Autor: Jojo Moyes
Páginas: 320
Imagine que você esteja no auge de sua vida, bom
emprego, boa situação financeira, boa saúde, com um monte de amigos, viajando o
mundo inteiro, praticando um punhado de esportes e, de repente, se encontra
numa cadeira de rodas, tetraplégico, sem nenhuma esperança de cura... Essa é a
situação em que se encontra Will, o personagem do livro. Como ele não consegue
nem se imaginar nessa nova situação, resolveu que irá se matar para por fim a
esse sofrimento.
Do outro lado temos Lou, uma moça simples, com uma
vida sem graça, que perde o emprego e namora um sujeito sem muita paixão. Como
não arranja outro emprego, ela vai trabalhar para... Will. Quando fica sabendo
da intenção da intenção que ele tem de se matar ela procura, de todos os meios,
um meio de modificar essa decisão. E aí, será que ela consegue?
Trechos interessantes:
“Como explicar para aquele homem o quanto eu queria
trabalhar? Ele tinha alguma ideia do quanto eu sentia falta do meu antigo
emprego? O desemprego era um conceito, algo vagamente citado nos noticiários,
que referia-se a estaleiros ou fábricas de automóveis. Nunca pensei que se
pudesse sentir falta de um emprego como se sente de um braço ou de uma perna,
algo que está sempre ali, que faz parte de você. Não imaginei que, além dos
medos óbvios sobre dinheiro e futuro, perder o emprego fizesse a pessoa se sentir
inadequada e um pouco inútil. Que pode ser mais difícil levantar de manhã do
que quando se é brutalmente trazido à consciência pelo toque do despertador.
Que você pode sentir falta dos colegas de trabalho não importando quão pouco
você se identificava com eles. Ou até mesmo que você pode ficar procurando
rostos conhecidos ao andar pela rua. “ (pág. 20)
“Vi primeiro a mulher. Tinha pernas longas e cabelos
louros, com a pele num tom levemente dourado. O tipo de mulher que me faz
duvidar de que todos os humanos pertençam à mesma espécie. Parecia um
puro-sangue. Eu já tinha visto mulheres como aquela algumas vezes, costumavam
subir a colina do castelo carregando crianças pequenas que pareciam ter saído
de um catálogo de moda e, quando entravam no café, suas vozes eram claras como
cristal e despretensiosas ao perguntarem: “Harry, querido, você quer um café?
Quer que eu pergunte se fazem macchiato?”
Aquela era, sem dúvida, uma mulher macchiato.
Tudo nela exalava dinheiro, privilégios e uma vida que parecia sair das páginas
de uma revista chique. “ (pág. 47)
“Parecia que quanto mais ele ficava em forma, mais
obcecado ficava pelo próprio corpo e menos interessado em mim. Perguntei a ele
algumas vezes se não gostava mais de mim e ele pareceu bem enfático.
– Você é maravilhosa – disse. – Eu só estou exausto.
Mas não quero que você emagreça. Mesmo se eu juntasse os peitos de todas as
garotas da academia, não daria para fazer um peito decente.
Tive vontade de perguntar de onde exatamente ele
havia tirado uma equação tãocomplexamas, no fundo, era uma coisa bonita de se
dizer, então deixei por isso mesmo. “ (pág. 84)
“É só que o que não se pode compreender a respeito da
maternidade, até que se tenha um filho, é que não é um adulto – o deselegante,
barbado, fedorento, filho teimoso – que a mãe vê diante de si, com seus recibos
de estacionamento, seus sapatos não engraxados e sua complicada vida
sentimental. A mãe enxerga todas as pessoas que o filho já foi ao longo da vida
reunidas em uma só.
Olhei para Will e enxerguei o bebê que segurei no
colo, chorosamente encantada, incapaz de acreditar que eu havia gerado um outro
ser humano. Vi a criança pequena, esticando a mão para mim, o menino em idade
escolar chorando de raiva porque outra criança zombou dele. Enxerguei as vulnerabilidades,
o amor, a história. Era isso que ele estava me pedindo para extinguir – a
criança e, ao mesmo tempo, o homem – todo aquele amor, toda aquela história. “
(pág. 101)
“Eu tinha de preencher os pequenos retângulos brancos
do calendário com um monte de coisas que pudessem causar felicidade, alegria,
satisfação ou prazer. Tinha de preencher os dias com todas as experiências
incríveis que um homem que não mexia os braços nem as pernas não podia mais
realizar sozinho. Em apenas quatro meses de retângulos, eu marcaria passeios,
viagens, visitas, almoços e concertos. Tinha de usar todos os meios práticos
para realizar as atividades e pesquisar bastante para tudo dar certo. “ (pág. 125)
“Sei que muitas dessas coisas exigem dinheiro, mas
muitas outras, não. Além do mais, como você acha que eu ganhava dinheiro?
– Explorando as pessoas na City?
– Eu fazia o que me faria feliz e o que eu queria
fazer; me preparei para trabalhar no que me permitisse fazer as duas coisas.
— Você faz isso parecer tão simples.
– Eé – disse ele. – O problema é que ainda assim é
muito trabalho. E ninguém quer trabalhar muito. “ (pág. 181)
“As pessoas usavam muitas siglas nos bate-papos.
Descobri que LME era lesão na medula espinhal; ITU, infecção do trato urinário;
FS, forte e saudável. Vi também uma lesão em C4 e C 5 era bem mais grave do que
em C11 e C12, pois muitos dos lesionados nessa última localização usavam os
braços ou o torso. Havia história de amor e perda, de homens lutando para lidar
com esposas deficientes físicas e lambem com filhos pequenos. Havia esposas que
se sentiam culpadas por terem rezadopara que o marido parasse de espancá-la;
agora ele nunca mais faria isso. Havia maridos que queriam se separar da esposa
deficiente, mas tinham medo de como a imunidade reagiria. Havia exaustão e
desespero e muito humor negro – piadas sobre bolsas de coleta que explodiam;
atitudes bem-intencionadas, mas burras; desventuras de bêbados. Cair da cadeira
parecia um tema corriqueiro. E havia ameaças de suicídio: os que queriam se matar;
outros que os encorajavam a esperar, a aprender a olhar a vida de outra
maneira. Li cada uma delas e me senti como se estivesse olhando para um
panorama secreto de como o cérebro de Will funcionava. “ (pág. 183)
“O pior de se trabalhar como cuidadora não é o que as
pessoas pensam. Não é carregar e limpar a pessoa, os remédios e os lenços de
limpeza e o distante, mas de algum modo sempre perceptível, cheiro de
desinfetante. Não é nem o fato de quase todo mundo achar que você faz isso
porque não tem inteligência suficiente para fazer qualquer outra coisa. O pior
é o fato de que, quando se passa o dia inteiro num estado de real proximidade
com outra pessoa, não há como escapar do estado de humor dela. “ (pág. 204)
“Will mudou de direção. Com meus braços envolvendo o
pescoço dele, afastei um pouco o rosto para olhá-lo e vi que não estava mais
inseguro. Baixou o olhar para meus peitos. Para ser justa, na posição em que eu
estava, não havia nenhum outro lugar para onde ele pudesse olhar. Tirou os
olhos do meu decote e levantou uma sobrancelha.
– Você sabe que só deixa esses peitos tão perto de
mim porque estou em uma cadeira de rodas – murmurou.
Olhei-o, firme.
– Você nunca iria olhar para os meus peitos se não
estivesse numa cadeira de rodas.
– O quê? Claro que olharia.
– Não. Se não fosse cadeirante, estaria muito ocupado
olhando as louras altas de pernas e cabelos compridos, que gastam uma fortuna a
cada passo que dão. De todo jeito, eu não estaria aqui. Estaria servindo as
bebidas lá no bar. Seria unia das pessoas invisíveis. “ (pág. 235/236)
“Você está marcada no meu coração, Clark. Desde o dia
em que chegou,com suas roupas ridículas, suas piadas ruins e sua total
incapacidade de disfarçar o que sente. Você mudou a minha vida muito mais do
que esse dinheiro vai mudar a sua.
Não pense muito em mim. Não quero que você fique
toda sentimental. Apenas viva bem. “ (pág. 317)