terça-feira, 24 de setembro de 2019

e-mail


Título: e-mail
Autor: Matt Beaumont
Páginas: 388

Como o título já “entrega”, todo o livro é um amontoado de notas de e-mail de uma empresa de publicidade. Desde o presidente até o funcionário mais humilde, todos resolvem “descascar os seus abacaxis” usando o e-mail. No fundo, é todo mundo querendo se dar bem, acusando o outro e arrotando poder e prepotência. Em suma, o dia-a-dia normal de qualquer empresa.

O livro é muito irônico e é impossível não se identificar (ou alguns colegas) com algum personagem do livro. Na verdade, é o que acontece no mundo real, apenas mais floreado. Uma boa leitura, com certeza.

Trechos interessantes:

Hoje é o meu primeiro dia de trabalho de um novo século. Se essa bandalha continuar, vou ter o maior prazer em fazer jus à minha fama de pavio curto. Eu me pauto por aquele princípio testado e aprovado: “Os últimos a chegar serão os primeiros a sair” (segundo o qual vocês figurariam em quinto lugar na minha lista). (pág. 29)

Se por acaso entrarem no segundo reservado do banheiro dos homens no andar do departamento de criação, por favor não deem descarga na privada. O Livro dos Recordes Mundiais já foi notificado. (pág. 44)

Como se já não bastasse a merda metafórica que está circulando neste escritório hoje, temos uma superabundância da legítima no banheiro dos executivos. As privadas estão entupidas e transbordando. Mande o pessoal da manutenção desentupi-las enquanto eu estiver almoçando. Se não for possível, faça isso você mesma. (pág. 75)

Vou trabalhar durante o horário de almoço hoje. Você pode se redimir pela sua estreia catastrófica agora de manhã comprando para mim um sanduíche (queijo, alface e maionese num coiozinho), um saco de batatinhas sabor queijo e cebola, uma Coca diet, uma barra de cereal e uma de chocolate bem grande. E anda logo. Não sou um cara legal quando estou com fome. (pág. 192)

Onde é que você está, porra? Aliás, para ser mais exato, onde é que está o meu sanduíche, porra? Você tem muita, muita sorte por não ser um bucho como a sua predecessora, Fiona Craigie, ou a esta altura estaria passando mais tempo em casa diante da televisão. (pág. 195)

Eu escreveria diretamente para o CPD, mas aqueles póias são de uma inépcia tamanha que chego a desconfiar que não existem. Agora meus e-mails estão indo não só para a Finlândia, como para cada funcionário da rede Miller Shanks. Se não me falha a memória, segundo o último relatório anual, eles são mais de 15.000. E parece que cada um desses filhos-da-mãe que se amarra num teclado resolveu me responder. Estou incumbindo você da missão de resolver esse problema AGORA, antes que eu, em pessoa, saia pelo prédio afora baixando uma marreta em cada computador e abasteça todos os funcionários, do primeiro ao último, com pergaminhos, penas de ganso e pombos-correio. (pág. 207)

Você tem toda razão. Seria um perigo despedir Douglas enquanto ele está do outro lado do mundo e não temos nenhum controle sobre ele. O pontapé vai esperar até as 9:00 da segunda. Prepare a carta e, aproveitando o embalo, a advertência por escrito para Topowlski também. Como a vida é estranha! Um nasce com a bunda virada para a lua. Enquanto o outro nasce com a bunda virada para a sola do meu sapato. (pág. 280)

Sorte a sua que o homem que acabou de te flagrar com a bunda espinhenta em pleno vaivém é da Terra das Saunas Mistas e achou o episódio saudável e comovente, podia muito bem ter sido o outro estrangeiro que temos entre nós— o que estaria exercendo o seu direito constitucional de portar armas, se não fosse pelos raios-X do aeroporto. Já que insiste em transar no escritório, vê se aprende a ter um mínimo de discrição e tranca a porta por dentro. Ou procura um armário de vassouras. (pág. 355)

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

A fascinante história da Matemática


Título: A fascinante história da Matemática
Autor: Mickael Launay
Páginas: 264

Quem diria que a Matemática pudesse ser explicada em linguagem simples e de forma acessível à maior parte da população! Pois bem, esta é a proposta deste livro. E devo dizer que o autor cumpriu seu objetivo. O livro faz um passeio pelos caminhos da Matemática, desde suas origens até os dias atuais, mostrando que assunto não é tão nebuloso como a maioria acredita.

Claro que há ramos da Matemática que demandam um conhecimento mais profundo para entendê-los, mas, para as situações cotidianas, há sempre uma maneira fácil e prática de compreendê-la. Através de histórias e aspectos recreativos, o autor demonstra que todos usam a matemática diariamente, muitas vezes, sem saber. Mesmo que você não goste de Matemática, após a leitura, vai vê-la com outros olhos.

Trechos interessantes:

Meados de 5.000 a.C. Ainda estamos na pré-história. Mais de mil anos antes da invenção da escrita, os oleiros mesopotâmicos já tinham listado, sem sabê-lo, todos os casos de um teorema que só seria enunciado e demonstrado seis mil anos depois. (pág. 17)

O tempo passou, e agora estamos no início do terceiro milênio a.C. Mais uma etapa foi vencida: o número se libertou do objeto que conta! Antes, com as bolas-invólucro e as primeiras tabuletas, os símbolos de contagem dependiam dos objetos em vista. Um carneiro não é uma vaca, de modo que o símbolo para contar um carneiro não era o mesmo que contava uma vaca. E cada objeto suscetível de ser contado tinha seus próprios símbolos, assim como tivera suas próprias fichas.
Mas tudo isso agora terminou. Os números adquiriram seus próprios símbolos. Em suma, para contar oito carneiros, não são mais usados oito símbolos designando carneiros, mas é escrito o número oito, seguido do símbolo do carneiro. E para contar oito vacas, basta substituir o símbolo do carneiro pelo símbolo da vaca. Já o número continua o mesmo. (pág. 29)

Teeteto se interessou particularmente pelos poliedros de simetria perfeita, ou seja, aqueles que têm todas as faces e todos os ângulos iguais. E sua descoberta é no mínimo desconcertante; ele encontrou apenas cinco, demonstrando que não existem outros. Cinco sólidos, e pronto! Nem um a mais.
Ainda hoje costuma-se designar os poliedros pelo número de faces, em grego antigo, seguido do sufixo –edro. Assim, o cubo, com suas seis faces quadradas, tem em geometria o nome de hexaedro. 0 tetraedro, o octaedro, o dodecaedro e o icosaedro têm respectivamente quatro, oito, doze e vinte faces. Posteriormente, esses cinco poliedros passariam a ser conhecidos como os sólidos de Platão.
De Platão? E por que não de Teeteto? A história às vezes é injusta, e os descobridores nem sempre são aqueles que recebem as homenagens da posteridade. O filósofo ateniense não tem nada a ver com a descoberta dos cinco sólidos, mas os celebrizou com uma teoria que os associa aos elementos do cosmo: o fogo é associado ao tetraedro; a terra, ao hexaedro; o ar, ao octaedro; e a água, ao icosaedro. Quanto ao dodecaedro, com suas faces pentagonais, Platão afirmava que se tratava da forma do Universo. Essa teoria há muito foi abandonada pela ciência, e, no entanto, ainda hoje é a Platão que se costuma associar os cinco poliedros regulares. (pág. 53/54)

£ na cidade de Mileto, no litoral sudoeste da atual Turquia, que nasce no fim do século VII, o primeiro grande matemático grego: Tales. Não obstante as muitas fontes em que é mencionado, é difícil hoje em dia obter informações confiáveis sobre sua vida e suas obras. Como no caso de muitos eruditos dessa época, várias lendas seriam forjadas após sua morte por discípulos zelosos demais, de tal maneira que se tornou difícil distinguir o verdadeiro do falso. Os cientistas dessa época não se preocupavam muito com limites éticos, e não era raro que dessem um jeito de contornar a verdade quando ela não se mostrava muito a seu gosto. (pág. 60/61)

Um paradoxo é algo que deveria funcionar, mas não funciona. Uma contradição aparentemente insolúvel. Um raciocínio que parece perfeitamente justo, mas, apesar disso, conduz a um resultado completamente absurdo. Imagine só se você estabelecesse uma lista de axiomas que lie parecessem incontestáveis, porém ainda assim viesse a deduzir deles teoremas evidentemente falsos. Um pesadelo!
Um dos mais famosos paradoxos foi atribuído a Eubulides de Mileto, envolvendo uma declaração do poeta Epimênides. Este teria afirmado certa vez: “Os cretenses são mentirosos. ” O problema é que o próprio Epimênides era de Creta! Em consequência, se o que ele diz é verdade, trata-se de um mentiroso... Logo, o que ele diz é falso. Mas se, pelo contrário, sua frase é falsa, então ele está mentindo, e a frase de fato diz a verdade! (pág. 76/77)

Pouco adiante, um programa propõe aos visitantes buscar as primeiras ocorrências de sua data de nascimento na série dos decimais. Um rapaz está fazendo a experiência: ele nasceu no dia 25 de setembro de 1994.0 resultado não demora; a sequência 25091994 aparece no número π a partir do 12.785.022º decimal. Os matemáticos conjecturaram que todas as sequências de algarismos, por mais longas, aparecem em algum momento nos decimais de π. As simulações informáticas parecem confirmá-lo: até agora, todas as sequências buscadas acabaram sendo encontradas. Mas ninguém ainda foi capaz de fazer a demonstração incontestável de que isso sempre acontece. (pág. 83)



Em outras palavras, multiplicar por 0,5 é o mesmo que dividir por dois. E o mesmo princípio se aplica a muitos outros números. Multiplicar por 0,25 é dividir por 4; multiplicar por 0,1 é dividir por 10, e assim por diante.
A explicação é convincente, mas sua conclusão nem por isso deixa de ter um lado desconcertante: a palavra “multiplicação” não significa exatamente a mesma coisa quando é aplicada em matemática ou na linguagem corrente. Na vida cotidiana, quem haveria de dizer que multiplicou a área de seu próprio jardim depois de vender a metade dele? Quem afirmaria que sua fortuna se multiplicou depois de perder 50% dela? Desse ponto de vista, a multiplicação dos pães vem a ser um milagre ao alcance de qualquer um: basta comer a metade, e pronto. (pág. 99)

A língua utiliza estruturas diferentes para o caso de uma coisa ser ou não ser. Afirmação: “Eu caminhei em Marte. ” Negação: “Eu não caminhei em Marte. ” Já a matemática apaga essas diferenças para juntá-las numa única fórmula. “Eu caminhei certo número de vezes em Marte. ” Esse número pode ser zero. (pág. 100)

Servir para alguma coisa foi a primeira razão da matemática. Os números são úteis porque permitem contar e comerciar. A geometria permite medir o mundo. A álgebra permite resolver problemas da vida cotidiana. (pág. 152)

Tomemos a mais conhecida de todas as fórmulas: E = mc2. Essa igualdade, estabelecida por Albert Einstein, fornece uma relação entre a massa e a energia de objetos físicos. Não vamos aqui explicar a aplicação da fórmula, não é nosso objetivo. Mas pense no seguinte: esse princípio, em geral considerado um dos mais fascinantes e profundos do funcionamento do nosso Universo, se expressa numa fórmula algébrica de apenas cinco símbolos! Não é um prodígio? Atribui-se em geral a Einstein a frase que resume o caráter estarrecedor da situação: “O que há de mais incompreensível no Universo é que ele seja compreensível. ” Compreensível entenda-se, pela matemática. (pág. 186)

Não é de hoje que o acaso é objeto de fascínio. Desde a pré-história, os seres humanos observaram a infinidade de fenômenos sem explicação, irregulares, sem causas aparentes, que lhe eram oferecidos pela natureza. Numa primeira etapa, a culpa era atribuída aos deuses. Eclipses, arco-íris, terremotos, epidemias, cometas ou enchentes excepcionais dos rios eram manifestações interpretadas como mensagens divinas endereçadas a quem fosse capaz de decifrá-las. Da missão foram incumbidos feiticeiros, oráculos, sacerdotes e xamãs que, diante da necessidade de ganhar a vida, aproveitaram para desenvolver todo um repertório de rituais destinados a interrogar os deuses, para não precisar esperar que eles se prestassem a se manifestar por livre e espontânea vontade. Em outras palavras, os homens começaram a imaginar meios de criar o aleatório de acordo com a demanda. (pág. 203)

Resumindo, eis o que afirma a lei dos grandes números: ao se repetir indefinidamente uma experiência aleatória, a média dos resultados obtidos vai se aproximar inevitavelmente de um valor-limite que nada mais tem de aleatório. (pág. 209)

A sequência de instruções dadas a uma máquina para chegar a um resultado chama-se algoritmo, deformação latina da palavra al-Khwarizmi. Cabe lembrar que os algoritmos informáticos se inspiram amplamente em procedimentos de resolução de problemas já conhecidos dos antigos. Como sabemos, al-Khwarizmi, em seu al-jabr, não só considerava objetos matemáticos abstratos como também fornecia métodos práticos que permitiam aos cidadãos de Bagdá encontrar solução para seus problemas, sem necessariamente ter compreendido toda a teoria. Da mesma forma, um computador não precisa que lhe seja explicada a teoria, que de qualquer maneira ele seria incapaz de entender. Precisa apenas que lhe seja indicado quais cálculos devem ser feitos e em qual ordem. (pág. 227)

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

O bispo


Título: O bispo
Autor: Steven James
Páginas: 534

Patric Bowers, um agente do FBI, está ás voltas com um caso difícil: o assassinato da filha de um deputado. Como se não bastasse, ainda tem que se preocupar com sua filha de criação, cujo pai biológico está tentando tomar a guarda e ainda seu relacionamento pessoal com duas colegas de trabalho.

Como se vê o livro é pura adrenalina. Do começo ao fim, tudo está sempre por um fio. O livro segue o mesmo padrão dos outros da série e, para quem gosta do estilo, não poderia esperar por menos.

Trechos interessantes:

Tendo passado seis anos como detetive de homicídios e os últimos nove como criminologista do FBI, eu já tinha investigado centenas de homicídios, mas nunca fui capaz de olhar para os cadáveres com objetividade criminológica. Toda vez que vejo um, penso na fragilidade da vida. Na tênue linha que separa os vivos dos mortos – o fluxo de um momento, a amplitude de eternidade contida numa única e delicada batida de um coração. E lembrei-me das vezes que tive de contar para familiares que havíamos encontrado seus entes queridos, mas que “suas condições eram comprovadamente fatais”, que “havíamos chegado tarde demais para salvá-los”, ou que “havíamos feito tudo que podíamos mas eles não sobreviveram”. Banalidades cuidadosamente ditas para suavizar o choque. (pág. 17)

A verdade da vida é tão dura, tão brutal, que fazemos tudo que podemos para ignorá-la: nós nascemos, lutamos, perduramos, morremos, e nada resta para mostrar que estivemos aqui além de algumas poucas marcas, alguns bens pelos quais as pessoas deixadas para trás brigam entre si, e então todo mundo segue em frente.
Do pó ao pó.
Das cinzas às cinzas.
A sombria poesia da existência. (pág. 19/20)

—Estamos procurando por pistas — eu disse. – Motivo não é uma pista. Na melhor das hipóteses é uma evidência circunstancial, e anda assim é discutível.
—Como assim, motivo não é uma pista? – Anderson perguntou ceticamente.
– Lá vamos nós – Ralph grunhiu.
A fechadura estava me dando trabalho, e isso estava me irritando.
Eu não estava com humor para isso.
–Não há como provar que uma pessoa teve um motivo específico em um momento específico, e não há motivo nem para tentar: nosso sistema de justiça não exige uma demonstração de motivo para conseguir uma condenação por qualquer crime previsto na lei. Júris gostam disso, mas é uma enganação porque tentar descobrir motivos é um jogo de adivinhação que você nunca sabe se ganhou. Investigadores deveriam lidar com fatos, e não com conjecturas. (pág. 66/67)

Todas as evidências circunstanciais apontam para Mahan, mas quando todas as evidências apontam para um lado, normalmente é uma boa ideia começar a procurar pelo outro; caso contrário você acaba acidentalmente confirmando suas suposições em vez de tentar refutá-las vigorosamente. (pág. 72)

- Pensei que você acreditava era Deus, e ainda assim você lê Nietzsche? O homem que disse que “Deus está morto”?
—Você pode encontrar flores mesmo em um campo de ervas daninhas. (pág. 94)

A maioria das esculturas era completamente idiota: esforçavam-se demais para dizer muito, ou eram tão esotéricas que falhavam em passar qualquer mensagem. No último caso, a equipe do museu havia colocado pequenas placas ao lado das esculturas descrevendo por que o artista as fez, o que estava acontecendo em sua vida e o que a escultura deveria significar.
Eram muito úteis.
Mas o fato é que, arte verdadeira, arte real, não precisa de explicação. Não existe um epílogo no final de um romance dizendo a você o que a história significa. Nem comentários no fim de uma sinfonia explicando o que o compositor estava tentando comunicar com aquelas notas específicas. Nenhuma nota de rodapé esclarecendo o significado de poemas – pelo menos nenhuma que valha a pena ler. A arte ou se sustenta por si mesma, ou não se sustenta. Assim que é necessário ser explicada, ela deixa de ser arte. (pág. 123)

— Chimpanzés podem ser ensinados a usar frações – a dra. Risel continuou, entusiasmada. – Leões-marinhos entendem relações de equivalência e lógica básica. Muitas espécies de primatas vivem em sociedades complexas e competem, cooperam, enganam e manipulam um ao outro, assim como humanos. Eles têm disputas de poder, classes privilegiadas, formam alianças, fazem barganhas e criam redes de contatos para se beneficiarem. A maioria dos meus colegas acredita que por causa disso exista política no mundo animal, pelo menos num estado primitivo. (pág. 276/277)

Enquanto as pessoas passavam pelas portas giratórias na entrada principal, um pensamento lhe veio à mente: para fora da jaula, para dentro do mundo.
No inverno passado, Patrick a levou para Johannesburgo, na África do Sul, enquanto ele apresentava um seminário de três dias no Conselho do Simpósio dos Analistas Criminais das Áfricas, e ela reparou que em uma das cidades mais violentas do mundo, as classes mais altas vivem patrulhadas por guardas armados, com suas casas protegidas por cercas elétricas, sistemas de segurança, cães de guarda e janelas e portas com grades.
Quando Patrick perguntou o que ela achou da cidade, ela respondeu:
— As pessoas livres vivem atrás de grades e os criminosos podem andar livres. (pág. 287)

— Tessa, tento que admitir que não conheço Hamlet tão bem quanto você.
— Polônio é um bobo da corte que sempre se mete em encrenca quando segue seu coração, quando ele realmente é fiel a si mesmo. Quando fez com que ele dissesse a frase, Shakespeare estava deixando subentendido o quão absurdo o conselho é. Shakespeare não era burro. Ele estava alertando as pessoas a não serem verdadeiras consigo mesmas, e não dizendo a elas para fazerem isso. Ele entendia a natureza humana melhor que praticamente qualquer outro autor na história. – Então ela acrescentou: — Com exceção, talvez, de Poe. (pág. 324)

— No entanto, vocês sabem que algumas feministas discutem que os papéis masculino e feminino são simplesmente construções sociais e não traços psicológicos.
– Então elas estão ignorando a pesquisa – Cheyenne balançou a cabeça. – Mas isso não é surpresa. Em uma das mais trágicas ironias do século XX, as feministas nunca lutaram para as mulheres serem mais femininas.
–O que você quer dizer?
– Em vez de celebrar o que significa ser mulher, ser feminina, ser uma mulher poderosa, elas lutaram para mulheres agirem e serem tratadas como homens. Por isso eu as chamo de masculinistas.
– Você chama as feministas de masculinistas? – perguntei.
— Isso mesmo.
Ela deve ter percebido a surpresa em nossos rostos porque ela prosseguiu explicando:
-- Sim. Masculinistas. Porque em sua luta por mais direitos, elas acabaram desvalorizando o que significa ser uma mulher e emulando as mesmas coisas elas mais criticavam nos homens: imperialismo, crise de identidade, propagandismo militarista, competição desumanizadora, carreirismo. (pág. 331)

— Solidão e adversidade – ele disse suavemente. – Essas são as duas coisas que nos levam à sabedoria. Silêncio suficiente para facilitar a reflexão sobre o sentido da vida, dor suficiente para nos fazer considerar a brevidade da vida. Silêncio e sofrimento.
Brad ainda estava com as duas mãos apoiadas sobre o balcão, e o olhar de Juarez oscilava entre as mãos e o rosto de Brad. Ele trocou a perna apoio.
— E ainda assim, todo avanço tecnológico é mais uma tentativa desesperada de afastar o silêncio ou a dor de nossas vidas. Nossa sociedade está constantemente tentando se curar das duas coisas de que mais precisamos. Isso parece civilizado para você? (pág. 338)

— [...] Um deve ser mais dominante, quase com certeza o homem, mas ambos são narcisistas e possuem uma imensa autoestima doentia.
— Espere um minuto – um policial na segunda fileira disse. —Você disse imensa autoestima? Não deveria ser baixa autoestima?
— A estima incorpora amor e respeito – ela respondeu —, mas as únicas pessoas a quem esses assassinos estimam, valorizam ou amam são a si próprios. Eles buscam apenas seu próprio prazer, ligam apenas para seu próprio futuro. Ao contrário da crença popular, quase não se tem notícia de uma pessoa que comete um crime porque tem baixa autoestima ou porque “não se sente bem o suficiente consigo mesma”. Pessoas que matam, roubam, estupram... ou mesmo que ultrapassam o imite de velocidade... fazem isso porque colocam seus próprios desejos e necessidades acima das outras pessoas. (pág. 390/391)

Afinal, a seleção natural requer a morte dos mais fracos para o bem da espécie, então por que lutar contra isso?
O que é bom para a espécie é bom.
O que é ruim para a espécie é ruim.
Deixar vítimas da aids ou crianças famintas na África morrerem seria moral. Assim como realizar eutanásia nos doentes mentais ou terminais. E como garotas adolescentes são mais propensas a se reproduzirem, a reprodução seletiva e a cópula forçada com garotas adolescentes que exibem características genéticas desejáveis seriam aceitáveis, até mesmo desejáveis para a espécie. (pág. 407/408)