Autor: Steven James
Páginas: 534
Patric Bowers, um agente do FBI, está ás voltas com um caso difícil: o
assassinato da filha de um deputado. Como se não bastasse, ainda tem que se
preocupar com sua filha de criação, cujo pai biológico está tentando tomar a
guarda e ainda seu relacionamento pessoal com duas colegas de trabalho.
Como se vê o livro é pura adrenalina. Do começo ao fim, tudo está
sempre por um fio. O livro segue o mesmo padrão dos outros da série e, para
quem gosta do estilo, não poderia esperar por menos.
Trechos interessantes:
Tendo passado seis anos como detetive de homicídios e os últimos nove
como criminologista do FBI, eu já tinha investigado centenas de homicídios, mas
nunca fui capaz de olhar para os cadáveres com objetividade criminológica. Toda
vez que vejo um, penso na fragilidade da vida. Na tênue linha que separa os
vivos dos mortos – o fluxo de um momento, a amplitude de eternidade contida
numa única e delicada batida de um coração. E lembrei-me das vezes que tive de
contar para familiares que havíamos encontrado seus entes queridos, mas que “suas
condições eram comprovadamente fatais”, que “havíamos chegado tarde demais para
salvá-los”, ou que “havíamos feito tudo que podíamos mas eles não sobreviveram”.
Banalidades cuidadosamente ditas para suavizar o choque. (pág. 17)
A verdade da vida é tão dura, tão brutal, que fazemos tudo que podemos
para ignorá-la: nós nascemos, lutamos, perduramos, morremos, e nada resta para
mostrar que estivemos aqui além de algumas poucas marcas, alguns bens pelos
quais as pessoas deixadas para trás brigam entre si, e então todo mundo segue
em frente.
Do pó ao pó.
Das cinzas às cinzas.
A sombria poesia da existência. (pág. 19/20)
—Estamos procurando por pistas — eu disse. – Motivo não é uma pista.
Na melhor das hipóteses é uma evidência circunstancial, e anda assim é
discutível.
—Como assim, motivo não é uma pista? – Anderson perguntou ceticamente.
– Lá vamos nós – Ralph grunhiu.
A fechadura estava me dando trabalho, e isso estava me irritando.
Eu não estava com humor para isso.
–Não há como provar que uma pessoa teve um motivo específico em um
momento específico, e não há motivo nem para tentar: nosso sistema de justiça
não exige uma demonstração de motivo para conseguir uma condenação por qualquer
crime previsto na lei. Júris gostam disso, mas é uma enganação porque tentar
descobrir motivos é um jogo de adivinhação que você nunca sabe se ganhou.
Investigadores deveriam lidar com fatos, e não com conjecturas. (pág. 66/67)
Todas as evidências circunstanciais apontam para Mahan, mas quando
todas as evidências apontam para um lado, normalmente é uma boa ideia começar a
procurar pelo outro; caso contrário você acaba acidentalmente confirmando suas
suposições em vez de tentar refutá-las vigorosamente. (pág. 72)
- Pensei que você acreditava era Deus, e ainda assim você lê
Nietzsche? O homem que disse que “Deus está morto”?
—Você pode encontrar flores mesmo em um campo de ervas daninhas. (pág.
94)
A maioria das esculturas era completamente idiota: esforçavam-se demais
para dizer muito, ou eram tão esotéricas que falhavam em passar qualquer
mensagem. No último caso, a equipe do museu havia colocado pequenas placas ao
lado das esculturas descrevendo por que o artista as fez, o que estava
acontecendo em sua vida e o que a escultura deveria significar.
Eram muito úteis.
Mas o fato é que, arte verdadeira, arte real, não precisa de
explicação. Não existe um epílogo no final de um romance dizendo a você o que a
história significa. Nem comentários no fim de uma sinfonia explicando o que o
compositor estava tentando comunicar com aquelas notas específicas. Nenhuma
nota de rodapé esclarecendo o significado de poemas – pelo menos nenhuma que
valha a pena ler. A arte ou se sustenta por si mesma, ou não se sustenta. Assim
que é necessário ser explicada, ela deixa de ser arte. (pág. 123)
— Chimpanzés podem ser ensinados a usar frações – a dra. Risel
continuou, entusiasmada. – Leões-marinhos entendem relações de equivalência e
lógica básica. Muitas espécies de primatas vivem em sociedades complexas e
competem, cooperam, enganam e manipulam um ao outro, assim como humanos. Eles
têm disputas de poder, classes privilegiadas, formam alianças, fazem barganhas
e criam redes de contatos para se beneficiarem. A maioria dos meus colegas acredita
que por causa disso exista política no mundo animal, pelo menos num estado
primitivo. (pág. 276/277)
Enquanto as pessoas passavam pelas portas giratórias na entrada
principal, um pensamento lhe veio à mente: para
fora da jaula, para dentro do mundo.
No inverno passado, Patrick a levou para Johannesburgo, na África do
Sul, enquanto ele apresentava um seminário de três dias no Conselho do Simpósio
dos Analistas Criminais das Áfricas, e ela reparou que em uma das cidades mais
violentas do mundo, as classes mais altas vivem patrulhadas por guardas
armados, com suas casas protegidas por cercas elétricas, sistemas de segurança,
cães de guarda e janelas e portas com grades.
Quando Patrick perguntou o que ela achou da cidade, ela respondeu:
— As pessoas livres vivem atrás de grades e os criminosos podem andar
livres. (pág. 287)
— Tessa, tento que admitir que não conheço Hamlet tão bem quanto você.
— Polônio é um bobo da corte que sempre se mete em encrenca quando
segue seu coração, quando ele realmente é fiel a si mesmo. Quando fez com que
ele dissesse a frase, Shakespeare estava deixando subentendido o quão absurdo o
conselho é. Shakespeare não era burro. Ele estava alertando as pessoas a não
serem verdadeiras consigo mesmas, e não dizendo a elas para fazerem isso. Ele
entendia a natureza humana melhor que praticamente qualquer outro autor na
história. – Então ela acrescentou: — Com exceção, talvez, de Poe. (pág. 324)
— No entanto, vocês sabem que algumas feministas discutem que os
papéis masculino e feminino são simplesmente construções sociais e não traços
psicológicos.
– Então elas estão ignorando a pesquisa – Cheyenne balançou a cabeça. –
Mas isso não é surpresa. Em uma das mais trágicas ironias do século XX, as
feministas nunca lutaram para as mulheres serem mais femininas.
–O que você quer dizer?
– Em vez de celebrar o que significa ser mulher, ser feminina, ser uma
mulher poderosa, elas lutaram para mulheres agirem e serem tratadas como
homens. Por isso eu as chamo de masculinistas.
– Você chama as feministas de masculinistas? – perguntei.
— Isso mesmo.
Ela deve ter percebido a surpresa em nossos rostos porque ela
prosseguiu explicando:
-- Sim. Masculinistas. Porque em sua luta por mais direitos, elas
acabaram desvalorizando o que significa ser uma mulher e emulando as mesmas
coisas elas mais criticavam nos homens: imperialismo, crise de identidade,
propagandismo militarista, competição desumanizadora, carreirismo. (pág. 331)
— Solidão e adversidade – ele disse suavemente. – Essas são as duas
coisas que nos levam à sabedoria. Silêncio suficiente para facilitar a reflexão
sobre o sentido da vida, dor suficiente para nos fazer considerar a brevidade da
vida. Silêncio e sofrimento.
Brad ainda estava com as duas mãos apoiadas sobre o balcão, e o olhar de
Juarez oscilava entre as mãos e o rosto de Brad. Ele trocou a perna apoio.
— E ainda assim, todo avanço tecnológico é mais uma tentativa desesperada
de afastar o silêncio ou a dor de nossas vidas. Nossa sociedade está constantemente
tentando se curar das duas coisas de que mais precisamos. Isso parece
civilizado para você? (pág. 338)
— [...] Um deve ser mais dominante, quase com certeza o homem, mas
ambos são narcisistas e possuem uma imensa autoestima doentia.
— Espere um minuto – um policial na segunda fileira disse. —Você disse
imensa autoestima? Não deveria ser baixa autoestima?
— A estima incorpora amor e respeito – ela respondeu —, mas as únicas pessoas
a quem esses assassinos estimam, valorizam ou amam são a si próprios. Eles
buscam apenas seu próprio prazer, ligam apenas para seu próprio futuro. Ao
contrário da crença popular, quase não se tem notícia de uma pessoa que comete
um crime porque tem baixa autoestima ou porque “não se sente bem o suficiente
consigo mesma”. Pessoas que matam, roubam, estupram... ou mesmo que ultrapassam
o imite de velocidade... fazem isso porque colocam seus próprios desejos e
necessidades acima das outras pessoas. (pág. 390/391)
Afinal, a seleção natural requer a morte dos mais fracos para o bem da
espécie, então por que lutar contra isso?
O que é bom para a espécie é bom.
O que é ruim para a espécie é ruim.
Deixar vítimas da aids ou crianças famintas na África morrerem seria
moral. Assim como realizar eutanásia nos doentes mentais ou terminais. E como
garotas adolescentes são mais propensas a se reproduzirem, a reprodução
seletiva e a cópula forçada com garotas adolescentes que exibem características
genéticas desejáveis seriam aceitáveis, até mesmo desejáveis para a espécie.
(pág. 407/408)
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