Autor: Mickael Launay
Páginas: 264
Quem diria que a Matemática pudesse ser explicada em linguagem simples
e de forma acessível à maior parte da população! Pois bem, esta é a proposta
deste livro. E devo dizer que o autor cumpriu seu objetivo. O livro faz um
passeio pelos caminhos da Matemática, desde suas origens até os dias atuais,
mostrando que assunto não é tão nebuloso como a maioria acredita.
Claro que há ramos da Matemática que demandam um conhecimento mais
profundo para entendê-los, mas, para as situações cotidianas, há sempre uma
maneira fácil e prática de compreendê-la. Através de histórias e aspectos
recreativos, o autor demonstra que todos usam a matemática diariamente, muitas
vezes, sem saber. Mesmo que você não goste de Matemática, após a leitura, vai
vê-la com outros olhos.
Trechos interessantes:
Meados de 5.000 a.C. Ainda estamos na pré-história. Mais de mil anos
antes da invenção da escrita, os oleiros mesopotâmicos já tinham listado, sem sabê-lo,
todos os casos de um teorema que só seria enunciado e demonstrado seis mil anos
depois. (pág. 17)
O tempo passou, e agora estamos no início do terceiro milênio a.C.
Mais uma etapa foi vencida: o número se libertou do objeto que conta! Antes,
com as bolas-invólucro e as primeiras tabuletas, os símbolos de contagem
dependiam dos objetos em vista. Um carneiro não é uma vaca, de modo que o
símbolo para contar um carneiro não era o mesmo que contava uma vaca. E cada
objeto suscetível de ser contado tinha seus próprios símbolos, assim como
tivera suas próprias fichas.
Mas tudo isso agora terminou. Os números adquiriram seus próprios símbolos.
Em suma, para contar oito carneiros, não são mais usados oito símbolos
designando carneiros, mas é escrito o número oito, seguido do símbolo do
carneiro. E para contar oito vacas, basta substituir o símbolo do carneiro pelo
símbolo da vaca. Já o número continua o mesmo. (pág. 29)
Teeteto se interessou particularmente pelos poliedros de simetria
perfeita, ou seja, aqueles que têm todas as faces e todos os ângulos iguais. E
sua descoberta é no mínimo desconcertante; ele encontrou apenas cinco,
demonstrando que não existem outros. Cinco sólidos, e pronto! Nem um a mais.
Ainda hoje costuma-se designar os poliedros pelo número de faces, em
grego antigo, seguido do sufixo –edro.
Assim, o cubo, com suas seis faces quadradas, tem em geometria o nome de
hexaedro. 0 tetraedro, o octaedro, o dodecaedro e o icosaedro têm
respectivamente quatro, oito, doze e vinte faces. Posteriormente, esses cinco
poliedros passariam a ser conhecidos como os sólidos de Platão.
De Platão? E por que não de Teeteto? A história às vezes é injusta, e
os descobridores nem sempre são aqueles que recebem as homenagens da
posteridade. O filósofo ateniense não tem nada a ver com a descoberta dos cinco
sólidos, mas os celebrizou com uma teoria que os associa aos elementos do
cosmo: o fogo é associado ao tetraedro; a terra, ao hexaedro; o ar, ao
octaedro; e a água, ao icosaedro. Quanto ao dodecaedro, com suas faces
pentagonais, Platão afirmava que se tratava da forma do Universo. Essa teoria
há muito foi abandonada pela ciência, e, no entanto, ainda hoje é a Platão que
se costuma associar os cinco poliedros regulares. (pág. 53/54)
£ na cidade de Mileto, no litoral sudoeste da atual Turquia, que nasce
no fim do século VII, o primeiro grande matemático grego: Tales. Não obstante
as muitas fontes em que é mencionado, é difícil hoje em dia obter informações
confiáveis sobre sua vida e suas obras. Como no caso de muitos eruditos dessa
época, várias lendas seriam forjadas após sua morte por discípulos zelosos
demais, de tal maneira que se tornou difícil distinguir o verdadeiro do falso.
Os cientistas dessa época não se preocupavam muito com limites éticos, e não
era raro que dessem um jeito de contornar a verdade quando ela não se mostrava
muito a seu gosto. (pág. 60/61)
Um paradoxo é algo que deveria funcionar, mas não funciona. Uma
contradição aparentemente insolúvel. Um raciocínio que parece perfeitamente justo,
mas, apesar disso, conduz a um resultado completamente absurdo. Imagine só se
você estabelecesse uma lista de axiomas que lie parecessem incontestáveis,
porém ainda assim viesse a deduzir deles teoremas evidentemente falsos. Um
pesadelo!
Um dos mais famosos paradoxos foi atribuído a Eubulides de Mileto,
envolvendo uma declaração do poeta Epimênides. Este teria afirmado certa vez: “Os
cretenses são mentirosos. ” O problema é que o próprio Epimênides era de Creta!
Em consequência, se o que ele diz é verdade, trata-se de um mentiroso... Logo,
o que ele diz é falso. Mas se, pelo contrário, sua frase é falsa, então ele
está mentindo, e a frase de fato diz a verdade! (pág. 76/77)
Pouco adiante, um programa propõe aos visitantes buscar as primeiras
ocorrências de sua data de nascimento na série dos decimais. Um rapaz está
fazendo a experiência: ele nasceu no dia 25 de setembro de 1994.0 resultado não
demora; a sequência 25091994 aparece no número π a partir do 12.785.022º
decimal. Os matemáticos conjecturaram que todas as sequências de algarismos,
por mais longas, aparecem em algum momento nos decimais de π. As simulações
informáticas parecem confirmá-lo: até agora, todas as sequências buscadas
acabaram sendo encontradas. Mas ninguém ainda foi capaz de fazer a demonstração
incontestável de que isso sempre acontece. (pág. 83)
Em outras palavras, multiplicar por 0,5 é o mesmo que dividir por
dois. E o mesmo princípio se aplica a muitos outros números. Multiplicar por 0,25
é dividir por 4; multiplicar por 0,1 é dividir por 10, e assim por diante.
A explicação é convincente, mas sua conclusão nem por isso deixa de
ter um lado desconcertante: a palavra “multiplicação” não significa exatamente
a mesma coisa quando é aplicada em matemática ou na linguagem corrente. Na vida
cotidiana, quem haveria de dizer que multiplicou a área de seu próprio jardim
depois de vender a metade dele? Quem afirmaria que sua fortuna se multiplicou
depois de perder 50% dela? Desse ponto de vista, a multiplicação dos pães vem a
ser um milagre ao alcance de qualquer um: basta comer a metade, e pronto. (pág.
99)
A língua utiliza estruturas diferentes para o caso de uma coisa ser ou
não ser. Afirmação: “Eu caminhei em Marte. ” Negação: “Eu não caminhei em Marte.
” Já a matemática apaga essas diferenças para juntá-las numa única fórmula. “Eu
caminhei certo número de vezes em Marte. ” Esse número pode ser zero. (pág.
100)
Servir para alguma coisa foi a primeira razão da matemática. Os
números são úteis porque permitem contar e comerciar. A geometria permite medir
o mundo. A álgebra permite resolver problemas da vida cotidiana. (pág. 152)
Tomemos a mais conhecida de todas as fórmulas: E = mc2. Essa igualdade,
estabelecida por Albert Einstein, fornece uma relação entre a massa e a energia
de objetos físicos. Não vamos aqui explicar a aplicação da fórmula, não é nosso
objetivo. Mas pense no seguinte: esse princípio, em geral considerado um dos
mais fascinantes e profundos do funcionamento do nosso Universo, se expressa numa
fórmula algébrica de apenas cinco símbolos! Não é um prodígio? Atribui-se em
geral a Einstein a frase que resume o caráter estarrecedor da situação: “O que
há de mais incompreensível no Universo é que ele seja compreensível. ”
Compreensível entenda-se, pela matemática. (pág. 186)
Não é de hoje que o acaso é objeto de fascínio. Desde a pré-história,
os seres humanos observaram a infinidade de fenômenos sem explicação,
irregulares, sem causas aparentes, que lhe eram oferecidos pela natureza. Numa
primeira etapa, a culpa era atribuída aos deuses. Eclipses, arco-íris,
terremotos, epidemias, cometas ou enchentes excepcionais dos rios eram
manifestações interpretadas como mensagens divinas endereçadas a quem fosse
capaz de decifrá-las. Da missão foram incumbidos feiticeiros, oráculos,
sacerdotes e xamãs que, diante da necessidade de ganhar a vida, aproveitaram
para desenvolver todo um repertório de rituais destinados a interrogar os
deuses, para não precisar esperar que eles se prestassem a se manifestar por
livre e espontânea vontade. Em outras palavras, os homens começaram a imaginar
meios de criar o aleatório de acordo com a demanda. (pág. 203)
Resumindo, eis o que afirma a lei dos grandes números: ao se repetir
indefinidamente uma experiência aleatória, a média dos resultados obtidos vai
se aproximar inevitavelmente de um valor-limite que nada mais tem de aleatório.
(pág. 209)
A sequência de instruções dadas a uma máquina para chegar a um
resultado chama-se algoritmo, deformação latina da palavra al-Khwarizmi. Cabe
lembrar que os algoritmos informáticos se inspiram amplamente em procedimentos
de resolução de problemas já conhecidos dos antigos. Como sabemos,
al-Khwarizmi, em seu al-jabr, não só
considerava objetos matemáticos abstratos como também fornecia métodos práticos
que permitiam aos cidadãos de Bagdá encontrar solução para seus problemas, sem
necessariamente ter compreendido toda a teoria. Da mesma forma, um computador não
precisa que lhe seja explicada a teoria, que de qualquer maneira ele seria
incapaz de entender. Precisa apenas que lhe seja indicado quais cálculos devem
ser feitos e em qual ordem. (pág. 227)
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