domingo, 1 de dezembro de 2019

A ilha dos cães


Título: A ilha dos cães
Autor: Rodrigo Schwarz
Páginas: 128

O livro faz uma versão da fase final da vida de Sir Richard Francis Burton, escritor e antropólogo britânico. Aqui, Burton naufraga e vai parar numa ilha com um único companheiro, por sinal, cego. Burton tenta escrever a história das civilizações inca, asteca e maia, mas preocupa-se porque ninguém irá ler.

Não é uma história linear, com começo, meio e fim. Ela oscila entre a história de Burton e os textos que ele está escrevendo e as conclusões cabe ao leitor determiná-las.

Trechos interessantes:

Levando em conta o grande número de expedições das quais participara e de livros que lera, Burton surpreendia-se com sua inabilidade para entabular conversações. Invariavelmente, via-se desprovido de assuntos ou de uma maneira de encaixá-los no diálogo. Conversar, para ele, era como dispor de milhares de soldados, sendo possível levar apenas uma dezena para a guerra; e nunca a tropa de elite. (pág. 10)

Às vezes, Montezuma achava ser essa a maior serventia dos soberanos: cultivar crânios por todo o império. (pág. 29)

Fui deixado aqui, com todos os instantes de minha vida, só que as atividades em que gostaria de gastá-los estão fora de meu alcance. Longe do que gostaria de estar realmente fazendo, toda essa imensurável quantidade de segundos serve apenas para pavimentar o pios dos infernos. (pág. 57)

Às vezes fazemos coisas com as quais não conseguimos conviver, mas continuamos convivendo. Para tanto, há toda uma área cercada em meu cérebro, em que não me atrevo a pisar, sendo contornada constantemente. (pág. 63)

Já faz quase um ano que Isabel recebeu a notícia do naufrágio do Polka Tuk, calculo. Provavelmente se encontra em Londres, trajando um vestido negro. Ela não deve fazer um juízo tão pesado sobre mim. Afinal, sou um homem morto, e falecer é a maneira mais eficiente de alguém elevar-se no conceito das outras pessoas. (pág. 64)

Conduzindo o prisioneiro, Hokan não sentiu medo. Mesmo confuso em relação à identidade do homem, achava impossível ser ele um guerreiro inca. Um povo sem escrita própria não dominaria a de outra civilização. (pág. 84)

Era uma terra povoada por homens grandes, de vastas cabeleiras e pele translúcida. Talvez devido ao afiado frio daquela região possuíssem pelos em lugares estranhos, como no peito, na barriga e no rosto. Foi-lhes dada a alcunha de vikings pelos povos que se consideravam mais civilizados, e que, na verdade, também cometiam barbaridades; porém, eram dotados da habilidade de legitimar essas atrocidades tecendo insondáveis falácias. (pág. 88)

Escritor nenhum pode levar uma pessoa à depressão ou a uma vida miserável; essas, sim, responsáveis por alguém desejar tirar a própria vida. Considero também levianos os ataques contra John Milton, em relação aos seus revolucionários escritos pós-divórcio. Ninguém que faça parte de um casamento feliz cogitaria desfazer sua união por causa dos textos de Milton. Até um cego poderia ver isso. (pág. 117)

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