afeito a estudos pesados, logo acha que emburreceu quando, cansado, nervoso ou maldormido, sente dificuldade em compreender algo. Aquele que nunca entendeu grande coisa se acha perfeitamente normal quando entende menos ainda, pois esqueceu o pouco que entendia e já não tem como comparar. (pág. 597)

Nenhum ser humano ou país está mais louco do que aquele que acredita poder resolver todos os seus problemas primeiro, para tornar-se inteligente depois. A inteligência não é o adorno do vitorioso, é o caminho da vitória. Não é a cereja do bolo, é a fórmula do bolo. Quando chegarão os brasileiros a compreender uma coisa tão óbvia? (pág. 604)

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