Título: O tamanho do céu
Autor: Thrity Umrigar
Páginas: 380
Ellie e Frank formam um casal norte-americano, de classe média, que se muda para a Índia (para trabalhar numa filial da empresa de Frank) após a morte do filho único, Benny, com o objetivo de reconstruir suas vidas.
Tentando se adaptar à nova cultura e costumes, Frank se apega ao filho de seu caseiro, tentando preencher o espaço que seu filho deixou. Tal atitude não é bem vista por Ellie nem pelos pais do garoto e isso vai gerar muitos transtornos no decorrer da história, não terminando da forma como Frank previa.
Trechos interessantes:
"Ellie escutou profundamente o seu corpo, do modo como aconselhava seus pacientes a fazerem. 'O corpo é sábio', dizia-lhes com frequência. Ele sempre sabe mais e antes que nosso cérebro. Mas você tem que aprender a escutá-lo, aprender sua linguagem, assim como se aprende a entender os balbucios de um bebê." (pág. 26)
"No início, ela também ficava incomodada com isso, com a falta de artifício, com a ausência do polimento das boas maneiras que cobria todas as interações nos Estados Unidos como um filme plástico. Com exceção dos funcionários que trabalhavam nas lojas chiques de Bombaim, ninguém na Índia dizia coisas vazias como 'Tenha um bom dia'. Uma vez, logo depois de eles terem se mudado para Girbaug, Ellie dissera a Edna que tivesse um bom dia e Edna respondera: 'Só se Deus quiser, madame, se Deus quiser.' Ellie tinha ouvido o que Edna não havia dito: que ter um bom dia não dependia da vontade dos meros mortais, mas sim da benevolência de um Deus bondoso." (pág. 28/29)
"Ela e Frank haviam perdido Benny, mas Ben não havia apenas perdido seus pais, mas também seus filhos ainda não nascidos. Não apenas seu melhor amigo da escola primária, mas o amigo desconhecido da universidade e as mulheres que teria namorado e amado, a mulher com quem teria se casado. Às vezes, quando Ellie pensava na enormidade da perda de Benny, ela ficava estupefata com a sua magnitude, com os livros que nunca leria, com os filmes que nunca veria, com as sinfonias que nunca ouviria (ou comporia), com os teoremas matemáticos que nunca resolveria, com as reuniões universitárias madrugada adentro nas quais nunca daria um jeito de entrar, com o primeiro ano de calouro fora de casa que nunca teria, com os debates sobre Nietzsche e Kierkegaard dos quais nunca participaria, com o primeiro beijo que nunca daria, com a gigantesca diferença entre fazer sexo e fazer amor que nunca descobriria, com a emoção de saber que havia superado seus pais que nunca teria, o primeiro emprego, a primeira promoção, a primeira viagem ao exterior, a primeira carta de amor, a primeira desilusão amorosa, o primeiro filho e, meu Deus, tantas coisas mais, a falta de jeito espinhosa dos quinze anos, a inconsequência alegre dos vinte, o contentamento dos quarenta, a realização dos sessenta, a aceitação dos oitenta, nada disso faria parte do destino de Benny. Ellie entendia agora por que as pessoas lamentavam a morte de crianças." (pág. 34/35)
"[...]Prakash havia mandado Edna ajudar Ramesh, mas depois de tentar arduamente por uma hora, Edna havia desistido. Ele então desviou o olhar para não ver a vergonha e a impotência nos olhos de sua mulher. O filho deles já sabia mais sobre o mundo do que os dois. Eles ficavam orgulhosos e envergonhados ao mesmo tempo deste fato." (pág. 50/51)
"A Índia fizera mais que radicalizar sua esposa. Ela a havia amargurado e mudado sua perspectiva. Ela agora via os Estados Unidos do jeito que o resto do mundo via. Não era mais o olhar crítico, mas maternal, a uma criança problemática. Agora, era o olhar acusador e duro de um estranho." (pág. 159)
"Ser uma mãe boa e diligente não bastava como talismã contra a crueldade de um universo complicado. Ela se distraíra por uma fração de segundo, e nesse ínfimo instante ele havia ido embora." (pág. 164/165)
"Ele disse a si mesmo que memorizasse o rosto e o corpo dessa mulher para o caso de ele nunca a ver de novo, para que da próxima vez que se visse tentado a dormir com as meninas belas e insignificantes que pareciam rodeá-lo na Universidade de Michigan, ele se lembrasse de como era a sua mulher ideal." (pág. 172)
"Havia frequentemente visto seus clientes caírem na isca desse doce mito: mulheres que não namoravam por décadas depois de um divórcio, pessoas que nunca mais tocaram num sorvete em seu leito de morte, mulheres que foram deixadas pelo marido e faziam do celibato uma virtude. Como se tristeza fosse o antídoto da tristeza. Não, o melhor modo de honrar os mortos era viver." (pág. 221)
"-Há um ditado em híndi que diz que mesmo a merda das galinhas alimenta as moscas." (pág. 267)
"Toda noite eles se encontravam no quarto de Benny e se revezavam dizendo três coisas pelas quais eram gratos naquele dia. E depois que seu filho caía no sono, ele e Ellie saíam do quarto de mãos dadas. Lembrando-se agora daquele jovem casal, Frank viu como eles eram bobos e iludidos. O casal dourado, esperando que sua era durasse para sempre. Nascidos num planeta marcado pela guerra, pela fome, por doenças e ódios milenares, haviam de algum modo pensado que podiam se elevar acima de tudo isso, confiando apenas neles mesmos e no amor de um pelo outro. Pensando que podiam usar seus diplomas universitários, seus empregos, seu lindo lar, seus corpos saudáveis, sua cidadania norte-americana, sua pele branca como abrigo do mundo selvagem que espreitava do lado de fora. Mas finalmente desabou, não é mesmo?" (pág. 293)
"Do nada ele se lembrou de algo que sua avó Benton lhe havia dito certa vez num de seus momentos de embriaguez. A velhinha, com hálito de gim, havia se abaixado até o assustado menino de onze anos e dito: 'Sabe qual a força mais perigosa na Terra, queridinho? Não é a bomba atômica. É um homem que é verdadeiramente livre. É com ele que você deve tomar cuidado'." (pág. 378)
domingo, 29 de maio de 2016
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