Título: Visões noturnas
Autor: Maurício Caldeira
Páginas: 366
O meu primeiro impulso ao ler o livro foi porque se tratava de contos, gênero que aprecio. Mas tinha receio devido à classificação do livro: terror. Nunca fui fã de terror, mortes sangrentas, sustos e nem nada parecido.
Mas tive uma ótima surpresa: eu não chamaria o livro de terror, mas, na minha concepção, são contos de mistério. Aqueles contos que desafiam a lógica natural das coisas, que apontam para o desconhecido e apenas flerta, de leve, com o terror. Ou seja, para mim foi um achado: 12 contos, cada um melhor que o outro. meus preferidos: 'A viagem' e 'Lado B'.
Trechos interessantes:
"É impossível entrar em um cemitério e não pensar na frase 'Eis aqui o fim de tudo', assim como, quando vamos a um velório, nos imaginamos dentro do caixão, cobertos por flores, com as mãos cruzadas sobre o peito e com pequenos tufos de algodão tapando as narinas." (pág. 39)
"O processo da morte, no entanto, é curioso. A tristeza imediata dá lugar, aos poucos, àquilo que chamamos de saudade. Os anos, no entanto, passam; os verões vêm e vão, e logo a pessoa que morreu é literalmente esquecida. Isso é inevitável. Será lembrada de vez em quando, talvez uma, duas vezes por ano, no máximo, da mesma forma como lembramos de um amigo de infância com quem perdemos contato. Essa é uma das regras da vida: seja útil enquanto está vivo, porque depois ninguém se lembrará de você." (pág. 62)
"-Porque é assim que deve ser. As pessoas devem querer viver, e não morrer. A morte deve ser encarada como uma perda, e não como uma vitória. As pessoas devem amar a vida e lutar para permanecer nela o maior tempo possível. E eu gosto muito quando encontro uma pessoa que ama a vida - disse Auriel, novamente em tom de orador." (pág. 78)
"O ser humano persegue o dinheiro e, quando o alcança, descobre que não se pode comprar tudo. Persegue o amor e, quando o alcança, acha que 'dois amores' são melhores do que somente um. O ser humano, enfim, só faz merda..." (pág. 97)
"A verdadeira loucura está na total normalidade. Uma pessoa normal vê uma desajustada como louca, mas o contrário também acontece." (pág. 112)
"-O dinheiro pode comprar muitas coisas, Denis. Mas as coisas mais importantes ele não compra. O dinheiro só compra o material e o material só traz felicidade momentânea. Em poucos minutos sua mente já abandonou aquela necessidade e já mira outra coisa ainda maior." (pág. 115)
"As pessoas devem achar que o céu é uma grande reunião de advogados, pois quase todos são enterrados vestindo um terno. Por que não uma camiseta? Ou bermudas." (pág. 139)
"Quando se tem um inimigo, o mais prudente a fazer é conhecê-lo a fundo. É muito importante conhecê-lo em cada ponto, em cada detalhe, e estar sempre uma jogada a frente, em caso de haver necessidade de enfrentá-lo cara a cara.
Isso tudo soa muito bonito, mas é praticamente uma regra o fato de que o inimigo parece estar sempre duas jogadas a nossa frente." (pág. 162/163)
"Pela primeira vez na minha vida, eu ficaria internado. Aquilo me assustou. Não era um hotel, era um hospital! E eu passaria a noite nele. Não só aquela noite, mas provavelmente algumas. Passaria a noite em um local onde pessoas morrem a toda hora. Não pela morte em si. Como eu disse, eu era ateu. Mas até hoje acho estranho os médicos quererem que você melhore, lhe colocando em um local onde as pessoas morrem todos os dias." (pág. 228)
"Para mim, a morte sempre havia significado um nada. Um nada que representava o apagar das luzes, o fim de tudo, uma espécie de ato final. Em um instante, a pessoa estava ali; no instante seguinte, já não estava mais. Porque é exatamente esse o tempo que a morte dura: um instante.
Em um instante a pessoa tem vontades, desejos e sonhos. Gosta de viajar, gosta de comer cebola crua, gosta de assistir TV até tarde. No instante seguinte, não passa de um amontoado de carne e ossos, cuja única função biológica é apodrecer e decompor-se. Como na natureza nada se perde e nada se cria, podemos dizer que aquela pessoa será reaproveitada em algum momento; uma espécie de reciclagem natural." (pág. 237)
"Esse é um dos pontos negativos de se viver demais. Você vê as pessoas ao seu redor falecer, enquanto você vai ficando, ficando e ficando, até que a morte lembre-se de você..." (pág. 265/266)
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
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