Título: O telescópio de Schopenhauer
Autor: Gerard Donovan
Páginas: 272
O livro inteiro tem praticamente dois personagens e eles não têm nomes: são simplesmente o Padeiro e o Professor. A "história" transcorre em um único dia e consta somente de diálogos entre o Professor e o Padeiro. Num estado socialista o Padeiro é preso e, sob a neve, é obrigado a cavar um túmulo.
Este é ponto de partida para a existência do diálogo entre os dois personagens. Esses diálogos são questionamentos filosóficos sobre o comportamento e a natureza humana. O motivo da prisão do Padeiro (esclarecida no final do livro) torna-se uma questão secundária.
Trechos interessantes:
"Dificilmente hoje seria um dia para eventos memoráveis. [...] De qualquer maneira, é óbvio que todo evento tem de acontecer em um dia qualquer, mais cedo ou mais tarde." (pág. 15)
"Sempre presumi que uma pessoa bem vestida fosse educada. Compare uma loja de roupas a qualquer biblioteca. Um indivíduo escolhe e veste trajes tão cuidadosamente como outro seleciona um livro e lê suas palavras. Ao observar uma camisa de algodão passada a ferro, os olhos deveriam nos levar em direção a calças de corte artesanal, bem elaboradas e costuradas, do mesmo modo que frases e pensamentos se misturam, terminando e iniciando parágrafos.
Leio muito, como é possível perceber. Aprende-se a fazer isso quando não se tem amigos. Dói no início, mas livros nunca decepcionam. Aprendi muito com eles." (pág.18/19)
"Nervoso em grupo, eu precisava me forçar a participar até mesmo de uma noite informal no bar. Indicava com a cabeça que estava de acordo quando todos os outros já haviam concordado. Balançava a cabeça negativamente e fazia o som adequado quando os companheiros expressavam desaprovação. Morria de medo de que perguntassem minha opinião antes que eu tivesse avaliado a de todos os outros. Ficava aterrorizado por servir de parâmetro em alguma decisão. Tinha vergonha de meu silêncio enquanto todos esperavam minha resposta." (pág. 36)
"Cada pessoa sempre age em seu próprio favor o tempo todo. Toda guerra começa com pessoas que têm algo a ganhar. Todo caso de amor começa por interesse e termina pela mesma razão." (pág. 40)
"Você não entende a sobrevivência, então você a chama de mal. Morrer é bom, suponho. Uma morte nobre é tudo isso. Desculpe, não para mim. Não quero saber se sou eu quem morre quando a história é escrita. Quero saber por que eu e não outra pessoa, e o que posso fazer para impedir que aconteça." (pág. 73)
"Pensei o quanto eu já havia lido sobre poder. O que aprendi? Que ou você o tem ou não. E se não, ou você o consegue ou morre sem ele. Morre acreditando nas coisas que farão com que você seja lembrado. Deus dirá: 'Você não conseguiu coisa alguma. Todas aquelas outras pessoas estavam ao seu lado. Coloquei-as lá por você e você não conseguiu nada. Você viveu uma vida de obediência e agora quer uma recompensa. Vou te dar uma recompensa. O nada consegue nada'. Estala os dedos, eu desapareço e apareço em lugar nenhum. Nada entre mim e o nada." (pág.79)
"Prenda as pessoas em qualquer parte do mundo, todas elas, e se conseguir fazer com que se sintam culpadas, terá o poder." (pág. 84)
"-Li que um general declarou, certa vez, não ter medo das flechas endereçadas a ele, e sim das centenas que caíam sem destino." (pág. 133)
"-[...]Ordenei que qualquer um que fixasse o olhar sobre meu túmulo fosse morto.
-Por quê?
-Homens são bobos. Perdem muito tempo na vida num mesmo lugar e olhando a sua volta. fazendo pedidos a uma estrela para que esta mude seu destino." (pág. 151)
"-[...]Você gosta de buracos negros, Padeiro? Bares, teatros, cocaína, carros velozes, sonhos. As pessoas que vivem neles se desligam de todo o universo. Apagam as luzes da esperança para sempre.
-Nesse caso, buraco negro é onde estou." (pág. 164)
"-Eu tinha de fazer o que me diziam.
-Não, não tinha.
-Eu queria viver. Tenho o direito de viver. Ao fazer o que me disseram, consegui permanecer vivo. Autopreservação não é crime." (pág. 201)
"Locke acreditava que, se não sabemos coisa alguma ao nascermos, todos os nossos valores morais vêm de experiência de dor ou prazer. O que é bom é qualquer coisa que nos satisfaça. A mente chama de mal qualquer coisa que cause dor. Nada mais. Ninguém nasce bom ou mau. Ninguém nasce demônio ou ditador." (pág. 206)
"Isto é filosófico para mim: o que acontece, e não o porquê. Há menos tortura desse modo. Sem blasfêmias junto à cruz ou questionamentos ao oráculo: 'por que eu?'. Como se você fosse especial, ou digno de maior atenção, quando bilhões estão pensando a mesma coisa. Bilhões de pessoas em qualquer época, sendo que uma em cinco pergunta 'por que eu?',ou 'por que isso sempre acontece comigo?'. O oráculo então responde: 'Porque não há outra forma. Sempre acontece com você, entende? Quem te disse que haveria? Quem você acha que é?'." (pág. 224)
quinta-feira, 24 de abril de 2014
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