Título: Uma breve história do tempo
Autor: Geoffrey Blainey
Páginas: 336
É como o título diz: uma visão resumida da história do mundo. Do surgimento do ser humano até os dias de hoje, vários aspectos estão descritos no livro, mostrando a importância e o significado de cada um.
Pessoas ilustres são citadas e ainda outras que, mesmo não sendo tão famosas, tiveram grande importância no desenvolvimento da humanidade. O livro é uma aula de história, mas uma aula agradável, sem aquele amontoado de dados jogados a esmo que se aprende na escola.
Trechos interessantes:
"Nas palavras de um médico especialista, em uma atividade complexa como a fala, 'a interação das partes do cérebro não se assemelha ao sistema de uma máquina, mas a uma colcha de retalhos'. Seja qual for sua origem, a fala é a maior de todas as invenções." (pág. 12)
"Uma tribo em constante movimento não podia cuidar dos doentes e dos que não suportavam longas caminhadas. Até bebês gêmeos representavam grande transtorno, e provavelmente um dos dois era morto. Os mais idosos, que já não podiam andar, eram abandonados para morrer. Em uma sociedade itinerante, não havia alternativa." (pág. 15)
"O papel, que é quase a essência da burocracia, é uma invenção do Egito." (pág. 50)
"Nenhum outro pedaço de água salgada exerceu uma influência tão ampla sobre o nascimento do mundo atual quanto o Mar Mediterrâneo. Não fosse esse mar, com suas qualidades peculiares e sua localização extraordinária, a vida política, econômica, social e cultural do mundo teria tomado outro rumo." (pág. 60)
"Seus ensinamentos [Buda] foram mais tarde resumidos pelo político indiano Mahatma Gandhi nestas palavras: 'A vida não é feita de prazeres, mas de responsabilidades'." (pág. 83)
"Por que o Império Romano veio a decair? [...] As causas da decadência foram internas. É quase certo que a questão mais importante - e de mais difícil compreensão - seja: por que o império durou tanto tempo? Ascensão e queda constituem o padrão normal das instituições humanas. É mais fácil subir que permanecer no topo." (pág. 109)
"Uma peste é como um turista compulsivo: cria ânimo quando um novo caminho é aberto. A invasão dos mongóis, com sua presença unificadora sobre uma imensa área da Ásia, ressuscitou o comércio ao longo de antigas rotas de caravanas e abriu caminho para a peste bubônica avançar rumo ao noroeste, em direção à Europa. Nos portos europeus, ratos e pulgas foram os portadores da doença." (pág. 149)
"Acreditava-se que os santos mantinham sob vigilância um depósito de misericórdias e indulgências, das quais uma porção podia ser distribuída a pecadores ricos que, no último momento, desejassem a salvação e pudessem pagar por ela. Algumas indulgências e concessões, dadas em troca de dinheiro ou de serviços prestados, tinham uma sólida base espiritual." (pág. 179)
"Finalmente, em 1582, o papa Gregório XIII resolveu agir. Usando os cálculos de Luigi Ghiraldi, astrônomo e médico de Nápoles, anunciou a solução: naquele ano, eliminaria os 10 dias que iam de 5 a 14 de outubro. Em suma, o calendário seria atualizado com um golpe de caneta. O futuro receberia o mesmo tratamento. Como corretivo a longo prazo, o novo sistema estabeleceu cálculos para determinar quais anos seriam bissextos e quais não." (pág. 213)
"Quando o jovem poeta londrino John Keats escreveu as palavras 'muito viajei nos reinos de ouro e muitos estados e reinos formosos encontrei', ele queria dizer que viajava pela leitura. Nessa época, nunca havia se afastado muito de seu local de nascimento." (pág. 251/252)
"Na África, um dos famoso exploradores foi David Livingstone, um operário fabril escocês que se tornara missionário cristão. Já o médico Albert Schweitzer, nascido na Alsácia, passou a maior parte da vida ajudando as vítimas da lepra e da doença do sono no Gabão. Missionários, como o padre Damien, de origem belga, que morreu enquanto ajudava os leprosos no Havaí, eram os heróis do povo numa época em que ainda não se pensava em aclamar com tal título os jogadores de futebol." (pág. 284)
"Às vezes, reclamava-se em sussurros - já que tal pensamento era uma verdadeira heresia - que, se o conhecimento e a sabedoria eram realmente tão importantes, por que a maioria dos especialistas se contentava com a posse de uma porção tão pequena e concentrada deles?" (pág. 287)
"Nada parecido fora visto na história do mundo. É comum que a culpa recaia sobre os generais, mas, na maioria dos países em guerra, até as mães, esposas e namoradas inicialmente apoiavam os conflitos, acreditando, com a ajuda da propaganda, que o incessante derramamento de sangue terminaria milagrosamente com a derrota do inimigo exausto." (pág. 293)
"O verão da fartura cedia seu lugar a um inverno de contenções. Thomas Hood, poeta inglês, uma vez escreveu:
Nem frutas, nem flores, nem folhas, nem pássaros - Novembro!" (pág. 319)
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
sábado, 14 de setembro de 2013
O mistério de Sittaford
Título: O mistério de Sittaford
Autor: Agatha Christie
Páginas: 220
Depois de ter lido inúmeros livros da "Rainha do crime", ainda não me acostumei à ausência de Mrs. Marple ou Hercule Poirot como personagem principal. Parece que fica faltando alguma coisa para dar consistência à história. Eu sei que é implicância minha, mas é como me sinto.
A história em si não tem novidades: um homem é assassinado, muitos teriam motivo mas, aparentemente, ninguém teria a oportunidade e a culpa inicialmente cai sobre aquele que não tem um álibi. O inspetor local e a namorada do acusado se desdobram para provar que o culpado é, como seria de imaginar, o menos provável.
Trechos interessantes:
"Uma jovem bonita, um tanto magra, sem dúvida, mas afinal todas as moças tinham esse tipo atualmente. Entretanto nos jornais liam-se que as curvas estavam voltando, o que já não era sem tempo. Afinal o que haveria de bom numa mulher se ela não se parecesse exatamente com o que é: uma mulher?" (pág. 12)
"Minha experiência me diz, sargento, que um homem que faz inimizades num lugar poderá criá-las em outro, mas admito que não podemos colocar inteiramente de lado essa possibilidade." (pág. 30/31)
"Ele não era um homem muito simpático... Estou certa de que não o foi. E nem uma pessoa a quem se pudesse recorrer numa dificuldade qualquer, sempre exigente e crítico. Não era o tipo de homem que soubesse aquilatar o valor da literatura. O sucesso... o verdadeiro êxito nem sempre é avaliado em termos de dinheiro, inspetor." (pág. 70)
"Na verdade o que queria era transformar o Sr. Enderby numa espécie de detetive particular a seu serviço. Para ir onde ela lhe indicasse, fazer as perguntas que ela própria gostaria de formular e ser como um servidor seu, de modo geral. Mas tinha consciência da necessidade de disfarçar essa intenção com palavras lisonjeiras e amáveis. Na realidade, ela seria o patrão, no caso, mas precisava de tato para persuadir o Sr. Enderby." (pág. 78)
"Desejaria, de todo coração, ter conhecido, nem que fosse apenas de passagem, o falecido capitão. É tão difícil formar uma opinião sobre uma pessoa que nunca se viu [...]." (pág. 107)
"[...]Num lugar como este tem-se que ensinar as pessoas a deixarem um homem em paz. Estão sempre batendo à nossa porta, se insinuando e bisbilhotando. Não me incomodo de ver pessoas aqui quando estou disposto... mas tem que ser a meu modo e não do delas. Nem o velho Trevelyan, com seus ares de senhor feudal, entrava aqui quando queria. Não há viva alma neste lugar que me venha incomodar agora." (pág. 124)
Autor: Agatha Christie
Páginas: 220
Depois de ter lido inúmeros livros da "Rainha do crime", ainda não me acostumei à ausência de Mrs. Marple ou Hercule Poirot como personagem principal. Parece que fica faltando alguma coisa para dar consistência à história. Eu sei que é implicância minha, mas é como me sinto.
A história em si não tem novidades: um homem é assassinado, muitos teriam motivo mas, aparentemente, ninguém teria a oportunidade e a culpa inicialmente cai sobre aquele que não tem um álibi. O inspetor local e a namorada do acusado se desdobram para provar que o culpado é, como seria de imaginar, o menos provável.
Trechos interessantes:
"Uma jovem bonita, um tanto magra, sem dúvida, mas afinal todas as moças tinham esse tipo atualmente. Entretanto nos jornais liam-se que as curvas estavam voltando, o que já não era sem tempo. Afinal o que haveria de bom numa mulher se ela não se parecesse exatamente com o que é: uma mulher?" (pág. 12)
"Minha experiência me diz, sargento, que um homem que faz inimizades num lugar poderá criá-las em outro, mas admito que não podemos colocar inteiramente de lado essa possibilidade." (pág. 30/31)
"Ele não era um homem muito simpático... Estou certa de que não o foi. E nem uma pessoa a quem se pudesse recorrer numa dificuldade qualquer, sempre exigente e crítico. Não era o tipo de homem que soubesse aquilatar o valor da literatura. O sucesso... o verdadeiro êxito nem sempre é avaliado em termos de dinheiro, inspetor." (pág. 70)
"Na verdade o que queria era transformar o Sr. Enderby numa espécie de detetive particular a seu serviço. Para ir onde ela lhe indicasse, fazer as perguntas que ela própria gostaria de formular e ser como um servidor seu, de modo geral. Mas tinha consciência da necessidade de disfarçar essa intenção com palavras lisonjeiras e amáveis. Na realidade, ela seria o patrão, no caso, mas precisava de tato para persuadir o Sr. Enderby." (pág. 78)
"Desejaria, de todo coração, ter conhecido, nem que fosse apenas de passagem, o falecido capitão. É tão difícil formar uma opinião sobre uma pessoa que nunca se viu [...]." (pág. 107)
"[...]Num lugar como este tem-se que ensinar as pessoas a deixarem um homem em paz. Estão sempre batendo à nossa porta, se insinuando e bisbilhotando. Não me incomodo de ver pessoas aqui quando estou disposto... mas tem que ser a meu modo e não do delas. Nem o velho Trevelyan, com seus ares de senhor feudal, entrava aqui quando queria. Não há viva alma neste lugar que me venha incomodar agora." (pág. 124)
sábado, 7 de setembro de 2013
Memórias de uma gueixa
Título: Memórias de uma gueixa
Autor: Arthur Golden
Páginas: 458
A cultura japonesa sempre me fascinou. Tenho a impressão de que é um país que parou no tempo, com seus costumes, tradições, sua história enfim. Parece sempre guardar uma aura de tranquilidade, com seus belos jardins e aquele caminhar suave das pessoas, com gestos macios e ritmados... Ou seja, a mim parece sempre uma imagem poética.
O livro, como eu esperava, traz um pouco dessa magia, contando a história de vida de uma gueixa. É interessante notar como nós, ocidentais, temos uma visão deformada a respeito dos hábitos e costumes de outros povos. O livro nos mostra que a vida de uma gueixa é dificuldade e sofrimento, mas também beleza e glamour.
Trechos interessantes:
"Em criança eu achava que o oceano tinha um resfriado terrível, porque estava sempre chiando, e em certos acessos soltava um espirro enorme - o que significa uma lufada de vento com respingos tremendos." (pág. 10)
"Eu nunca tinha visto um automóvel. Vira fotografias, mas me lembro de ter ficado surpresa de ver como... bem, como pareciam cruéis, por eu estar tão assustada, como se se destinassem antes a machucar pessoas do que a ajudá-las." (pág. 40)
"Devo lhe dizer algo sobre pescoços no Japão, se ainda não sabe; é que via de regra os homens japoneses sentem a respeito de um pescoço e garganta de mulher o mesmo que os homens no Ocidente podem sentir com relação às pernas. É por isso que as gueixas usam as golas de seus quimonos tão abertas atrás que se veem as primeiras vértebras de sua espinha; suponho que é como uma mulher em Paris usando saia bem curta." (pág. 69)
"-Nenhum de nós recebe neste mundo a bondade que deveria receber - ele me disse, e por um momento apertou os olhos como para dizer que eu refletisse a sério naquilo." (pág. 122)
"Nós humanos somos apenas parte de algo muito maior. Quando caminhamos podemos esmagar um besouro, ou simplesmente causar alguma agitação no ar, de modo que uma mosca pouse onde de outra forma não iria parar. E se pensarmos no mesmo exemplo, mas conosco em lugar do inseto, e com o universo no papel que nós tínhamos desempenhado, fica perfeitamente claro que todos os dias somos afetados por forças que não controlamos, assim como o pobre besouro não controla nosso gigantesco pé descendo sobre ele." (pág. 137)
"Não fingirei que nunca vinha gente pobre a Gion, mas raramente víamos alguém como aqueles camponeses famintos, pobres demais até para tomarem banho. Eu jamais teria imaginado que eu - uma escrava aterrorizada pela maldade de Hatsumomo - tivesse uma vida relativamente afortunada durante a Grande Depressão. Mas naquele dia entendi que era verdade." (pág. 198)
"A dor é uma coisa muito esquisita; ficamos tão desamparados diante dela. É como uma janela que simplesmente se abre conforme seu próprio capricho. O aposento fica frio, e nada podemos fazer senão tremer. Mas abre-se menos cada vez, e menos ainda. E um dia nos espantamos porque ela se foi." (pág. 271)
"Fiquei pensando em quanto aquele homem pagara por aquele privilégio. E lembro-me de que a certa altura desejei que ele estivesse se divertindo mais do que eu. Não senti mais prazer do que se alguém tivesse esfregando uma lixa dentro de minhas coxas até eu sangrar." (pág. 300)
"-Você tem dezoito anos, Sayuri - prossegui ela. - Nem você nem eu sabemos qual é o seu destino. E talvez você nunca saiba! O destino não é sempre como uma festa no fim da tarde. Às vezes é apenas lutar na vida, dia após dia." (pág. 311)
"-Não podemos perder tempo pensando nessas coisas. Nada é mais triste do que o futuro exceto talvez o passado." (pág. 354)
"Fui ao nosso okiya e olhei saudosa a pesada fechadura de ferro na porta. Quando estava trancada lá dentro, eu queria sair. Agora a vida mudara tanto que, estando trancada do lado de fora, eu queria entrar de novo. Mas era uma mulher adulta agora - livre, se eu quisesse, para sair de Gion e nunca mais voltar." (pág. 370)
"Embora deva dizer que só depois de viver longo tempo num estado de contentamento pude finalmente olhar para trás e admitir quanto minha vida fora desolada. Estou certa de que de outro modo jamais poderia ter contado minha história. Acho que ninguém pode falar da dor enquanto ainda a sofre." (pág. 441)
"Segurava a bengala com suas duas frágeis mãos, de olhos fechados, e inspirava profundamente o aroma do passado.
-Às vezes - suspirou ele - acho que as coisas que recordo são mais reais do que as que vejo." (pág. 449/450)
Autor: Arthur Golden
Páginas: 458
A cultura japonesa sempre me fascinou. Tenho a impressão de que é um país que parou no tempo, com seus costumes, tradições, sua história enfim. Parece sempre guardar uma aura de tranquilidade, com seus belos jardins e aquele caminhar suave das pessoas, com gestos macios e ritmados... Ou seja, a mim parece sempre uma imagem poética.
O livro, como eu esperava, traz um pouco dessa magia, contando a história de vida de uma gueixa. É interessante notar como nós, ocidentais, temos uma visão deformada a respeito dos hábitos e costumes de outros povos. O livro nos mostra que a vida de uma gueixa é dificuldade e sofrimento, mas também beleza e glamour.
Trechos interessantes:
"Em criança eu achava que o oceano tinha um resfriado terrível, porque estava sempre chiando, e em certos acessos soltava um espirro enorme - o que significa uma lufada de vento com respingos tremendos." (pág. 10)
"Eu nunca tinha visto um automóvel. Vira fotografias, mas me lembro de ter ficado surpresa de ver como... bem, como pareciam cruéis, por eu estar tão assustada, como se se destinassem antes a machucar pessoas do que a ajudá-las." (pág. 40)
"Devo lhe dizer algo sobre pescoços no Japão, se ainda não sabe; é que via de regra os homens japoneses sentem a respeito de um pescoço e garganta de mulher o mesmo que os homens no Ocidente podem sentir com relação às pernas. É por isso que as gueixas usam as golas de seus quimonos tão abertas atrás que se veem as primeiras vértebras de sua espinha; suponho que é como uma mulher em Paris usando saia bem curta." (pág. 69)
"-Nenhum de nós recebe neste mundo a bondade que deveria receber - ele me disse, e por um momento apertou os olhos como para dizer que eu refletisse a sério naquilo." (pág. 122)
"Nós humanos somos apenas parte de algo muito maior. Quando caminhamos podemos esmagar um besouro, ou simplesmente causar alguma agitação no ar, de modo que uma mosca pouse onde de outra forma não iria parar. E se pensarmos no mesmo exemplo, mas conosco em lugar do inseto, e com o universo no papel que nós tínhamos desempenhado, fica perfeitamente claro que todos os dias somos afetados por forças que não controlamos, assim como o pobre besouro não controla nosso gigantesco pé descendo sobre ele." (pág. 137)
"Não fingirei que nunca vinha gente pobre a Gion, mas raramente víamos alguém como aqueles camponeses famintos, pobres demais até para tomarem banho. Eu jamais teria imaginado que eu - uma escrava aterrorizada pela maldade de Hatsumomo - tivesse uma vida relativamente afortunada durante a Grande Depressão. Mas naquele dia entendi que era verdade." (pág. 198)
"A dor é uma coisa muito esquisita; ficamos tão desamparados diante dela. É como uma janela que simplesmente se abre conforme seu próprio capricho. O aposento fica frio, e nada podemos fazer senão tremer. Mas abre-se menos cada vez, e menos ainda. E um dia nos espantamos porque ela se foi." (pág. 271)
"Fiquei pensando em quanto aquele homem pagara por aquele privilégio. E lembro-me de que a certa altura desejei que ele estivesse se divertindo mais do que eu. Não senti mais prazer do que se alguém tivesse esfregando uma lixa dentro de minhas coxas até eu sangrar." (pág. 300)
"-Você tem dezoito anos, Sayuri - prossegui ela. - Nem você nem eu sabemos qual é o seu destino. E talvez você nunca saiba! O destino não é sempre como uma festa no fim da tarde. Às vezes é apenas lutar na vida, dia após dia." (pág. 311)
"-Não podemos perder tempo pensando nessas coisas. Nada é mais triste do que o futuro exceto talvez o passado." (pág. 354)
"Fui ao nosso okiya e olhei saudosa a pesada fechadura de ferro na porta. Quando estava trancada lá dentro, eu queria sair. Agora a vida mudara tanto que, estando trancada do lado de fora, eu queria entrar de novo. Mas era uma mulher adulta agora - livre, se eu quisesse, para sair de Gion e nunca mais voltar." (pág. 370)
"Embora deva dizer que só depois de viver longo tempo num estado de contentamento pude finalmente olhar para trás e admitir quanto minha vida fora desolada. Estou certa de que de outro modo jamais poderia ter contado minha história. Acho que ninguém pode falar da dor enquanto ainda a sofre." (pág. 441)
"Segurava a bengala com suas duas frágeis mãos, de olhos fechados, e inspirava profundamente o aroma do passado.
-Às vezes - suspirou ele - acho que as coisas que recordo são mais reais do que as que vejo." (pág. 449/450)
domingo, 1 de setembro de 2013
Aquela canção
Título: Aquela canção
Autor: Publifolha
Páginas: 176
O livro reúne 12 contos, cada um de autor diferente e desenvolvido em torno de uma canção popular. O livro traz também um CD com as músicas que serviram de inspiração para a criação dos contos. No início de cada conto há também a letra da música relacionada.
Como são autores e estilos diferentes, gostei da maioria, exceto uns quatro que não soube apreciar. Mas trata-se de gosto pessoal, nem sempre se pode agradar a todos. Qualidade todos têm, portanto a seleção vai do estilo de cada um.
Trechos interessantes:
"De modo que eu te peço, pelo amor que você teve ao seu cachorro que morreu, e que foi a melhor companhia que você teve na vida, como faz questão de me lembrar quase todos os dias, que seja a última vez que vamos falar nesse assunto." (pág. 8)
"Chamava-se Napoleão. Nome pomposo demais para um rapaz magrinho, moreno, desmilinguido, desdentado. Mas representava a esperança de seu pai, já falecido, que ao batizá-lo assim pensara num futuro glorioso para o filho." (pág. 49)
"Enfim, o Rancho Fundo não fica bem pra lá do fim do mundo. Ou talvez fique, mas a verdade é que o fim do mundo não é tão ruim quanto parece." (pág. 57)
"A sorte masculina é que, na geografia feminina, a vulva fica mais próxima do coração do que da cabeça." (pág. 83)
"Naquela época eu já perdera o brilhante futuro que, num passado recente, alguns críticos me haviam prometido." (pág. 87)
"Dona Marta morreu atingida a tiro por um assaltante, num subúrbio de Roma, cidade de onde viera a sua família, e para onde se mudara com medo da violência no Brasil." (pág. 92)
"Fico o tempo todo pressentido que vou perder a visão. Esse medo vai crescendo durante o sonho, até que acordo assustado. Aí é que o susto aumenta até virar pânico, porque me lembro de repente que já estou cego. O quarto está totalmente escuro, mas sei que não é só porque ainda não amanheceu: é porque não vai amanhecer. Entende? O verdadeiro pesadelo começa quando acordo." (pág. 115/116)
"Se o coração acelerava, que acelerasse. Se naquele mundo do circo tanta coisa se fingia, era porque as coisas fingidas são mais verdadeiras, e nenhuma dor, nenhuma vergonha admitia ser varrida para baixo do tapete." (pág. 171)
Autor: Publifolha
Páginas: 176
O livro reúne 12 contos, cada um de autor diferente e desenvolvido em torno de uma canção popular. O livro traz também um CD com as músicas que serviram de inspiração para a criação dos contos. No início de cada conto há também a letra da música relacionada.
Como são autores e estilos diferentes, gostei da maioria, exceto uns quatro que não soube apreciar. Mas trata-se de gosto pessoal, nem sempre se pode agradar a todos. Qualidade todos têm, portanto a seleção vai do estilo de cada um.
Trechos interessantes:
"De modo que eu te peço, pelo amor que você teve ao seu cachorro que morreu, e que foi a melhor companhia que você teve na vida, como faz questão de me lembrar quase todos os dias, que seja a última vez que vamos falar nesse assunto." (pág. 8)
"Chamava-se Napoleão. Nome pomposo demais para um rapaz magrinho, moreno, desmilinguido, desdentado. Mas representava a esperança de seu pai, já falecido, que ao batizá-lo assim pensara num futuro glorioso para o filho." (pág. 49)
"Enfim, o Rancho Fundo não fica bem pra lá do fim do mundo. Ou talvez fique, mas a verdade é que o fim do mundo não é tão ruim quanto parece." (pág. 57)
"A sorte masculina é que, na geografia feminina, a vulva fica mais próxima do coração do que da cabeça." (pág. 83)
"Naquela época eu já perdera o brilhante futuro que, num passado recente, alguns críticos me haviam prometido." (pág. 87)
"Dona Marta morreu atingida a tiro por um assaltante, num subúrbio de Roma, cidade de onde viera a sua família, e para onde se mudara com medo da violência no Brasil." (pág. 92)
"Fico o tempo todo pressentido que vou perder a visão. Esse medo vai crescendo durante o sonho, até que acordo assustado. Aí é que o susto aumenta até virar pânico, porque me lembro de repente que já estou cego. O quarto está totalmente escuro, mas sei que não é só porque ainda não amanheceu: é porque não vai amanhecer. Entende? O verdadeiro pesadelo começa quando acordo." (pág. 115/116)
"Se o coração acelerava, que acelerasse. Se naquele mundo do circo tanta coisa se fingia, era porque as coisas fingidas são mais verdadeiras, e nenhuma dor, nenhuma vergonha admitia ser varrida para baixo do tapete." (pág. 171)
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