Título: As filhas sem nome
Autor: Xinran
Páginas: 290
Inconformado pelo fato de não ter filhos homens, um pai resolveu que não colocaria nome nas filhas, de tal forma que elas foram sendo chamadas simplesmente por números, na ordem que iam nascendo... A filha Três, determinada a mudar de vida, saiu da aldeia rural e foi para a cidade grande, iniciar uma nova vida. Depois de Três (e induzida por ela) partiram também Cinco e Seis.
O livro relata a adaptação delas aos costumes da cidade, entremeadas pela lembrança constante das orientações da mãe. O livro procura mostrar a discriminação com que as mulheres chinesas são tratadas e a tentativa de algumas dessas mulheres a mudarem os hábitos tão arraigados em sua cultura. Para nós, ocidentais, parece um absurdo que ainda existam coisas semelhantes no mundo...
Trechos interessantes:
"Sua filosofia era que, se alguém não tem dinheiro para se divertir, é necessário jogar um pouco de conversa fora para dar cor à vida, senão a pessoa enlouquece de tédio." (pág. 24)
"Ela se lembrava das palavras da sua mãe: 'Se alguém salva a sua vida com um gole de água, nem mesmo cavar um poço será o suficiente para retribuir esse gesto'." (pág. 30)
"As pessoas com melhor nível de educação imediatamente ficaram com uma pulga atrás da orelha. Para elas, tratava-se apenas de mais uma manobra política disfarçada, e era melhor não se envolver. Afinal de contas, o primeiro porco a engordar é o primeiro a ir para a mesa." (pág. 53)
"Talvez na cidade houvesse mais respeito pela ideia de beleza. Seis pensou com tristeza nas garotas que haviam sido suas colegas no primário e que agora estavam todas casadas. Se tentassem parecer bonitas, tornavam-se motivo de escárnio. Isso era algo que simplesmente não se fazia." (pág. 92/93)
"Sabia que todos a tomavam por uma idiota, então seguia o conselho de sua mãe: 'Não abra a boca, assim ninguém, por mais inteligente que seja, poderá fazer você de boba'." (pág. 115)
"'Oh, Cinco',Três disse, 'usar as coisas dos outros não é a mesma coisa que pegar emprestada alguma coisa da sua família! O que a mãe nos disse antes de partirmos? Mesmo se não há arroz na casa da sua família, é melhor morrer de fome do que pegar o mingau das outras pessoas'!" (pág. 130)
"Um chinês que começara havia pouco tempo a aprender inglês deu um encontrão em um inglês na rua e pediu desculpas em inglês: I am sorry. O inglês respondeu I am sorry too. O chinês, pensando que precisava ficar à altura da educação do inglês, disse: I am sorry three. O inglês não entendeu: What are you sorry for? O chinês, determinado a não passar por uma pessoa rude, disse: I am sorry five." (pág. 138/139)
"Os antigos costumavam dizer que 'o homem sábio não demonstra medo diante do inesperado e não demonstra raiva diante de acusações injustas'." (pág. 155/156)
"Se as pessoas não têm ninguém com quem se comparar, não sabem que estão sofrendo injustiças. São as comparações que deixam as pessoas infelizes: aqueles que não sabem o que é uma fortuna, não sabem o que é a pobreza. Somos tão pobres aqui que nem mesmo os oficiais da vila vêm nos visitar. Por que quereriam? O que ganhariam com isso? Um bocado de água salgada e uma fatia de pão de batata-doce... Se eu saísse por aí falando sobre a vida das pessoas ricas para todos, acha que gostariam de mim? Quanto menos as pessoas tiverem de se preocupar, melhor. Podem ser pobres, mas estão em paz. Não causam problemas, e isso é o mais importante." (pág. 220/221)
"Felicidade é saber aceitar o próprio destino..." (pág. 221)
"'O marido a trata bem?', perguntei.
A jovem olhou para mim como se eu fosse um ser extraterrestre. O que 'bem' e 'mal' significam para ela? Você apenas vai com a pessoa com a qual os seus pais a casam, independentemente de quem seja! Esse foi o destino de milhões de mulheres chinesas desde o início dos tempos..." (pág. 271)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário