sábado, 21 de fevereiro de 2015

A cama desfeita

Título: A cama desfeita
Autor: Françoise Sagan
Páginas: 210

Édouard é um escritor de teatro que possui uma paixão doentia por Béatrice, atriz de teatro. Cinco anos depois de tê-lo abandonado, Béatrice volta a atenção para Édouard, já que, agora, ele está tendo sucesso como escritor.

A paixão dele por ela beira ao ridículo: ele quer estar 24 horas por dia ao lado dela, para ele a única mulher que existe é ela e assim por diante; ela, por sua vez, o suporta como qualquer outro, aliás, ela o trai com qualquer um e encara isso como uma coisa normal. Apesar da história ser maçante, os diálogos são muito bem elaborados. De uma relação como essa, o final do livro é bem comportado para o meu gosto.

Trechos interessantes:

"Deveria ter pensado que mesmo assim, quando alguém diz 'Te amo' indica apenas o seu desejo imediato, o seu próprio, nunca o do outro, e que, apaixonado do jeito que ele estava e sendo o seu amor permanente qualquer encontro não poderia deixar de ser um adiamento e qualquer data uma afronta, um sofrimento - a desgraça, em suma." (pág. 16)

"Era um dia sinistro, um lugar sinistro, mas sabia que por nada deste mundo quereria estar em outro lugar. 'Esse é um dos maiores charmes da paixão', pensou 'jamais perguntar: que estou fazendo aqui? mas, pelo contrário: como continuar aqui?'" (pág. 40)

"-Talvez eu seja um boboca - disse -, mole e covarde, mas não me importo. Existe uma coisa que você entende, Nicolas, a meu respeito: do momento que for Béatrice a fazê-lo, sou tão completamente indiferente a ser destruído que isso me torna indestrutível. Sou indiferente a que mil pessoas me desprezem desde que Béatrice me beije." (pág. 46)

"Se eu tivesse vivido sempre no futuro (certas pessoas só vivem bem no passado), seguramente estaria desesperado, mas nunca vivi senão no presente." (pág. 80)

"Cada um quer, quando caminha, que alguém se volte para trás para vê-lo, quando não dorme, que alguém se inquiete, e, quando cede ao riso ou às lágrimas, que alguém o entenda. E, se estiver feliz, que alguém o inveje. E talvez seja por esse motivo que todo rompimento, todo divórcio, é sempre doloroso. Não é o ser amado, o complemento ou a diferença, o senhor ou o objeto, que faz falta: é o 'outro', a testemunha, esse microfone e essa câmara fotográfica perpetuamente assestados. Aquele ou aquela que com desejo (ou com ódio, pouco importa) via levantar-se, vestir-se, fumar, sair, o outro, que o escutava assobiar, bocejar ou ficar calado (mesmo que não o estivesse olhando ou escutando). E, de repente, ninguém!" (pág. 122)

"Agora precisava dormir, voltar a dormir, já estava dormindo. Era preciso, não para manter o equilíbrio - noção das mais ridículas para um moribundo -, mas para esquecer a certeza incessante e cruel, para esquecer a aparelhagem de farmacêutico, para esquecer que se encaminhava para o esquecimento. Podia dormir. Agora havia mil moléculas químicas e mil policiais que velavam por ele, pelo seu corpo, pelo seu calor e sua impunidade, mil vigias que iriam impedir que chegasse até ele a ninfômana, a estrangeira delirante que é a dor física." (pág. 137/138)

"-Engraçado como é doloroso tomar uma decisão quando se sabe que será a última. Com saúde, não se hesita um momento em fazer um filho, ou em matar um homem na guerra... E, quando nos sabemos perdidos, não nos decidimos a largar esse feixe de ossos inúteis..." (pág. 159)

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