sexta-feira, 31 de julho de 2020

Boneco de neve

Título: Boneco de neve
Autor: Jo Nesbo
Páginas: 420
 
 Um suspense policial ambientado nas geladas terras norueguesas e que, a julgar pela sinopse, promete ser intenso, interessante e de leitura agradável. Ao cair a primeira neve, a aparição de um boneco de neve é o aviso de que uma mulher foi assassinada e, como de praxe, há um detetive encarregado de elucidar o caso

 A ideia é interessante, mas, na minha opinião, a execução deixa a desejar.  O fato de apresentar um falso suspeito quando o leitor sabe muito bem que não é o assassino soa ridículo. E quando se apresenta duas vezes, então?!! Chega a ser infantil

 Trechos interessantes:

 — O que você acha que torna os noruegueses tão céticos em relação a George Bush, Arve Stop?
— É porque somos um país superprotegido e, embora nunca tenhamos travado nenhuma guerra, ficamos felizes por deixar outros fazerem isso por nós: a Inglaterra, a União Soviética e os Estados Unidos. Sim, desde as guerras napoleônicas estamos nos escondendo atrás de nossos irmãos mais velhos. A Noruega baseou sua segurança na confiança de que outros se responsabilizarão quando as coisas se complicarem. Tem sido assim por tanto tempo que perdemos nosso senso de realidade, acreditando que a Terra é basicamente povoada por gente que nos deseja o bem por sermos o país mais rico do mundo. A Noruega é uma loura tagarela com o cérebro do tamanho de uma ervilha que se perdeu numa ruela do Bronx e que agora se sente indignada porque seu guarda-costas está sendo violento demais com os assaltantes. (pág. 18)

— Aquele casarão, naquele endereço de Oslo, significa que dinheiro não é problema. Ela não teve permissão para trocar o sofá e a mesa de centro dele. E, quando um homem sem bom gosto ou aparente interesse por decoração faz isso, me leva à conclusão sobre quem domina quem. (pág. 42)

— Isto é um celular — começou ele. — Suponho que você deva achar que é uma invenção bastante recente. Mas já em abril de 1973 o pai dos celulares, Martin Cooper, fez a primeira ligação de um telefone móvel para sua mulher em casa. E é claro que ele não fazia ideia de que sua invenção passaria a ser, para a polícia, um dos meios mais importantes para se encontrar pessoas desaparecidas. (pág. 56)

— Peço desculpas caso o tenha interpretado mal — disse ela, embora sua expressão indicasse que ela acreditava que isso era muitíssimo improvável. — A propósito, Martin Cooper não fez a primeira ligação de celular para a mulher dele, mas sim para seu concorrente, Joel Engel, do Bell Laboratories. Você acha que foi para ensinar-lhe algumas coisinhas, Skarre? Ou para se gabar? (pág. 58/59)

— O mundo dos átomos é sinistro.
— De que maneira?
— Quebra nossas leis físicas mais fundamentais. Como aquela que diz que uma coisa não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Nils Bohr disse uma vez que, se você não fica profundamente chocado com a física quântica, não a entendeu. (pág. 107)

— Humm. Pensei que suicídio fosse uma ideia herética para um médico.
— Ninguém sabe melhor do que os médicos o que as doenças podem envolver. Eu concordo com o estoico Zenon, que considerava o suicídio um ato digno quando a doença faz a morte mais atraente do que a vida. Quando ele chegou aos 98 anos, deslocou o dedão do pé. Ficou tão perturbado com isso que foi para casa e se enforcou. (pág. 120)

 — Também tem um porão — disse Katrine, apontando para um alçapão no chão. — Isso é sua área. O que fazemos agora?
— Procuramos — respondeu Harry.
— O quê?
— Essa é a última coisa com o que nos preocupamos.
— Por quê?
— Porque é fácil ignorar algo importante se estiver procurando outra coisa. Esvazie a mente. Vai entender o que está procurando quando se deparar com a coisa. (pág. 168)

Já possuía algumas respostas, mas não todas. Nunca todas. Por exemplo: se maldade e loucura são duas coisas distintas ou se somos apenas nós que decidimos chamar de loucura tudo que está além daquilo que compreendemos como motivo para a destruição. Somos capazes de entender que alguém precisa soltar uma bomba atômica sobre uma cidade de civis inocentes, mas não que outros tenham que retalhar prostitutas que espalham doenças e decadência moral pelos bairros pobres de Londres. Dessa forma, chamamos a primeira situação de realismo, e a segunda, de loucura. (pág. 190)

 — Argumentar contra a crença de que a Terra é redonda não é a mesma coisa que acreditar que ela seja plana. (pág. 208)

— As boas histórias nunca são sobre o sucesso regular, mas sobre as perdas espetaculares — dissera Stop. — Mesmo que Roald Amundsen tenha ganhado a corrida e se tornado o primeiro a chegar ao Polo Sul, é Robert Scott quem é lembrado pelo mundo. Nenhuma batalha ganha de Napoleão é lembrada como a derrota em Waterloo. O orgulho nacionalista sérvio tem por base a batalha contra os turcos em Kosovo Polje em 1389, uma batalha que os sérvios perderam feio. E vejam Jesus! O símbolo do homem que alegam ter vencido a morte devia ser este homem em frente à sepultura com os braços ao céu. Em vez disso, os cristãos sempre preferiam a derrota espetacular; quando ele pendia na cruz, perto de desistir. Porque é sempre a história da perda que mais nos toca. (pág. 250)

— Nesta sala, você está realmente segura. Aqui, ninguém vai te machucar. Aqui dentro você está totalmente segura.
Essa afirmação ia, de acordo com o manual, tranquilizar uma pessoa psicótica. Porque uma psicose se tratava, primordialmente, de um medo sem limites. Kjersti Rodsmoen sentiu-se como uma aeromoça passando as instruções de segurança antes de decolar. De modo mecânico e rotineiro. Mesmo em rotas que cruzam os desertos mais secos, demonstra-se o uso de coletes salva-vidas. Porque isso manifesta o que os passageiros querem ouvir: você tem direito de sentir medo, mas nós cuidaremos de você. (pág. 336)

— Sabe o que quer dizer camicase?
Harry trocou o peso do pé.
— Ser japonês e ter sofrido uma lavagem cerebral para chocar seu avião contra um porta-aviões americano?
— Era o que eu achava também. Mas Gunnar Hagen conta que os japoneses nunca usaram essa palavra, e que os decifradores de códigos do Exército norte-americano interpretaram aquilo errado. Camicase é o nome de um tufão que salvou os japoneses numa batalha contra os mongóis em alguma ocasião no século XII. Traduzido ao pé da letra quer dizer “vento divino”. (pág. 347)

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