sábado, 23 de maio de 2020

Corrente sanguínea


Título: Corrente sanguínea
Autor: Tess Gerritsen
Páginas: 416

Após a morte do marido, Claire e seu filho adolescente se mudam para uma cidadezinha do interior do Maine, chamada Tranquility. Ela é média e tenta reconstruir sua vida, mas esbarra na resistência das pessoas por ser ela uma forasteira. Além dos problemas pessoais, Claire também terá que se preocupar com crimes violentos que começam a surgir na pequena e tranquila cidade.

Romance médico-policial-investigativo de leitura fácil, cuja história transcorre seguindo o que era de se esperar. Mas não é um daqueles romances em que a história fica gravada em sua mente. Não espere muito... somente o trivial.

Trechos interessantes:

Quem é aquela menina?, pensou. Não sei mais o nome dos amigos do meu filho. Ocupo apenas um cantinho de seu universo. Ela sabia que isso aconteceria: o afastamento, a luta do filho por independência, mas não estava preparada. A transformação ocorreu subitamente, como se um bom menino tivesse saído de casa certo dia e um estranho tivesse voltado no seu lugar. (pág. 17)

— Seu filho desarmou o outro menino — disse Lincoln. — Foi uma maluquice. E um ato de muita coragem. Ele provavelmente salvou algumas vidas. — Lincoln voltou o olhar para Noah e acrescentou em voz baixa: — Deveria se orgulhar dele.
— Não fui corajoso — desabafou Noah, que se afastou de Claire e, envergonhado, enxugou os olhos. — Eu estava com medo. Não sei por que fiz aquilo. Não sabia o que estava fazendo...
— Mas fez, Noah. — Lincoln pousou uma das mãos sobre o ombro do menino. Era o cumprimento de um homem, brusco e simples. Noah pareceu se fortalecer com aquele toque. Uma mãe, pensou Claire, não pode ordenar como cavaleiro o próprio filho. Aquilo precisava ser feito por outro homem. (pág. 81)

Era chocante confrontar aquela imagem assustadoramente familiar da Sra. Horatio antes dos quilos extras, das rugas e do cabelo grisalho e dar-se conta de que aquela fotografia fora tirada quando ela não era muito mais velha do que ele. O que acontece quando envelhecemos?, perguntou-se. Para onde vai o jovem dentro de nós?
Noah parou diante do caixão. Estava fechado, o que era uma bênção. Ele não se achava capaz de olhar o rosto da professora morta. Era terrível o bastante imaginar como ela devia estar, oculta sob aquela tampa de mogno. Ele não gostava muito de Dorothy Horatio; nem um pouco, na verdade. Mas hoje conhecera seu marido e sua filha adulta, vira ambos chorando, abraçados, e dera-se conta de uma verdade contundente: que até mesmo as Sras. Horatio deste mundo são amadas por alguém. (pág. 109)

Rachel Sorkin era uma pessoa de fora, a mulher de cabelos negros que morava sozinha à margem do lago. Sempre fora assim durante muitas eras: a jovem mulher solitária se tornara objeto de suspeita, de fofoca. Em uma cidade pequena, é a anomalia que requer explicação. É a sereia do povoado, a tentação irresistível para maridos até então virtuosos. Ou é a megera que homem nenhum deseja desposar ou a fêmea anormal com desejos sobrenaturais. Se é atraente, como Rachel, exótica, ou peculiar em seus gostos e caprichos, então a suspeita vem misturada com fascínio. Fascínio que pode se tornar obsessão para alguém como Mairead Temple que se aborrecia o dia inteiro em sua cozinha enfumaçada, fumando cigarros que prometiam glamour, mas que só lhe davam bronquite e dentes amarelados. Rachel não tinha dentes amarelos. Rachel era bela, desimpedida e um tanto excêntrica. (pág. 162)

Hormônios são produtos químicos produzidos por criaturas vivas. Plantas, animais, insetos. Eles afetam nossos corpos de modos diferentes. (pág. 190)

Após oito meses, quantas pessoas ela realmente conhecia? Fora advertida de que seria assim, que os habitantes do lugar eram desconfiados com forasteiros. As pessoas de fora surgiam no Maine como fiapos de lã, ficavam uma ou duas estações e então se espalhavam aos quatro ventos. Não criavam raízes ali, nenhuma memória ou permanência. Os nativos do Maine sabiam disso e recebiam cada novo residente com suspeita. Perguntavam-se o que trouxera aquele estranho ao seu meio, quais segredos escondia em sua vida anterior. Perguntavam-se se não trazia consigo a mesma doença da qual tenta fugir. Vidas que não davam certo em uma cidade frequentemente não davam certo em qualquer outra. (pág. 201)

— Leva tempo, Claire. Você é de fora, e as pessoas precisam se acostumar à sua presença e ter certeza de que você não vai abandoná-las. É aí que Adam DelRay tem uma vantagem. Ele cresceu aqui, e todos acham que ele vai ficar. O último médico de outro estado que veio para cá ficou menos de oito meses. O que veio antes dele ficou menos de um ano. A cidade acha que você também não vai querer ficar. Estão retraídos, esperando para ver se você consegue suportar o inverno. Ou se vai embora da cidade como os outros dois.
— Não é o inverno que está me expulsando. Posso suportar a escuridão e o frio. O que não dá para aguentar é a sensação de não pertencer ao lugar. De que jamais vou pertencer. — Ela inspirou profundamente e sua raiva de repente se dissipou, deixando apenas uma sensação de cansaço. — Não sei por que achei que isso daria certo. (pág. 278)

— Cara, você certamente tem alguns problemas sociológicos graves nesta cidade. Mas não culpe os jovens. Olhe para os adultos. Quando as crianças crescem em meio à violência, aprendem a resolver os problemas da mesma forma. Papai idolatra a toda poderosa espingarda e, por esporte, sai de casa e faz picadinho de um veado. Júnior entende a mensagem: matar é divertido.
— Essa é uma explicação óbvia demais.
— Nossa sociedade glorifica a violência! Então, colocamos armas nas mãos dos adolescentes. Pergunte a qualquer sociólogo. (pág. 291)


Toda noite vou dormir esperando não despertar, desejando não acordar. E toda manhã, quando abro os olhos, fico desapontado. As pessoas acham que é uma luta permanecer vivo. Mas sabe, esta é a parte fácil. A parte difícil é morrer. (pág. 327)

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