segunda-feira, 27 de junho de 2016

Como fazíamos sem...

Título: Como fazíamos sem...
Autor: Bárbara Soalheiro
Páginas: 144

O livro é uma aula de história, contada da maneira mais natural possível. Como é um livro indicado para jovens, a linguagem é simples e de fácil entendimento e as histórias, em sua maioria, são recheadas com muito humor.

Livro de curiosidades, mas quem não gosta de se divertir com algumas coisas estranhas e sem nexo de vez em quando? O livro cumpre a finalidade a que se destina: instrui de forma agradável e divertida.

Trechos interessantes:

"Quando sua mãe pedir sua ajuda para descascar batatas ou cebola, obedeça. Se você tivesse nascido no século XIX,o pedido poderia ser muito pior. Ela com certeza ia querer que você ajudasse a acender o fogo." (pág. 18)

"Talheres eram tão raros - e, por isso mesmo, valiosos - que apareciam nos testamentos de pessoas ricas. E garfos, que hoje nos parecem tão inofensivos, chegavam a ser malvistos pela Igreja. 'Deus, em sua sabedoria, deu ao homem garfos naturais - seus dedos. Assim, é um insulto a Ele substituí-los por garfos de metal', escreveu um padre italiano no século XI, ao ver que a esposa do governante de Veneza tinha o 'estranho' hábito de não usar as mãos durante as refeições." (pág. 28)

"Apesar de servirem a propósitos bem pacíficos, os armários verticais - como usamos hoje - foram criados para guardar espingardas. Inclusive, foi por causa da arma que o móvel ganhou esse nome." (pág. 61)

"Três graus de miopia. Hoje, um diagnóstico como esse é bobagem. Afinal,você pode viver normalmente usando um par de óculos. Mas, há alguns séculos, um problema de visão assim era sinônimo de aposentadoria. O senador romano Marcus Tulius Cícero, por exemplo, quase perdeu o emprego quando a idade o impediu de ler sozinho. Como tinha dinheiro, Cícero resolveu o problema do jeito que se fazia na época: comprou escravos que pudessem ler para ele." (pág. 84)

"Marinheiros tinham uma técnica ótima para a lavagem de roupas sujas. Eles colocavam tudo dentro de uma sacola de tecido bem resistente e amarravam-na pelo lado de fora do navio, deixando-a ser arrastada por horas. Com o avanço do barco e a força do mar, a água conseguia remover boa parte da sujeira das roupas." (pág. 91)

"Prova de que não são exatamente os tempos, mas o caráter de cada povo que determina as tradições, é o costume de tomar banho. Ou de não tomar. Os gregos e romanos, por exemplo, sempre foram adeptos da prática. Já os europeus, em pleno século XIX, fugiam da água como se ela fosse praga. Literalmente. É que como a água quente dilata os poros, os médicos europeus acreditavam que os banhos facilitavam a entrada de germes. Ou seja, fugir das banheiras era recomendado como uma medida de higiene." (pág. 98)

"Também é possível que a família Soalheiro, que assina esse livro, não fosse muito ocupada durante o século XII. É que uma das definições para o sobrenome é 'grupo de pessoas ociosas, que fica ao sol falando da vida alheia!'. Parece que fofoqueiro já era profissão nessa época... (pág. 143)

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Contos fantásticos do século XIX

Título: Contos fantásticos do século XIX
Autor: Italo Calvino
Páginas: 518

O livro apresenta uma seleção de contos, de diversos autores, selecionados por Italo Calvino. Contos fantásticos são aqueles em que há alguma coisa sobrenatural, misteriosa, absurda ou simplesmente estranha à realidade normal. Daí serem abundantes os casos de fantasmas, assombrações e outras coisas do gênero.

Como em toda seleção, há contos que são bons e outros que nem tanto. Mas esta é uma interpretação pessoal, o que não compromete a qualidade do material. Entre os vários, pelo menos um, com certeza, será do seu agrado. Boa leitura.

Trechos interessantes:

"Do Misterioso, que com tanta frequência envolve o homem nos seus braços invisíveis, nem o mais tênue raio de luz lhe penetra o gélido coração. Ela não vê senão a superfície colorida das coisas do mundo e, tal como a ingênua criancinha, deixa-se fascinar pelo brilho dourado da fruta que na polpa esconde o veneno mortal." (pág. 58)

"Ora, palavras, de que servem as palavras? O seu olhar paradisíaco diz mais do que qualquer idioma. Acaso uma criatura do céu há de se nivelar ao estreito círculo traçado pela precária necessidade terrena?" (pág. 75)

"Como a humanidade não muda, pode-se dizer, como um velho autor, que quanto menos canalhas houver nas galés, mais haverá do lado de fora." (pág. 141)

"Ora essa! Afinal, o que é que é a morte, que a gente deve se espantar tanto?... Considero que a morte não vale um tostão furado! 'Ninguém morre antes da hora!', disse Sêneca, o Trágico. Será que você é o único vassalo dessa dama da foice? Eu também sou, e aquele ali, e um terceiro, um quarto, Martin, Philippe! A morte não tem respeito por ninguém. É tão atrevida que condena, mata, e pega indistintamente papas, imperadores e reis, assim como prebostes, policiais e outros canalhas do gênero." (pág. 168)

"O diabo em sua própria forma é menos hediondo do que quando se alastra no peito do homem." (pág. 181)

"Talvez seja preciso acrescentar que a superstição ilustrada pela história abaixo, ou seja, que o cadáver enterrado por último seja obrigado, durante os primeiros tempos de seu enterro, a fornecer aos irmãos inquilinos do campo-santo onde ele jaz, água fresca para aliviar a sede ardente do purgatório, é recorrente em todo o sul da Irlanda. O escritor garante um caso em que um fazendeiro, poderoso e respeitável, nas fronteiras de Tipperary, enternecido pelos calos de sua finada ajudante, colocou no caixão dela dois pares de tamancos, um pesado e um leve, um para os dias secos, outro para o tempo úmido; procurava, dessa maneira, mitigar o cansaço de suas inevitáveis perambulações em busca de água, administrando-a às almas sedentas do purgatório." (pág. 268)

"Aguarde, não vem tudo de uma vez; aquilo que você não entender agora, há de entender com o passar dos anos." (pág. 344)

"'Você trabalha demais', disse; 'a juventude precisa de diversão, teatro, passeios, amori - há bastante tempo para ser sério, quando se fica careca'." (pág. 375/376)

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Fomos maus alunos

Título: Fomos maus alunos
Autor: Gilberto Dimenstein / Rubem Alves
Páginas: 126

Livro interessante que discute vários aspectos da educação, de uma maneira simples, prazerosa, como se fosse realmente uma conversa entre amigos.

Passa-se o tempo e tudo evolui, não é diferente com a educação. Por mais que se discuta, que se mude, que se experimente, sempre vai haver uma nova visão, uma nova metodologia, um novo recurso... e é isso que faz com que busquemos nos tornar sempre, pessoas melhores. A educação é a chave, sem dúvida.

Trechos interessantes:

"Bruno Bettelheim, já velho, lembrando-se de suas experiências de criança disse que na escola os professores tentavam ensinar-lhe o que ele não queria aprender da forma como eles queriam ensinar." (pág. 8)

"Como jornalista, ganhei todos os prêmios. Ganhei todos os prêmios várias vezes. Depois, ganhei como escritor. Quando comecei a ganhar prêmios, perguntei para mim mesmo: O que deu errado? Que deu errado com as previsões das pessoas que diziam que eu ia dar errado?" (pág. 29)

"Inútil te será levantar de madrugada e te afadigares por todo o dia porque Deus, àqueles que ama, dá enquanto dormem." (pág. 35)

"Penso nos professores que sonham com a aposentadoria. Não são amantes. Somente querem se aposentar os que sofrem com o seu trabalho. Quem tem alma de educador - quem ama ser educador - quer ser educador sempre..." (pág. 48)

"Todas as vezes que você precisa pedir disciplina é porque alguma coisa está errada. Quando o jovem está realmente fascinado pelo objeto, você não precisa pedir. Você não pede a uma criança: Meu filho, vá brincar! Por quê? Porque ele quer brincar." (pág. 68)

"Se tivesse de resumir minha visão sobre educação, diria o seguinte: o educador é o aprendiz há mais tempo e educar é ensinar o encanto da possibilidade." (pág. 82/83)

"Eu ainda acho o seguinte: não é que a criança não goste da escola. Ela não gosta da sala de aula, mas da escola, geralmente, ela gosta." (pág. 91)

"Engraçado que a palavra pedagogo vem do grego. É o escravo que conduz criança. De alguma forma, isso voltou. Porque, pelo salário que o professor recebe, pelo pouco tempo de preparo de aula que tem, ele voltou a ser o escravo que conduz criança." (pág. 101)

"Lichtenberg, que foi um filósofo do século XVIII e amado por Nietzsche e Murilo Mendes, dizia: . Porque é preciso não conhecer para ter vontade de conhecer, de esquecer, de desaprender. Barthes, ao final da sua famosa aula inaugural, disse que se entregava a desaprender tudo o que tinha aprendido. Acho que foi Cassirer que disse que é muito mais difícil desaprender o aprendido do que aprender uma coisa nova. O aprendido se agarra na gente de uma forma terrível e é o aprendido que impede que eu aprenda uma coisa de uma maneira diferente. Então, é preciso desaprender o aprendido." (pág. 107)
Hoje, se criam escolas e faculdades para ensinar os novos saberes. Eu sonho com o dia em que se criarão faculdades para ensinar a antiga ignorância

sexta-feira, 3 de junho de 2016

O vencedor

Título: O vencedor
Autor: Frei Betto
Páginas: 162

Leitura fácil e simples, ideal para adolescentes, ainda mais que o tema é justamente indicado para esta faixa etária. Mário é um rico empresário que só se preocupa com os negócios da empresa. Mônica, sua esposa, só se interessa em manter o corpo em forma. O resultado disso tudo é o filho que, sem apoio de nenhum dos lados, se envereda pelo rumo das drogas.

O livro mostra uma situação possível para diversas famílias brasileiras. De um lado os pais tentando resgatar o filho; do outro o imenso poderio do submundo das drogas.  Teremos um vencedor?

Trechos interessantes:

"Conduzida pelo pai, Mônica, pé ante pé, percorre a nave do templo com um sorriso giocondamente ensaiado. Boneca mecânica, vira a cabeça à direita, à esquerda, olhando a todos sem ver ninguém. Como em toda noiva, o excesso de maquiagem, as ondulações artificiais do cabelo e a pose empertigada encobrem sua beleza natural." (pág. 20)

"Era preciso circular por festas, recepções e eventos, única maneira de chamar a atenção dos colunistas sociais e, por sua vez, dos leitores que respeitam, com resignada admiração, essa gente que supostamente vive num conto de fadas." (pág. 40)

"-É chato ser negro?
-Chato é ter uma irmã imbecil - reagiu Pedro.
-Eu é quem devo responder - cortou Paulão, segurando o braço do amigo, como se quisesse contê-lo. -Não, é ótimo ser negro. Chato é ser discriminado por ser negro." (pág. 45)

"É muito cinismo da minha parte vir, agora, pedir socorro. Mas, sei lá; alguma coisa dentro de mim dá forças para que eu escreva esta carta. Nem que seja para saberem que estou no início do fim." (pág. 127)

"-Somos todos resultados da loteria biológica - diz Quitéria. -Ninguém escolhe nascer onde nasceu. Você podia ter nascido no Borel, na família do Paulão, ou em Vitória no lugar de Clara. Isso é obra do acaso. O injusto é muitos nascerem sem ter o que comer e, outros, com menos fome do que a comida que compram." (pág. 146)

"Em 1885, impelido pelo sucesso do vinho Mariani, John Styth Pemberton, um farmacêutico de Atlanta, lançou um medicamento contra a melancolia, pomposamente intitulado Frech Wine of Coca, Ideal and Tonic Stimulant, hoje conhecido como Coca-Cola.
-Quer dizer que a Coca-Cola contém a mesma matéria-prima da cocaína? - pergunta Mário.
-No início do século vinte, a coca deixou de ser misturada ao produto, mas sua sugestiva presença perdura ainda hoje no nome do mais famoso refrigerante do mundo." (pág. 156)