quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Máximas e mínimas do Barão de Itararé

Título: Máximas e mínimas do Barão de Itararé
Autor: Afonso Félix de Sousa (org.)
Páginas: 188

Nada melhor que encerrar o ano dando boas gargalhadas. Para isto lancei mão do livro que apresenta os ditos e a sabedoria popular de Apparicio Torelly, mais conhecido como Barão de Itararé.

Apparicio era gaúcho, mas se destacou no Rio de Janeiro onde fundou e manteve por algum tempo um semanário, chamado A Manha, que satirizava a política e a sociedade brasileiras. Suas frases, quase sempre de cunho humorístico, são conhecidas até hoje pela maioria do povo brasileiro. Boas risadas e boa leitura.

Trecos interessantes:

"'Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos' - dizia Comte. Itararé não se conforma e responde: 'Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mais vivos'." (pág. 21)

"De onde menos se espera, daí é que não sai nada." (pág. 27)

"Quando o queijo e a goiabada se encontram na mesa do pobre, devemos suspeitar dos três: do queijo, da goiabada e do pobre." (pág. 29)

"O rapaz ia casar-se e, sendo católico, foi confessar-se. Tendo contado vários pecados, o padre, ao fim de tudo, o absolveu.
-Mas, Padre Júlio, não me dá nenhuma penitência? - estranhou o jovem.
-Pra que, meu caro. Você já vai casar-se..." (pág. 57)

"Depois do governo ge-gê,o Brasil terá um governo ga-gá." (pág. 65)

"-Como ia dizendo, meus senhores, o banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro..." (pág. 74)

"Sabendo levá-la, a vida é bem melhor do que a morte." (pág. 115)

"O trabalho nobilita o homem, mas depois que o homem se sente nobre não quer mais trabalhar." (pág. 123)

"O automóvel particular é o maior abacaxi para atrapalhar a vida dum cidadão. Se o dono do carro tem chofer, nunca poderá sair à hora que quiser, pois o cinesíforo nunca está na hora em que se precisa do automóvel. Se é o dono quem guia a caranguejola, então a coisa é muito pior, pois a vítima nunca encontra um lugar vago para colocar o seu carro. O remédio será soltar o veículo em qualquer lugar distante e caminhar a pé até o lugar onde se desejaria estacionar." (pág. 143)

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Visões noturnas

Título: Visões noturnas
Autor: Maurício Caldeira
Páginas: 366

O meu primeiro impulso ao ler o livro foi porque se tratava de contos, gênero que aprecio. Mas tinha receio devido à classificação do livro: terror. Nunca fui fã de terror, mortes sangrentas, sustos e nem nada parecido.

Mas tive uma ótima surpresa: eu não chamaria o livro de terror, mas, na minha concepção, são contos de mistério. Aqueles contos que desafiam a lógica natural das coisas, que apontam para o desconhecido e apenas flerta, de leve, com o terror. Ou seja, para mim foi um achado: 12 contos, cada um melhor que o outro. meus preferidos: 'A viagem' e 'Lado B'.

Trechos interessantes:

"É impossível entrar em um cemitério e não pensar na frase 'Eis aqui o fim de tudo', assim como, quando vamos a um velório, nos imaginamos dentro do caixão, cobertos por flores, com as mãos cruzadas sobre o peito e com pequenos tufos de algodão tapando as narinas." (pág. 39)

"O processo da morte, no entanto, é curioso. A tristeza imediata dá lugar, aos poucos, àquilo que chamamos de saudade. Os anos, no entanto, passam; os verões vêm e vão, e logo a pessoa que morreu é literalmente esquecida. Isso é inevitável. Será lembrada de vez em quando, talvez uma, duas vezes por ano, no máximo, da mesma forma como lembramos de um amigo de infância com quem perdemos contato. Essa é uma das regras da vida: seja útil enquanto está vivo, porque depois ninguém se lembrará de você." (pág. 62)

"-Porque é assim que deve ser. As pessoas devem querer viver, e não morrer. A morte deve ser encarada como uma perda, e não como uma vitória. As pessoas devem amar a vida e lutar para permanecer nela o maior tempo possível. E eu gosto muito quando encontro uma pessoa que ama a vida - disse Auriel, novamente em tom de orador." (pág. 78)

"O ser humano persegue o dinheiro e, quando o alcança, descobre que não se pode comprar tudo. Persegue o amor e, quando o alcança, acha que 'dois amores' são melhores do que somente um. O ser humano, enfim, só faz merda..." (pág. 97)

"A verdadeira loucura está na total normalidade. Uma pessoa normal vê uma desajustada como louca, mas o contrário também acontece." (pág. 112)

"-O dinheiro pode comprar muitas coisas, Denis. Mas as coisas mais importantes ele não compra. O dinheiro só compra o material e o material só traz felicidade momentânea. Em poucos minutos sua mente já abandonou aquela necessidade e já mira outra coisa ainda maior." (pág. 115)

"As pessoas devem achar que o céu é uma grande reunião de advogados, pois quase todos são enterrados vestindo um terno. Por que não uma camiseta? Ou bermudas." (pág. 139)

"Quando se tem um inimigo, o mais prudente a fazer é conhecê-lo a fundo. É muito importante conhecê-lo em cada ponto, em cada detalhe, e estar sempre uma jogada a frente, em caso de haver necessidade de enfrentá-lo cara a cara.
Isso tudo soa muito bonito, mas é praticamente uma regra o fato de que o inimigo parece estar sempre duas jogadas a nossa frente." (pág. 162/163)

"Pela primeira vez na minha vida, eu ficaria internado. Aquilo me assustou. Não era um hotel, era um hospital! E eu passaria a noite nele. Não só aquela noite, mas provavelmente algumas. Passaria a noite em um local onde pessoas morrem a toda hora. Não pela morte em si. Como eu disse, eu era ateu. Mas até hoje acho estranho os médicos quererem que você melhore, lhe colocando em um local onde as pessoas morrem todos os dias." (pág. 228)

"Para mim, a morte sempre havia significado um nada. Um nada que representava o apagar das luzes, o fim de tudo, uma espécie de ato final. Em um instante, a pessoa estava ali; no instante seguinte, já não estava mais. Porque é exatamente esse o tempo que a morte dura: um instante.
Em um instante a pessoa tem vontades, desejos e sonhos. Gosta de viajar, gosta de comer cebola crua, gosta de assistir TV até tarde. No instante seguinte, não passa de um amontoado de carne e ossos, cuja única função biológica é apodrecer e decompor-se. Como na natureza nada se perde e nada se cria, podemos dizer que aquela pessoa será reaproveitada em algum momento; uma espécie de reciclagem natural." (pág. 237)

"Esse é um dos pontos negativos de se viver demais. Você vê as pessoas ao seu redor falecer, enquanto você vai ficando, ficando e ficando, até que a morte lembre-se de você..." (pág. 265/266)

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Do amor e outros demônios

Título: Do amor e outros demônios
Autor: Gabriel García Marquez
Páginas: 222

Um antigo convento foi destruído para liberar espaço para a construção de um hotel. Ao esvaziarem as criptas funerárias encontraram uma cabeleira de 22 metros. Informado que o cabelo continua a crescer, mesmo depois da morte, o autor, considerando o fato inusitado, resolveu elaborar a sua versão da história de vida da dona da cabeleira.

Assim surge a história de Sierva María, filha do marquês local e que se identificava mais com os escravos que com seus familiares. Ignorada pelo pai e desprezada pela mãe, acaba indo parar num convento e passa a ser considerada como possuída pelo demônio.

Trechos interessantes:

"Não praticava a cirurgia, que sempre considerou uma arte inferior, própria de curandeiros e barbeiros, e sua especialidade aterradora era predizer para os enfermos o dia e a hora em que iam morrer. Contudo, tanto a sua boa fama quanto a má se baseavam num mesmo fato: dizia-se, e ninguém jamais o desmentiu, que tinha ressuscitado um morto." (pág. 31)

"-Enquanto isso - disse Abrenuncio -, toquem música, encham a casa de flores, façam cantar os passarinhos, levem-na para ver o pôr-do-sol no mar, deem-lhe tudo o que possa fazê-la feliz. - Despediu-se rodando o chapéu no ar e com a frase latina de rigor. Mas desta vez traduziu-a em homenagem ao marquês: - 'Não há remédio que cure o que a felicidade não cura'." (pág. 51)

"No mais, continuou vivendo como sempre vivera desde nascer: um solteiro inútil." (pág. 56)

"Já de saída, parou junto à rede do marquês e precisou o prognóstico:
-A senhora marquesa morrerá o mais tardar no dia 15 de setembro, se antes não se pendurar numa viga.
Sem se alterar o marquês disse:
-O ruim é que o dia 15 de setembro ainda está longe." (pág. 74)

"-Às vezes atribuímos ao demônio certas coisas que não entendemos, sem cuidar que podem ser coisas que não entendemos de Deus.
-Assim disse Santo Tomás, e é a ele que me atenho - disse a abadessa. - Não se deve acreditar no demônio, nem quando fala a verdade." (pág. 120)

"Antes de mais nada, queria saber, segundo disse, como era a menina antes de ser internada no convento.
-Não sei - disse o marquês. - Sinto qe a conheço menos quanto mais a conheço." (pág. 164/165)

"-Gostaria de saber por que é tão amável comigo - disse.
-Porque nós ateus não conseguimos viver sem os padres - disse Abrenuncio." (pág. 183)

domingo, 28 de dezembro de 2014

Meu pai fala cada m*rda

Título: Meu pai fala cada m*rda
Autor: Justin Halpern
Páginas: 142

Livro simplesmente hilário. O pai do autor sempre foi uma pessoa sem papas na língua, falava o que dava na telha, sem se preocupar com a plateia ou o ambiente. O livro mostra alguns momentos da relação pai e filho, onde o pai dá sempre alguns "conselhos" ao filho.

São sempre frases sarcásticas, procurando sempre a teoria de condensar o "ensinamento" em poucas palavras. Não sei se isso teve alguma influência na educação do autor, mas que a leitura das frases é um deleite, isso, sem dúvida. Para quem gosta de respostas irônicas, eis aqui um livro de leitura obrigatória.

Trechos interessantes:

"Sobre o primeiro dia no jardim de infância
'Você achou difícil? Se o jardim de infância foi difícil para você, tenho más notícias sobre o resto da sua vida'."

"Sobre falar com estranhos
'Escute aqui, se alguém está sendo gentil e você não sabe quem é essa pessoa, saia correndo. Ninguém é gentil sem mais nem menos e, se isso acontecer, a pessoa pode levar a porra da gentileza para outro lugar'." (pág. 17)

"Sobre comprar um cachorro
'Quem vai tomar conta? Você?... Filho, você entrou em casa ontem com cocô nas mãos. Cocô humano. Não sei como isso aconteceu, mas, se alguém tem cocô nas próprias mãos, isso é um indício de que talvez essa pessoa não esteja preparada para assumir responsabilidades'." (pág.30)

"Sobre não se sentir à vontade para fazer cocô no banheiro da escola
'Filho, você está reclamando com o homem errado. Consigo cagar em qualquer lugar, a qualquer hora. É uma das minhas maiores qualidades. Há quem diga que é a maior de todas'." (pág. 31)

"-Eu fui pobre. Sua mãe também. Faço um grande esforço para que você não tenha que passar por muitas das coisas que eu vivi.
-Então, por que essa não pode ser uma delas?- perguntei.
-Filho, você vai comer essa gororoba por uma semana. Sua mãe passou fome durante toda a infância. Quando você dá um piti como o desta noite, ela se sente péssima. É como se você estivesse dizendo que não se importa com o que ela passou. Isso faz sentido?" (pág. 46/47)

"Sobre comer acidentalmente biscoitos caninos
'Tenho comido biscoitos para cachorro? Por que diabos você os guarda no mesmo armário que a comida? Foda-se, são uma delícia. Não vou sentir vergonha por causa disso'." (pág. 56)

"Meu pai sempre valorizou educação e trabalho duro.
-Se você trabalha e estuda pra valer e se fode, tudo bem. Se você não se esforça e se fode, você é um merda - ele me disse em mais de uma ocasião." (pág. 57)

"Sobre mulheres
'Aquela mulher era sexy... Muita areia para o seu caminhãozinho? Filho, deixe que as mulheres descubram por que não querem transar com você. Não faça isso por elas'." (pág. 91)

"Preocupe-se em viver, morrer é a parte fácil." (pág. 97)

"-As pessoas estão sempre tentando dizer como se sentem. Algumas são diretas e outras falam por meio de suas ações. Você precisa prestar atenção. Não sei o que vai acontecer com sua namorada. Acho que ela deve ser uma boa pessoa e espero que você consiga o que quer. Mas faça-me um favor: ouça e não ignore o que ouvir." (pág. 139)

sábado, 27 de dezembro de 2014

Aléxandros - As areias de Amon

Título: Aléxandros - As areias de Amon
Autor: Valerio Massimo Manfredi
Páginas: 350

Este livro é a segunda parte da história de Alexandre. Nele são apresentadas as suas façanhas no campo de batalha. Estratégias de guerra, alianças, traições, espionagens, contra-ataques, enfim todas as artimanhas que permeiam as épicas batalhas.

Não deve ser fácil comandar um exército de cem mil homens, que passa anos e anos se deslocando por terras cada vez mais longínquas, com o objetivo de aumentar seu reino. Além das batalhas em si, ainda há o problema de alimentação para homens e animais, tratar dos feridos, montar e desmontar as máquinas de guerra em cada cidade que desejam conquistar. Em suma, é uma tarefa gigantesca. Somente lendo o livro para se ter uma ideia.

Trechos interessantes:

"-Tudo isso não tem a menor importância, bem sabes disso - replicou Calístenes. - Em Esparta, no templo dos Dióscuros, mostram o ovo do qual teriam nascido os dois gêmeos irmãos de Helena, mas eu pessoalmente acho mais provável que se trate de um ovo de avestruz, um pássaro líbico com a altura de um cavalo. Os nossos santuários estão cheios deste tipo de relíquias. O importante é o que as pessoas querem crer, e elas precisam crer, precisam sonhar." (pág. 12/13)

"-É neste trecho de mar, no mero espaço que podemos abarcar com o olhar, que se decidiu a sorte das guerras persas: aquela ilhota perto da cidade é Lade, e foi lá que a frota dos rebeldes foi aniquilada pelos persas.
-Agora Calístenes vai dar uma aula de história, como se já não nos bastassem aquelas do seu tio, em Mésia - comentou Heféstion.
-Calado! - silenciou-o Alexandre. - Se não conheces o passado, não podes entender o presente." (pág. 85)

"-Eu não preciso de descanso nenhum - disse - e ainda tenho condições para ensinar a qualquer um aqui dentro, exceto o rei - mas dava para entender claramente que queria dizer 'inclusive o rei' - como segurar uma espada. E se me for permitido decidir eu mesmo a este respeito, só há uma maneira de mandar-me de volta à pátria antes do cumprimento da campanha, qualquer que seja a sua meta final: reduzido a cinzas e dentro de uma urna funerária." (pág. 101)

"-Pego aquilo de que preciso onde consigo encontrá-lo, e de qualquer maneira é meu dever descobrir tudo o que há para se descobrir: eu mesmo decidirei o que ocultar, o que contar e como contá-lo. Esta é a grande vantagem dos historiadores." (pág. 146)

"-Parece que o seu humor mudou - observou Ptolomeu.
-Com efeito - admitiu Seleuco. - Talvez tenha lembrado o que sempre dizia Aristóteles: 'Ou há uma solução para o problema, e então não há com o que se preocupar, ou não há solução, e então tampouco há com o que se preocupar'." (pág. 221)

"Desfilaram no grande rio diante das pirâmides que brilhavam como diamantes sob o sol a pique e diante da gigantesca esfinge, ali deitada havia milênios para cuidar do sono dos grandes reis.
-Segundo Heródoto, trinta mil homens levaram trinta anos para erguê-la - explicou Aristóxeno.
-Achas que é verdade? - perguntou Alexandre.
-Creio que sim, embora neste país se contem mais histórias do que em qualquer outra parte do mundo, simplesmente porque aconteceram muitas coisas, com o passar dos séculos." (pág. 335)

"Alexandre ficara calado até aquele momento, continuava andando absorto, como se estivesse seguindo uma voz misteriosa. Todos olharam para ele, já cientes de que estavam sendo conduzidos por um ser sobre-humano que podia sobreviver a ferimentos que teriam matado qualquer outro, que podia fazer chover no deserto e talvez até fazer crescer flores nele, se assim quisesse." (pág. 345)

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O guardião de memórias

Título: O guardião de memórias
Autor: Kim Edwards
Páginas: 362

David é um médico renomado que venceu na vida por seus próprios méritos, mas constantemente atormentado pela morte da irmã, quando eram crianças. Norah, esposa de David, está grávida e o próprio David irá realizar o parto. Nasce Paul, uma criança saudável e depois uma menina com síndrome de Down. David pede à enfermeira para doar a menina a uma instituição (alegando que ela teria pouco tempo de vida e iria sobrecarregar a esposa) e diz a Norah que a menina havia morrido no parto.

Mas a enfermeira se recusa a entregar a criança à instituição e passa a criá-la como sua filha. Apesar de todas as dificuldades a menina vai se desenvolvendo enquanto David luta com a consciência sobre contar ou não o fato à mãe e Norah, desde o início se sente abalada com a notícia da morte da menina. Com o passar dos anos, por mais que David se esforce para apagar esse episódio de sua vida, sua família vai cada vez mais se desestruturando.

Trechos interessantes:

"Norah olhou para o rosto pequenino do filho, surpresa, como sempre, ao ouvir seu nome. O menino ainda não crescera o bastante para assimilá-lo, ainda o usava como uma pulseira que poderia soltar-se facilmente e desaparecer. Ela havia lido sobre pessoas - também não se lembrava onde - que se recusavam a dar nome aos filhos durante várias semanas por acharem que eles ainda não faziam parte da Terra, ainda estavam suspensos entre dois mundos." (pág. 43)

"-Você tem razão, Norah, tudo pode acontecer, a qualquer momento. Mas as coisas que correm mal não são culpa sua. Você não pode passar o resto da vida pisando em ovos, tentando evitar os desastres. Não funciona. Você só acabará perdendo a vida que tem." (pág. 76)

"-Meus pais tinham grandes sonhos para mim - disse. - Mas eles não combinavam com meus próprios sonhos." (pág. 108)

"Paul também havia adorado aquilo quando pequeno, não tanto pelo ritual da pesca,  mas pela chance de passar algum tempo com o pai. À medida que ficara mais velho, porém, as pescarias tinham passado a parecer cada vez mais obrigatórias, como uma coisa que seu pai planejava por não conseguir pensar em mais nada para fazer." (pág. 189)

"Quando eu tinha mais ou menos a sua idade, arranjei um emprego, para poder frequentar o colégio na cidade. E aí a June morreu, e eu fiz uma promessa a mim mesmo: ia sair e consertar o mundo - disse, e abanou a cabeça. - Bem, é claro que não foi o que fiz, na verdade. Mas nós estamos aqui, Paul. Temos tudo em abundância. Nunca nos preocupamos em saber se teremos o bastante para comer. Você irá para a faculdade que quiser. E, no entanto, só consegue pensar em se drogar com seus amigos e jogar tudo fora." (pág. 200)

"O que mais posso lhe dizer? Você se poupou muitas dores de cabeça, com certeza. Mas, David, também perdeu muitas alegrias." (pág. 225)

"David tinha tentado proteger o filho das coisas que sofrera quando criança: pobreza, preocupações, tristezas. Mas seus próprios esforços haviam criado perdas que ele nunca tinha previsto. A mentira crescera entre eles como uma rocha, obrigando-os a também crescerem de forma estranha, como árvores retorcidas em volta de um pedregulho." (pág. 233)

"Nas montanhas, e talvez no mundo em geral, havia uma teoria da compensação que dizia que, para tudo que era dado, outra coisa se perdia, de maneira imediata e visível. Bom, você herdou a cabeça, mesmo que sua prima tenha herdado a beleza. Elogios sedutores como flores, mas espinhosos com seus opostos: É, você pode ser esperto, mas é feio como o diabo; você pode ser bonito, mas não tem cérebro. Compensação, equilíbrio do universo." (pág. 237)

"A família de David tinha sido muito pobre; todos os seus conhecidos eram pobres. Não era crime, mas bem que poderia ser. Era por isso que se guardavam coisas, motores velhos, latas de conserva e garrafas de leite, espalhados pelos gramados e pelas encostas: uma defesa contra a necessidade, uma precaução contra a carência." (pág. 238/239)

"Preocupara-se com a responsabilidade que teria de assumir, com o modo como sua vida se modificaria com o fardo de uma irmã retardada, e ficara surpreso - atônito, na verdade - ao ouvir essa própria irmã dizer Não, eu gosto da minha vida como está, não, obrigada." (pág. 356)

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A jogadora de xadrez

Título: A jogadora de xadrez
Autor: Bertina Henrichs
Páginas: 160

Eleni é casada, mãe de dois filhos e trabalha de camareira num hotel de uma pequena ilha grega. Ao arrumar o quarto de um casal francês, depara com um jogo de xadrez (que não conhecia) e fica impressionada, tentando descobrir como funciona. Compra um jogo para dar de presente ao marido, que não dá a mínima, e ela passa então a aprender o jogo, com a ajuda de um professor da cidade.

O que achei realmente de interessante no livro é o fato de usar uma mulher como personagem principal, já que, em geral, as mulheres não são muito adeptas do xadrez. Há exceções, claro, mas a grande maioria de aficcionados por xadrez é homem. Livro pequeno, história interessante e agradável de se ler.

Trechos interessantes:

"Atingira aquele ponto da vida que, na falta de algo melhor ou para efeito de encorajamento, costuma se chamar de a força da idade; a idade espremida entre a dos pais que envelhecem e a dos filhos adolescentes; idade vaga, em que os homens já não torcem o pescoço à sua passagem e em que as outras mulheres já não invejam nada em você." (pág. 10)

"Mesmo que tivesse mais facilidade para falar, jamais conseguiria convencer Katherina, que não conseguia ver nada além da aparência das coisas: um tabuleiro com 64 casas, peças brancas e pretas, e duas pessoas caladas a movê-las com a maior seriedade depois de uma reflexão que poderia levar horas." (pág. 65)

"'O que você quer...', comentavam as pessoas ao vê-lo passar perdido em seus pensamentos, 'ele também envelhece. Está se desligando do mundo exterior. É da natureza das coisas'." (pág. 77)

"No caso dele, a leitura chegara a ocupar um lugar jamais outorgado a nenhum ser humano. Por que perder tempo em inúteis conversações cotidianas quando podemos estar sempre em contato com os melhores e os mais instigantes pensadores de todos os tempos? Por que permitir que a vida seja ocupada por seres medíocres - atraentes, é verdade, mas de raciocínio fraco -, quando temos a possibilidade de visitar Platão, Sêneca e Proust?" (pág. 78)

"Numa de suas noites de combate, deu-se conta, subitamente, de que todos os grandes teóricos eram homens. Nunca ouvira falar de alguma grande jogadora de xadrez. O talento para o tabuleiro parecia residir em algum lugar dentro dos testículos." (pág.94)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A linguagem das flores

Título: A linguagem das flores
Autor: Vanessa Diffenbaugh
Páginas: 294

Victória é uma jovem que cresceu passando de um orfanato para outro. Isso a tornava cada vez mais revoltada e indiferente a tudo. Ao completar os 18 anos ela tem que sair do orfanato e cuidar de sua própria vida. O que acontecerá já que ela tem um desprezo total por todas as pessoas e pela vida de maneira geral?

O livro apresenta uma grande lição de vida, baseada numa frase simples: você tem que querer. Se a mudança partir de você, muitas coisas podem de fato acontecer. Além da história de vida de Victoria outro ponto agradável no livro é a informação do significado de vários tipos de flores. Curioso, mas interessante.

Trechos interessantes:

"-Acredito que você também pode provar que todos estão errados, Victoria. Seu comportamento é uma escolha, não quem você é de verdade." (pág. 45)

"Lembrei-me das palavras que Meredith me dissera na Gathering House e outras centenas de vezes antes: Você tem que querer. Você tem que querer ser uma filha, uma irmã, uma amiga, uma estudante, repetira ela à exaustão. Eu nunca quisera nenhuma dessas coisas e as promessas, ameaças ou subornos de Meredith nunca haviam mudado minha convicção. Mas, de repente, eu soube que queria ser florista. Queria passar minha vida escolhendo flores para desconhecidos, meus dias oscilando entre o frio da câmara frigorífica e o barulho da gaveta da registradora." (pág. 55)

"Ela colocava uvas em sua boca e depois na minha, falando números que correspondiam ao grau de maturação: 74/6, 73/7 e 75/6. Isto, dizia quando localizávamos um cacho maduro, é o que você precisa ter em mente. Este exato sabor - açúcar 75 e tanino 7. Essa é uma uva perfeitamente madura, algo que nem uma máquina nem um amador conseguem identificar." (pág. 117/118)

"Eu começaria a chorar antes de terminar de falar, mas mesmo assim ela entenderia. E iria querer. O brilho em seus olhos seria a prova de sua devoção ao nosso filho, enquanto minhas lágrimas seriam a prova da minha incapacidade de ser mãe. A certeza de que eu iria decepcioná-lo (e a incerteza de como ou quando isso iria acontecer) me impediria de compartilhar do seu entusiasmo, me manteria isolada de suas declarações de amor." (pág. 172/173)

"O mundo seguia seu ritmo frenético, indiferente à bebê que chorava a seis quarteirões dali, à bebê que eu tinha dado à luz mas cujos gritos já não ouvia mais. O bairro continuava existindo como na semana anterior e na quinzena antes dela, como se absolutamente nada tivesse mudado. O fato de minha vida ter virado de cabeça para baixo não importava a ninguém e, ali fora, naquela calçada, longe da fonte do tumulto, meu pânico pareceu injustificável."(pág. 218)

"Queria recomeçar minha vida, tomar um rumo que não me levasse àquele momento, a acordar sozinha em um parque municipal, com minha filha largada num apartamento vazio. Cada decisão que eu havia tomado me conduzira até ali e eu queria mudar tudo: o ódio, a culpa e a violência. Queria almoçar com a menina revoltada que tinha sido aos 10 anos para alertá-la sobre essa manhã e dar-lhe as flores que a conduziriam por um caminho diferente." (pág. 230)

"Se fosse verdade que o musgo não tinha raízes e que o amor materno poderia crescer espontaneamente, vindo do nada, talvez eu tivesse me enganado ao me julgar incapaz de criar minha filha. Talvez os indiferentes, os rejeitados, os mal-amados pudessem aprender a dar amor com tanta abundância quanto qualquer outra pessoa." (pág. 282)

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Histórias de futebol

Título: Histórias de Futebol
Autor: Luiz Vilela / Fernando Bonassi / Bruno Zeni / Marcelino Freire / João Antônio / Henrique Félix / JoaÃnzanello Carrascoza / Edy Lima / Antônio de Alcântara Machado
Páginas: 96

Livro escolar, da coleção 'O prazer da prosa', para uma leitura rápida enquanto aguardava na sala de espera.

É um livro de contos onde a temática, como o próprio título diz, é o futebol. Aqui há histórias dos mais variados tipos e gostos. Com certeza alguma irá lhe agradar. Livro pequeno, de leitura fácil, mas nem por isso, menos interessante.

Trechos interessantes:

"Meu Deus! Gritou ele. Meu filho vai ser bicha. Credo! Ficou a noite todinha olhando a alma pregada no teto. Não pode ser. Rezou. Chorou. O menino é menina. Ah! Isso não vai ficar assim. Vou treinar o condenado. Vou salvar o moleque." (pág. 38/39)

"Eu estava ali, em grupo, mas por dentro estava era sozinho, me isolava de tudo. Era um sentimento novo que me pegava, me embalava. Eu nunca disse a ninguém, que não me parecia coisa máscula, dura de homem." (pág. 46)

"Já pelo nosso lado, eu era tão-somente um médio-volante mediano, pra não dizer esforçado; Aquiles era apenas um lateral-direito esforçado, pra não dizer grosso; e Lula, por fim, era um jogador grosso, sem posição, pra não dizer uma nulidade. A bem da verdade, nós três estávamos mais para cê-dê-efes do que para cê-dê-bês, isto é, craques de bola." (pág. 61)

"É preciso saber perder, filho, há chutes indefensáveis, a bola às vezes sabe quando será da rede e não do goleiro." (pág. 74)

"-A senhora já viveu muito, não é tia?
-Isso não vem ao caso, afinal, como digo sempre, 'quando acordo de manhã, já estou com o dia ganho'." (pág. 80)

domingo, 14 de dezembro de 2014

Nas arquibancadas

Título: Nas arquibancadas
Autor: John Grisham
Páginas: 186

A cidade de Messina está recebendo a visita de grandes astros do futebol americano. Mas não se trata de nenhum jogo ou apresentação. O treinador Rake, o mais notável e aclamado treinador de Messina, está à beira da morte e todos querem prestar suas homenagens.

Durante a vigília os astros se sentam nas arquibancadas e relembram os momentos que ficaram marcados para sempre, incluindo o treinador Rake, amado e odiado por todos. Os jogadores aproveitam também para rever suas vidas e atitudes pessoais e a maneira como o treinador teve importância para influenciar e modificar essas atitudes.

Trechos interessantes:

"Por causa da maratona, todos se apresentavam em ótima forma. Não era raro jogadores pesados perderem dez ou quinze quilos durante o verão, não pela namorada nem para melhorar seu físico. O peso era perdido para sobreviver à maratona dos Spartans." (pág. 34)

"Não havia nenhuma condição preexistente, nenhum problema físico. Um garoto de quinze anos perfeitamente saudável sai de casa às sete e meia de certa manhã de domingo para uma sessão de duas horas de tortura e não volta para casa. Pela primeira vez na história desta cidade, o povo perguntou: 'Por que exatamente você faz os garotos correrem numa sauna até começarem a vomitar?'" (pág. 66)

"-Qual foi a reação dele?
-Rake disse que não sabia muita coisa sobre os gays, mas se eu sabia quem eu era, então que todo mundo fosse à merda. 'Vá viver sua vida, filho', ele disse. 'Alguns vão odiar você, outros vão te amar, a maioria não resolveu ainda. Depende de você'." (pág. 79)

"'Volte dentro de alguns anos, grandalhão, e eles nem reconhecerão seu nome', Neely pensou. 'Sua carreira fabulosa será uma nota de rodapé. Todas as meninas interessantes serão mães. A jaqueta verde será uma fonte de grande orgulho pessoal, mas você não poderá usá-la. Coisa de colégio. Coisa de criança.'
Por que era tão importante no passado?" (pág. 85)

"-Eu não tinha ideia do quanto é doloroso um coração partido até minha mulher ir embora. Foi um pesadelo. Pela primeira vez compreendi o que você tinha sofrido. Compreendi o quanto eu fui cruel." (pág. 157)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Vá de bike

Título: Vá de bike
Autor: Grant Petersen
Páginas: 230

O livro foi escrito como um manual para os apaixonados por ciclismo, com tópicos relacionados a segurança, equipamentos, orientações, etc. Mas eu achei mais parecido com um relato pessoal e suas preferências sobre isto ou aquilo.

Para quem gosta de ciclismo de fato, não acho que o livro seja de muita ajuda. E se a ideia for atrair novos adeptos aí que o livro falha mesmo: não há nada que possa ser realmente atrativo para o novo ciclista. Enfim, alguns tópicos relevantes, mas não chega a fazer a diferença.

Trechos interessantes:

"Existem pelo menos dois tipos de segurança: ativa e passiva. A segurança passiva é sua capacidade de sobreviver a um acidente; e a segurança ativa é sua capacidade de evitar um." (pág. 39)

"Você está mais seguro quando está usando um capacete e superestimando a proteção deste ou quando está sem capacete e pedalando com mais cuidado? Talvez a resposta seja usar o capacete e esquecer que está com ele, mas é mais fácil falar do que fazer. A maioria das pessoas sabe muito bem quando está com algo na cabeça." (pág. 52)

"Uma bicicleta na chuva, sem para-lama, é como um carro na chuva com a janela aberta." (pág. 111)

"Afirmarei o óbvio: os profissionais a usam [bicicleta de corrida] porque são pagos para isso. Ser pago para usá-la é a única boa razão que consigo pensar para andar nesse tipo de bicicleta." (pág. 189)

"Sou totalmente a favor das instituições beneficentes, mas pedir a pessoas comuns, ou mesmo a empresas, que deem dinheiro para você poder andar de bicicleta, como se você estivesse 'arrecadando fundos',é um pouco demais." (pág. 198)

"Todo mundo que convive com ciclistas conhece casais que dão certo pedalando juntos, mas eles dariam certo pedalando juntos ou não, portanto, não pense que andar de bicicleta faz bem a um relacionamento. Há muitas coisas que podem dar errado se você tentar convencer uma parceira, ou parceiro, relutante a participar de sua paixão." (pág. 204)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Eu sou o mensageiro

Título: Eu sou o mensageiro
Autor: Markus Zusak
Páginas:

Ed é um garoto de 19 anos, sem nenhuma perspectiva na vida, sem nenhum talento especial, ou seja, uma pessoa perfeitamente comum. De repente aparece em sua caixa de correio uma carta de baralho com 3 endereços e ele pressupõe que sejam pessoas que precisam de sua ajuda. Depois de resolver estes casos, mais cartas continuam aparecendo e ele se considera um mensageiro com uma tarefa a cumprir.

A história acaba conquistando o leitor, que fica sempre curioso sobre o conteúdo das próximas cartas que virão e a forma como Ed vai se desembaraçar da tarefa. Como curiosidade, os capítulos do livro são numerados na sequência das cartas do baralho. No resumo, é uma boa leitura e quem já leu e gostou de 'A menina que roubava livros' não vai se decepcionar.

Trechos interessantes:

"Eu estou sempre me perguntando: 'E aí, Ed, o que você fez de útil nesses 19 anos de vida?' A resposta é simples.
Porra nenhuma." (pág. 20)

"'Tu é um homem morto,' ouço aquela voz de novo, e vejo as palavras na minha cara quando entro no táxi e olho no espelho retrovisor.
Isso me faz pensar sobre minha vida, minhas realizações inexistentes e minhas habilidades gerais de incompetência.
Quando estou tirando o carro do estacionamento, penso: Um homem morto. Ele tem razão." (pág. 39)

"-Você é meu melhor amigo, Ed.
-Eu sei.
Essas palavras podem matar um homem.
Não precisa nem de arma.
Nem de balas.
Só das palavras e de uma garota." (pág. 109)

"Padre O'Reilly volta pra mesa agora, reprovando com a cabeça.
-Esses são os Parkinsons. Cambada de inúteis.
Fico chocado com o comentário. Nunca ouvi um padre falar assim. Na verdade, nunca falei com nenhum padre, mas duvido muito que seja assim.
-Isso acontece sempre? - pergunto.
-Duas vezes por semana. Pelo menos.
-Como o senhor consegue aguentar uma coisa dessas?
Ele simplesmente estica os braços e bate na batina.
-É para isso que estou aqui." (pág. 129)

"-O que é, padre?
-Sabe, dizem que há inúmeros santos que não têm nada a ver com a Igreja e praticamente não têm nenhum conhecimento de Deus. Mas dizem que Deus anda com essas pessoas sem que elas se deem conta disso - os olhos dele estão dentro de mim agora, acompanhados pelas palavras. - Você é uma dessas pessoas, Ed. É uma honra conhecê-lo." (pág. 140)

"Tem sangue nas minhas mãos e no final da rua. Por um instante, fico torcendo para que entendam o que estão fazendo e o que estão enfrentando.
Tenho vontade de dizer pra eles, mas percebo que só estou aqui como mensageiro. Não estou aqui pra decifrar nem mostrar o sentido da mensagem. Isso eles têm que fazer sozinhos." (pág. 157)

"Não é nada demais, coisa pequena, mas acho que é verdade o que se diz por aí, tipo que as grandes coisas são sempre coisas pequenas que percebemos." (pág. 195)

"Às vezes as pessoas são bonitas.
Não pela aparência física.
Nem pelo que dizem.
Só pelo que são." (pág. 199)

"Ela conclui:
-Você tá melhor.
É com estas palavras que vejo as coisas do ponto de vista da Audrey. Ela gostava quando eu era simplesmente Ed. Era mais seguro assim. Estável. Agora, ando mudando as coisas. Deixei minhas digitais no mundo, mesmo que pequenas, e isso mexeu no equilíbrio entre nós dois. Talvez ela tenha medo de eu não querê-la, já que não posso tê-la." (pág. 207)

"-Eu só quero que você seja alguém na vida - aos poucos, bem devagar, ela se aproxima das escadas da frente. -Você tem que entender uma coisa, Ed.
-O quê?
Com cuidado, ela diz:
-Acredite ou não, é preciso muito amor pra te odiar desta forma." (pág. 219)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Histórias que não me deixaram fazer na TV

Título: Histórias que não me deixaram fazer na TV
Autor: Alfred Hitchcock
Páginas: 196

Não sei se é porque já li uma porção de coletâneas desse tipo e tudo começa a parecer repetitivo, mas o fato é que de todas as treze histórias, pouquíssimas me chamaram a atenção.

Minha escolha fica entre as histórias "A casa do homicídio" e "Daqui a dez minutos". As duas são boas. Quanto às demais, cumprem o papel e dão volume ao livro, mas não se destacam tanto quanto as citadas.

Trechos interessantes:

"-Somente um epicurista, um verdadeiro gourmet como Jerome Steeks, ficaria chocado ao me ver pondo gelo num Chambertin. Somente um homem que conhece a fundo como comer e beber aprecia vinhos o bastante para compreender que o buquê do Chambertin seria destruído, congelado pelo frio. Steeks sabe que vinho tinto deve ser sempre bebido na temperatura da sala." (pág. 44)

"-Já devia saber que ninguém mais escreve cartas atualmente, mamãe. Não vai demorar muito para que deixem de ensinar a escrever na escola e tudo passe a ser feito pelo telefone ou por computador." (pág. 56)

"Ali estava um médico, que prestara o juramento de Hipócrates para preservar a vida, acenando com os braços como um diretor de TV, para mostrar ao cara na cadeira a melhor maneira de morrer.
Prenda a respiração, depois respire fundo: não vai sentir nada. Claro que o ácido cianídrico vai derreter as suas entranhas, transformá-las numa massa quente, vai queimar todas as fibras nos seus pulmões, enquanto se sacode freneticamente. Mas não estará realmente sentindo coisa alguma. O corpo estará se sacudindo apenas como uma reação dos terminais nervosos." (pág. 78)

"O rosto rechonchudo de Sarah, inchado de vinho e de raiva, os cabelos pintados caindo desordenadamente, o corpo protuberante onde não deveria e carecendo de curvas nos lugares necessários, a última de suas ilusões desaparecidas, ela era a caricatura grotesca de todas as mulheres do mundo enganadas e envelhecidas." (pág. 103)

"Ser casado com Squeakie é um trabalho de tempo integral. O nome dela é na verdade Desdemona, mas faço todo o possível para esquecê-lo. O pai era um cavalheiro da velha guarda, que gostava de citar Shakespeare a todo instante. Squeakie saiu a ele. Não que isso torne as coisas tão difíceis assim. Um pouco de Shakespeare de vez em quando é maravilhoso. Mas é que às vezes eu me sinto como o camarada que estava montado no tigre: simplesmente não podia desmontar." (pág. 135)