Autor: Ada Pellegrini Grinover et alii
Páginas: 134
Coletânea com contos de autores novos, pelo menos para mim que ainda
não havia lido nada de nenhum deles. Os contos possuem temática variada, indo
do cômico ao sinistro, com leitura fácil e descontraída.
São 18 contos no total, cada um de autor diferente e, ao final de cada
conto, uma breve biografia do autor. Dentre os vários que prenderam minha
atenção, destaco: N., O trenzinho elétrico e O brinda da vó Anna. Boa leitura.
Trechos interessantes:
Contentamento, vaidade e auto-estima eram sentimentos que a vida
praticamente me negara. Tive-os, pela primeira vez, com N., que, embora jovem,
de poucos estudos, mas inteligente, dedicou-me olhos e coração de Cinderela.
Médico recém-formado, embora muito deserdado, eu era, para a filha de uma
simples faxineira, encantamento, conquista inimaginável. Inimaginável,
entretanto, era também para ela o fato de que a pobreza, a orfandade de pais
vivos, mas separados, e uma adolescência de espinhas no rosto haviam feito com
que ela significasse para mim, reciprocamente, uma conquista – minha primeira
namorada, o fim de uma timidez tão forte e tão antiga que chegara a me parecer
congênita. (pág. 32/33)
Entrementes, Toninho caminha ligeiro de volta à casa. A caixa com seus
apetrechos de engraxate é pesada; mas, esta noite não a sente. O coração bate
em ritmo acelerado. O trenzinho elétrico rodopia-lhe no cérebro.
“—Eu devia ter quebrado aquele vidro com a minha caixa, pegado o
trenzinho e sumido. Ninguém ia podê me pegá... — pensa, enquanto anda, já quase
correndo. É... mas a professora diz sempre que não devemos roubar. O meu tio
João já tá na cadeia. Mas, como é que faço para ter o brinquedo? Meu pai é
pobre. Papai Noel não existe de verdade. Quando eu crescer vou ganhar muito
dinheiro. Mas... será que ainda vou gostar de brincar?” (pág.61/62)
Aquele mal-estar acompanhou-me de volta à casa. Nasceu aí minha
vontade de saber mais, porque os que sabiam tantas coisas, como meu irmão, eram
mais fortes que outros. Então, procurei um dicionário, impondo-me a tarefa de
decorar cinco palavras por dia. (pág. 79)
De noite, na casa vazia, ressoavam ecos da alegria da véspera. Chego a
pensar que as nossas reuniões ficaram gravadas nas páginas do tempo, guardando partes das histórias de vida de todos que
participaram conosco daqueles gratos momentos.
Tenho certeza de que esta tradição, mantida ao longo de tantos anos,
fortaleceu laços afetivos e enriqueceu a memória
da família, deixando boas recordações em todos nós. (pág. 95)
Fogos que iluminam o céu de meia-noite e zero hora. Um minuto divide a
geração — o antes e o depois.
Sempre que supero um ritual, me olho no espelho para ver se fiquei
diferente! E nada vejo, aliás, vejo minha cara de sempre, atônita. Mas
sobrevivi. Passei para o outro lado. Espero os aplausos, os abraços, os votos.
(pág. 103)
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