Autor: Tess Gerritsen
Páginas: 416
Após a morte do marido, Claire e seu filho adolescente se mudam para
uma cidadezinha do interior do Maine, chamada Tranquility. Ela é média e tenta
reconstruir sua vida, mas esbarra na resistência das pessoas por ser ela uma
forasteira. Além dos problemas pessoais, Claire também terá que se preocupar
com crimes violentos que começam a surgir na pequena e tranquila cidade.
Romance médico-policial-investigativo de leitura fácil, cuja história
transcorre seguindo o que era de se esperar. Mas não é um daqueles romances em
que a história fica gravada em sua mente. Não espere muito... somente o
trivial.
Trechos interessantes:
Quem é aquela menina?, pensou. Não sei mais o nome dos amigos do meu
filho. Ocupo apenas um cantinho de seu universo. Ela sabia que isso
aconteceria: o afastamento, a luta do filho por independência, mas não estava
preparada. A transformação ocorreu subitamente, como se um bom menino tivesse
saído de casa certo dia e um estranho tivesse voltado no seu lugar. (pág. 17)
— Seu filho desarmou o outro menino — disse Lincoln. — Foi uma
maluquice. E um ato de muita coragem. Ele provavelmente salvou algumas vidas. —
Lincoln voltou o olhar para Noah e acrescentou em voz baixa: — Deveria se
orgulhar dele.
— Não fui corajoso — desabafou Noah, que se afastou de Claire e,
envergonhado, enxugou os olhos. — Eu estava com medo. Não sei por que fiz
aquilo. Não sabia o que estava fazendo...
— Mas fez, Noah. — Lincoln pousou uma das mãos sobre o ombro do
menino. Era o cumprimento de um homem, brusco e simples. Noah pareceu se
fortalecer com aquele toque. Uma mãe, pensou Claire, não pode ordenar como
cavaleiro o próprio filho. Aquilo precisava ser feito por outro homem. (pág.
81)
Era chocante confrontar aquela imagem assustadoramente familiar da
Sra. Horatio antes dos quilos extras, das rugas e do cabelo grisalho e dar-se
conta de que aquela fotografia fora tirada quando ela não era muito mais velha
do que ele. O que acontece quando envelhecemos?,
perguntou-se. Para onde vai o jovem
dentro de nós?
Noah parou diante do caixão. Estava fechado, o que era uma bênção. Ele
não se achava capaz de olhar o rosto da professora morta. Era terrível o
bastante imaginar como ela devia estar, oculta sob aquela tampa de mogno. Ele
não gostava muito de Dorothy Horatio; nem um pouco, na verdade. Mas hoje
conhecera seu marido e sua filha adulta, vira ambos chorando, abraçados, e
dera-se conta de uma verdade contundente: que até mesmo as Sras. Horatio deste
mundo são amadas por alguém. (pág. 109)
Rachel Sorkin era uma pessoa de fora, a mulher de cabelos negros que
morava sozinha à margem do lago. Sempre fora assim durante muitas eras: a jovem
mulher solitária se tornara objeto de suspeita, de fofoca. Em uma cidade
pequena, é a anomalia que requer explicação. É a sereia do povoado, a tentação
irresistível para maridos até então virtuosos. Ou é a megera que homem nenhum
deseja desposar ou a fêmea anormal com desejos sobrenaturais. Se é atraente,
como Rachel, exótica, ou peculiar em seus gostos e caprichos, então a suspeita
vem misturada com fascínio. Fascínio que pode se tornar obsessão para alguém
como Mairead Temple que se aborrecia o dia inteiro em sua cozinha enfumaçada,
fumando cigarros que prometiam glamour, mas que só lhe davam bronquite e dentes
amarelados. Rachel não tinha dentes amarelos. Rachel era bela, desimpedida e um
tanto excêntrica. (pág. 162)
Hormônios são produtos químicos produzidos por criaturas vivas.
Plantas, animais, insetos. Eles afetam nossos corpos de modos diferentes. (pág.
190)
Após oito meses, quantas pessoas ela realmente conhecia? Fora
advertida de que seria assim, que os habitantes do lugar eram desconfiados com
forasteiros. As pessoas de fora surgiam no Maine como fiapos de lã, ficavam uma
ou duas estações e então se espalhavam aos quatro ventos. Não criavam raízes
ali, nenhuma memória ou permanência. Os nativos do Maine sabiam disso e
recebiam cada novo residente com suspeita. Perguntavam-se o que trouxera aquele
estranho ao seu meio, quais segredos escondia em sua vida anterior. Perguntavam-se
se não trazia consigo a mesma doença da qual tenta fugir. Vidas que não davam
certo em uma cidade frequentemente não davam certo em qualquer outra. (pág.
201)
— Leva tempo, Claire. Você é de fora, e as pessoas precisam se
acostumar à sua presença e ter certeza de que você não vai abandoná-las. É aí
que Adam DelRay tem uma vantagem. Ele cresceu aqui, e todos acham que ele vai
ficar. O último médico de outro estado que veio para cá ficou menos de oito
meses. O que veio antes dele ficou menos de um ano. A cidade acha que você
também não vai querer ficar. Estão retraídos, esperando para ver se você
consegue suportar o inverno. Ou se vai embora da cidade como os outros dois.
— Não é o inverno que está me expulsando. Posso suportar a escuridão e
o frio. O que não dá para aguentar é a sensação de não pertencer ao lugar. De
que jamais vou pertencer. — Ela inspirou profundamente e sua raiva de repente se
dissipou, deixando apenas uma sensação de cansaço. — Não sei por que achei que
isso daria certo. (pág. 278)
— Cara, você certamente tem alguns problemas sociológicos graves nesta
cidade. Mas não culpe os jovens. Olhe para os adultos. Quando as crianças crescem
em meio à violência, aprendem a resolver os problemas da mesma forma. Papai idolatra
a toda poderosa espingarda e, por esporte, sai de casa e faz picadinho de um
veado. Júnior entende a mensagem: matar é divertido.
— Essa é uma explicação óbvia demais.
— Nossa sociedade glorifica a violência! Então, colocamos armas nas mãos
dos adolescentes. Pergunte a qualquer sociólogo. (pág. 291)
Toda noite vou dormir esperando não despertar, desejando não acordar.
E toda manhã, quando abro os olhos, fico desapontado. As pessoas acham que é
uma luta permanecer vivo. Mas sabe, esta é a parte fácil. A parte difícil é
morrer. (pág. 327)
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