terça-feira, 29 de agosto de 2017

6 de abril

Título: 6 de abril
Autor: Sveva Casati Modignani
Páginas: 302

Lendo as primeiras páginas, tem-se a impressão de tratar-se de um livro de espionagem, tendo em vista o estilo enigmático da história. Mas a realidade é bem diferente.

O livro nos apresenta a saga das mulheres de uma família italiana, mostrando as dificuldades e os percalços encontrados para tentar sobreviver e dar continuidade à sua família. Apesar de Irene ser a personagem que aparece no início do livro, a personagem principal da história é sua avó, Agostina, que, devido ao seu gênio contestador, só conheceu dificuldades durante sua vida.

Trechos interessantes:

"-Tem a certeza que sabe como é que eu me sinto? Estou aqui há sete dias e ninguém se apresentou para dizer: sou o marido, ou o namorado, ou o filho, ou a mãe, ou o amigo do peito, ou o colega de trabalho. Ninguém me procurou. De onde venho? O que será que fiz de tão terrível para ninguém me procurar?" (pág. 19)

"-E resume-se a isso, aquilo que deseja da vida?
-Oh, não! Desejo muito mais - declarou sorrindo.
-Por exemplo?
-Quero ficar rica e ser admirada, cortejada, bajulada e venerada.
-Pensava que sonhava com o Príncipe Encantado. Normalmente, na sua idade, as moças sonham com o amor.
-O amor, como diz a minha avó, dura um dia. A riqueza e o poder duram toda a vida.
-Irene, Irene, quando é que vai crescer? - suspirou Angelo, enquanto despenteava os seus cabelos.
-Se crescer significa contentarmo-nos com aquilo que temos e deixar de sonhar com os olhos abertos, eu nunca vou crescer." (pág. 41)

"-Posso fazer alguma coisa por você? - perguntou-lhe alguém em surdina. Francesca teve um sobressalto. Achou-se ao lado de uma freira que a olhava com simpatia. As outras tinham ido embora e a igreja estava deserta.
-Estou à procura de Deus - sussurrou.
-Procura-o em você - respondeu a monja." (pág. 88)

"-É preciso que você saiba. A tua vida, o teu futuro, são coisas que me preocupam. Vive-se mal no meio dos equívocos. Na nossa família há muitos equívocos para uma menina como você. Sabe, Irene, a vida não é fácil para ninguém. Mas para as mulheres é dificílima. O mundo muda muito depressa e nunca para melhor, pelo menos para nós." (pág. 117)

"Durante dias e dias, da madrugada até o anoitecer, andou dobrada colhendo flores. Agostina aprendeu rapidamente a fazer raminhos de vinte, quarenta e sessenta violetas. Uma mulher passava e colocava os ramos em grandes caixas de cartão que eram logo despachadas para as grandes cidades: Paris, Lion, Londres. Eram presentes para mulheres cortejadas e elegantes que, ao recebê-las, sorririam satisfeitas sem saberem nada sobre a dor e o cansaço, as privações e as lágrimas de outras mulheres menos afortunadas." (pág. 123)

"Agostina pensou que as mulheres vivem toda a vida numa condição de perene submissão: primeiro ao pai e depois ao marido. Enquanto a mulher respeitasse essa regra, garantindo ao homem o direito de supremacia, gozava do respeito dos outros. Agostina não tinha conseguido aceitar essa situação." (pág. 163)

"-Hoje de manhã estava no estábulo e apareceu um delegado sindical de Cuneo - contou Agostina. -Disse-me que eu não devia ordenhar as minhas vacas porque ao domingo não se trabalha. Não é que está tudo maluco? São animais e não sabem que ao domingo não podem produzir leite. Se não as ordenho apanham uma mastite e depois tenho que mandá-las para o matadouro. Aquele é um dos tais que acreditam que o leite é o leiteiro que o faz." (pág. 196)

"-O que foi que eu fiz de mal? - perguntou Agostina.
-Só fez aquilo que a apeteceu fazer. O mal e o bem não têm nada a ver com isso. Deixa as coisas acontecerem, sem se atormentar. Só o Senhor é onipotente. Quer competir com Ele?" (pág. 217)

"Muitas fazendas pequenas agonizavam. Os jovens trabalhavam na indústria, única saída para a sobrevivência, enquanto os pais conseguiam com dificuldade tratar das pequenas propriedades.
Onde morria uma fazenda, nascia uma pequena fábrica. As instalações fabris, da periferia das cidades, invadiam os campos. O novo avançava com a arrogância do vencedor, e o velho, apesar de ter já perdido o fôlego, não se decidia a morrer." (pág. 228)

"-Quem é que quer derrubá-lo?
-Todos aqueles que me invejam. E são muitos. Cada operação comercial, cada transação, cada nova aquisição, cada nova empresa é como uma batalha em campo aberto entre dois exércitos opostos. Vence quem for mais forte, quem for mais destro, quem conseguir levar para o seu lado gente da facção adversária. Muitas vezes, quem perde não se conforma e continua a combater. Se não consegue através das vias legais, tenta com a difamação ou, pior ainda, com a intimidação - explicou, calmamente." (pág. 256)

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