Autor: Leona Blair
Páginas: 464
O livro me surpreendeu positivamente. A julgar pelo
título e pela descrição resumida na contracapa, julguei inicialmente se tratar
de uma história “água com açúcar” sobre um triângulo amoroso e com um final
previsível. Mas não, apesar do triângulo amoroso ser a base da história, o
livro vai além disso e consegue combinar emoções pessoais e assuntos políticos
de forma harmoniosa.
Naomi ama Joshua, mas, sabe-se lá por que, casa-se
com Arnold, o irmão de Joshua. Naomi e Arnold vivem na América e iniciam a
construção de um império na área de cosmético. Enquanto isso Arnold, com
espírito aventureiro, perambula pelo mundo à cata de dinheiro e armas para a
construção do Estado de Israel. Com o passar dos anos muita acontece na vida de
todos, mas nada consegue eliminar a paixão de Naomi e Joshua.
Trechos interessantes:
“Porém uma terra natal não bastava para esses homens.
Eles almejavam nada menos do que um Estado judaico e estavam prontos a lutar
por isso, quando chegasse a hora. Eram sionistas neste sentido, mas preferiam
não rotular a si mesmos. Para o mundo, o sionismo significava comunismo,
socialismo, amor livre — todos os vícios políticos e sociais. Esses homens não
se preocupavam com nenhuma dessas coisas.”(pág. 33)
“— Primeiro vamos ver se o volume de vendas que
obtivermos é o suficiente para cobrir as duas linhas. Era por esse motivo que
havia dois tipos de potes e frascos – um branco e outro dourado — e dois tipos
de rótulos: Aurora, para a linha mais
barata, e Duquesa, para a dourada.
Ambas continham exatamente o mesmo produto, mas o Duquesa custaria o dobro do preço.
O Decreto Federal de Medicamentos e Alimentos de 1906 não regulamentava os
cosméticos, e não existiam quaisquer exigências quanto ao conteúdo dos rótulos.
Ninguém saberia que os dois preços compravam o mesmo produto, e, se isso
incomodou Arnold a princípio, ele teve de aceitar o fato como prática estabelecida
nessa indústria ou então perder dinheiro.”
(pág. 52)
“Então, agora os sionistas vinham levantar dinheiro
na América! De negociantes como Arnold. No final das contas, todos precisavam
de dinheiro, até mesmo idealistas como seu irmão pioneiro. E vinham obtê-lo com
capitalistas sujos como ele próprio!”
(pág.61)
“Ficaram em silêncio, fumando e bebendo café. Uma das
melhores coisas em Lazar, refletiu Joshua com gratidão, era que nunca
conversava quando não havia nada a dizer.”
(pág.81)
“— Que o diabo me carregue se algum dia conseguirei
entender por que uma indústria de pinturas e pó-de-arroz ganha tanto dinheiro —
dizia Martin. — As pessoas não precisam
de batom e creme facial. Precisam de um lugar para dormir, de comida para lhes
encher a barriga e alguma coisa que as mantenha aquecidas.
É porque vendo sonhos — Arnold sempre insistia. — E
nas épocas difíceis, as pessoas necessitam de sonhos mais do que nunca.” (pág.102)
“Quando um país começa a queimar livros, algo está
terrivelmente errado e não são os livros. Sabe que agora não podem publicar
nenhum livro na Alemanha sem a aprovação de um vigaristazinho pegajoso chamado
Goebbels? Há uma suástica ondulando em quase todos os prédios. E as prisões
estão repletas de opositores do regime.” (pág. 119/120)
“Ele e o irmão nunca se compreenderiam, mas isso não
era motivo para desconfiar. Os dois eram diferentes demais para que qualquer
rivalidade fosse significativa. Sarah havia dito isso certa vez, naquele seu
jeito perspicaz: ‘Como um pêssego pode sobrepujar um gerânio? Vocês são duas
espécies diferentes’.” (pág. 155)
“O futuro o aterrorizava. O futuro estava escrito no
passado. O crime era grande demais para ser compreendido, mas, com o tempo,
seria aceito; este era o mal. E, uma vez aceito um massacre dessa magnitude, o
mundo poderia aceitar outro ainda maior. Após um tempo, nenhuma infâmia seria
grande demais. Depois do assassinato planejado de catorze milhões de pessoas,
seria fácil matar vinte milhões, cinquenta milhões, toda a espécie insana, incômoda
e desonrada como era pelos milênios de crimes contra si mesma.”(pág. 229/230)
“— Oscar Wílde disse que a vida tem apenas duas tragédias:
uma é não obter o que deseja, e a outra é obtê-lo.” (pág. 258)
“O casamento não se limita a sexo, mas este é uma
parte importante dele. A vida não se limita à paixão, mas como é terrível sua
ausência absoluta.” (pág. 331)
“Princípios eram um luxo desfrutado por poucos. Se
tivesse lhe restado algum, Joshua não conseguiria realizar seu trabalho. De
quem seria a vida que pereceria na mira de uma arma colocada por ele nas mãos
de um soldado desconhecido? De quem seria a carne destroçada por uma das
granadas que comprou? Quantas vidas seriam eliminadas por sua causa? Contudo,
essa tarefa precisava ser executada, e, se não tinha escrúpulos em realizá-la,
não tinha para mais nada.” (pág. 349)
“— Certa vez, quando eu era pequena, meus irmãos e eu
dissemos à minha mãe que ela devia preferir um de nós, que não podia amar todos
da mesma maneira. Mamãe acendeu uma vela e respondeu: ‘Isto é como o amor’.
Depois fez cada um de nós acender uma vela na sua. Todas cintilaram exatamente
do mesmo jeito, e a dela também tinha o mesmo brilho. É possível acender mil
velas e ainda assim ter outras mil para acender.”(pág. 387)
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